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A RELAÇÃO ENTRE OS INDICADORES EDUCACIONAIS E OS INDICADORES DE RENDA: UM ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE NOVO HAMBURGO/ RS (2005-2013)

Henrique de Souza (Unisinos) henri.quem@hotmail.com

RESUMO

Este estudo situa-se no campo das políticas de avaliação e da qualidade da educação básica. O município de Novo Hamburgo/RS atingiu elevados índices no IDEB. A pesquisa teve como objetivo investigar a relação existente entre os indicadores de renda gerados a partir dos resultados do Censo 2010, e os resultados obtidos por seis escolas do município no IDEB. Nessa perspectiva, adotou-se a metodologia histórico-crítica. Em termos de recursos técnico-metodológicos, recorremos à estatística analítica básica para o tratamento dos dados quantitativos. A análise dos dados aponta para uma relação direta entre as condições sociodemográficas da população atendida pelas escolas e os indicadores educacio- nais apresentados por elas.

Palavras-chave: Qualidade da educação. Avaliação em larga escala. Políticas educacionais. Novo Hamburgo/RS.

INTRODUÇÃO

Ao investigarmos os indicadores de qualidade da educação básica, situamos nosso estudo no campo das Políticas Educacionais, especificamente na área de Avaliação. No Brasil, as discussões a respeito da qualidade da educação encontram seus marcos históricos iniciais ainda na década de 1920, quando, através do debate sobre os esforços no sentido de democratizar a educação, uma grande resistência à expansão da escola pública foi identifi- cada por parte de estudiosos e membros do magistério, sob a alegação de que esse movimento resultaria na perda de qualidade.

Nesse período, a democratização educacional e a qualidade eram vistas como processos políticos, am- plos, de forma que se tornariam viáveis apenas através de políticas públicas. Assim, observamos a dualidade entre qualidade e quantidade, que permeia o campo educacional ao longo de quase todo o século XX, chegando até o século XXI. (CORSETTI, 2011, p.12).

As primeiras empreitadas em direção a um modelo de avaliação em nível nacional ocorreram no final da década de 1980, quando o MEC iniciou estudos sobre o tema, a partir da influência de organismos internacionais, neste caso, o Banco Mundial. (ECOTEN, 2013, p.47). Em 1988 os primeiros ensaios de avaliação em larga escala surgem no Brasil e, após diversas reformulações, estão em vigor atualmente. (WERLE, 2011, p.744).

A respeito dos motivos que levaram a realização dessa avaliação, Werle (2011, p.744) pontua duas si- tuações: a primeira diz respeito a uma demanda do Banco Mundial pela análise do impacto do Projeto Nordeste, política realizada em uma parceria entre MEC e o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento, o Bird; a segunda se relaciona com o interesse do MEC em avaliar de forma ampla o ensino público.

Sobre o impacto das políticas públicas de avaliação, Ecoten (2013, p. 46) sinaliza que “As avaliações que temos hoje, também são indutoras de políticas públicas para a educação, mas com focos e influências diferencia- das”. De acordo com Martins e Werle (2010, p. 24), é possível afirmar que os modelos de avaliação em larga escala da educação básica podem ser considerados, em parte, limitados, pois levam em conta apenas os produtos do processo de aprendizagem e não o processo como todo. Além disso, esse modelo de avaliação não leva em conside- ração fatores contextuais do processo de aprendizagem e mesmo da escola, como as características da população por ela atendida ou mesmo seus recursos materiais e humanos.

O MUNICÍPIO DE NOVO HAMBURGO/RS

O estudo que desenvolvemos teve como locus o município gaúcho de Novo Hamburgo, que conta com uma população de aproximadamente 240.000 habitantes e uma área de 223,6km². A cerca de 40km da capital Porto Alegre, está localizado na região do Vale do Rio dos Sinos.

A rede de ensino de Novo Hamburgo conta com instituições educacionais públicas (redes municipal e estadual) e privadas, que atendem da educação básica ao ensino superior. De acordo com os dados da Secretaria Municipal de Educação (SMED), a rede de ensino conta com 54 escolas municipais de ensino fundamental e 31 escolas municipais de educação infantil. A rede municipal, no início de 2015, atendia 23.450 alunos, desde a edu- cação infantil até os anos finais do ensino fundamental.

Um ponto importante a ser destacado é a visita do Banco Mundial a Novo Hamburgo. Em 2007, a cidade recebeu consultores do organismo internacional que buscaram avaliar a experiência educacional do muni- cípio. A visita foi motivada pelo IDEB alcançado pelo munícipio. A respeito do conteúdo do relatório produzido, a instituição atribuiu, claramente, o sucesso do desempenho da rede no IDEB, aos gestores a frente da Secretaria Municipal de Educação. Assim, observamos que uma visão gerencialista é evidente no diagnóstico formulado e publicizado. (CORSETTI, 2015, p. 50).

No entanto, com base nos indicadores sociodemográficos do município e nas características da rede municipal, entendemos que ela é complexa e que, por isso, a realidade da educação do município mereceu uma in- vestigação de forma mais aprofundada. Compreendemos que outros elementos, externos ao campo educacional, possam influenciar no rendimento das escolas do município, já que Novo Hamburgo é uma cidade de médio porte e que apresenta diferentes realidades socioeconômicas.

Para tanto, optamos por um estudo de caso que envolveu seis escolas de ensino fundamental da rede pública municipal de Novo Hamburgo. Essas escolas estão localizadas em bairros distintos e que apresentam cla- ras diferenças em seus indicadores de renda. Chamamos atenção para o fato de que os critérios que balizaram a escolha das escolas foram baseados na identificação de realidades sociodemográficas contrastantes no município.

A ANÁLISE DO IDEB EM INTERFACE COM OS INDICADORES DE RENDA DOS BAIRROS

Na tabela abaixo é apresentado o IDEB das escolas. Nela, podemos perceber que o desempenho dessas escolas é bastante distinto. Observamos também que as escolas situadas nos bairros, Hamburgo Velho, Mauá e Ideal são as que obtêm um IDEB mais elevado já na primeira edição da Prova Brasil, em 2005. Nos anos seguintes, a partir dos quais já há uma meta a ser perseguida, as escolas Ana Neri, São Jacó e Pres. Nilo Peçanha atingem quase todas as metas projetadas.

Tabela 1 - IDEB Geral Observado

A variação do desempenho no IDEB, no grupo de escolas que analisamos, nos chamou atenção e provo- cou uma busca pelas razões que pudessem explicar esse fenômeno. Na sequência, são apresentados os indicadores de renda dos bairros onde estão situadas as escolas do nosso estudo de caso.

Gráfico 1 - Rendimento Médio Mensal por Bairro

Fonte: elaborado pelo autor com base na Base de Dados do IBGE

De acordo com os dados do Censo 2010, os bairros que apresentam maior rendimento médio mensal da população são, respectivamente, Mauá, Hamburgo Velho e Ideal. Esses, como vimos anteriormente, são os bairros onde estão localizadas as escolas que obtiveram um melhor desemprenho no IDEB e que atingem as metas. Além disso, é importante observarmos que os números dos bairros Canudos, Santo Afonso e Diehl, os mais populosos e marcados por vulnerabilidade social, figuram abaixo do rendimento médio mensal geral do município e ainda apresentam valores que correspondem a um terço do valor apresentado por bairros de melhores condições so- cioeconômicas. Os valores apresentados pelos outros três bairros, Ideal, Mauá e Hamburgo Velho, encontram-se consideravelmente acima da média municipal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados que alcançamos na comparação entre os indicadores de renda e os indicadores educacio- nais foram evidentes. Através do gráfico e da tabela construídos, pudemos perceber o quanto fatores externos à escola podem impactar nos índices educacionais.

Foi possível concluir que existe uma forte relação entre o desempenho das escolas no IDEB e as con- dições sociodemográficas das populações dos bairros onde elas estão situadas. Verificamos que houve uma forte tendência de que as escolas situadas nos bairros com marcante vulnerabilidade social apresentassem um IDEB mais baixo quando comparados com aqueles das escolas situadas nas localidades com melhores condições socio- econômicas. O cruzamento entre os dois tipos de indicadores evidenciou que houve relação entre o rendimento das famílias e o desempenho dos alunos nas avaliações de larga escala. Além disso, percebemos que o desempenho escolar foi fortemente influenciado pelo contexto social do qual a escola faz parte e que esse fator deve ser consi- derado na leitura dos indicadores educacionais e também na elaboração das políticas de avaliação.

REFERÊNCIAS

CORSETTI, B. A Metodologia Histórico-crítica e a Reflexão Sobre a Questão do Rendimento Escolar no Brasil. In: MARTINS, Ângela Maria; WERLE, Flavia Obino Corrêa. (orgs). Políticas Educacionais: elementos para

reflexão. Porto Alegre: Redes Editora, 2010. p. 89.

______. Uma Análise da Qualidade da Escola no Brasil a partir da Contribuição de Anísio Teixeira (1934-1971). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO – CBHE, 6., 2011, Vitória. Anais CBHE.

Vitória/ES: Universidade Federal do Espírito Santo, 2011. Disponível em: http://www.sbhe.org.br/novo/con- gressos/cbhe6/anais_vi_cbhe/conteudo/res/trab_433.htm. Acesso em: 12 mai. 2016.

______. O Banco Mundial e a Influência na Avaliação da Educação Básica Brasileira. In: CORSETTI, Berenice (org.). Avaliação da Educação, Gestão Democrática e Indicadores de Qualidade: um estudo de caso no município de Novo Hamburgo/RS. São Leopoldo: Casa Leiria, 2015. p. 50-51.

ECOTEN, Márcia Cristina Furtado. Gestão Local e Avaliação em Larga Escala: um estudo de caso no muni-

cípio de Canoas/RS. 2013. 145 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educa- ção, Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), São Leopoldo, 2013. p. 44-46.

MARTINS, Ângela Maria; WERLE, Flávia Obino Corrêa. (orgs). Políticas Educacionais: elementos para refle-

xão. Porto Alegre: Redes Editora, 2010. p. 24.

TAVARES, Edson Leandro Hunoff. Avaliação em larga escala e qualidade da educação: um estudo a partir

da visão dos sujeitos da rede escolar municipal de Cachoeirinha/RS. 2013. 145 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), São Leopoldo, 2013.

WERLE, F. O. C. Avaliação em Larga Escala: foco na escola. São Leopoldo: Oikos; Brasília: Liber Livro, 2010.

______. Políticas de Avaliação em Larga Escala na Educação Básica: do controle de resultados à intervenção nos processos de operacionalização do ensino. Revista Ensaio, v. 19, n. 73, out./dez. 2011, p. 769-792.

AS CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO MÉDIO: O QUE MOSTRAM

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