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APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA VERSUS POR MEMORIZAÇÃO Por ‘aprendizagem significativa’, entende-se essencialmente um tipo distinto de processo de

No documento livro-ausubel (páginas 72-74)

aprendizagem, bem como um resultado de aprendizagem significativa – alcance de um novo significado – apenas num plano secundário, que reflecte necessariamente a operação e o aca- bamento de tal processo. A aprendizagem significativa como processo pressupõe, por sua vez, que os aprendizes empreguem quer um mecanismo de aprendizagem significativa, quer que o material que apreendem seja potencialmente significativo para os mesmos, ou seja, passível de se relacionar com as ideias relevantes ancoradas nas estruturas cognitivas dos mesmos.

Assim, independentemente da quantidade de potenciais significados que pode ser ine- rente a uma determinada proposição, se a intenção do aprendiz for memorizá-la de forma arbitrária e literal, i.e., como uma série de palavras relacionadas de forma arbitrária e inalte- rável, quer o processo de aprendizagem, quer o resultado desta devem ser necessariamente memorizados e sem sentido. Pelo contrário, por muito significativo que seja o mecanismo do aprendiz, nem o processo nem o resultado da aprendizagem podem ser significativos, se a própria tarefa de aprendizagem consistir em associações puramente arbitrárias, tal como nas tarefas de aprendizagem de associação de pares ou de séries memorizadas, ou se não existi- rem ideias relevantes ancoradas na estrutura cognitiva do aprendiz.

Mecanismo de Aprendizagem Significativa

Na aprendizagem significativa, o aprendiz possui um mecanismo obrigatório para relacionar aspectos não literais (em oposição aos literais) de novos conceitos, proposições, informações ou situações a componentes relevantes da estrutura cognitiva existente, de várias formas não arbitrárias, que tornam possível a incorporação de relações derivativas, de elaboração, corre- lativas, modificadoras, de apoio, de qualificação, subordinantes ou representacionais na estrutura cognitiva do mesmo. Dependendo da natureza da tarefa de aprendizagem (i.e., recepção ou descoberta), o mecanismo pode ser descobrir ou, simplesmente, apreender (compreender) e incorporar tais relações na estrutura cognitiva. Por outro lado, na aprendi- zagem por memorização, o mecanismo do aprendiz pode consistir em descobrir uma solução arbitrária para um problema, ou interiorizar o material verbal de forma arbitrária e literal, como um objectivo discreto e isolado por si só. Contudo, tal aprendizagem não ocorre, como é óbvio, num vácuo cognitivo. O material está relacionado com aspectos relevantes da estru- tura cognitiva, mas não de forma substantiva (não literal) e não arbitrária, permitindo a incorporação numa das relações existentes na estrutura cognitiva acima especificadas. Sem- pre que a aprendizagem pela descoberta está envolvida, a distinção entre aprendizagem por memorização e significativa corresponde à distinção entre ‘tentativa e erro’ e resolução de problemas com discernimento.

Material potencialmente significativo

Um mecanismo ou abordagem intencional significativos da aprendizagem, tal como já foi indicado, apenas ocorrem num processo e em resultado da aprendizagem significativa, desde que o próprio material de aprendizagem seja potencialmente significativo. Neste caso, a insistência no adjectivo qualificativo ‘potencial’ é mais do que uma mera consideração aca- démica. Caso os materiais de aprendizagem (tarefa) se considerassem simplesmente já sig- nificativos, o processo de aprendizagem (apreensão e criação do significado dos mesmos e torná-los funcionalmente disponíveis) seria completamente supérfluo; o objectivo da apren- dizagem estaria, obviamente, já concretizado, por definição, antes de sequer se tentar qual- quer aprendizagem, independentemente do tipo de mecanismo de aprendizagem empregado ou da existência de conhecimentos anteriores relevantes na estrutura cognitiva. É verdade que determinados elementos componentes de uma tarefa de aprendizagem a decorrer, tal como por exemplo as palavras individuais de um novo teorema geométrico, podem já ser significativos para o aprendiz; porém, é o significado da proposição como um todo que é o objectivo da aprendizagem nesta situação – e não os significados individuais dos seus ele- mentos componentes.

Assim, embora o termo ‘aprendizagem significativa’ implique, necessariamente, a trans- formação de tarefas de aprendizagem potencialmente significativas, não implica que a aprendizagem do material significativo, em oposição ao memorizado, seja a característica distinta da aprendizagem significativa. O material de aprendizagem já significativo pode, como é óbvio, ser apreendido como tal e reagir de forma significativa; mas o material não pode, de forma alguma, constituir uma tarefa de aprendizagem significativa considerando que o próprio termo ‘significativo’ indica que o objecto da aprendizagem se consumava pre- viamente.

Dois importantes critérios determinam se se pode ou não considerar a nova aprendiza- gem potencialmente significativa. O primeiro – capacidade de relação não arbitrária e não literal para com ideias particulares relevantes na estrutura cognitiva3 do aprendiz, nas várias formas potencialmente relacionais acima especificadas – é uma propriedade do próprio material e depende do facto de ser ou não plausível ou sensível (não arbitrário) e logica- mente relacional com qualquer estrutura cognitiva apropriada. O novo material não é poten- cialmente significativo se, quer a tarefa de aprendizagem global (ex.: uma determinada lista de sílabas sem sentido, uma lista de pares de adjectivos, uma frase desordenada), quer a uni- dade básica da tarefa de aprendizagem (pares arbitrários de adjectivos), apenas se relacio- nam com uma estrutura cognitiva hipotética, numa base puramente arbitrária. O critério de potencial significação aplica-se à actual tarefa de aprendizagem como um todo – não a qual- quer um dos elementos componentes da mesma que podem já ser significativos, tal como as letras componentes de uma sílaba sem sentido, cada membro de um par de adjectivos ou as palavras componentes de uma frase desordenada. Em cada caso, as componentes significati- vas, embora façam parte do material de aprendizagem, não fazem parte da tarefa de aprendi- zagem psicológica num sentido funcional.

O segundo importante critério que determina se o material de aprendizagem é ou não potencialmente significativo – a capacidade de relação com a estrutura cognitiva particular de um aprendiz em particular – é mais propriamente uma característica do aprendiz do que do material per se. Em termos fenomenológicos, a significação é uma questão individual. Por isso, para que a aprendizagem significativa ocorra de facto, não é suficiente que o novo material seja simplesmente relacional com as ideias relevantes, no sentido hipotético ou abs- tracto do termo (ou com as estruturas cognitivas de alguns aprendizes). Como é natural, a estrutura cognitiva de um aprendiz em particular deve incluir as capacidades intelectuais exigidas, o conteúdo ideário ou experiências anteriores, caso se pretenda considerar rele- vante e relacional com a tarefa de aprendizagem. É nesta base que a potencial significação do material de aprendizagem varia com factores tais como a idade, a inteligência, a ocupa- ção, a vivência cultural, etc. Por outras palavras, é a capacidade de subsunção ou de incorpo- ração da estrutura cognitiva de um aprendiz em particular que converte o significado ‘lógico’ em potencial e que (dado o material de aprendizagem relacional de forma não arbi- trária e um mecanismo de aprendizagem significativa) diferencia a aprendizagem significa- tiva da por memorização.

Enquanto o mecanismo e o material de aprendizagem, bem como as condições da estru- tura cognitiva da aprendizagem significativa, forem satisfeitos, o resultado da aprendizagem deve ser significativo e as vantagens da aprendizagem significativa (i.e., economia do esforço de aprendizagem, retenção mais estável e maior transferibilidade) devem aumentar, independentemente do facto de o conteúdo a ser interiorizado ser apresentado ou descoberto e verbal ou não verbal.

DIFERENÇAS PROCESSUAIS ENTRE APRENDIZAGEM POR

No documento livro-ausubel (páginas 72-74)

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