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Convenção de Nova Iorque e a Classificação Internacional de

1. DIREITOS HUMANOS: BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA

2.5 Convenção de Nova Iorque e a Classificação Internacional de

A Convenção de Nova Iorque, também conhecida como Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, foi assinada no dia 30 de março de 2007, com aprovação no Congresso Nacional pelo Decreto Legislativo nº 186, de 09 de julho de 2008 e internalização por meio do Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009.

O Presidente da República, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e

Considerando que o Congresso Nacional aprovou, por meio do Decreto Legislativo n. 186, de 9 de julho de 2008, conforme o procedimento do § 3º do art. 5º da Constituição, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007;

Considerando que o Governo brasileiro depositou o instrumento de ratificação dos referidos atos junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas em 1º de agosto de 2008;

Considerando que os atos internacionais em apreço entraram em vigor para o Brasil, no plano jurídico externo, em 31 de agosto de 2008;

DECRETA:

Art. 1º A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, apensos por cópia ao presente Decreto, serão executados e cumpridos tão inteiramente como neles se contém.

Art. 2º São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar em revisão dos referidos diplomas internacionais ou que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional, nos termos do art. 49, inciso I, da Constituição.

Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 25 de agosto de 2009, 188º da Independência e 121º da República, LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Celso Luiz Nunes Amorim

Tal documento contou com a participação de 192 países membros da ONU, bem como de diversos representantes da sociedade civil, tendo sido firmado por 86 nações.

A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com deficiência é resultado do consenso generalizado da comunidade internacional (Governos e cidadãos) sobre a necessidade de garantir efetivamente o respeito pela integridade, dignidade e liberdade individual dessas pessoas e de reforçar a proibição e discriminação destes cidadãos por meio de leis, políticas e programas que atendam especificamente às suas características e promovam a sua participação na sociedade. [...] A Convenção reafirma os princípios universais da dignidade, integralidade e não-discriminação em que se baseia e define as obrigações gerais do Governo relativas à integração social de várias dimensões da deficiência em suas políticas, bem como as obrigações e especificas relativas à sensibilização da sociedade para a deficiência, ao combate de estereótipos e à valorização das pessoas com deficiência.52

Observa-se, então, que a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência objetiva, imbuída de um espírito de solidariedade, junto a uma política de inclusão social que promova dignidade, integrar as pessoas com deficiência na sociedade.

No que concerne à relação estabelecida entre a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência com a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, tem-se que o conceito de incapacidade e deficiência ganhou nova roupagem a partir de 2001, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, tratando sobre o mesmo assunto a Convenção de Nova Iorque, da ONU (2007), da qual o Brasil é signatário.

O fundamento encontrado, tanto na CIF-2001, como na CID-10, se relaciona a um modelo etiológico das condições de saúde, que trata sobre a fixação de critérios de avaliação respaldados em dois domínios, quais sejam: funções e estruturas do corpo; e atividades e participação.

Nesse sentido, dispõe ainda a CIF-2001 que “duas pessoas com o mesmo nível de funcionamento não têm necessariamente a mesma condição de saúde”53.

52 HORVATH JÚNIOR, Miguel; SILVA, Roberta Soares da. Direitos Humanos e Pessoa com

Deficiência: uma Visão Integrativa. In: COSTA-CORRÊA, André L. et al. (Orgs.). Direitos e

garantias fundamentais: novas perspectivas. Birigui-SP: Editora Boreal, 2016, p. 210.

53 CIF - Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. Organização

Funções e estruturas do corpo e atividades e participação. Como uma classificação, a CIF agrupa sistematicamente diferentes domínios de uma pessoa em que determinada condição de saúde (e. g., o que uma pessoa com uma doença ou transtorno faz ou pode fazer). Funcionalidade é um termo que abrange todas as funções do corpo, atividades e participação; de maneira similar, incapacidade é um termo que abrange deficiências, limitação de atividades ou restrição na participação. A CIF também relaciona os fatores ambientais que interagem com todos estes construtos.54

Para tanto, é aconselhável o uso conjunto da CID-10, conforme o modelo construído a partir das condições ambientais e de participação dos indivíduos, quando o eixo se desloca da doença para analisar a saúde, por isso, a CIF transformou, de uma classificação de ‘consequência da doença’ (versão em 1980) para uma classificação de componentes da saúde.

Tem-se, então, que a CIF restou dividida em duas partes, quais sejam: Funcionalidade e Incapacidade, subdivididas em Funções e Estruturas do Corpo e Atividades e Participação; e Fatores Contextuais, subdivididos em Fatores Ambientais e Sociais.

Dentro dos fatores contextuais, João Marcelino Soares conceitua, respectivamente, os fatores pessoais, ambientais e ambientais sociais da seguinte forma:

Os fatores pessoais são o histórico particular da vida e do estilo de vida de um indivíduo e englobam as características do indivíduo [...]. Esses fatores podem incluir o sexo, raça, idade, outros estados de saúde, condição física, estilo de vida, hábitos, educação recebida, diferentes maneiras de enfrentar problemas, antecedentes sociais, nível de instrução, profissão, experiência passada e presente, (eventos na vida passada e na atual), padrão geral de comportamento, caráter, características psicológicas individuais e outras características, todas ou algumas das quais podem desempenhar um papel na incapacidade em qualquer nível.55

Os fatores ambientais, por sua vez, ocorrem:

No ambiente imediato do indivíduo, englobando espaços como o domicílio, o local de trabalho e a escola. Este nível inclui as características físicas e materiais do ambiente em que o indivíduo se encontra, bem como o contato

54 CIF - Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde – Versão para crianças

e jovens. Organização Mundial da Saúde. Centro Colaborador da OMS para a Família de Classificações Internacionais em Português. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2011, p. 35. (grifos do autor).

55 SOARES, João Marcelino. Aposentadoria da pessoa com deficiência. Curitiba: Juruá, 2014, p.

direto com outros indivíduos, tais como família, conhecidos, colegas e estranhos.56

Já os fatores ambientais sociais se referem às:

Estruturas sociais formais e informais, serviços e regras de conduta ou sistemas na comunidade ou cultura que têm um impacto sobre os indivíduos. Este nível inclui organizações e serviços relacionados com o trabalho, com atividades na comunidade, com organismos governamentais, serviços de comunicação e de transporte e redes sociais informais, bem como leis, regulamentos, regras formais e informais, atitudes e ideologias.57

Verifica-se, então, que a deficiência não abarca, tão somente, o prejuízo funcional do corpo ou da mente, sendo necessário conjugar a incapacidade com a maneira como isto é sentido no contexto social em que a pessoa vive, com uma análise multidisciplinar.

É preciso uma análise médico-pericial para identificar a existência de “impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial”. Por outro lado, também é necessária uma avaliação social para verificar se estes impedimentos podem obstruir participação plena e efetiva do indivíduo na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.58

Enquanto no modelo médico a incapacidade é um problema da pessoa – causado diretamente pela doença, trauma ou outro estado de saúde, quando se requer assistência médica fornecida por profissional por meio de tratamento individual, havendo cuidados e prevenção em relação à cura e adaptação do indivíduo, bem como às mudanças de comportamento –, no modelo social, também denominado de “biopsicossocial”, ao se agregar a perspectiva biológica, individual e social, há a incapacidade focada em outras bases, diante de um problema criado socialmente. Assim, não há simplesmente um atributo de um indivíduo, mas ainda um conjunto complexo de condições criadas pelo ambiente social, sendo necessária uma ação de responsabilidade coletiva da sociedade, apta a implementar modificações ambientais necessárias, por isso, a incapacidade referir-se-ia a uma questão política.

56 SOARES, João Marcelino. Aposentadoria da pessoa com deficiência. Curitiba: Juruá, 2014, p.

134.

57 SOARES, João Marcelino. Aposentadoria da pessoa com deficiência. Curitiba: Juruá, 2014, p.

135.

58 SOARES, João Marcelino. Aposentadoria da pessoa com deficiência. Curitiba: Juruá, 2014, p.

Para tanto, observa-se que o fato de o cidadão possuir uma deficiência ou patologia não necessariamente o torna, automaticamente, incapaz para o trabalho ou para a vida social, de modo que o meio ambiente é fundamental para se caracterizar determinada incapacidade.

Segundo a CIF-2001, um indivíduo que é tetraplégico pode não ser contratado por uma empresa que não dispõe de equipamento apropriado ao portador de deficiência, ou seja, o local de trabalho não oferece as condições necessárias para o desenvolvimento do trabalho. Outro mesmo indivíduo, que possui a mesma deficiência (tetraplegia), é capaz de realizar o trabalho na empresa mas, devido ao fato de utilizar cadeira de rodas e a empresa não possuir acessibilidade para o uso de equipamento. Outro indivíduo, com a mesma patologia, pode utilizar cadeiras de roda, a empresa oferecer as condições necessárias (acessibilidade, software com comando de voz, etc.), mas pode apresentar problemas de desempenho nos domínios das interações interpessoais com colegas de trabalho, de modo que esse problema de socialização no local de trabalho pode impedir o acesso a oportunidades na empresa.59

Observa-se, então, que a CIF classifica as características de saúde das pessoas no âmbito de um contexto em que se considera as questões individuais, bem como os impactos ambientais.

Foi por meio da CIF que se conceituou a deficiência como:

Impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

Há, então, a presença de uma análise multidisciplinar da deficiência, em que se verifica não apenas os aspectos físicos da pessoa, mas também como esta interage socialmente com suas limitações, de acordo com a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde.

Nesse sentido também se orienta a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, para qual a deficiência, seja física, mental ou sensorial, seria aquela que, em interação com as diversas barreiras, venha a obstruir a participação plena e efetiva em sociedade.

59 MAUSS, Adriano; COSTA, José Ricardo Caetano. Aposentadoria Especial dos Deficientes: