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NA ESTRUTURA COGNITIVA

No documento livro-ausubel (páginas 109-113)

O significado emergente descreveu-se mais acima como o produto principal de um processo interactivo activo e integrador entre novas ideias do material de instrução e ideias relevantes existentes (ancoradas) na estrutura cognitiva do aprendiz. O tipo e o grau de significado que surge na aprendizagem e na retenção significativas, o estatuto na hierarquia de ideias interi- orizadas relacionadas e de relações ideárias na área particular de matérias, a longevidade e a relativa facilidade de aquisição do mesmo dependem, em grande parte, de factores tais como: (1) as relações particulares hierárquicas e substantivas entre as ideias novas e as exis- tentes (ancoradas) no processo de interacção; (2) o grau de relevância particular das ideias ancoradas na estrutura cognitiva do aprendiz para com as novas ideias no material de instru- ção com as quais estão relacionadas; (3) o facto de o novo material de instrução estar ou não relacionado com ideias ancoradas relativamente específicas (particulares) no processo de aprendizagem significativa ou a conhecimentos anteriores mais gerais e difusos no armazém de memória relevante do aprendiz; e (4) variáveis da estrutura cognitiva tais como disponibi- lidade, estabilidade, longevidade e clareza das ideias ancoradas e respectiva capacidade de discriminação quer de ideias novas do material de aprendizagem, quer de ideias ancoradas relevantes na estrutura cognitiva.

Aprendizagem Subordinada ou Subsunção

Quer na aprendizagem conceptual, quer na proposicional, as informações novas e potencial- mente significativas ancoram-se, mais frequentemente, a ideias relevantes mais gerais e inclusivas na estrutura cognitiva do aprendiz. Tem-se vindo a referir este processo de relacionamento de novas informações com segmentos subordinantes relevantes e preexisten- tes da estrutura cognitiva como aprendizagem de subsunção. Uma vez que a própria estru- tura cognitiva tem tendência a ser organizada, em termos hierárquicos, no que toca ao nível de abstracção, generalidade e inclusão de ideias, a emergência de novos significados propo- sicionais reflecte, de um modo geral, uma relação subordinada do novo material a ideias mais subordinantes existentes na estrutura cognitiva.

Isto, por sua vez, resulta na posterior organização hierárquica da estrutura cognitiva quando as próprias ideias subsumidas se tornam subsunçoras. Provavelmente, pode atri- buir-se a eficiência e a longevidade da aprendizagem de subsunção ao facto de que, uma vez que as próprias ideias subsumidas (ancoradas) se estabelecem de forma adequada na estru- tura cognitiva:

1. Têm uma importância extremamente específica, particularizada e directa para tarefas de aprendizagem posteriores.

2. Possuem um carácter explicativo suficiente para transformar pormenores factuais, de outro modo arbitrários, em potencialmente significativos.

3. Possuem uma estabilidade inerente suficiente para fornecerem o tipo mais sólido de ancoragem aos significados recentemente apreendidos e altamente particularizados.9 4. Organizam novos factos relacionados em torno de um tema comum, integrando, assim, os elementos componentes dos novos conhecimentos quer uns com os outros, quer com os conhecimentos existentes.

Posto isto, é necessário fazer-se a distinção entre dois tipos basicamente diferentes de subsunção, que podem ocorrer no decurso da aprendizagem e da retenção significativas. A subsunção derivativa ocorre quando se entende o novo material de aprendizagem como um exemplar específico de um conceito ou proposição estabelecidos na estrutura cognitiva, ou como auxiliar ou ilustrativo de um conceito ou proposição geral anteriormente apreendidos. Em qualquer dos casos, o novo material de aprendizagem resulta, directa ou evidentemente, ou está implícito num conceito ou proposição preexistentes, já estabelecidos, mais inclusi- vos e ancorados na estrutura cognitiva. Nestas circunstâncias, o significado do material deri- vativo surge de forma rápida e relativamente fácil, mas tende a ser rapidamente esquecido quer porque pode ser representado, de modo adequado, pelo próprio subsunçor, quer porque se pode recuperar facilmente um exemplar quando for necessário.

Contudo, de um modo mais geral, apreendem-se as novas matérias através de um pro- cesso de subsunção correlativa. Neste caso, o novo material de aprendizagem é uma exten- são, elaboração, modificação ou qualificação de conceitos ou proposições anteriormente apreendidos. Também interage com, e é incorporado por, subsunçores mais relevantes e inclusivos na estrutura cognitiva; porém, o significado do mesmo não está implícito nem pode ser representado de forma adequada por estes últimos. Assim, ao contrário da situação da subsunção derivativa, o esquecimento de ideias correlativas não é inócuo, pois não se podem recuperar a partir das próprias ideias ancoradas. Quando o material de aprendizagem tenta, de forma explícita, aumentar a discriminação entre as novas ideias de instrução e as ideias de subsunção presumivelmente relevantes na estrutura cognitiva, através de uma série de comparações que envolve a exposição explícita das semelhanças e diferenças entre elas, pode considerar-se um subtipo comparativo de subsunção correlativa.

Aprendizagem Subordinante e Combinatória

A nova aprendizagem gera uma relação subordinante com a estrutura cognitiva, quando um indivíduo apreende uma nova proposição inclusiva, à qual se podem subordinar várias ideias preexistentes, estabelecidas, mas menos inclusivas. A aprendizagem subordinante ocorre no decurso do raciocínio indutivo, quando se organiza o material apresentado de

forma indutiva e se dá a síntese de ideias componentes, e na aprendizagem de abstracções de ordem superior. A aquisição de significados subordinantes ocorre de um modo mais vulgar na aprendizagem conceptual do que na proposicional, tal como quando as crianças apren- dem que os conceitos familiares cenouras, ervilhas, feijões, beterrabas e espinafres se podem subordinar todos ao novo conceito subordinante ‘vegetal’, embora sejam diferentes em ter- mos perceptuais.

A aprendizagem significativa de novas proposições que não gera nem uma relação subordinada, nem uma subordinante, com ideias relevantes particulares na estrutura cogni- tiva (que não se podem subordinar a conceitos ou proposições inclusivos ou estabelecidos, ou não podem, por sua vez, subordinar ideias específicas e menos inclusivas), dá origem a significados combinatórios. Estes são potencialmente significativos porque consistem em novas combinações sensíveis de ideias anteriormente apreendidas, que se podem relacionar, de forma não arbitrária, a um vasto conjunto anterior de conteúdo geralmente relevante na estrutura cognitiva, em virtude da congruência geral dos mesmos em relação a tal conteúdo como um todo. Ao contrário das proposições subordinadas ou subordinantes, não são relaci- onais para com ideias relevantes particulares dentro da estrutura cognitiva. Neste caso, a disponibilidade de ideias ancoradas na estrutura cognitiva, relevantes apenas de modo geral e não específico, faz com que, presumivelmente, as proposições combinatórias sejam menos relacionais ou ancoráveis a conhecimentos anteriormente adquiridos. Por isso, pelo menos no início, são mais difíceis de apreender e de lembrar do que as proposições subordinadas ou subordinantes. Esta última inferência resulta directamente das situações anteriormente des- critas de aprendizagem significativa e de indícios que indicam que a disponibilidade de con- teúdo específico adequadamente relevante na estrutura cognitiva é uma variável crucial na aprendizagem significativa.

Muitas das novas generalizações inclusivas e amplamente explicativas que os estudantes apreendem em ciências, matemática, estudos sociais e humanidades são, no entanto, exem- plos de aprendizagens combinatórias – por exemplo, relações entre massa e energia, tempe- ratura e volume, estrutura genética e variabilidade fenotípica, procura e preço, etc. Embora adquiridas com maior dificuldade do que as proposições subordinadas ou subordinantes, apresentam, assim que estabelecidas de forma adequada, a mesma estabilidade inerente que qualquer ideia inclusiva ou subordinante (de subsunção) na estrutura cognitiva (ver acima). Mais elaborações destas ideias resultam, geralmente, em subsunção derivativa ou correlativa (análise, diferenciação) e menos vulgarmente em aprendizagem subordinante (generaliza- ção, síntese).

Visto que, presumivelmente, se podem apreender e reter proposições mais facilmente quando são subordináveis a ideias especificamente relevantes na estrutura cognitiva, e uma vez que a organização hierárquica da estrutura cognitiva é, ela própria, um amplo reflexo do processo de subsunção prevalecente na aprendizagem e na retenção significativas, parece razoável sugerir-se a utilização do modo de subsunção da aprendizagem significativa, sem- pre que possível, para fins de instrução.

Parte da aprendizagem escolar frequentemente rotulada de ‘aprendizagem por memori- zação’ (e a qual, em muitas circunstâncias, é puramente memorizada) pretende, de facto, ser uma forma simples de aprendizagem proposicional significativa, tal como, por exemplo, determinados aspectos da aprendizagem de factos de adição e de multiplicação. É verdade que se pode incentivar alguma aprendizagem por memorização, como meio de se acelerar a rapidez de resposta e de cálculo; mas, na maioria das escolas modernas, aprende-se a tabela

de multiplicação, por exemplo, depois de se adquirir uma compreensão clara de ideias e rela- ções entre números. Visto que este tipo de aprendizagem – relacionar pares de números ao respectivo produto – se pode relacionar, de forma não-arbitrária e não-literal, a conceitos existentes de relações numéricas na estrutura cognitiva, dificilmente é análoga à aprendiza- gem por memorização de pares associados ou de sílabas sem sentido. Pelo contrário, com- para-se muito mais à memorização de falas por parte de um actor, após o mesmo ter adquirido uma compreensão significativa da história ou enredo. Por conseguinte, os âmbitos de aprendizagem não necessitam de ser puramente memorizados ou puramente significati- vos. Os aprendizes podem escolher, de forma simultânea ou sucessiva, apreender quer signi- ficativamente, quer por memorização.

Alguns leitores podem aperceber-se de alguma semelhança entre os conceitos de apren- dizagem subordinada (por subsunção) e subordinante em relação à teoria da assimilação, por um lado, e as noções contrastantes de assimilação e de acomodação de Piaget, por outro. Na verdade, a semelhança é mais terminológica (nominalista) do que real. Piaget utiliza estes termos somente para descrever tipos diferentes de alterações de desenvolvimento nos esque- mas e não para descrever processos de aprendizagem. Por isso, não faz qualquer referência às situações ou mecanismos subjacentes a estes processos de aprendizagem.

Aprendizagem por Descoberta

Tal como descrito acima, a aprendizagem proposicional é típica da situação prevalecente na aprendizagem por recepção, quando se apresentam ao aprendiz proposições substantivas e apenas se exige ao mesmo que apreenda e lembre o respectivo significado. Contudo, é importante ter-se em conta que a aprendizagem proposicional é também um importante tipo de resolução verbal de problemas ou aprendizagem pela descoberta. A principal diferença entre aprendizagem proposicional tal como apresentada em situações de aprendizagem por recepção, por um lado, e de aprendizagem pela descoberta, por outro, reside no facto de o conteúdo principal do que está por aprender ser descoberto pelos próprios aprendizes ou lhes ser apresentado. Na aprendizagem por recepção, este conteúdo é apresentado aos aprendizes sob a forma de uma proposição substantiva ou não causadora de problemas, que apenas necessitam de compreender e lembrar. Por outro lado, na aprendizagem pela descoberta, têm de descobrir por eles próprios, em primeiro lugar, este último conteúdo, criando proposições que representem soluções para os problemas colocados ou passos sucessivos com vista à resolução dos mesmos.

De facto, as variedades por recepção e pela descoberta da aprendizagem proposicional não são dicotómicas. Envolvem sucessivamente ambas as variedades da aprendizagem pro- posicional, em diferentes fases do processo de resolução de problemas. Em primeiro lugar, as proposições de resolução de problemas não se criam, geralmente, de novo. A criação das mesmas envolve, pelo contrário, uma transformação (reestruturação, reorganização, síntese, integração) de proposições de substrato relevantes e disponíveis (proposições que sofrem transformações). Por sua vez, as proposições de substrato são de dois tipos principais: (1) proposições de colocação de problemas, que definem a natureza e as condições da situação problemática actual; e (2) proposições anteriores, que consistem em aspectos relevantes de conhecimentos anteriormente adquiridos (informações, princípios) que se apoiam no pro- blema.

A aprendizagem significativa de proposições de colocação de problemas, na escola e em ambientes de aprendizagem semelhantes, envolve, geralmente, apenas a aprendizagem por recepção10. Ou seja, apresentam-se estas proposições de colocação de problemas ao apren- diz e este apenas necessita de apreender e de lembrar o que significam, relacionando-as de forma não-arbitrária e não-literal, a ideias de subsunção relevantes na estrutura cognitiva. Contudo, ao contrário das situações de aprendizagem de recepção substantiva, que acabam com a aprendizagem e a retenção da proposição em questão, a interiorização significativa de proposições de colocação de problemas acciona, em primeiro lugar, um processo de apren- dizagem pela descoberta. Cria-se, então, uma nova proposição de resolução de problemas, incluindo uma relação meios–fim potencialmente significativa, através de várias operações de transformação nas proposições interiorizadas de colocação de problemas e anteriores. O passo final nesta sequência de aprendizagem significativa, nomeadamente aprendizagem e retenção do significado da proposição de resolução de problemas bem sucedida e recente- mente criada, é mais uma vez uma questão de aprendizagem por recepção significativa. De facto, o único aspecto de descoberta verdadeiro de toda esta sequência da aprendizagem pro- posicional pela descoberta significativa, além da criação da proposição de resolução de pro- blemas bem sucedida, consiste no processo real de transformação das proposições de substrato numa proposição de resolução de problemas potencialmente significativa.

Na aprendizagem pela descoberta significativa, em oposição a circunstâncias de aprendi- zagem por recepção significativa mais típicas (substantivas), o aprendiz relaciona, assim, de forma não-arbitrária e não-literal, proposições de colocação de problemas à própria estrutura cognitiva – não tendo como objectivo a compreensão e a recordação daquilo que significam como fim por si só, mas com o objectivo de as transformar (juntamente com e tirando pro- veito de conhecimentos passados relevantes, anteriormente adquiridos) em novas proposi- ções de resolução de problemas bem sucedidas, potencialmente significativas para o mesmo.

O PAPEL DA LINGUAGEM NO FUNCIONAMENTO COGNITIVO

No documento livro-ausubel (páginas 109-113)

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