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ANGÉLICA MICHELS MÜLLER FÁTIMA ELIZABETI MARCOMIN

No documento Volume 2 (páginas 50-53)

RESUMO

As questões ambientais estão no cerne das discussões da sociedade atual, gerando debates em diversos âmbitos da sociedade. Em virtude desse aspecto, a Educação Ambiental, ao agregar o estudo da percepção ambiental e a ética do cuidado, se fortalece e possibilita que elementos imprescindíveis sejam incorporados aos processos formativos e educativos com vistas à sus- tentabilidade socioambiental. Contemplar estudos que considerem essas dimensões favorece a reflexão e a necessidade de expandir os níveis e contextos em que a Educação Ambiental se desenvolve. Esse ensaio teórico é um recorte de uma pesquisa em desenvolvimento, em nível de Mestrado, no Programa de Pós-Graduação em Educação, que objetiva compreender como os documentos escolares e a percepção de pais e professores de uma escola da rede pública estadual em Tubarão/SC concebem o papel da escola na formação de sujeitos críticos e atuan- tes na sociedade e de relações mais estreitas entre escola-comunidade. Estão contempladas as principais dimensões do ensaio teórico que sustenta a pesquisa em questão. Parte-se do pressu- posto que incorporando a percepção, o cuidado, a integridade e o diálogo como elementos de transformação dos sujeitos e, consequentemente, da escola e da comunidade na qual a mesma encontra-se inserida, estreitam-se as relações entre ambas e contribui-se para uma formação educativa comprometida com a sustentabilidade socioambiental.

Palavras-chave: Percepção. Cuidado. Escola. Sustentabilidade socioambiental.

INTRODUÇÃO

Atualmente vive-se um período em que as questões ambientais estão em alta na mídia em decorrência da consequência advinda da intervenção humana no ambiente, assim como da reflexão gerada a partir dos eventos nacionais e internacionais e da participação de movimentos em defesa do meio ambiente. Qualquer atividade humana causa impacto negativo ou positi- vo no meio ambiente, contudo algumas temáticas têm gerando uma “maior” repercussão nos meios de comunicação, como: aquecimento global, inundações, desmoronamentos de encostas, desmatamento, poluição, falta de água potável em determinadas regiões do planeta, riscos de

escassez de alimentos, dentre outras. Deve-se pensar nas consequências das ações humanas para com o ambiente e buscar constituir outro modo de interação com os bens naturais assim como medidas mitigadoras frente aos impactos causados pelo ser humano. Nesse contexto, universidades, escolas, organizações não governamentais, governos e outras entidades devem participar de processos sensibilizadores junto a estudantes e à população em geral no intuito de contribuir para a formação de relações mais equilibradas entre a sociedade e os bens naturais.

Diante desse cenário, a Educação Ambiental (EA) assume extrema relevância. Sato (2004, p. 12) salienta que “a EA, deve buscar sua eterna recriação, avaliando seu próprio cami- nhar na direção da convivência coletiva e da relação da sociedade diante do mundo”. Pode-se dizer que as diferentes abordagens em EA, em franca expansão no Brasil, têm sinalizado, de forma ainda mais intensiva, o papel desta na formação de educadores que objetivem a transfor- mação dos sujeitos e da realidade com vistas à consolidação de sociedades sustentáveis.

Também se faz necessário compreender as ações dos seres humanos em relação ao meio ambiente, ao próximo, e a tudo que os cerca. Essa interpretação pode ser pautada na percepção, na captura da essência das atitudes humanas para então chegar-se à sensibilização e, por conse- guinte, à mudança nos hábitos e atitudes. Guimarães (2004, p. 86) afirma que

precisamos, também superar a noção de sensibilizar, que na maior parte das vezes é entendida como compreender racionalmente. Sensibilizar envolve também o senti- mento, o amar, o ter prazer em cuidar, a forma como cuidamos dos nossos filhos. É o sentido de doação, de integração, de pertencimento à natureza.

Por esse motivo é importante (re)construir a visão que se tem do mundo e, em muitas situações, torna-se essencial substituir as lentes com as quais se observa a natureza e enxergá-la com outros olhos (CARVALHO, 2004). Com esse “exercício”, pode-se reconsiderar fatos, re- ver conceitos e (re)construir ações de intervenção. O estudo da percepção ambiental possibilita a construção do conhecimento e, em consequência, a compreensão em relação ao local onde se está inserido, bem como reconhecer que muitas das informações veiculadas pela mídia vêm mascaradas com disfarces propositais para que a população não compreenda ou não dê a devida importância à real situação em que sua comunidade se encontra.

A pesquisa em que se insere o presente ensaio teórico objetiva compreender como os documentos escolares e os pais e professores de uma escola da rede pública estadual em Tuba- rão/SC concebem o papel da escola na formação de sujeitos críticos e atuantes na sociedade e a importância de relações mais estreitas entre escola-comunidade.

NOS CAMINHOS DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL

O fenômeno perceptivo, segundo Merleau-Ponty (2011, p. 24, grifos do autor), é aquilo “[...] sem o que o fenômeno não pode ser chamado de percepção. O ‘algo’ perceptivo está sem- pre no meio de outra coisa, sempre faz parte de um ‘campo’. [...] Somente a estrutura da percep- ção efetiva pode ensinar-nos o que é perceber”. Para o autor, a pura impressão é imperceptível e impensável como momento da percepção. Complementando, “a análise descobre, portanto, em cada qualidade, significações que a habitam” (MERLEAU-PONTY, 2011, p. 25). Chauí (2003, p. 135) acrescenta que “a percepção é, assim, uma relação do sujeito com o mundo exterior [...]. A relação dá sentido ao percebido e àquele que percebe, e um não existe sem o outro”. A percepção tem como função essencial, de acordo com Merleau-Ponty (2011, p. 40), “[...] a de fundar ou de inaugurar o conhecimento, e a vemos através de seus resultados”, ou melhor, é por meio da percepção que se passa a construir conhecimento; desse modo, se o sujeito não conse- gue captar a essência do que o cerca, do que é visualizado, sentido e interpretado, carecerá de fundamentos para o conhecimento.

Del Rio (1999, p. 3) entende a percepção “como um processo mental de interação do in- divíduo com o meio ambiente que se dá através de mecanismos perceptivos propriamente ditos e, principalmente cognitivos”. Então, em relação ao meio ambiente, cada ser humano percebe, reage e responde de maneira diferente às ações e impressões sobre o local onde vive, sendo que as respostas e expressões que daí decorrem são o resultado das percepções apresentadas por cada indivíduo (FERNANDES et al., 2004). A percepção ambiental, conforme Bassani (2001), compreende a experiência sensorial direta do ambiente em determinado momento e não um processo passivo de recepção de informações, já que implica na interpretação da estimulação do ambiente pelas pessoas. Nesse sentido, Merleau-Ponty (2011, p. 85) elucida que “a percep- ção abre-se sobre coisas”, ou seja, a percepção ambiental abre-se sobre o ambiente no qual o indivíduo está inserido, visando a interpretar as suas vivências desse ambiente. Isso porque, de acordo com Bassani (2001), ao perceber um dado ambiente, a pessoa interpreta os estímulos desse ambiente e essa interpretação envolve aprendizagens e experiências que ela pode ter tido durante sua vida com tal ambiente.

Para Borghi e Zancul (2009, p. 348), “[...] a percepção ambiental pode fundamentar a prática educativa crítica e emancipatória, uma vez que a partir da mesma é possível promover o desenvolvimento da cidadania”. Nesse caso, com base na percepção ambiental, associada com práticas educativas alicerçadas na EA crítica, emancipatória e transformadora, é possível desve- lar subsídios para a construção de processos educativos comprometidos com a sustentabilidade socioambiental e, portanto, com a transformação da sociedade.

Por isso, o “estudo da percepção ambiental é de fundamental importância para que pos- samos compreender melhor as inter-relações entre o homem e o ambiente, suas expectativas, anseios, satisfações e insatisfações, julgamentos e condutas” (FAGGIONATO, 2014). No en-

tender de Melazo (2005), o estudo da percepção ambiental deve ir além da interpretação do indivíduo em relação ao ambiente, deve proporcionar subsídios para que este indivíduo seja sensibilizado e, assim, adquira consciência da importância do ambiente em que vive.

Merleau-Ponty (2011, p. 14) diz que “o mundo não é aquilo que eu penso, mas aquilo que eu vivo; eu estou aberto ao mundo, comunico-me indubitavelmente com ele, mas não o possuo, ele é inesgotável”. Pautando-se no pensamento Merleau-pontyano, entende-se que o mundo é o local no qual se realizam todos os tipos de experiências possíveis alicerçadas às vi- vências de cada indivíduo. O autor afirma que o mundo é mundo em virtude de sua facticidade, já que o mundo pode ser interpretado como a união de vários fragmentos de vivências, fatos, ações mediadas pelo ser humano.

No documento Volume 2 (páginas 50-53)

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