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OFICINA PEDAGÓGICA SOBRE FÍSICA E MEIO AMBIENTE: APLICANDO A TEORIA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

No documento Volume 2 (páginas 164-169)

Rafael Alves Fernandes Eriton Luiz de Almeida Neriane Nascimento da Hora

Resumo: Este trabalho apresenta os resultados da oficina “Entendendo Física no meio ambiente”, baseada na teoria na

Teoria da Aprendizagem Significativa e no conceito de alfabetização científica, executada no Núcleo de Estudos em Educação Científica, Ambiental e Práticas Sociais – Necaps. A mesma seguiu a proposta metodológica do núcleo que consiste de três momentos: atividade de acolhida, atividade de conhecimento específico e atividade de despedida, totalizando três horas. No primeiro momento, realizamos uma sondagem dos conhecimentos prévios dos alunos sobre conceitos e/ou aplicações da Física através de Mapa conceitual. Observamos que poucos conseguem identificar conceitos ou aplicações da Física em seu cotidiano. No segundo momento, utilizando uma discussão dinâmica, abordamos conceitos específicos relacionados a ondas sonoras, res- saltando aspectos importantes em relação à poluição sonora. Constatamos que a maioria dos alunos perceberam a importância de se conhecer a natureza do som e os possíveis danos à saúde e meio ambiente. Na atividade de despedida, os participantes construíram experimentos que demonstravam a propagação e as características do som, utilizando materiais de baixo custo. Como resultado, verificamos que os mesmos ressignificaram e ampliaram seus conhecimentos relacionando-os com seu dia-a- -dia, bem como com questões ambientais.

Palavras chave: Ensino de Ciências, Alfabetização Científica, Poluição Sonora,Meio Ambiente.

Abstract: This paper presents the results of the workshop “Understanding Physics in the Environment”, based on the

Meaningful Learning Theory and on the scientific literacy concept, carried out in the Núcleo de Estudos em Educação Cientí- fica, Ambiental e Práticas Sociais –Necaps. The methodological approach, followed by Necaps, consisted of three moments: welcome activity, specific knowledge activity and farewell activity, fulfilling three hours. At first moment, we did a survey about student’s ideas of concepts and/or physical applications through mental maps. We observed that few can identify con- cepts or applications of Physics in their daily lives. On the second period, through a dynamic discussion, we address specific concepts related to sound waves, discussing important aspects in relation to noise pollution. We noticed that majority realized the importance of understanding Physics in general, and more specifically the nature of sound and possible damage to health and environment. In the farewell activity, the students build experiments that demonstrated the spread and characteristics of sound, using low cost materials. As results, we noticed that they gave new meaning and increased their knowledge relating it with daily situations and environmental issues.

Keywords: Teaching Science, Scientific Literacy, Noise Pollution.

1. Introdução

A Física é uma ciência que tem papel fundamental na formação de sujeitos mais críticos e re- flexivos, contudo, ainda é vista por muitos alunos como uma disciplina abstrata e carregada de forma- lismo matemático (CARVALHO et al., 2010). Nesse sentido explorar situações da realidade vivencial do aluno como meio de aplicação de contextos da Física passa a ser um grande desafio. Neste trabalho o desafio refere-se, em particular, às relações entre o meio ambiente e a construção de significados na área da Física.

Das críticas em relação ao ensino de Ciências, grande parte refere-se à frequente condição de ouvinte a qual o aprendiz é tratado, assumindo uma postura passiva mediante ao que foi exposto pelo professor. A aprendizagem torna-se, assim, desprovida de significado para o aluno, pois o mesmo não consegue estabelecer um vínculo entre o novo conhecimento e a carga de conhecimentos que este possui devido a suas experiências e observações (GUIMARÃES, 2009).

O Núcleo de Estudos em Educação Científica, Ambiental e Práticas Sociais- NECAPS da Uni- versidade do Estado do Pará, vem realizando por meio do Programa de Estudos em Educação Científica, Ambiental e Práticas Sociais - PROECAPS oficinas pedagógicas atendendo alunos da educação básica nas escolas da Região Metropolitana de Belém, Pará. Diante disto, propomos a oficina “Entendendo Física no meio ambiente” levando em consideração aspectos importantes da alfabetização cientifica e princípios básicos da teoria da aprendizagem significativa, com o objetivo de formar cidadãos mais críticos em relação à sociedade e o meio ambiente.

2. Referencial teórico e Revisão da Literatura

2.1. Alfabetização Científica

De acordo com Chassot (2003), a ciência, simplificadamente falando, constitui-se de uma lin- guagem, isto é, uma forma de ler o mundo. Sendo assim, alfabetizar cientificamente significa mediar o processo de ensino-aprendizagem desta linguagem. O autor ressalta que ter domínio dos signos da ciência não implica somente compreender as leis da natureza por meio de fórmulas, teorias, etc., mas, além disso, significa interpretá-las dentro de um contexto social e histórico na perspectiva de promover e discutir soluções para ampliação da qualidade de vida.

Sasseron e Carvalho (2008) corroboram com a ideia ao listarem critérios, com base no estudo de Laugksch (2000), para se considerar um indivíduo alfabetizado cientificamente faz-se necessário a: compreensão básica de termos, conhecimentos e conceitos científicos fundamentais; compreensão da natureza da ciência e dos fatores éticos e políticos que circundam sua prática, entendimento das relações existentes entre ciência, tecnologia, sociedade e meio-ambiente.

A alfabetização científica é essencial para o exercício da cidadania, isto é, para a participação nas tomadas de decisões coletivas, para o posicionamento frente às questões polêmicas que envolvem o conhecimento científico (GIL-PÉREZ; VICHES, 2006). A problemática da poluição sonora em grandes cidades, por exemplo, é uma questão ambiental que precisa ser discutida pelos cidadãos. Para tal, são necessários apreender conhecimentos científicos, dentre outros, é claro, de modo a agir e reagir de forma mais crítica e reflexiva.

2.2. Aprendizagem significativa

A Aprendizagem Significativa se caracteriza pela interação entre conhecimentos prévios e no- vos. Nesse processo, os novos conhecimentos adquirem significado para o sujeito na medida em que os conhecimentos prévios sofrem ressignificações, de tal forma a dar suporte conceitual ao novo conheci-

mento. O conhecimento específico, existente na estrutura de conhecimentos do indivíduo, que permite dar significado a um novo conhecimento é chamado de subsunçor (MOREIRA, 2011).

A condição para a promoção da aprendizagem significativa, conforme proposto por Ausubel (1963, 1968 apud MOREIRA, 2011), consiste na disposição do aluno para o ato de aprender. De nada adiantará o professor buscar resgatar os conhecimentos dos alunos se estes persistem em memorizar conteúdos. Além disso, o conhecimento precisa ser lógico e psicologicamente significativo, no qual a logicidade dependerá de cada conteúdo e o segundo ocorre quando o aluno consegue atribuir relações desse conhecimento com a sua realidade (PELIZZARI et al., 2002)

Portanto, a aprendizagem significativa possibilita a construção de significados pelo sujeito, pro- porcionando maior interação ou interpretação da “sua” realidade (LEMOS, 2011). Essa construção de significado ocorre em um processo de interação de conhecimentos (prévios e novos) de forma substan- tiva e não arbitrária, configurando, assim, a reestrutração cognitiva do indivíduo (MOREIRA, 2011). Dessa forma, concebe-se que “o indivíduo está melhor instrumentalizado para usar o conhecimento, realizar novas aprendizagens e, portanto, interagir com e na realidade” (LEMOS, 2011, p. 28).

3. Metodologia

A oficina “Entendendo Física no meio ambiente” foi executada na sala no Núcleo de Estudos em Educação Científica, Ambiental e Práticas Sociais- NECAPS (Universidade do Estado do Pará) e atenderam 10 alunos entre 14 e 18 anos, todos cursando o ensino médio. A mesma seguiu a proposta me- todológica do núcleo que consiste em três momentos: atividade de acolhida, atividade de conhecimento específico e atividade de despedida (SILVA JÚNIOR, BANDEIRA, FONSECA, 2009).

No primeiro momento, solicitamos aos participantes que elaborassem um mapa conceitual sobre aplicação de conceitos da Física no cotidiano e em seguida, apresentamos uma ilustração para que os mesmos tentassem visualizar conceitos da Física presentes, com o objetivo de verificar os conhecimen- tos prévios dos alunos sobre ondas sonoras. Após, solicitamos aos participantes a elaboração de mais um mapa conceitual sobre a relação entre os conceitos centrais do som e meio ambiente.

Diante disso, iniciou-se a atividade de conhecimento específico, na qual abordamos por meio de diálogo, exposição de vídeos e imagens os conceitos físicos relacionados à natureza e ocorrência de fenômenos sonoros. Além disso, ressaltamos aspectos importantes em relação à poluição sonora, com enfoque na realidade local. Nesta, o aluno teve papel ativo e fundamental na sua aprendizagem, pois o mesmo participou da discussão argumentando e interagindo com os colegas e com o professor de modo a proceder reelaborações cognitivas. Os conteúdos foram expostos a partir de situações vivenciadas no dia a dia, tais como: o trânsito, a sala de aula, corpo humano e outros objetivando mostrar ao aluno a Física como uma ciência vinculada à sua realidade, fazendo com que ele a valorize e se interesse mais por tal disciplina.

onde os mesmos puderam construir experimentos demonstrando a propagação e as características do som através da utilização de materiais de baixo custo (recicláveis e reutilizáveis). O objetivo era de que os alunos “enxergassem” o conhecimento adquirido no segundo momento e como este se manifesta nos experimentos. Após a construção dos experimentos, os alunos discutiram e explicaram o funcionamento dos experimentos que eles construíram, buscando dar o real significado aos conceitos relacionados a cada um dos experimentos. Posteriormente, os mesmos expuseram de forma oral o que eles observaram e as conclusões obtidas.

4. Apresentação e Discussão dos Dados

Durante o primeiro momento no qual pedimos aos alunos a elaboração de dois mapas concei- tuais, sendo o primeiro referente aos conceitos e/ou aplicação da Física de modo geral, e o segundo sobre conceitos da relação som e meio ambiente. Sobre o primeiro mapa, notamos que poucos alunos conseguem identificar e/ou correlacionar conceitos ou aplicações da Física em seu cotidiano.

A construção do segundo mapa conceitual (Figura 1 e 2) foi muito importante para as discussões que ocorreriam na atividade de conhecimento específico, pois percebemos que a maioria dos participan- tes percebem o som como “algo” apenas presente na música, buzina ou barulho. No que diz respeito aos conceitos relacionados ao som, percebemos que a maioria não possui conceitos científicos em relação às características da onda sonora, tais como altura, frequência, intensidade e outros.

Através de uma questão levantada no primeiro momento referente ao som. Iniciou-se a ativida- de de conhecimento específico, onde alunos puderam construir e reconstruir seus conceitos prévios ou alternativos referentes ao som, e os mesmo deram novos significados aos conceitos trabalhados durante a oficina, como pode se observar nestes mapas conceituais elaborados após a discussão (Figuras 3 e 4).

Verificamos que antes da discussão, os participantes estabeleceram somente relações com a pa- lavra “som”, todavia, após, eles foram capazes de relacionar conceitos físicos com termos à palavra som.

Através da análise dos experimentos (Telefone com fio, caixa acústica, e outros) e textos cons- truídos e das falas dos sujeitos na atividade de despedida, percebemos que os mesmos apresentaram um resultado satisfatório, pois alunos conseguiram aplicar o conhecimento que eles adquiriram durante os dois momentos anteriores. Como podemos observar na fala de um dos participantes: “aprendi um pouco mais de Física de uma maneira divertida e diferente, com experimentos [...].”

Por fim, considerar os conhecimentos prévios dos alunos para, após isso confrontá-los com os con- ceitos científicos, bem como estabelecer relações a partir de uma realidade vivenciada – a poluição so- nora na cidade local – foi importante para a concretização de uma aprendizagem mais significativa, pois os participantes perceberam a importância de se conhecer a Física de modo geral e mais especificamente a natureza do som e os possíveis danos à saúde e meio ambiente.

A escola, enquanto instituição formal do saber precisa reinventar suas práticas, incluindo-se neste rol, o ensino de ciências, mais especificamente, o ensino de Física. Têm-se nas teorias da alfabeti- zação científica e da aprendizagem significativa aliadas nesse processo. Todavia, as discussões precisam extrapolar os muros da academia e chegar às escolas.

A oficina “Entendendo Física no meio ambiente” teve essa pretensão de proporcionar aos estu- dantes não somente a aprendizagem de conteúdos em relação às ondas sonoras ou de fazê-los decorar fórmulas e princípios da Física. Por outro lado, nosso intuito foi que os alunos compreendessem a importância desses conceitos no seu dia-a-dia e pudessem aplicar nas demais situações que poderiam vivenciar posteriormente, possibilitando aos mesmos, uma formação mais cidadã.

6. Referências

CARVALHO, A. M. P.; RICARDO, E. C.; SASSERON, L. H.; ABIB, M. L. V. S.; PIETROCOLO, M. Ensino de Física (Coleção idéias e Ação). São Paulo: Cengage Learning, 2010.

CHASSOT, A. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social. Revista Brasileira de Educação,n.22, Fev/Mar/Abr, 2003.

GIL-PÉREZ, D.; VILCHES, A. Educación ciudadana y alfabetización científica: mitos y realidades. Revista Iberoamericana de Educación, n. 42, p. 31-53, 2006.

GUIMARÃES, C. C. Experimentação no Ensino de Química: caminhos e descaminhos rumo à aprendi- zagem significativa. Química Nova na Escola, v. 31, n. 3, Agosto, 2009.

LEMOS, E. S. Aprendizagem significativa: estratégias facilitadoras e avaliação. Aprendizagem Signi- ficativa em Revista, v. 1, n. 1, pp. 25-35, 2011.

MOREIRA, M. A. Aprendizagem Significativa: um conceito subjacente. Aprendizagem Significativa em Revista, v. 1, n. 3, pp. 25-46, 2011.

PELIZZARI, A. et al. Teoria da aprendizagem significativa segundo Ausubel. Revista PEC, Curitiba, v. 2, n. 1, p. 37-42, 2002.

SASSERON, L. H.; CARVALHO, A. M. P.. Almejando a alfabetização científica no ensino fundamen- tal: a proposição e a procura de indicadores do processo. Investigações em Ensino de Ciências, v. 13, n. 3, pp.333-352, 2008.

SILVA JÚNIOR, C. A.; BANDEIRA, G. M.; FONSECA, M. J. C. F. (Orgs.). Vivências Pedagógicas em Educação Científica, Ambiental e Saúde. n. 1, Belém: Gráfica Smith, 2008.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MITO E O MITO NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL:

No documento Volume 2 (páginas 164-169)

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