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ilustrar a relevância do tema. Por fim, vale fazer uma abordagem da utilidade da informação especificamente no campo da execução dos contratos administrativos.

desejo por cada resultado, o leque de alternativas e o modelo do problema – são entendidos como constantes, assumidos pela teoria da decisão como elementos já postos. Assim, a necessidade de uma visão mais ampla fez despontar uma nova abordagem do problema.

Outros estudos começaram a surgir no sentido de que o método computacional de análise, dentre todos os fatores, não é necessariamente o mais relevante em uma tomada de decisão. Os demais elementos estão longe de serem estanques; além disso, são interdependentes. Toda decisão possui como referência um dado momento (referência temporal), bem como está associada à quantidade de informação acumulada. O acúmulo de conhecimento, verificável em relação a cada agente em um dado momento, altera as variáveis que compõem a tomada de decisão.

Por isso mesmo, Philip B. Evans e Thomas S. Wurster afirmam que “every business is an information business”115; na tradução livre, todo negócio é um negócio de informação. Defendem os autores que muitos negócios, ainda que não sejam considerados propriamente um negócio voltado às informações, possuem uma grande parte do custo de sua estrutura voltado às informações. Citam como exemplo a assistência médica no Estados Unidos; ainda que voltada prioritariamente a tratamentos na área da saúde, um terço de todo o seu orçamento – aproximadamente

$300 bilhões – é voltado para o custo de capturar, armazenar e processar informações relacionadas ao histórico dos pacientes, aos prontuários médicos, aos testes de resultados de exames, ao estoque de medicamentos e insumos, dentre outros.

Quando se pensa em uma empresa muitas vezes a imagem que vem à mente é a de um estoque de insumos, os quais passam por uma linha de produção, e aos poucos, por meio da mão-de-obra de homens ou robôs, vão se transformando em um produto final. Ocorre que, para além deste fluxo linear de acontecimentos físicos116, toda empresa é composta de um grande fluxo de informações. Toda instituição é construída sob o entendimento mútuo dos agentes que a compõem. Sem informação não seria possível uma tomada de decisão adequada sobre quanto ou como produzir.

As informações permeiam a empresa e dão ânimo a ela.

Quando se fala em marca o que se quer dizer é a forma como a empresa, por meio de um símbolo, sinaliza aos seus consumidores informações sobre as suas características e a qualidade de seus produtos. Quando se pensa em fortalecer a marca,

115Evans, Philip; Wurster, Thomas S. Strategy and the New Economics of Information, p. 72.

116Idem, p. 72.

por meio do marketing, fala-se nas formas de atingir um determinado publico alvo, através de meios de comunicação mais diversos, reforçando as informações que circundam aquele símbolo. Quando se fala em reputação online tem-se o esforço de capturar dos clientes informações sobre a impressão que estes possuem da empresa, recorrendo às redes sociais e demais fontes na internet. Quando se fala no valor da relação com o consumidor entende-se o esforço em adquirir informações quanto ao que os consumidores pensam sobre o trato dispensado por essa empresa, e a maneira de trabalhar estas impressões. Quando se refere a preço competitivo diz-se daquele que, mesmo comparado a todos os demais preços que outros estabelecimentos semelhantes informam (ofertam) no mercado, ainda oferece atratividade.

Na seara pública as informações não assumem papel menos importante.

Informações são necessárias para a elaboração de políticas públicas, para a celebração de contratos e para a regulação de atividades117. Ainda, vale ressaltar dois fatores que agravam a situação: (a) considerando que a Administração Pública existe em prol da sociedade, e não como um fim em si mesmo, informações no que tange à conveniência e grau de desejo dos resultados possíveis encontram-se espalhadas, de forma difusa, no coletivo, não podendo o administrador público nortear-se apenas pelas suas próprias convicções; (b) da mesma forma, tratando-se de atividade voltada ao coletivo, as informações relativas à sua execução geralmente encontram-se dispersas, em caráter difuso, aumentando a dificuldade de aquisição dessa mesma informação.

Para ilustrar, tomemos o caso dos cigarros eletrônicos, ou também denominados e-cigarettes. São dispositivos inseridos no mercado a partir do ano 2007, e que hoje possuem certa popularidade em alguns países. Da mesma forma que os cigarros convencionais possuem nicotina, substância altamente viciante, a qual alivia os fumantes tradicionais dos efeitos da abstinência. De outro lado, os cigarros eletrônicos possuem a especificidade de não funcionarem por meio de combustão, mas sim, entregam nicotina ao usuário através de um aerossol (vapor, o qual deu origem à expressão vaping, que indica o ato de consumir cigarros eletrônicos). Desta forma, possuem a vantagem de entregar ao usuário dependente a nicotina desejada,

117 Parson, Edward A.; Goglianese, C.; Zeckhauser, R.; et al. Seeking Truth for Power:

Informational Strategy and Regulatory Policymaking. p. 278.

todavia, livre de inúmeras outras substâncias malignas contidas apenas no cigarro convencional, a exemplo, benzeno, amônia, arsênico e chumbo118.

Diante desse cenário, questiona-se qual a melhor postura a ser adotada pela Administração Pública. Deveriam os cigarros eletrônicos serem banidos? Ao contrário, deveria o seu uso ser estimulado? Ainda, o que não deixa de ser uma escolha possível, deveria a Administração Pública quedar-se inerte, nada fazer, e deixar o cigarro eletrônico à mercê do livre mercado? A tomada de decisão da Administração Pública neste caso é uma escolha sob incerteza. Não é claro a qual resultado cada alternativa pode conduzir. A tomada de decisão, portanto, dependerá de um complexo cálculo de probabilidades.

Certo é que a Administração Pública busca velar pela saúde coletiva; ainda, zela o máximo possível pela autodeterminação dos indivíduos. Ocorre que a alternativa cujo resultado mais se aproxima deste objetivo não está clara, ante a complexidade do problema. De um lado, existe a alegação de que o cigarro eletrônico tende a substituir o cigarro convencional, pois proporciona aos fumantes já dependentes uma alternativa capaz de aliviar os efeitos da abstinência da nicotina, contudo, sem infligir todos os malefícios do tabaco. Nesta linha de raciocínio, pode-se dizer que o cigarro eletrônico promove uma política de redução de danos, pois diminui o uso do cigarro tradicional e implementa melhorias na saúde pública. Afinal, é o que consta da campanha publicitária da Juul – maior companhia de cigarros eletrônicos do mundo hoje –, onde diz “Juul was designed with adult smokers in mind”119120. De outro lado, existe a alegação de que o cigarro eletrônico não atingiu apenas fumantes já dependentes. Ao contrário, contesta-se no sentido de que a prática de vaping aumentou a quantidade de fumantes, tornando o cigarro ainda mais popular, principalmente entre os mais jovens. Neste sentido, o cigarro eletrônico aumentou o risco de lesão à saúde pública e, consequentemente, afastou-se do objetivo primário da Administração Pública.

Voltando à tomada de decisão no âmbito das políticas públicas, resta reconhecer que a escolha da Administração Pública é uma escolha sob incerteza.

Optando por esta ou aquela alternativa, nada mais há que uma probabilidade de promoção da saúde pública; inexistem certezas. Entretanto, deve-se ressaltar que a

118Dubner, Stephen J. The Truth About the Vaping Crisis.

119Na tradução livre do autor, “A Juul foi pensada para adultos fumantes”.

120Jull. Chamada publicitária no sítio eletrônico da companhia Juul.

aquisição de informações sobre o caso pode reduzir a incerteza e aumentar a probabilidade de um resultado exitoso. Quanto mais evidências forem colhidas sobre o impacto dos cigarros eletrônicos no mercado de fumantes, maiores são as chances de uma escolha acertada. A decisão entre o banimento, a liberação ou a regulação do cigarro eletrônico perpassa por questões prévias tais como: (a) houve aumento no número total de fumantes após a entrada dos cigarros eletrônicos no mercado? (b) qual a faixa etária dos fumantes de cigarros eletrônicos? (c) os usuários de cigarro eletrônico já fizeram uso de tabaco anteriormente?

Dito isto, pode-se afirmar que a grande utilidade das informações para a tomada de decisão está na redução da incerteza, o que permite uma maior probabilidade de que seja eleita a alternativa que melhor conduza ao resultado desejado. O tema da informação nem sempre teve o seu reconhecimento merecido, o qual foi atingido a partir de estudos voltados à teoria da informação, à análise econômica da informação, bem como aos efeitos deletérios da assimetria informacional.