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7. APOSENTADORIA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA: REQUISITOS

7.1 Carência Necessária

O conceito de carência pode ser entendido, conforme art. 24 da Lei nº 8.213/91, da seguinte forma:

Art. 24. Período de carência é o número mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício, consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas competências.

Ainda sobre o assunto, o Decreto nº 3.048/99, em seu artigo 26, trata que:

Art. 26. Período de carência é o tempo correspondente ao número mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício, consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas competências.

Nesse sentido, de acordo com as considerações de Carlos Alberto Castro e João Batista Lazzari: “mesmo que o segurado tenha começado a exercer atividade no dia 31 de um mês, tem contabilizado, para efeitos de carência, todo o período daquele mês”184.

184 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário.

Para tanto, o que interessa é o número de meses que o segurado apresenta contribuições, pois há casos em que o segurado, ainda que conte com menos de 15 anos de contribuição, já possui completos os 180 meses de carência. Desse modo, se um segurado trabalhou do dia 23.11.2015 a 05.12.2015, serão computados 2 meses para efeito de carência, e não somente 13 dias.

O art. 28 do Decreto nº 3.048/99 estabeleceu quais os períodos podem ser considerados para efeito de carência nos benefícios previdenciários, conforme segue:

I – para o segurado empregado e trabalhador avulso, da data de filiação ao Regime Geral da Previdência Social; e

II – para o segurado empregado doméstico, contribuinte individual, observado o disposto no § 4º do art. 26, e facultativo, inclusive o segurado especial que contribui na forma do § 2º do art. 200, a data do efetivo recolhimento da primeira contribuição sem atraso, não sendo consideradas para esse fim as contribuições recolhidas com atraso referentes a competências anteriores, observado, quanto ao segurado facultativo, o disposto nos §§ 3º e 4º do art. 11.

§ 1º Para o segurado especial que não contribui na forma do § 2º do art. 200, o período de carência de que trata o § 1º do art. 26 é contado a partir do efetivo exercício da atividade rural, mediante comprovação, na forma do disposto no art. 62.

§ 2º O período a que se refere o inciso XVIII do art. 60 será computado para efeitos de carência.

§ 3º Para os segurados a que se refere o inciso II, optantes pelo recolhimento trimestral na forma prevista nos §§ 15 e 16 do art. 216, o período de carência é contado a partir do mês de inscrição do segurado, desde que efetuado o recolhimento da primeira contribuição no prazo estipulado no referido § 15.

Salienta-se que a Lei Complementar nº 142 não traz um critério diferenciador, no que se refere à carência, para a concessão da aposentadoria por idade, sendo a exigência a mesma de 180 contribuições, tal como ocorre na aposentadoria por tempo de contribuição comum.

Frisa-se que se a pessoa possui uma carência de 180 meses durante a sua vida laborativa, mas se tais períodos não foram desempenhados dentro dos períodos de carência comprovada, o segurado não poderá receber o benefício. Todavia, se no período de comprovação da deficiência o segurado apresentar contribuições que não foram anteriormente comprovadas para efeitos de carência, quando, por exemplo, no caso de pagamento em atraso de contribuinte individual, que totalizem 180 contribuições, ainda assim completará a carência e fará jus, portanto, à aposentadoria. Deste modo, o segurado terá direito ao benefício por possuir 180 meses de contribuição dentro dos períodos de comprovada deficiência.

Art. 70-C. A aposentadoria por idade da pessoa com deficiência, cumprida a carência, é devida ao segurado aos sessenta anos de idade, se homem, e cinquenta e cinco anos, se mulher. (Incluído pelo Decreto n. 8.145, de 2013) § 1º Para efeitos de concessão da aposentadoria de que trata o caput, o segurado deve contar com no mínimo quinze anos de contribuição, cumpridos na condição de pessoa com deficiência, independentemente do grau, observado o disposto no art. 79-D (Incluído pelo Decreto n. 8.145, de 2013).

A carência, número mínimo de contribuições indispensáveis para se ter direito ao benefício pleiteado, conforme art. 24 da Lei nº 8.213/91, é de 180 contribuições para quem ingressou no RGPS – Regime Geral da Previdência Social – a partir de 25.07.1991. Para quem ingressou antes desta data, a carência para a aposentadoria por idade era de 60 contribuições mensais.

A regra de transição prevista na carência para a aposentadoria por idade comum também se aplica na destinada a pessoas com deficiência, respeitada a redução da idade, que é de 55 anos para as mulheres e de 60 anos para os homens.

Para tanto, a fim de não prejudicar aqueles que detinham a expectativa de direito, o art. 142 da Lei nº 8213/91 dispôs acerca de uma regra de transição para quem que já se encontrava filiado à Previdência Social antes de sua vigência, mas que ainda não haviam completado os requisitos para a concessão do benefício conforme o regime anterior.

Art.182. A carência das aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial para os segurados inscritos na previdência social urbana até 24 de julho de 1991, bem como para os trabalhadores e empregadores rurais amparados pela previdência social rural, obedecerá à seguinte tabela, levando-se em conta o ano em que o segurado implementou todas as condições necessárias à obtenção do benefício:

ANO DE IMPLEMENTAÇÃO DAS CONDIÇÕES MESES DE CONTRIBUIÇÃO EXIGIDOS 1998 102 meses 1999 108 meses 2000 114 meses 2001 120 meses 2002 126 meses 2003 132 meses 2004 138 meses 2005 144 meses 2006 150 meses 2007 156 meses 2008 162 meses 2009 168 meses 2010 174 meses 2011 180 meses

Esclarece-se, de acordo com a regra de transição elucidada pela tabela, que caso o segurado tenha completado idade anteriormente, pode-se utilizar a carência referente ao ano em que implementou o requisito etário, não sendo levado em consideração a DER – Data de Entrada no Requerimento – para utilização da tabela transitória do art. 142 da Lei nº 8.213/91, mas sim, o ano de implemento do requisito etário. Para tanto, a fixação da carência necessária é realizada quando o segurado completa a idade mínima.

Em tal caso, se em 2010 um segurado que completasse a idade, ainda não tivesse completado a carência de 174 contribuições – conforme a tabela de transição disposta –, tendo-a adquirida em 2016, se comprovada a deficiência, terá direito ao benefício.

Sobre o assunto também trata a TNU:

Para efeito de aposentadoria por idade urbana, a tabela progressiva de carência prevista no art. 142 da Lei n. 8.213/91 deve ser aplicada em função do ano em que o segurado completa a idade mínima para a concessão do benefício, ainda que o período de carência só seja preenchido posteriormente.185

Atualmente, tal parecer não se reduz, tão somente à esfera judiciária, vide o Parecer/Conjur/MPS 616 de 23.12.2010, itens 118 a 137186.

No que se refere ao posicionamento da autarquia previdenciária, de acordo com o Memorando-Circular Conjunto 34, DIRBEN/DIRAT/INSS, de 18.10.2013, disponível em Memorando-Circular Conjunto 34, DIRBEN/DIRAT/INSS, acesso em 12 de maio de 2016, o INSS entende que, na aposentadoria por idade da pessoa com deficiência, não é aplicável a regra de transição do art. 142 da Lei nº 8.213/91, e os 15 anos de contribuição enquanto pessoa com deficiência não se confundem com carência do benefício. Para tanto, a deficiência deve permanecer até a data do requerimento administrativo ou até o momento de aquisição do direito, que deve ocorrer a partir da entrada em vigor da Lei Complementar nº 142 de 2013.

185 SÚMULA 44. Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais. 24 nov. 2011.

DOU 14 dez. 2011. p. 00179. Enunciado: Para efeito de aposentadoria urbana por idade, a tabela progressiva de carência prevista no art. 142 da Lei nº 8.213/91 deve ser aplicada em função do ano em que o segurado completa a idade mínima para concessão do benefício, ainda que o período de carência só seja preenchido posteriormente. Disponível em:

<http://www.jf.jus.br/phpdoc/virtus/sumula.php?nsul=44&PHPSESSID=9iitknabn9qjvfvq5p03mhea 10>. Acesso em: 10 maio 2016.

186 AGU. Parecer Normativo CONJUR/MPS n. 616/2010. 24 dez. 2010. Disponível em:

Assim, como em 2011 a regra de transição se estabeleceu em 180 meses de contribuição, tornando-se inalterável até então, a menor data para verificação de direito adquirido da aposentadoria da pessoa com deficiência é de 09 de novembro de 2013, quando a Lei Complementar nº 142 de 2013 entrou em vigor.

Salienta-se, então, que para o INSS, os 15 anos de contribuição em concomitância com o período de deficiência não se confunde com a carência de 180 meses, já que os meses contabilizados na carência não precisam ocorrer em simultaneidade com a condição de deficiência.

Frisa-se também que a regra transitória aplica-se apenas aos segurados vinculados ao regime geral antes de 25.07.1991.

Quanto à qualidade de segurado, esta não foi exigida no momento da edição da Lei nº 8.213/91, bastando somente alguma vinculação ao RGPS antes da data da referida lei.

Os períodos em gozo de aposentadoria por invalidez, auxílio-doença e auxílio-acidente são considerados como tempo de contribuição e são estes considerados no PBC (Período Base de Cálculo) para cálculo da aposentadoria por idade, conforme entendimento do art. 29, § 5º da Lei nº 8.213/91. Todavia, a legislação é omissa quanto a considerar os períodos recebidos por benefícios de incapacidade como carência ante a concessão de outras espécies de benefícios previdenciários.

Há inúmeras decisões favoráveis no sentido de se possibilitar utilizar os referidos períodos para cômputo da carência, tal como apresenta a Turma Regional de Uniformização da 4ª Região, por meio da edição da Súmula 07, ao dispor que: “Computa-se para efeito de carência o período em que o segurado usufruiu benefício previdenciário por incapacidade”.

A Súmula 102 do TRF-4 também trata sobre o assunto, conforme segue:

Súmula 102: É possível o cômputo do interregno em que o segurado esteve usufruindo benefício por incapacidade (auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez) para fins de carência, desde que intercalado com períodos contributivos ou de efetivo trabalho.

Assim também trata a TNU – Turma Nacional de Uniformização – ao editar a Súmula 73187, que trata o seguinte:

187 SÚMULA 44. Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais. 24 nov. 2011.

DOU 14 dez. 2011. p. 00179. Enunciado: Para efeito de aposentadoria urbana por idade, a tabela progressiva de carência prevista no art. 142 da Lei nº 8.213/91 deve ser aplicada em função do

O tempo de gozo de auxílio-doença ou de aposentadoria por invalidez não decorrentes de acidente de trabalho só pode ser computado como tempo de contribuição ou para fins de carência quando intercalado entre períodos nos quais houve recolhimento de contribuições para a previdência social.

A posição adotada pela autarquia previdenciária é favorável nesse sentido, segundo consta no art. 153, § 1º, da IN 77/2015, desde que o referido período seja intercalado com períodos de contribuição ou atividade:

Art.153. Considera-se para efeito de carência: [...]

§ 1º Por força da decisão judicial proferida na Ação Civil Pública nº 2009.71.00.004103-4 (novo nº 0004103-29.2009.4.04.7100) é devido o cômputo, para fins de carência, o período em gozo de benefício por incapacidade, inclusive os decorrentes de acidente do trabalho, desde que intercalado com períodos de contribuição ou atividade, observadas as datas a seguir: (Nova redação dada pela IN INSS/PRES nº 86, de 26/04/2016).

Entende-se que os períodos em gozo de benefícios por incapacidade são tidos como não programados. Para tanto, como há um afastamento involuntário do trabalho, seria injusto que tais períodos não fossem considerados tanto no cálculo de outros benefícios, como no tempo de contribuição e carência.

Ademais, é dever do seguro social a proteção do trabalhador quando da ocorrência de riscos sociais. Todavia, quando se trata de cômputo da carência para períodos recebidos, a título de auxílio-acidente, há posicionamentos desfavoráveis, tendo em vista o caráter suplementar e indenizatório do benefício, que não possui o condão de ser substitutivo da renda mensal, não estando a pessoa incapacitada para o trabalho e possuindo, tão somente, uma redução da capacidade laborativa indenizável.

Em outra análise, atualmente, há posicionamento favorável quanto à utilização do período rural para efeito de cômputo de carência e posterior concessão da aposentadoria por idade. Nesse sentido, a mesma decisão poderia ser utilizada para a concessão da aposentadoria por idade à pessoa com deficiência.

Sobre o assunto, a jurisprudência abaixo trata a respeito:

ano em que o segurado completa a idade mínima para concessão do benefício, ainda que o período de carência só seja preenchido posteriormente. Disponível em:

<http://www.jf.jus.br/phpdoc/virtus/sumula.php?nsul=73&PHPSESSID=el83110o5kfl6clmmc1av4m rn4>. Acesso em: 13 maio 2016.

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE RURAL. ATIVIDADE RURAL EM REGIME DE ECONOMIA FAMILIAR. INÍCIO DE PROVA MATERIAL CORROBORADO PELA PROVA TESTEMUNHAL. REQUISITOS PREENCHIDOS. BENEFÍCIO DE PENSÃO POR MORTE. CUMULAÇÃO COM APOSENTADORIA POR IDADE. POSSIBILIDADE. PERÍODO DE GOZO DE AUXÍLIO-DOENÇA. CÔMPUTO PARA FINS DE CARÊNCIA. CABIMENTO. CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. TERMO INICIAL. TUTELA ESPECÍFICA. 1. O tempo de serviço rural para fins previdenciários pode ser demonstrado através de início de prova material suficiente, desde que complementado por prova testemunhal idônea. 2.

Restando comprovado nos autos o requisito etário e o exercício de atividade rural no período de carência, é de ser concedida a aposentadoria por idade rural à parte autora a contar do requerimento administrativo, a teor do disposto no art. 49, II, da Lei nº 8.213/91. 3. Em

se tratando de benefício previdenciário rural é legítima a percepção cumulativa de aposentadoria por idade e pensão por morte, tendo em vista diferentes pressupostos fáticos e fatos geradores de natureza distintas. 4. É

possível a contagem, para fins de carência, do período no qual o segurado esteve em gozo de benefício por incapacidade, desde que intercalado com períodos contributivos (art. 55, II, da Lei 8.213 /91).

Precedentes do STJ e da TNU. 5. Determina-se o cumprimento imediato do acórdão naquilo que se refere à obrigação de implementar o benefício, por se tratar de decisão de eficácia mandamental que deverá ser efetivada mediante as atividades de cumprimento da sentença stricto sensu previstas no art. 497 do CPC/15, sem a necessidade de um processo executivo autônomo (sine intervallo).188

Observa-se, portanto, que há várias regras de carência a serem consideradas para a concessão de benefícios previdenciários, inclusive os destinados às pessoas com deficiência, havendo, ainda, regras específicas para esse grupo que demanda maior proteção social por parte do Estado.