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3.3 Economia da Informação

3.3.3 Informação Como Recurso Valioso

desenvolvida pelo contrato. É possível que o clausulado contratual discipline de forma tal que o agente tenha de suportar parte do risco de sua atividade. Quanto mais difícil o monitoramento de sua atividade, maior parcela do risco irá suportar. Assim, não se trata de uma mera motivação por recompensas, mas sim uma verdadeira redistribuição dos riscos do contrato155.

Para ilustrar, tenha-se como exemplo um contrato onde fique estabelecido que o principal pagará ao agente, mensalmente, um salário uniforme. O valor do salário, portanto, independe do resultado alcançado, bem como não se vincula ao grau de esforço e esmero impingido pelo agente. Neste caso, considerando que o interesse pessoal do agente é o salário, não existirão incentivos para que ele, todos os meses, dedique um grau elevado de esforço nas suas atividades. Desse modo, caso o esforço do agente não possa ser monitorado, é desinteressante o contrato que estipule um salário uniforme156.

Importante ressaltar que, no caso de contratos administrativos, tratando-se do poder público, a abordagem da solução pode ir além do design do contrato. Afinal, a relação contratual entre público e privado não se rege tão somente pelo clausulado contratual, mas também possui inferência de dispositivos legais, os quais desequilibram a relação em prol da supremacia do interesse público. Desta forma, a mesma lógica que se aplica ao design do contrato também pode ser usada na análise do design do ordenamento jurídico como um todo, o qual pode, da mesma forma, reestruturar incentivos e redistribuir riscos.

Em síntese, a assimetria informacional pode trazer problemas à relação de agência, cuja solução consiste na tentativa de, ainda que sua conduta não possa ser monitorada, induzir o agente a se comportar de forma que maximize o bem-estar do principal, por meio de uma estrutura de incentivos adequada e redistribuição de riscos. A solução é complexa, e nem sempre aferível facilmente.

análise econômica. Tal como qualquer outro recurso necessário a uma cadeia produtiva, cuja escassez e custo são levados em consideração no processo de produção, também a informação passou a ser assim considerada. Em outras palavras, houve o reconhecimento de que a informação, no fenômeno econômico: (a) possui um valor; (b) é escassa; (c) sua ausência possui efeitos deletérios; (d) a aquisição de mais informação possui um custo.

Independente de como se pretenda defini-la, pode-se dizer que informação é um bem econômico, e por isso mesmo pode ser produzida, armazenada, consumida, investida (usada em produção), ou vendida. Assim, é possível dizer que ela possui valor de mercado157.

Os membros de uma economia – os consumidores, as firmas, os investidores, e os governantes – fazem escolhas. Dizer que fazem escolhas implica na existência de alternativas, no sentido de que a via escolhida não é inevitável, mas sim, uma opção dentre um leque de oportunidades. As alternativas disponíveis para cada um dos agentes dependem dos recursos que ele possui e de suas circunstâncias. Para o consumidor, as alternativas disponíveis dependem da quantidade de dinheiro que possua, bem como dos preços que deverá pagar para adquirir os produtos desejados.

Para as firmas, as alternativas disponíveis dependem da envergadura tecnológica de lidar com os recursos existentes naquele dado momento. Para os investidores, as alternativas disponíveis dependem do retorno que se espera no futuro dos fundos apresentados no portfólio158.

A característica geral relativa a todas as hipóteses acima é o fato de que as escolhas se projetam no futuro, e o futuro não admite certezas. Necessariamente, o futuro não pode ser conhecido antes que aconteça, sendo possível tão somente que sejam realizadas previsões. As previsões envolvem, por exemplo, os preços futuros, a possibilidade de revenda, a utilidade do bem quando for usado ou consumido. Quanto mais o futuro se estende, mais difícil é a previsão. Assim, é intrínseco ao processo de tomada de decisão que as oportunidades disponíveis e as consequências das decisões não podem ser completamente conhecidas. Fazer escolhas envolve incertezas, em maior ou menor medida. Onde há incerteza, por sua vez, há a possibilidade de sua redução por meio da aquisição de informação159.

157Birchler, Urs; Bütler, Monika. Information Economics, p. 16.

158Arrow, Kenneth. Colected Papers, The Economics of Information, p. 136 ss.

159Idem, p. 136 ss.

De forma simplista, a aquisição de informação tem como finalidade a redução da incerteza. Todas as tomadas de decisão, independente do contexto, são afetadas pela quantidade de informação disponível àquele que decide. A informação permite ao agente conhecer a realidade presente e, por via de consequência, refinar sua previsão quanto ao futuro. Por isso mesmo, não se pode descartar o importante papel das informações nos processos de produção, nem mesmo nos processos políticos160, uma vez que afetam diretamente as escolhas tomadas pelos agentes envolvidos.

Escolhas sob incerteza podem conduzir a resultados não esperados. A ignorância acerca das variáveis que circundam o cenário implica um juízo de probabilidade. Quanto mais informação, ou seja, quanto mais próximo de um ideal de certeza, maior é a probabilidade de que a escolha apontada conduza ao resultado esperado. Desta feita, é inconteste que informação possui utilidade (no sentido econômico). Seja na acepção subjetiva, relativa a ser desejada ou almejada, seja na objetiva, relativa a funcionalidade ou adequação161, existe utilidade na informação.

Em sendo útil, logo a informação possui valor.

É justamente por força do valor agregado às informações que William C. Lisse afirma que atualmente é vital às empresas no mercado competitivo a habilidade de manter uma vantagem informacional sobre os seus concorrentes162. A quantidade de informação disponível na era da internet é fenômeno sem precedentes; com ela é possível antecipar os movimentos dos concorrentes, bem como acessar conhecimento sobre todos os níveis do mercado. A informação atual e acurada tornou-se uma verdadeira commodity no mundo corporativo moderno.

No mesmo sentido, a fim de trazer à baila outro exemplo que reconhece valor à informação, tenha-se o § 2054.001 do Texas Government Code, o qual determina que:

“information and information resources possessed by agencies of state government are strategic assets belonging to the residents of this state that must be managed as valuable state resources”163. As informações, no caso, são reconhecidas como recursos estratégicos, preciosas para o Estado e para a sociedade.

160 Stiglitz, Joseph. Selected Works of Joseph Stiglitz, p. 54.

161Brian G. M. Main, Akerlof, George Arthur. Palgrave Dictionary of Economics, Utility, p.

577 ss.

162Lisse, William. The Economics of Information and the Internet, p. 48.

163State of Texas Government Code, State of Texas, Sec. 2054.001. Legislative Findings and Policy.

Também reconhecendo o valor das informações, Licínio Lopes Martins entende que a assimetria informacional entre as partes de um contrato – notadamente nos contratos administrativos, em que o contraente privado possui mais informações do que o contraente público – pode constituir uma das causas de reequilíbrio do contrato em favor daquele agente menos informado164.

Em síntese, é possível concluir que a informação que uma pessoa possui pode ser compreendida como capital. Sua produção nem sempre é graciosa, sendo muitas vezes necessário arcar com um custo de procura. Após adquirida, a informação permite impingir mais eficiência ao processo produtivo, viabilizando um retorno maior do que normalmente se conseguiria caso a informação não fosse utilizada165.

Da mesma forma ocorre na relação entre principal e agente onde exista informação assimétrica. No caso, a informação pode ser considerada um recurso valioso. Qualquer informação adicional sobre as ações do agente, ainda que imperfeita, pode ser usada para implementar o bem-estar de ambos, tanto do principal quanto do agente166.

Ante o exposto, é inconteste que informação pode ser considerada um recurso valioso, com utilidade no cenário econômico, e capaz de implementar eficiência. Em que pese existam dificuldades de se quantificar com exatidão o valor da informação, dadas as suas características peculiares, é plenamente possível perguntar: quantos dólares vale um bit de informação?167