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Aposentadoria por Idade da Pessoa com Deficiência

7. APOSENTADORIA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA: REQUISITOS

7.4 Aposentadoria por Idade da Pessoa com Deficiência

Ao discorrer sobre a Aposentadoria por idade, necessário se faz tecer algumas considerações sobre a questão do envelhecimento. Nesse sentido, Ana Amélia Camarano e Maria Tereza Pasinato abordam o envelhecimento da seguinte forma:

O envelhecimento de um indivíduo é uma ação contínua que se inicia no feto e o acompanha até a morte. É associado a um processo biológico que envolve a deterioração progressiva das condições de saúde, resultando em uma diminuição da capacidade funcional do indivíduo. Essa diminuição não depende apenas do avanço da idade cronológica, mas também das características individuais, dos estilos de vida, condições de trabalho.234

Sobre o benefício de Aposentadoria por idade, este encontra-se previsto no art. 201, § 7º, II, da Constituição Federal, e regulamentado pelos arts. 48 a 51 da Lei nº 8.213/91, arts. 51 a 55 do Decreto nº 3.048/99 e arts. 213 a 221 da Instrução Normativa 45/10 do INSS, sendo um risco social incerto, quando se conhece a data da eventualidade, uma vez que depende apenas do decurso do tempo, mas ignora- se se ocorrerá, haja vista uma eventualidade, como, por exemplo, a morte.

Sobre a origem da proteção, Miguel Horvath Júnior e Roberta Soares da Silva apregoam que:

A proteção se justifica não como um direito ao descanso, mas tem por base uma situação de necessidade social provocada pela redução da capacidade laboral em decorrência do processo biológico de envelhecimento, que acarreta lentidão de raciocínio, reações mais lentas, dificuldade de aprendizado, diminuição auditiva.235

Para a concessão da aposentadoria por idade urbana, necessário o cumprimento da idade e carência.

234 CAMARANO, Ana Amélia; PASINATO, Maria Tereza. Envelhecimento Funcional e suas

Implicações para a oferta da força de trabalho brasileira. IPEA, n. 1326, 2008, p. 7.

235 HORVATH JÚNIOR, Miguel; SILVA, Roberta Soares da. Direitos Humanos e Pessoa com

Deficiência: uma Visão Integrativa. In: COSTA-CORRÊA, André L. et al. (Orgs.). Direitos e

Nesta espécie de benefício, de forma geral, o segurado trabalhador urbano deve completar, juntamente com a carência, 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60 (sessenta) anos, se mulher, conforme requisitos do art. 48 da Lei nº 8.213/91.

A aposentadoria por idade da pessoa com deficiência é concedida mais precocemente, aos 60 anos para os representantes do sexo masculino, e aos 55, para as do sexo feminino, conforme o art. 3º, IV da Lei Complementar nº 142 de 2013:

Art. 3o É assegurada a concessão de aposentadoria pelo RGPS ao segurado

com deficiência, observadas as seguintes condições:

IV - aos 60 (sessenta) anos de idade, se homem, e 55 (cinquenta e cinc o) anos de idade, se mulher, independentemente do grau de deficiência, desde que cumprido tempo mínimo de contribuição de 15 (quinze) anos e comprovada a existência de deficiência durante igual período.

O mesmo ocorre no caso da aposentadoria por idade dos trabalhadores rurais:

Art. 48. A aposentadoria por idade será devida ao segurado que, cumprida a carência exigida nesta Lei, completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60 (sessenta) se mulher. (Redação dada pela Lei n. 9.032, de 1995236).

[...]

§ 1º Os limites ficados no caput são reduzidos para sessenta e cinquenta e cinco anos no caso de trabalhadores rurais, respectivamente homens e mulheres, referidos na alínea a do inciso I, na alínea g do inciso V e nos incisos VI e VII do art. 11.

Ainda sobre o envelhecimento populacional, segundo Ana Amélia Camarano e Maria Tereza Pasinato:

A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu como trabalhador em fase de envelhecimento aquele com 45 anos de idade ou mais. Assume-se que a partir dessa idade as perdas de algumas capacidades funcionais tendem a se acentuar caso medidas preventivas não sejam adotadas concomitantemente, bem como se as condições de trabalho não forem adequadas. Condições inadequadas de trabalho podem ser traduzidas em riscos de natureza física, química, biológica ou organizacional, que podem resultar no afastamento precoce do mercado de trabalho.237

No caso da pessoa com deficiência, a questão do envelhecimento pode se tornar mais grave na medida em que há um prejuízo físico e sensorial maior em

236 BRASIL. Lei n. 9.032, de 28 de abril de 1995.

237 CAMARANO, Ana Amélia; PASINATO, Maria Tereza. Envelhecimento Funcional e suas

comparação com outras pessoas que não possuem deficiência, trazendo, portanto, um maior risco.

A data de pagamento do benefício, conforme art. 49 da Lei nº 8213/91, será devida a partir da data do desligamento do emprego, quando requerida até essa data ou nos 90 dias depois dela, e a partir da data do requerimento, quando não houver desligamento do emprego ou após o prazo previsto na alínea a. Para os demais segurados, a data do pagamento ocorrerá na data de entrada no requerimento.

Quanto à fórmula de cálculo do benefício, tem-se que a aposentadoria por idade consiste numa renda mensal de 70% do valor do benefício acrescido de 1% deste por grupo de 12 contribuições mensais, até totalizar 100%, conforme art. 50 da Lei nº 8.213/91:

Art. 50. A aposentadoria por idade, observado o disposto na Seção III deste Capítulo, especialmente no art. 33, consistirá numa renda mensal de 70% (setenta por cento) do salário de benefício, mais 1% (um por cento) deste, por grupo de (doze) contribuições, não podendo ultrapassar 100% (cem por cento) do salário de benefício.

Na aposentadoria por idade também há incidência do fator previdenciário – baseado na idade e tempo de contribuição do trabalhador e na expectativa de vida do brasileiro –, que diminui, na maioria dos casos, sensivelmente a renda da aposentadoria. Porém, seu cômputo será considerado somente se esta for mais vantajosa, segundo prescrição do art. 9º, I da Lei complementar nº 142 de 2013.

Art. 9o Aplicam-se à pessoa com deficiência de que trata esta Lei

Complementar:

I - o fator previdenciário nas aposentadorias, se resultar em renda mensal de valor mais elevado;

Diferentemente da aposentadoria por tempo de contribuição à pessoa com deficiência, para fazer jus à aposentadoria por idade, não importa o grau de deficiência, bastando a comprovação, tão somente, da existência da deficiência por 180 meses e na data em que o segurado implementou o requisito etário no dia do requerimento do benefício ou quando alcança o tempo de carência mínimo.

Em relação às formas de cálculo para a concessão do benefício, não houve inovação, mantendo-se, portanto, as regras presentes na Lei nº 8.213/91, entre seus arts. 28 a 40, além das regras presentes nos arts. 3º, 5º, 6º e 7º da Lei nº 9.876/99238.

Frisa-se que para efeito de cálculo e alíquota, não se faz necessário que o segurado comprove a condição de deficiência. Assim, podem também ser considerados como salários de contribuição os que estiverem fora do período de deficiência comprovada.

Importante mencionar que tempos de contribuição que não são considerados para efeitos de carência, ainda que estejam fora do período em que o segurado foi acometido por alguma deficiência, podem ser incluídos, e, inclusive, aumentar o tempo de contribuição, bem como tornar o fator previdenciário positivo para o segurado.

Ademais, conforme abordado no tópico carência, há situações em que é possível, ainda que com controvérsia, a aplicação da regra de transição da carência quando do implemento do requisito etário. Assim, se ao se completar a idade, a carência a ser cumprida era inferior aos 180 meses, o tempo de cumprimento na condição de deficiência também deveria ser o mesmo.

7.4.1 Período Rural: possibilidade de cômputo para a Concessão da Aposentadoria por Idade do Deficiente

Segundo expresso no art. 3º, IV, da Lei Complementar nº 142 de 2013, a redução etária das aposentadorias às pessoas com deficiência não ficou adstrita, tão somente, às aposentadorias urbanas, em correspondência com o princípio da isonomia e da uniformidade e equivalência na prestação dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais, conforme art. 194, II, da CF.

Art. 70-C. A aposentadoria por idade da pessoa com deficiência, cumprida a

carência, é devida ao segurado aos sessenta anos de idade, se homem, e cinquenta e cinco anos de idade, se mulher.

[...]

§ 2º Aplica-se ao segurado especial com deficiência o disposto nos §§ 1º a

4º do art. 51, e na hipótese do § 2º será considerada a idade prevista no caput deste artigo, desde que o tempo exigido para a carência da aposentadoria por idade seja cumprido na condição de pessoa com deficiência.

Aplica-se, pois, à pessoa com deficiência, a aposentadoria rural e por idade rural híbrida, quando intercala-se períodos de contribuição na zona urbana com períodos na zona rural, previstas no art. 51, §§ 1º e 2º, do Decreto nº 3.048/99, conforme segue:

Art. 51. A aposentadoria por idade, uma vez cumprida a carência exigida, será devida ao segurado que completar sessenta e cinco anos de idade, se homem, ou sessenta, se mulher, reduzidos esses limites para sessenta e cinqüenta e cinco anos de idade para os trabalhadores rurais, respectivamente homens e mulheres, referidos na alínea "a" do inciso I, na alínea "j" do inciso V e nos incisos VI e VII do caput do art. 9º, bem como para os segurados garimpeiros que trabalhem, comprovadamente, em regime de economia familiar, conforme definido no § 5º do art. 9º.

§ 1o Para os efeitos do disposto no caput, o trabalhador rural deve

comprovar o efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício ou, conforme o caso, ao mês em que cumpriu o requisito etário, por tempo igual ao número de meses de contribuição correspondente à carência do benefício pretendido, computado o período a que se referem os incisos III a VIII do § 8o do art. 9o.

§ 2o Os trabalhadores rurais de que trata o caput que não atendam ao

disposto no § 1o, mas que satisfaçam essa condição, se forem considerados

períodos de contribuição sob outras categorias do segurado, farão jus ao benefício ao completarem sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos, se mulher.

Todavia, faz-se imprescindível a comprovação da deficiência, independentemente do grau, no mesmo período de carência, considerada a prova da atividade rural em período imediatamente anterior ao requerimento do benefício ou mês em que o segurado tenha cumprido o requisito etário.

Tal possibilidade se torna possível também por atender ao princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais, art. 194, II da CF, havendo, conforme estampa o mencionado princípio, idênticos benefícios e serviços para os mesmos eventos cobertos pela previdência, com igual proteção social. Nesse sentido, Wagner Balera239 trata que uniformidade significa identidade de prestações para toda a população, independentemente do local onde residam ou trabalhem as pessoas.

Logo, é possível que o segurado especial goze da aposentadoria por idade à pessoa com deficiência, desde que comprovada a atividade rural em período exigido para o cumprimento da carência, e, concomitantemente, a condição de deficiência.

239 BALERA, Wagner. A seguridade social na Constituição de 1988. São Paulo: Revista dos

Ocorre que a única vantagem cumulada nessa hipótese de benefício é em relação à aposentadoria por idade rural híbrida, quando o segurado não mais trabalha na zona rural e intercala os períodos de contribuição da zona urbana e zona rural, visto que a idade a ser utilizada não será a de 65 e 60 anos, respectivamente para homem e mulher, conforme orienta art. 48, § 3º da Lei nº 8.213/91, e sim, a com redução de 5 anos.

Segundo entendimento exarado pelo INSS, na aposentadoria por idade rural comum não haverá cumulação de redutores.

Para João Marcelino Soares:

Na questão ventilada, a interpretação deve pautar-se no princípio da isonomia em seu sentido material. Viola gritantemente o princípio da igualdade tratar de forma igual uma pessoa sem deficiência que trabalha no campo em comparação a uma pessoa que, também laborando no campo, possui alguma deficiência física, mental, intelectual ou sensorial. O critério-medida para a distinção é diversa: um lustro deve ser reduzido pelas adversidades do requerente enfrentadas como trabalhador rural, com base no art. 201, § 7º, inc. II, da CF/88; e outro lustro deve ser reduzido pelas barreiras enfrentadas pelo segurado por ser um portador de deficiência, com base no art. 201, § 1º, da CF/88 [...] Destarte, com base no princípio da igualdade, tomado em seu critério material e distributivo, é imperioso concluir que a redução etária do art. 201, § 7º, inc. II, da CF/88 não afasta a redução do art. 3º, inc. IV, da Lei Complementar 142/13, que devem ser cumuladas: o homem deficiente e trabalhador rural deve se aposentar com 55 anos de idade, e a mulher deficiente e trabalhadora rural, com 50 anos de idade, desde que comprovada a deficiência no período carencial necessário à concessão do benefício que, neste caso, é a prova da atividade rural no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício ou ao implemento do requisito etário.240

Logo, pelo princípio da Igualdade e da Uniformidade e equivalência na prestação de benefícios e serviços às populações urbanas e rurais é que a dupla redução deveria ser atendida.