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O PROCESSO DE ASSIMILAÇÃO NA AQUISIÇÃO, RETENÇÃO E ORGANIZAÇÃO DE CONHECIMENTOS

No documento livro-ausubel (páginas 121-124)

De forma a explicar-se, de forma mais completa, a aquisição, retenção e organização de sig- nificados na estrutura cognitiva, é necessário desenvolver-se melhor o princípio de assimila- ção. Isto pode fazer-se, de um modo mais eficaz e compreensível, através da utilização de símbolos representativos simples.

Quando se apreende uma nova ideia a, através da relação e da interacção com a ideia relevante A estabelecida na estrutura cognitiva, alteram-se ambas as ideias e a assimila-se à ideia estabelecida A. Isto seria, geralmente, um caso de subsunção derivativa ou correlativa e, tal como indicado no Capítulo 4, quer a ideia ancorada A, quer a nova ideia a, se alteram de alguma forma na formação do produto interactivo A’a’. Por exemplo, se A for o conceito de pecado cristão existente na estrutura cognitiva de uma criança, a pode ser uma apresenta- ção de conceitos budistas de pecado, alterando, assim, ligeiramente o conceito que a criança tem de pecado cristão (A’), além de produzir um novo significado idiossincrático para o pecado budista (a’).

Em termos mais precisos, pressupõe-se que o produto interactivo real ou total da nova ideia do material de aprendizagem e da ideia estabelecida na estrutura cognitiva seja maior e mais complexo (i.e., A’a’) do que originalmente descrito no Capítulo 4. É aqui que a fase de retenção do processo de assimilação entra em cena e, logo, deve verificar-se mais atenta- mente o novo conceito de a; a última dissociabilidade de a’ (o novo significado) a partir de A’ (a ideia ancorada alterada); e a perda final de dissociabilidade de a’ a partir de A’.

Tal como referido anteriormente, não só a ideia potencialmente significativa a, como também a ideia A, estabelecida na estrutura cognitiva (à qual está ancorada), se alteram da mesma forma através do processo interactivo. Isto é indicado com a utilização de um após-

trofo’ em cada caso. Porém, o mais importante é que ambos os produtos interactivos a’ e A’ permanecem em relação um com o outro, como co-membros de uma unidade compósita ligada ou de um complexo ideário, A’a’. Por conseguinte, no sentido mais completo do termo, o produto interactivo real do processo de aprendizagem significativa é não só o novo significado a’, mas também inclui a alteração da ideia ancorada e é, assim, co-extensivo ao significado compósito A’a’.

Com o decurso da aprendizagem de subsunção, surge uma nova ideia compósita, que pode sofrer mais alterações ao longo do tempo, durante os intervalos de retenção e de esque- cimento. Por conseguinte, a assimilação não está completa depois de ocorrer a aprendiza- gem significativa, mas continua durante um período de tempo que pode envolver novas aprendizagens e/ou retenções (ex.: tal como depois da revisão) ou graus variáveis de reten- ção ou armazenamento intactos, ou uma perda final da capacidade de recuperação das ideias subordinadas assimiladas.

A maioria do material de aprendizagem apresentado nas escolas e instituições semelhan- tes surge na forma de conceitos e proposições (que consistem em conceitos que combinados possuem um novo significado compósito). Assim, a aprendizagem do significado de uma nova proposição potencialmente significativa exige mais do que a simples aprendizagem dos significados dos conceitos componentes da mesma. Pressupõe a disponibilidade na estrutura cognitiva de conceitos e proposições ancorados relevantes, que estejam relacionados quer com as partes componentes da nova proposição a ser apreendida, quer com o significado compósito desta última como um todo.

Por conseguinte, no âmago da teoria da assimilação está a ideia de que se adquirem os novos significados através da interacção de novas ideias (conhecimentos) potencialmente significativas com proposições e conceitos anteriormente apreendidos. Este processo inte- ractivo resulta numa alteração quer do potencial significado das novas informações, quer do significado dos conceitos ou proposições aos quais estão ancoradas e cria, também, um novo produto ideário que constitui o novo significado para o aprendiz. O processo de assimilação sequencial de novos significados, a partir de sucessivas exposições a novos materiais poten- cialmente significativos, resulta na diferenciação progressiva de conceitos ou proposições, no consequente aperfeiçoamento dos significados e numa potencialidade melhorada para se fornecer ancoragem a aprendizagens significativas posteriores.

Quando se apreendem conceitos ou proposições através de novos processos de aprendi- zagem de subsunção, subordinante ou combinatória, podem desenvolver-se significados novos e diferenciados e é possível que se possam resolver os significados conflituosos atra- vés de um processo de reconciliação integradora. Na devida altura, à medida que o pro- cesso de assimilação continua a decorrer, os significados de conceitos ou proposições componentes podem já não ser dissociáveis (recuperáveis) das respectivas ideias ancoradas, afirmando-se ter ocorrido uma assimilação obliterante ou um esquecimento significativo: a assimilação relativamente completa da especificidade do novo significado faz com que este já não seja dissociável (recuperável) da generalidade da ideia mais inclusiva ancorada na estrutura cognitiva (devido à subsunção obliterante) e considera-se, por conseguinte, estar esquecido.

O Valor Explicativo do Processo de Assimilação

A teoria da assimilação possui uma valor explicativo considerável para a elucidação da natu- reza dos fenómenos quer da aprendizagem, quer da retenção significativas, pois ajuda a explicar a aquisição, retenção e esquecimento de ideias aprendidas de forma significativa e, também, o modo como se organiza o conhecimento na estrutura cognitiva. Acredita-se que a assimilação de uma nova ideia pode melhorar a retenção de três formas diferentes. Em pri- meiro lugar, ficando ‘ancorado’, por assim dizer, a uma forma modificada de uma ideia alta- mente estável e relevante existente na estrutura cognitiva, o novo significado partilha, de modo substituto, a estabilidade e longevidade desta ideia1. Em segundo, este tipo de ancora- gem, continuando, durante o intervalo de armazenamento, a relação original não-arbitrária e substantiva entre a nova ideia e as estabelecidas, também protege o novo significado da interferência relativa exercida por ideias semelhantes contraditórias anteriormente apreendi- das (pró-activas), experimentadas em simultâneo, ou encontradas posteriormente (retroacti- vas). Esta interferência é muito mais prejudicial quando se relaciona arbitrariamente o material de aprendizagem à estrutura cognitiva, tal como no caso da aprendizagem por memorização.

Por último, o facto de se armazenar a ideia significativa acabada de surgir numa relação ligada com a(s) ideia(s) particular(es) da estrutura cognitiva para a qual é mais relevante – ou seja, a(s) ideia(s) à(s) qual(is) estava originalmente relacionada para a aquisição de signi- ficado – torna, presumivelmente, recuperável um processo menos arbitrário e mais sistemá- tico, explicando, também, a assimilação obliterante quando a recuperação não é possível. A assimilação explica o fenómeno do esquecimento (ou perda de capacidade de recuperação em relação ao significado recentemente aprendido), colocando a hipótese de que a particula- ridade e especificidade únicas do último significado são afastadas (obliteradas), em vários graus, pela generalidade das respectiva(s) ideia(s) ancorada(s).

A hipótese de assimilação também pode ajudar a explicar a forma como se organiza o conhecimento na estrutura cognitiva. Se se armazenam as novas ideias em relações ligadas a ideias correspondentemente relevantes, existentes na estrutura cognitiva [e se também é ver- dade quer que um membro do par relacionado é, geralmente, subordinante, ou é mais inclu- sivo do o outro, quer que o membro subordinante (pelo menos, assim que estiver estabelecido) é o mais estável do par], os resíduos cumulativos daquilo que se apreende, retém e esquece (a estrutura psicológica do conhecimento ou estrutura cognitiva como um todo) têm, necessariamente, de estar em conformidade com o princípio organizacional de diferenciação progressiva.

Desta forma, se o princípio de assimilação for, de facto, operante no armazenamento de ideias significativas, seria, então, bastante compreensível a razão por que a organização do conteúdo das matérias de uma determinada disciplina no intelecto de um indivíduo exempli- fica uma pirâmide hierarquicamente ordenada. Nesta, as ideias mais inclusivas e vastamente explicativas ocupam uma posição no cume da pirâmide e subsumem, de forma progressiva, ideias menos inclusivas ou mais diferenciadas, estando cada uma destas ligada ao degrau imediatamente mais acima na hierarquia, através de laços relacionais de natureza assimila- tiva.

Tal como já se sugeriu, o processo de assimilação ou de ancoragem também possui, pro- vavelmente, um efeito geralmente facilitador na retenção. Para se explicar a forma como os significados acabados de assimilar permanecem, de facto, disponíveis durante parte ou todo

o período de retenção, é necessário partir-se do princípio de que, durante um período de tempo variável, são dissociáveis das respectivas ideias ancoradas e, logo, são reproduzíveis como entidades individualmente identificáveis. O significado acabado de apreender e assi- milar a’ pode, inicialmente, dissociar-se das relações com a ideia ancorada A’; por outras palavras, o produto interactivo A’a’ pode dissociar-se em A’ e a’. A experiência universal indica que o grau de dissociabilidade ou força de dissociabilidade se encontra no máximo pouco depois da aprendizagem e que, por isso, os significados acabados de adquirir, mesmo na ausência de prática (revisão) directa ou indirecta, são maximamente dissociáveis nessa altura.

O significado acabado de apreender, alterado pela assimilação obliterante emanada da respectiva ideia ancorada e ligado a esta durante os intervalos de retenção e de armazena- mento, partilha, por conseguinte, de modo substituto, a elevada estabilidade da ideia anco- rada. Assim, no que toca a este ponto, contrariamente à perda da força de dissociabilidade causada pela assimilação obliterante supracitada, a retenção dos novos significados emer- gentes é facilitada pela protecção em relação a ideias muito semelhantes e aparentemente contraditórias, concedida pela ligação deste novo significado à respectiva ideia ancorada.

No documento livro-ausubel (páginas 121-124)

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