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AVALIAÇÃO DE CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL À LUZ DA EXPERIÊNCIA DE PESQUISA EM UMA UNIDADE EDUCATIVA PÚBLICA DE FLORIANÓPOLIS (SC)

Aline Helena Mafra-Rebelo (Udesc/ MEC) ahelenamafra@gmail.com Geysa Spitz Alcoforado de Abreu (Udesc/ MEC)

geysa.abreu@uol.com.br Julice Dias (Udesc/ MEC)

julice.dias@hotmail.com

RESUMO

Este trabalho retrata a trajetória da pesquisa realizada em Florianópolis (SC) em uma instituição de Educação Infantil da Rede Pública. Tal percurso se insere na pesquisa intitulada: “Formação da rede em Educação Infantil: Avaliação de contexto”, coordenada pela UFPR em parceria com a Università degli Studi di Pavia e financiada pelo MEC, com a finalidade de examinar a viabilidade do uso de dois instrumentos italianos de avaliação de contexto em instituições de Educação Infantil no Brasil. A metodologia contou com reuniões com os profissionais da instituição para discutir itens dos instrumentos e debater suas possibilidades ao contexto brasileiro. Os instrumentos se mostraram férteis para ava- liar a qualidade da Educação Infantil, exigindo, contudo, determinadas modificações.

Palavras-chave: Florianópolis. Educação infantil. Avaliação de contexto.

INTRODUÇÃO

Neste texto, apresentaremos a trajetória da pesquisa desenvolvida em Florianópolis (SC), entre 2013 e 2015, em uma instituição de Educação Infantil pertencente à Rede Pública Municipal de Ensino. Tal percurso de imersão em campo, insere-se em uma pesquisa mais abrangente intitulada: “Formação da rede em Educação Infantil: Avaliação de contexto”, coordenada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em parceria com a Uni- versità degli Studi di Pavia (Itália) e financiada pelo Ministério da Educação. Esta pesquisa promoveu o estudo simultâneo em quatro capitais brasileiras (Curitiba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Florianópolis), representadas pelas universidades federais do Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Universidade do Estado de Santa Catarina.

Os objetivos da pesquisa de campo foram: utilizar duas escalas italianas de avaliação de contexto (IS- QUEN E AVSI) em grupos de creche e pré-escola, para observar sua pertinência de utilização no contexto de instituições de Educação Infantil brasileiras; analisar as potencialidades de utilização das escalas italianas de ava- liação de contexto na Educação Infantil; contribuir para a formulação e proposição de indicadores de avaliação de contexto na primeira etapa da Educação Básica comprometidos com o debate acadêmico e com a política nacional de Educação Infantil no Brasil.

A escolha da instituição de Educação Infantil participante da pesquisa se deu por indicação da Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis, a partir de critérios definidos para as quatro capitais, a saber: ser institui- ção pública municipal (portanto, sendo excluídas as instituições conveniadas); atender a toda a faixa etária que compreende a Educação Infantil (0 a 5 anos e 11 meses); oferecer atendimento em período integral; ser instituição própria de Educação Infantil (independente das condições do prédio, alugado ou construído para fins específicos), em funcionamento separado do Ensino Fundamental; dispor de um profissional responsável pelo trabalho pedagó- gico (supervisor pedagógico/coordenador pedagógico/pedagogo ou o próprio diretor) e corpo docente com vínculo empregatício (estatutário ou CLT, exceto os estagiários ou denominações correlatas).

O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA EM UMA INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO INFANTIL EM FLORIANÓPOLIS

O trabalho de campo em Florianópolis foi estruturado em seis etapas, cujo detalhamento para a sua realização foi debatido e negociado com a participação de toda equipe de pesquisa das quatro universidades brasi- leiras que integraram a pesquisa, em diversas reuniões que ocorreram no Brasil e na Itália1.

No dia 12 de agosto de 2014, iniciamos a primeira etapa da pesquisa em campo, momento onde re- alizamos uma reunião na instituição de Educação Infantil, com a presença de grande parte do corpo docente, supervisora pedagógica e diretora, para apresentar a pesquisa e convidar os profissionais para dela participarem. Nesta ocasião, apresentamos os objetivos e metodologia da pesquisa, de forma a também explanar brevemente os dois instrumentos de avaliação de contexto italianos que seriam avaliados: ISQUEN e AVSI. Neste encontro, os profissionais que aceitaram participar da pesquisa foram divididos em dois Grupos de Trabalho (GT’s), a partir de seu grupo etário de atuação.

Posteriormente, na segunda etapa, foram organizados encontros com cada GT para a discussão geral envolvendo a compreensão dos instrumentos. O GT ISQUEN foi composto por 15 professoras e o GT AVSI por 10 participantes. Já a terceira e quarta fase foram constituídas pela expressão dos pontos de vista individuais dos participantes, onde eles explicitaram suas ideias de qualidade, confrontando as análises críticas individuais e dis- cussões manifestas nos encontros dos grupos de trabalho com a apreciação realizada a partir da avaliação com os instrumentos. Todas as reuniões foram gravadas em áudio, e, posteriormente transcritas.

A quinta etapa se tratou da observação e utilização efetivamente dos instrumentos italianos (ISQUEN E AVSI) na instituição pesquisada em Florianópolis. As observações nos grupos de crianças da instituição pesqui- sada aconteceram em seis dias da semana não consecutivos, sendo um dia de observação em cada grupo etário. Foram realizadas entrevistas com as professoras regentes de cada turma observada, no horário do sono das crian- ças. Foi realizada também uma entrevista com a supervisora da instituição.

As observações realizadas em todos os momentos da rotina foram importantes para o cotejamento com a prática docente e para possibilitar a pontuação dos instrumentos em conformidade com os critérios de cada item avaliado. Para além disto, as observações, enquanto procedimento metodológico, foram de fundamental impor- tância para a discussão nos momentos de restituição da avaliação aos profissionais participantes.

Após terem sido realizadas as observações nos seis grupos (G1, G2, G3, G4, G5 e G6), foram realizadas duas reuniões com os Grupos de Trabalho (GT’s ISQUEN e AVSI). Nas reuniões de cada GT, foram distribuídos quadros com a pontuação atribuída por cada professor de cada grupo e a pontuação de uma das pesquisadoras. Nesta ocasião, enfatizamos que a observação realizada em um único dia em cada turma seria sempre muito par- cial e que, portanto, as professoras conheciam melhor o próprio trabalho e estavam mais autorizadas a falar sobre ele. Enfatizamos também que a avaliação se tratava do instrumento e não sobre o trabalho das professoras. Tal momento, constituiu a sexta etapa da pesquisa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como resultados deste processo, ressaltamos que as professoras teceram diversos elogios, tanto os ins- trumentos quanto a metodologia da pesquisa. Nesse sentido, a metodologia utilizada, ao mesmo tempo que foi um desafio para todos os envolvidos, foi mobilizadora de um debate entre os indivíduos comprometidos e atuan- tes na instituição. Foi um verdadeiro exercício de escuta na medida em que a análise dos instrumentos remetia à

1 Com a consultoria de duas autoras dos instrumentos, Anna Bondioli e Donatella Savio, ambas da Universidade de Pavia e com a colabora-

discussão sobre a qualidade. Tratava de uma qualidade não abstrata, mas referenciada nos itens e critérios apre- sentados pelos instrumentos e, por assim ser, resultou em reflexão e trocas de pontos de vista contextualizados. De acordo com Bondioli & Savio (2013, p. 23):

Qualidade é transação, ou seja, debate entre indivíduos e grupos que têm um interesse pela insti- tuição, que têm responsabilidades em relação a ela, que com ela estão envolvidos de algum modo e que trabalham para explicitar e definir de maneira consensual valores, objetivos, prioridades, ideias sobre como é a instituição e sobre como deveria ou poderia ser. Não há, portanto, qualida- de sem participação. Não somente porque, como se disse, é um princípio de intersubjetividade que garante a validade dos critérios sobre os quais basear a qualidade, mas também porque é sinergia das ações dos diversos atores na busca de tentativas compartilhadas que torna efetiva a possibilidade de realiza-las.

Desse modo, o percurso da pesquisa, as reflexões e discussões que este suscitou sobre o contexto da Edu- cação Infantil e suas especificidades foram de grande valia para o processo formativo de modo individual e, para a instituição na condição de corpo profissional que se debruça sobre o alcance de um trabalho cada vez mais coletivo.

Os sujeitos envolvidos na pesquisa manifestaram a necessidade cada vez mais premente do trabalho coletivo e de um elo mais efetivo entre universidade e instituições de Educação Infantil. O percurso da pesquisa realizada contribuiu sobremaneira, de acordo com a avaliação das profissionais, para essa proximidade, para troca de experiências formativas, bem como para discutir/estudar novas possibilidades de constituição do dia a dia edu- cativo da creche e da pré-escola. Dentre as questões sinalizadas, surgiu como demanda a formação continuada em serviço, na própria unidade educativa, para além da formação já oferecida pela Rede Municipal de Florianópolis.

Dessa análise referenciada nos instrumentos, identificamos a necessidade de promover mais estudos focados na relação creche-família e em torno da inovação pedagógica, ambas as questões reiteradas ao longo dos encontros, a partir do estudo dos instrumentos de avaliação. Estas são temáticas recorrentes no âmbito da forma- ção de professores e na prática pedagógica nas instituições, as quais requerem mais atenção da política nacional e local (ABREU e DIAS, 2015).

Por fim, cabe ressaltar que embora a unidade de análise fosse a pertinência dos instrumentos para avalia- ção de contexto da Educação Infantil brasileira, o processo desencadeado permitiu, com maturidade profissional e análise crítica, desenvolver o olhar de dentro para o cotidiano vivido.

REFERÊNCIAS

ABREU, Geysa Spitz Alcoforado de; DIAS, Julice. Avaliação de contexto em uma instituição pública de Educa- ção Infantil em Florianópolis. In: SOUZA, Gizele de;

MORO, Catarina; COUTINHO, Angela Scalabrin. (Org.). Formação da Rede em Educação Infantil: avalia-

ção de contexto. Curitiba: Appris, 2015, p. 173-206.

BONDIOLI, Anna; SAVIO, Donatella. Participação e Qualidade em Educação da Infância: percursos de

AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA: DESDOBRAMENTOS NO DIA A DIA DA GESTÃO DE ESCOLAS

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