• Nenhum resultado encontrado

Igualdade e Justiça: uma relação com o Princípio da Legalidade

3. LEGISLAÇÃO BRASILEIRA A RESPEITO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

4.4 Igualdade e Justiça: uma relação com o Princípio da Legalidade

Os princípios fundamentais da Constituição, conforme assegura Jose Afonso da Silva,122 são absolutos, invioláveis (intransferíveis) e imprescritíveis. Assim sendo, as normas jurídicas que intentam aplicabilidade não podem se esquivar do regramento presente em tais princípios, vez que estes não podem ser modificados ou abolidos.

O princípio da igualdade é um dos regramentos mais importantes da Constituição Federal. Nenhuma regra pode ser emanada, instaurada em dissonância com tal princípio.

A igualdade é “[...] signo fundamental da democracia.”123 Tal frase reputa-se ao sentido de que toda justiça deve observância a este princípio.

É claro que algumas distinções, no que concerne às relações jurídicas, devem ser pautadas e observadas, porquanto já mencionava Aristóteles que a igualdade consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais. Nesse sentido,

121 ARAÚJO, Luiz Alberto David. A proteção constitucional das pessoas portadoras de

deficiência. 3. ed. Brasília: Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de

Deficiência – CORDE, 2001, p. 45.

122 SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 32. ed. São Paulo: Malheiros,

2009, p. 181.

123 SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 32. ed. São Paulo: Malheiros,

assevera Luiz Alberto David Araújo sobre a discriminação positiva oferta às pessoas com deficiência:

A regra isonômica da igualdade perante a lei não se constitui em norma de proteção, mas apenas de instituição de princípio democrático, extensível a todos, inclusive aos portadores de deficiência, princípio este que coloca o grupo protegido em condições de integração social. Todavia, o que se pretende demonstrar, no momento, é a existência de regras que, de fato discriminam, protegem, colocam privilégios imprescindíveis sob a ótica política do constituinte, para a equiparação de certas situações ou grupos.124

Assim, o que se espera é “uma igualdade jurídica que embase a realização de todas as desigualdades humanas e as faça suprimento ético de valores poéticos que o homem possa desenvolver.”125

Para tanto, espera-se que a destinação de uma aposentadoria diferenciada às pessoas com deficiência, com diminuição de cumprimento de tempo necessário para a conquista do benefício, venha colaborar para que a desigualação alcance a justiça e, por fim, a dignidade da pessoa humana.

No tocante ao critério de justiça, Melo cita quatro compreensões diferente para o termo, conforme se segue:

(1) Justiça como ideal político de igualdade e liberdade; (2) Justiça como resposta da norma às reivindicações sociais; (3) Justiça como adequação de conhecimento sobre um fato e da norma à qual ele se subsumirá, correspondendo à falsidade ou veracidade dos fundamentos que levaram à criação da norma individualizada e; (4) Justiça como legitimidade ética, devendo a coerção da lei harmonizar-se com o sentido moral aceito pela comunidade.126

Para Norberto Bobbio, “justa uma ação, justo um homem, justo uma lei que institui ou respeita, uma vez instituída, uma relação de igualdade.”127 Complementa ainda o autor:

Uma ação seria justa quando conforme uma lei e uma lei seria justa quando conforme ao princípio da igualdade: tanto na linguagem comum como na técnica, costuma-se dizer - sem que isto provoque a menor confusão – que um homem é justo não só porque observa a lei, mas também porque é

124 ARAÚJO, Luiz Alberto David. A proteção constitucional das pessoas portadoras de

deficiência. 2. ed. Brasília: Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de

Deficiência – CORDE, 1996, p. 89.

125 SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 32. ed. São Paulo: Malheiros,

2009, p. 213.

126 MELO, Osvaldo Ferreira de. Dicionário de Política Jurídica. Florianópolis: OAB-SC, 2000, p. 100. 127 BOBBIO, Norberto. Igualdade e liberdade. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996, p. 14.

equânime, assim como, por outro lado, que uma lei é justa não só porque é igualitária, mas também porque é conforme uma lei superior.128

Depreende-se, então, que a justiça é concebida se respeitada a igualdade, ou seja, desde que não exista, ante a norma empregada, o estabelecimento de critérios diferenciados – para um determinado grupo ou pessoa – que não seja justificável, fundamentado ou equivalente. Ocorre que, no caso da aposentadoria das pessoas com deficiência, a desigualação é fundamental para se conceber a justiça.

Em uma totalidade ordenada, a injustiça pode ser introduzida tanto pela alteração das relações de igualdade quanto pela não observância das leis: a alteração da igualdade é um desafio à legalidade constituída, assim como a não observância das leis estabelecidas é uma ruptura do princípio de igualdade no qual a lei se inspira. De outro modo, a igualdade consiste apenas numa relação: o que dá a essa relação um valor, o que faz dela uma meta humanamente desejável, é o fato de ser justa. Em outras palavras, uma relação de igualdade é uma meta desejável na medida em que é considerada justa, onde por justa se entende que tal relação tem a ver, de algum modo, com uma ordem a instituir ou restituir (uma vez abalada), isto é, com um ideal de harmonia das partes de um todo, entre outras coisas, porque se considera que somente um todo ordenado tem a possibilidade de durar.129

Sabe-se, todavia, que o termo legalidade exposto por Norberto Bobbio, deve ser concernente ao critério de justiça, e, consequentemente, com o da igualdade.

Desse ponto de vista, a aplicação da regra da justiça coincide com o respeito à legalidade, embora não se deva confundir a realização da regra de justiça através do respeito à legalidade, por um lado, com a justiça como legalidade, e, por outro lado, com o princípio da legalidade, que é posto em defesa não da igualdade, mas da certeza do direito. A regra da justiça exige, para sua aplicação, a virtude da imparcialidade em face dos destinatários da lei, ou seja, exige mais o princípio de legalidade do que a lealdade em face do legislador.130

Do ponto de vista da justiça, quando se aplica o princípio da igualdade respeita-se a legalidade das leis instituídas, posto que a igualdade é signo fundamental da Constituição Federal. Portanto, quando aplicando-se a igualdade, do ponto de vista legal, viabiliza-se a justiça, que é observada quando também se institui critérios diferenciadores para a concessão da aposentadoria da pessoa com deficiência.

128 BOBBIO, Norberto. Igualdade e liberdade. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996, p. 14. 129 BOBBIO, Norberto. Igualdade e liberdade. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996, p. 15. 130 BOBBIO, Norberto. Igualdade e liberdade. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996, p. 22.

Sob o ponto de vista da justiça, a igualdade não é valor, mas sim, uma necessidade, ainda que não totalmente provedora da harmonia de um todo e do ordenamento das partes, do equilíbrio interno de um sistema denominado como justo. Por conseguinte, depreende-se que o critério de justiça deve estar em estreita relação com o princípio da igualdade. Assim, a justiça pode ser considerada, segundo o pensamento de Aristóteles, como:

Uma forma perfeita de excelência moral, porque representa a prática efetiva da excelência moral perfeita. Ela é perfeita porque as pessoas que possuem o sentimento de Justiça podem praticá-la não somente em relação a si mesmas, como também em relação ao próximo. Assim, para o estagirita, somente a justiça pode ser considerada como uma virtude como o “bem de todos”.131

Conforme assinalado por Vilian Bollmann, em relação ao pensamento de Aristóteles, o justo busca o bem do próximo, bem este relacionado com uma situação de igualdade dispensada à convivência humana, com a finalidade de minimizar condutas desabonadoras entre os demais.

Quanto ao discriminen positivo existente e aplicação de situações especiais para a concessão da aposentadoria da pessoa com deficiência, a proteção jurídica existente torna-se indispensável para que seja possível a integração destas ao meio social, e, desse modo, conquistar a justiça, embasada no princípio da igualdade e da legalidade.