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Assimetria Informacional nas Relações de Agência

3.3 Economia da Informação

3.3.2 Assimetria Informacional nas Relações de Agência

mecanismo de mercado para equilibrar oferta e demanda, onde as regras para formação do preço são explícitas e conhecidas. Normalmente, os leilões são utilizados para transacionar produtos para os quais não existe mercado estabelecido, ou quando o vendedor está incerto sob o preço de venda. Cada pessoa avalia o bem de forma diferente, e ninguém quer pagar pelo bem mais do que ele vale. Os leilões podem ser desenhados de diferentes formas, sendo este o objeto de estudo de Vickrey, que dedicou-se a estudar quais as regras mais adequadas a cada tipo de objetivo que se pretende atingir.

Por fim, os efeitos da assimetria informacional também podem ser averiguados na relação entre principal-agente. Considerando que os contratos administrativos são por excelência um exemplo de relação principal-agente com assimetria informacional, o tema será tratado em item próprio.

trata de recurso precioso, não havendo dinheiro neste mundo que permita alterar o seu curso natural. O esforço, por sua vez, em que pese seja um recurso ampliável, é oneroso, e por isso mesmo não deixa de ser limitado. Ante o custo de tempo e esforço para o desenvolvimento de uma atividade, pode o indivíduo decidir por transmitir essa execução a um terceiro, o qual realizará a atividade em nome do principal. A decisão quanto à alocação dessas atividades depende de uma ponderação de custos e riscos, e pode impingir mais ou menos eficiência no trabalho desenvolvido. A forma como uma organização aloca tempo e esforço é o que a define, é o modo como ela revela a sua capacidade produtiva149.

Uma relação de agência, na sua versão mais simples, é a relação em que uma das partes, o “principal”, se beneficia quando outra pessoa, o “agente”, desenvolve determinada tarefa com cuidado e esforço adequado. Ou seja, a relação ocorre quando o principal incumbe outro, o agente, de satisfazer uma necessidade sua (do principal), em seu nome (do principal). A teoria da agência se preocupa em resolver dois problemas que podem ocorrer nas relações de agência150. O primeiro problema surge quando, na relação de agência, os desejos e objetivos do principal entram em conflito com os desejos e objetivos do agente. Não raro, há uma discrepância de preferências entre o agente e o principal, bem como uma divergência em relação a quais riscos devem ser assumidos151. Como exemplo, tenha-se o advogado e o seu cliente, onde este prefere a realização de um acordo, enquanto o outro, para prolongar o processo judicial e alargar os seus honorários, prefere assumir os riscos do litígio.

O segundo problema surge quando é difícil ou oneroso para o principal que verifique qual comportamento está sendo adotado pelo agente. A fim de averiguar o cuidado e esforço desejado, resta ao principal duas opções. A um, cabe ao principal monitorar as ações do agente, ou seja, adquirir informações sobre a sua performance durante o desenvolvimento da atividade. Todavia, impõem-se uma pergunta: como se dará este monitoramento? Nem sempre o monitoramento de uma atividade se dá com baixo custo, ou sem interferir na atividade que se monitora. Ainda, algumas atividades sequer são possíveis de serem monitoradas. A dois, pode o principal aguardar que o agente cumpra com a atividade e, ao final, verificar se o resultado desejado foi

149Brehm, John; Gates, Scott. Working, Shirking, and Sabotage: Bureaucratic Response to a Democratic Public, p. 29.

150Eisenhardt , Kathleen M. Agency Theory: An Assessment and Review, p. 58.

151Miller, Gary J.; Whitford, Andrew B. Trust and Incentives in Principal-Agent Negotiations The ‘Insurance/Incentive Trade-Off’, p. 236.

efetivamente atingido. Nesta segunda hipótese persiste o problema de que a ação do agente não pode ser verificada; assim, torna-se difícil inferir se o resultado (positivo ou negativo) deriva do esforço e cuidado dispensados pelo agente ou não. Como fica, no caso do comportamento não monitorado do agente, a influência da sorte ou aleatoriedade?152

Para Eric A. Posner, a solução do problema passa pelo design do contrato e os incentivos que serão por ele criados. Deve o clausulado contratual ser desenhado de forma a criar os incentivos corretos que permitam conduzir a performance do agente ao resultado desejado153. Sob o ponto de vista de design do contrato, a relação de agência pode ser distinguida em duas hipóteses. Inicialmente, pode-se pensar nos casos em que o comportamento do agente for observável, o que seria, portanto, uma hipótese de informação completa – inexistência de assimetria informacional. O melhor contrato que se adequa ao caso seria aquele baseado no comportamento do agente, isto é, que tem como objeto a performance do contratado (contrato de meio).

De outro lado, pode-se levantar a hipótese em que há informação incompleta – existência de assimetria informacional. Aqui, o agente tem consciência dos seus atos, mas o principal não possui essa informação. Um contrato de meio, portanto, seria praticamente inexequível. Considerando que o principal não consegue determinar se o agente impingiu o esforço e cuidado necessários, dá-se azo ao oportunismo do agente.

A estrutura de incentivos do contrato, neste caso, demanda maior complexidade.154 Na hipótese de informação incompleta, deve o contrato criar uma estrutura de incentivos adequada que seja capaz de conduzir o comportamento do agente ao resultado desejado. Afinal, não se pode contar com a capacidade do principal em monitorar a ação do agente. Inicialmente, pode-se pensar no problema de agência que se revela por meio da distinção de preferências entre o principal e o agente. Nestes casos, caberia ao contrato criar um sistema de recompensas de tal forma que os indivíduos que buscassem satisfazer seu interesse próprio estariam, ao mesmo tempo, perseguindo interesses de todo o grupo. Em segundo lugar, pode-se pensar no problema de agência que se revela pela dificuldade de o principal monitorar o comportamento do agente, em especial quando o resultado depende de fatores externos aleatórios. A solução, nesta hipótese, passa pela redistribuição de riscos a ser

152Posner, Eric A. Agency Models in Law and Economics, p. 1 ss.

153Ideam, p. 1 ss.

154Eisenhardt, Kathleen M. Control: Organizational and Economic Approaches, p. 136.

desenvolvida pelo contrato. É possível que o clausulado contratual discipline de forma tal que o agente tenha de suportar parte do risco de sua atividade. Quanto mais difícil o monitoramento de sua atividade, maior parcela do risco irá suportar. Assim, não se trata de uma mera motivação por recompensas, mas sim uma verdadeira redistribuição dos riscos do contrato155.

Para ilustrar, tenha-se como exemplo um contrato onde fique estabelecido que o principal pagará ao agente, mensalmente, um salário uniforme. O valor do salário, portanto, independe do resultado alcançado, bem como não se vincula ao grau de esforço e esmero impingido pelo agente. Neste caso, considerando que o interesse pessoal do agente é o salário, não existirão incentivos para que ele, todos os meses, dedique um grau elevado de esforço nas suas atividades. Desse modo, caso o esforço do agente não possa ser monitorado, é desinteressante o contrato que estipule um salário uniforme156.

Importante ressaltar que, no caso de contratos administrativos, tratando-se do poder público, a abordagem da solução pode ir além do design do contrato. Afinal, a relação contratual entre público e privado não se rege tão somente pelo clausulado contratual, mas também possui inferência de dispositivos legais, os quais desequilibram a relação em prol da supremacia do interesse público. Desta forma, a mesma lógica que se aplica ao design do contrato também pode ser usada na análise do design do ordenamento jurídico como um todo, o qual pode, da mesma forma, reestruturar incentivos e redistribuir riscos.

Em síntese, a assimetria informacional pode trazer problemas à relação de agência, cuja solução consiste na tentativa de, ainda que sua conduta não possa ser monitorada, induzir o agente a se comportar de forma que maximize o bem-estar do principal, por meio de uma estrutura de incentivos adequada e redistribuição de riscos. A solução é complexa, e nem sempre aferível facilmente.