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1. DIREITOS HUMANOS: BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA

2.1 Declaração Universal dos Direitos Humanos

Após a Segunda Guerra Mundial, observou-se a necessidade de se construir um documento que minimizasse os efeitos oriundos das atrocidades cometidas em guerra, reconhecendo-se, em âmbito universal, os valores supremos da igualdade, liberdade e fraternidade, também entendida como solidariedade, entre os homens.

Conforme cita Antônio Augusto Cançado Trindade:

A Declaração Universal resultou de uma série de decisões tomadas no biênio 1947-1948, a partir da primeira sessão regular da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas em fevereiro de 1947. [...]. O plano geral era uma Carta Internacional de Direitos Humanos, do qual a Declaração seria apenas a primeira parte, a ser complementada por uma Convenção ou convenções – posteriormente denominadas Pactos – e medidas de implementação.38

Para tanto, foi em 10 de dezembro de 1948, em sessão realizada em Paris, que a Assembleia Geral das Nações Unidas, por meio da Resolução 217 A (III) – com voto favorável de 48 países, nenhum voto contrário e oito abstenções –, proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, esclarecendo e indicando o sentindo da expressão Direitos Humanos, tal como referido na Carta da ONU.

A referida declaração, que protege os direitos humanos e liberdades fundamentais de todos, sem distinção de sexo, raça, língua ou religião, é instrumento considerado como “marco normativo fundamental” do sistema protetivo das Nações Unidas, quando se fomentou a multiplicação dos tratados de direitos humanos em escala global.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos apresenta-se como fato novo e inovador na História, em que se proclama a universalidade, inalienabilidade, individualidade e interdependência dos Direitos Humanos, havendo um

38 CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. A proteção internacional dos direitos humanos e o

reconhecimento, em âmbito universal, dos valores supremos da igualdade, liberdade e fraternidade.

Priscila Gonçalves de Castro referencia René Samuel Cassin quando aborda o seguinte:

Esta Declaração se caracteriza, primeiramente, por sua amplitude. Compreende um conjunto de direitos e faculdades sem as quais um ser humano não pode desenvolver sua personalidade física, moral e intelectual. Sua segunda característica é a universalidade: é aplicável a todas as pessoas de todos os países, raças, religiões e sexo, seja qual for o regime político dos territórios nos quais incide. Ao finalizar os trabalhos, a Assembleia Geral, graças à minha proposição, proclamou a Declaração Universal, tendo em vista que, até então, ao longo dos trabalhos, era denominada Declaração internacional. Ao fazê-lo, conscientemente, a comunidade internacional reconheceu que o indivíduo é membro direto do Direito das Gentes. Naturalmente, é cidadão de seu país, mas também é cidadão do mundo, pelo fato mesmo da proteção internacional que lhe é assegurada. Tais são as características centrais da Declaração.39

A Declaração Universal de 1948 teve como objetivo criar uma ordem pública fundada no respeito à dignidade humana, consignando-se valores básicos universais, promovendo-se o reconhecimento dos Direitos Humanos e das liberdades fundamentais, vinculado assim aos Estados-membros das Nações Unidas para promoção do respeito e observância universal dos direitos proclamados por esta, tal como apresenta o art. 1º, ao tratar que “Todas as pessoas nascem livres e iguais e dignidade e em direitos. São dotadas de razão e de consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade”.

O objetivo principal dos Direitos Humanos é o de resguardar os valores mais preciosos da pessoa humana, ou seja, a solidariedade, igualdade, fraternidade, liberdade e dignidade da pessoa humana.

Com essa declaração, um sistema de valores é – pela primeira vez na história – universal, não em princípio, mas de fato, na medida em que o consenso sobre sua validade e capacidade para reger os destinos da comunidade futura de todos os homens foi explicitamente declarado. [...]. Somente depois da Declaração Universal é que podemos ter a certeza histórica de que a humanidade – toda a humanidade – partilha alguns valores comuns; e podemos, finalmente, crer na universalidade de valores, no único sentido em que tal crença é historicamente legítima, ou seja, no sentido em que universal significa não algo dado objetivamente, mas subjetivamente acolhido pelo universo dos homens. [...]. Com a Declaração de 1948, tem início a uma terceira e última fase, na qual a afirmação dos direitos é, ao mesmo tempo, universal e positiva: universal no sentido de que os destinatários dos

39 CASTRO, Priscila Gonçalves de. Direitos Humanos de Seguridade Social: uma garantia ao

princípios nela contidos não são mais apenas os cidadãos deste ou daquele Estado, mas todos os homens; positiva no sentido de que se põe em movimento um processo em cujo final os direitos do homem deverão ser não mais apenas proclamados ou idealmente reconhecidos. Porém, efetivamente protegidos até mesmo contra o próprio Estado que os tenha violado.40

Ainda sobre o assunto e, complementando os princípios da dignidade e igualdade, dispõe o art. 2º que:

Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou qualquer outra situação.

Ademais, conforme art. XXV da Declaração Universal dos Direitos Humanos, todas as pessoas possuem direito a um padrão de vida que assegure a si e à sua família, bem-estar.

Art. XXV 1. Todo homem tem direito a um padrão de vida capa de assegurar a si e sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidado médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda de meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.

2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.

Portanto, é direito de todos um padrão que assegure, conforme os preceitos do art. XXV, uma vida digna e cidadã.

A aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos representa um passo importante quando da internacionalização dos direitos humanos, sendo esta aprovada em 48 Estados, com apenas 8 abstenções. Nesse sentido, aponta Flávia Piovesan que:

A inexistência de qualquer questionamento ou reserva feita pelos Estados aos princípios da Declaração, bem como de qualquer voto contrário às duas disposições, confere à Declaração Universal o significado de um código ou plataforma comum de ação.41

40 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 28.

41 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 11. ed. São

Propicia-se, assim, a “afirmação de uma ética universal”, que com o processo de juridicização da Declaração Universal, concluído em 1966, juntamente com a elaboração do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, houve a mais significativa expressão do movimento internacional dos direitos humanos, que, a partir de então, forma-se a Carta Internacional dos Direitos Humanos e, por sua vez, o sistema global de proteção.

Ainda tratando-se de bem-estar, Miguel Horvath Júnior e Roberta Soares da Silva pontuam que:

O bem-estar é o bem comum, o bem do povo, da sociedade, da comunidade, das nações do mundo, expresso em todas as formas de satisfação das necessidades sociais, entre as quais incluem as satisfações materiais e espirituais dos indivíduos coletivamente considerados, pois dizem respeito às necessidades vitais da comunidade, dos grupos, das classes que compõem a sociedade – é o caminho para o desenvolvimento e a paz, reafirmando nos princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos, dos Acordos Internacionais dos Direitos Humanos, da Declaração dos Direitos dos Deficientes.42

Para garantir uma maior proteção jurídica, em que pese a Declaração Universal dos Direitos Humanos já possuir um escopo abrangente e universal, a ONU, na fase de elaboração da Declaração, implementou um processo de especialização contra certos tipos de violação e para determinados grupos de indivíduos, tal como o das pessoas com deficiência.

Por isso a importância em se assegurar aposentadoria às pessoas com deficiência, ou seja, bem-estar e direitos que os dignificam para que estes se sintam capazes, confortáveis e amparáveis na sociedade.

Junto ao Sistema Especial de Proteção dos Direitos Humanos, diversos tratados destinados à proteção de grupos vulneráveis da sociedade foram aprovados, tal como a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que entrou em vigor, no plano internacional, em 03 de maio de 2008, com ratificação por parte Brasil em 1º de agosto de 2008 e aprovação pelo Congresso Nacional, do Decreto Legislativo nº 186/2008. Para tanto, ao lado do direito à igualdade nasceria o direito à diferença, quando a igualdade respeita a diversidade.

42 HORVATH JÚNIOR, Miguel; SILVA, Roberta Soares da. Direitos Humanos e Pessoa com

Deficiência: uma Visão Integrativa. In: COSTA-CORRÊA, André L. et al. (Orgs.). Direitos e

Assim, uma vez que a Declaração Universal dos Direitos Humanos assegura bem estar a toda pessoa, tal valor também deve ser garantido às pessoas com deficiência, formando-se uma rede de proteção social junto aos tratados e convenções internacionais que se baseiam na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Em tal medida, o benefício de Aposentadoria da pessoa com deficiência atenderia a pretensão de garantir bem estar, viabilizando-se a construção da cidadania.

2.2 Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de