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O USO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS NA CONSTRUÇÃO DO DISCURSO SO CIOAMBIENTAL DO “MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM

No documento Volume 2 (páginas 108-115)

TERRA

Janecleide Moura de AGUIAR RESUMO

Este artigo tem como objetivo tecer considerações preliminares sobre o uso de tecnologias digitais na ação política do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), especial- mente na construção e na divulgação de seu discurso socioambiental. As formas de ação direta originalmente utilizadas pelo MST em sua luta política pela terra – ocupações e marchas, além de acampamentos e assentamentos – se conjugam, sistematicamente, com a mobilização constituída em espaços de sociabilidade digital. O desafio de analisar o ativismo digital de um movimento social situado no cenário agrário brasileiro requer uma fundamentação teórica e metodológica consistente, sobretudo para compreender as possibilidades, os limites e as con- tradições contidos na experiência do MST. Assim, o trabalho de pesquisa se fundamenta na perspectiva teórica da ecologia política e utiliza como recurso metodológico fundamental a netnografia, para analisar o teor propositivo das publicações feitas no site, no blog e nas redes sociais utilizadas pelo MST. Diante de um cenário em que o Estado formula políticas públicas de inclusão digital, algumas delas voltadas especificamente para o campesinato, o MST passa a incorporar as novas tecnologias de informação e comunicação em sua luta política, amplian- do o horizonte de possibilidades para a ação do movimento em si e de seus militantes. E tal configuração acaba potencializando a difusão de princípios e valores para além das fronteiras identitárias que marcam esse campo político, sobretudo de um projeto de “Reforma Agrária Popular” que seja também relevante para o conjunto da classe trabalhadora brasileira. Nesse contexto, a luta pela terra visa a soberania alimentar e se conecta com práticas de valorização dos alimentos orgânicos. Para tanto, o discurso ambiental do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra aciona os princípios da agroecologia e da sustentabilidade, integrando uma ampla frente de luta contra o sistema capitalista, a partir de um embate direto com o agrone- gócio.

PALAVRAS-CHAVE: Movimentos Sociais, Agroecologia, MST, Cultura Digital, Ecologia Política

A configuração de um cenário de mudanças aceleradas na sociedade atual imprime um movimento dinâmico no sistema de comunicação em rede – que funciona de forma integrada e articulada, dentro de premissas da virtualidade, agregando e disponibilizando documentos

nos formatos de texto, imagem, áudio e vídeo. Considerando a complexidade que envolve as relações sociais e as ações políticas no mundo, cabe analisar a profundidade e o teor das trans- formações que se delineiam, inclusive para ressaltar a importância das redes telemáticas nas formas de ação direta dos movimentos sociais, sobretudo por representarem estruturas inerentes ao aparato informacional das sociedades contemporâneas. Pensando o campo dos movimentos sociais no Brasil, emerge a necessidade de realizar um estudo acerca do caso mais emblemático do uso das novas tecnologias de informação e de comunicação: o Movimento dos Trabalhado- res Rurais Sem Terra.

O MST começa a delinear sua política de inclusão digital , com a criação de um setor de tecnologia, a Frente Digital. Gradativamente, o coletivo passa a articular o funcionamento de Telecentros e Casas Digitais em assentamentos, cooperativas, cen- tros de formação e escolas do movimento. O projeto começa a ganhar materialidade a partir de 2003, sobretudo com a criação de toda uma estrutura de formação e comunicação espalhada por 23 estados e instrumentalizada por cerca de dois mil computadores obtidos por doações. No ano seguinte, os primeiros Telecentros foram instalados, com o objetivo de promover a capacitação e a mobilização das comunidades e dos militantes. De forma geral, o projeto de inclusão digital do MST se constitui por um movimento dialógico matizado por sua relação com o poder pú- blico, sobretudo quando o Estado assume sua tarefa de definir e implementar políticas públicas . Na prática, tais políticas são reapropriadas numa interface que se propõe a suprir as demandas mais diretas desse segmento do campesinato.

Pela perspectiva da totalidade, temos um campo relacional marcado por dispu- tas, contradições, retrocessos e alguns acúmulos. A implementação dessas políticas pú- blicas revela nuances do papel do Estado e, ao mesmo tempo, exemplifica alguns efeitos concretos sobre os movimentos sociais. Nesse caso específico, a estrutura do MST sofre influências da sociedade política – na figura do Ministério da Cultura e do Ministério do Desenvolvimento Agrário – e da sociedade civil – no modelo dos Pontos de Cultura – re- velando um “modelo de gestão compartilhada”. A caracterização de uma imbricação entre Estado e sociedade civil pode criar novos mecanismos de “opressão pública”, por vezes su- tis, constituídos em torno dos interesses do capital, até por envolver um projeto hegemônico . Assim, temos um processo em que inúmeras organizações da sociedade civil e até mesmo movimentos sociais passam a ser cooptados pelo grupo dirigente, criando situações de em- bate entre “projetos de dominação” e “projetos de emancipação”. Por sua vez, o MST pa- rece se distanciar desse sentido de dominação ao apresentar a “Reforma Agrária Popular” como um instrumento mais amplo de emancipação da classe trabalhadora brasileira e de enfrentamento do capitalismo. Nessa linha, por intermédio de um processo de democrati- zação do acesso à terra, também articulado com o uso de um aparato de tecnologia digital , o Movimento propõe produzir alimentos orgânicos e colaborar na construção da soberania alimentar.

Ao formular estratégias de ação política que possam respaldar a luta pela terra, o MST busca articular a transmissão e a divulgação de informações, a partir de uma interface com diferentes formatos e mídias para a produção de conteúdo, sobretudo em quatro níveis integra- dos: a) na estrutura organizacional do próprio movimento, no sentido de possibilitar uma maior interatividade entre assentados, acampados e as lideranças locais/regionais/nacionais, sobre- tudo pelo fato do Movimento estar disseminado ao longo de todo o território nacional; b) no rápido escoamento da produção dos assentamentos, fundamentalmente de alimentos orgânicos; c) na propagação dos princípios da agroecologia e da sustentabilidade, especialmente entre os militantes, mas também com o propósito de ampliar esse debate para o conjunto da população brasileira, no sentido de construir a soberania alimentar; d) na luta política mais ampla, por uma sociedade mais justa e igualitária, suplantando os limites impostos por um modelo capitalista excludente e predatório – representado pelo agronegócio, pelo latifúndio e pelas transnacionais.

Para além das atividades cotidianas e pensando no nível mais estrutural de todo o mo- vimento, as lideranças do MST preconizam que os militantes assumam o compromisso histó- rico de serem os “comunicadores da Reforma Agrária Popular”. Para tanto, as tecnologias de informação e comunicação são fundamentais e estratégicas. Porém, surge a necessidade de se construir veículos de comunicação contra hegemônicos, de caráter popular e emancipatório, inclusive para combater a supremacia do agronegócio reforçada pela grande mídia.

Por fim, compreender as possibilidades e limites das ferramentas digitais para os mo- vimentos sociais significa percebê-los em sua relação dialética com as práticas políticas de ação direta que são acionadas pelo Movimento em seu cotidiano e em situações mais amplas de embate e conflito. Entendendo a realidade social em termos de sua multidimensionalidade , cabe produzir análises fundamentadas em referenciais teóricos capazes de acom- panhar o movimento dialético relacionado ao uso de novas tecnologias digitais pelo MST em sua luta política. Enfim, o rigor analítico se pauta no método dialético e numa conjugação de categorias - como contradição, totalidade e historicidade - que podem contribuir para desvelar a complexidade do processo e suas “múltiplas determinações entrela- çadas”.

Historicamente, os movimentos sociais aparecem como atores políticos fundamentais no processo de reestruturação da sociedade, a partir de lutas populares e democráticas de amplo espectro. A questão ambiental começa a tomar novos contornos na década de 60, com a poli- tização do discurso e das ações dos movimentos sociais. Para além das limitações analíticas oriundas do paradigma dos “Novos Movimentos Sociais” (de autores como Touraine, Offe, Melucci, Laclau, dentre outros), o presente trabalho se vincula à “Ecologia Política”, até por esta perspectiva trazer questões fundamentais para o debate público: percepção do impacto da dimensão material e das formas de produção na organização da sociedade; a finitude dos recur- sos naturais e os efeitos da crise socioambiental. No entanto, nenhuma dessas duas matrizes de

pensamento influenciou originalmente o MST no seu processo de ocupação do espaço agrário .

O modelo de ocupação do espaço rural inicialmente adotado pelo MST, constituído pela combinação entre assentamentos e cooperativas, acabou entrando em declínio, na medida em que se mostrava muito dependente da lógica estrutural de mercado e lastreado por princípios da concorrência e do lucro. Além dos impasses econômicos, a resistência ideológica dos militan- tes também fez com que esse modelo pudesse ser gradativamente flexibilizado e reestruturado. Assim, na configuração dos assentamentos, a tônica nas cooperativas foi sendo substituída pelo debate sobre a agroecologia, sobretudo a partir da integração do MST ao conjunto da Via Cam- pesina. Tal movimento de reavaliação ideológica esteve em consonância com a necessidade de propor uma reforma agrária de cunho popular, como um contraponto ao aparato capitalista de pro- dução, representado no campo pelo agronegócio, além das transnacionais e do latifúndio. Sendo assim, em meados dos anos 90 o MST começa a fomentar o debate sobre a matriz agroecológica . De tal maneira, tal projeto ambiental foi assumindo um viés agroecológico, sobretudo por valorizar o conhecimento tradicional do campesinato e por fundamentar um modelo “contra hegemônico” de manejo dos recursos naturais.

O IV Congresso Nacional do MST (2000) representa o grande divisor de águas em dois aspec- tos: por caracterizar uma nova política institucional para os assentamentos, enfatizando princípios agroecológicos, com o manejo dos recursos naturais; e também por explicitar um discurso ambiental . A luta genérica contra o sistema capitalista se transfere para a arena específica de embate com o agronegócio, até porque este centraliza a comercialização de sementes geneticamente modificadas e alimentos transgênicos. Por isso, as “linhas políticas” definidas a partir do evento apontam para os seguintes pontos: o combate aos transgênicos; a defesa da soberania alimentar, dos alimentos orgâ- nicos e de um novo modelo tecnológico pautado na sustentabilidade ambiental. De fato, a agroeco- logia aparece como um princípio fundamental que pode ser identificado expressivamente também nos textos do V Congresso Nacional do MST (2007) e na proposta de Reforma Agrária Popular elaborada pelo movimento. O viés socioambiental se articula ao modelo de reforma agrária que depende, dentre outros aspectos, do debate sobre meio ambiente, biodiversidade, água doce, defesa da bacia do São Francisco e da Amazônia.

O Movimento também reconhece a necessidade de que a luta pela reforma agrária seja am- pliada, sobretudo para fortalecer a aliança entre trabalhadores do campo e da cidade, especialmente na interlocução com o poder público, visando garantir a soberania alimentar da população brasilei- ra. Enfim, a organização da produção no campo precisa se apresentar em consonância com as lutas unificadas voltadas para o conjunto da classe trabalhadora brasileira, com o objetivo de recompor um bloco histórico e político de cunho popular. Em suma, o modelo de Reforma Agrária Popular formulado pelo MST apresenta valores bem definidos em torno da distribuição democrática de terras, da alimentação saudável e da soberania alimentar, além da permanência dos jovens no

campo.

Como vimos, a agenda agroecológica também acaba sendo fomentada pelo uso das novas tecnologias digitais, seja para propagar técnicas de agricultura familiar voltadas para a produção de orgânicos, seja para escoar rapidamente a produção e permitir a distribuição em várias localidades, ou mesmo como uma estratégia para fixar o jovem no campo. Sim- bolicamente, a agroecologia também acaba representando a construção de um novo modelo de organização para o campo, sobretudo como uma forma de resgatar o saber tradicional do campesinato, voltado para uma alimentação mais saudável, notadamente pelo consumo de or- gânicos. Como foi demonstrado, a agroecologia apresenta um lugar de destaque no discurso ambiental do MST; porém o termo “sustentabilidade” também aparece com certa frequência, embora curiosamente o site somente disponibilize um único texto/entrevista com essa temática . De acordo com Loureiro (2012) o conceito de “desenvolvimento sustentável” não é compa- tível com a tradição crítica, na medida em que revela ranços da tradição científica positivista, exaltando o primado da razão e da técnica, além de adotar a noção de progresso linear e hierár- quico como critério de modernidade. Esse paradigma reforça um projeto político dominante, fomentado por uma visão de mundo linear e mecânica que naturaliza o mercado e a propriedade privada.

Por sua vez, para compreender os conflitos distributivos a Ecologia Política propõe um debate para além da dimensão econômica, tentando estabelecer uma conexão entre os conflitos locais e as redes globais. Para pensar esse cenário de conflitos que envolvem diferentes mo- vimentos sociais, alguns autores (Loureiro, Barbosa, Zborowski: 2009) caracterizam o campo ambiental como um espaço de disputas de poder; transversalmente constituídas, por intermédio de diversos saberes incluídos. Portanto, as ações diretas e as mobilizações virtuais do MST acontecem dentro dessas premissas em que se procura estabelecer conexões com redes de mo- vimentos sociais no Brasil e no mundo, sobretudo para enfrentar conflitos entre elementos de expropriação/exclusão. Destacando-se, especialmente, a luta pela terra e seus decorrentes des- dobramentos que envolvem a violação de direitos humanos e de direitos constitucionais mais fundamentais.

Em síntese, o discurso ambiental do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ganha um teor revolucionário e transformador quando aciona o princípio da agroecologia no combate ao agronegócio e ao capitalismo e, por outro lado, assume uma dimensão reformis- ta e integradora ao defender o desenvolvimento sustentável, dentro dos preceitos do sistema capitalista. Assim, muitas vezes, na dinâmica de construção do projeto emancipatório, os mo- vimentos de ação direta incorporam o ambientalismo em suas bandeiras de luta, sem que isso seja feito de forma coerente ou mesmo reflexiva. Por isso, este é um espaço, por excelência, de percepção das contradições; ou mesmo de tensões entre projetos de cunho revolucioná- rio e outros de natureza reformista.De fato, o cerne da questão está em compreender que o

problema ambiental está relacionado com uma determinação social, historicamente oriunda do modo de produção capitalista que estabelece como prioridade a acumulação de riquezas .

E se no reconhecimento dessa crise socioambiental, o MST organiza sua luta política no embate com o capital e com o agronegócio, tal fato também se apresen- ta nas ações políticas reveladas pelo teor de seu ativismo virtual. O exemplo mais re- cente e significativo pôde ser acompanhado durante as eleições majoritárias de 2014, quando o Movimento divulgou de forma massiva a campanha “Não vote em ruralista” , além de ter alavancado o “Plebiscito Popular pela Constituinte” . Assim sendo, a luta pela terra se expande também para o front do sistema representativo e para o debate acerca da reforma política, no caminho de um projeto de construção do poder popular. No bojo de todo esse movimento, o MST demonstrou um esforço concentrado, es- pecialmente no website e nas redes sociais, para divulgar essas campanhas, até mesmo pelas posturas de sublimação ou mesmo de criminalização adotadas pela grande mídia acerca das referidas temáticas. Evidente que, em função da caracterização campesina do movimento, o peso maior foi dado ao material que denunciava o poderio da Frente Parlamentar da Agro- pecuária no Congresso, destacando as posições retrógradas da chamada Bancada Ruralista, sobretudo ao atacar os direitos indígenas e desqualificar a importância da agricultura familiar .

Por fim, no contexto de questões e embates produzidos no campo da Ecologia Política, as considerações iniciais apresentadas pelo presente trabalho, pretenderam situar as ações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra em termos dos limites, possibilidades e con- tradições constituintes do projeto ambiental elaborado pelo MST. Assim, já podemos enume- rar duas contradições: a) quando se conjuga um modelo de agroecologia dentro da dinâmica capitalista e do mercado de trabalho, perdendo o posicionamento de enfrentamento radical do agronegócio; b) quando se afirma a segurança alimentar das famílias e a soberania alimentar do país e, ao mesmo tempo, também se fala em dinamizar economias regionais pela geração de mais empregos. Enfim, em ambos os casos se continua operando dentro dos preceitos do sistema capitalista.

Mas, na perspectiva do método crítico e dialético, as transformações e seus impactos não são inexoráveis, pois dependem do sentido atribuído e do lugar social dos sujeitos e agentes societários. Eleger a teoria crítica e o método dialético, como referenciais para compreender as formas de ação política do MST no século XXI, significa assumir o conhecimento emancipa- tório, voltado para a transcendência dos processos estruturais de dominação. Como já foi de- monstrado, a complexidade do cenário em que o MST aciona o aparato de tecnologia digital no enfrentamento da hegemonia capitalista, somente pode ser entendida nos termos de uma análise histórica e estrutural que supõe o entendimento das múltiplas determinações, percebendo as

contradições e reconstituindo o fluxo da totalidade. Por fim, assumir a tarefa de refletir sobre as possibilidades e limites advindos da experiência do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra significa também revelar, dialeticamente, o sentido e a profundidade da mudança que estamos vivenciando.

REFERÊNCIAS

ACANDA, J. L. Sociedade civil e hegemonia. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2006.

BORSATTO, Ricardo Serra & CARMO, Maristela Simões. A Construção do Discurso Agroe- cológico no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). Revista de Economia e Sociologia Rural, Piracicaba-SP, Vol. 51, Nº 4, p. 645-660, Out/Dez 2013.

CHASIN, J. Marx: estatuto ontológico e resolução metodológica. São Paulo: Boitempo, 2009.

LOUREIRO, C.F.B., BARBOSA, G.L., ZBOROWSKI, M. B. Os vários “ecologismos dos pobres” e as relações de dominação no campo ambiental. In: LOUREIRO, C.F.B., LAYRAR- GUES, P.P., CASTRO, R.S. de (orgs.). Repensar a educação ambiental: um olhar crítico. São Paulo: Cortez, 2009.

LOUREIRO, C. F. B. Sustentabilidade e educação: um olhar da ecologia política. São Paulo: Cortez, 2012.

MAPAS MENTAIS COMO METODOLOGIA NA ANÁLISE DAS CONCEPÇÕES

No documento Volume 2 (páginas 108-115)

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