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ORGANISMOS INTERNACIONAIS E AS POLÍTICAS DE AVALIAÇÃO EDUCACIONAL NA EDUCAÇÃO BASICA

Vanessa Rosana Peluchen (Unoesc) vanessapeluchen@hotmail.com Marilda Pasqual Schneider (Unoesc) marilda.schneider@unoesc.edu.br

RESUMO

A avaliação constitui, hodiernamente, peça fulcral na implantação de políticas pela melhoria da qualidade na educação básica. Sua centralidade se deve, em boa medida, pela influência de organismos internacionais que advogam em favor de uma relação de reciprocidade entre avaliação de sistemas e qualidade educacional. Considerando o exposto, o texto tem por objetivo apontar resultados de um estudo bibliográfico e documental sobre alguns desses organismos, tais como o Banco Mundial, a Unesco e o Preal, e de como ocorrem as influências na produção de um discurso de base para a política educacional nos países em desenvolvimento, mormente no Brasil.

Palavras-chave: Organismos internacionais. Políticas de avaliação educacional. Qualidade na educação básica

INTRODUÇÃO

Enquanto poderosas instituições multilaterais, os Organismos Internacionais(OI)1 são capazes de

consolidar modos de pensar, agir e sentir de maneira a assegurar a hegemonia burguesa em âmbito mundial, difundindo “diretrizes para a educação que consolidam tanto uma formação técnica para atender aos interesses do mercado de trabalho, quanto uma formação ético-política de acordo com a sociabilidade burguesa, o que contribui para uma (con) formação voltada para o capital” (SOUZA, 2014, p.80).

O papel dos OI nas ideologias disseminadas pelos Estados “[...] tem sido essencial na elaboração e difu- são da ideologia desenvolvimentista e educativa em nível mundial, normatizando, controlando e legitimando a produção do conhecimento considerado vital para a conservação do capitalismo” (SILVEIRA, 2012, p. 04). É nesse contexto que adquirem relevo as políticas de avaliação educacional e, dentre estas, as ferramentas de avaliação estandardizada. Especialmente estas são apontadas como altamente capazes de promover políticas nacionais que elevam a qualidade educacional.

Considerando a influência desses OI na produção de políticas que tomam o sistema nacional de avalia- ção como eixo fulcral das ações pela melhoria educacional nos países, é objetivo deste texto apontar resultados de um estudo sobre alguns desses organismos, tais como o Banco Mundial, a Unesco e o Preal. Esses organismos atuam como agências de produção de um discurso hegemônico em torno da relação entre resultados de avaliações estandardizadas e melhoria da qualidade. Para dar conta desse objetivo, desenvolve pesquisa bibliográfico com es- tudo documental sobre o processo histórico de desenvolvimento desse OI e de suas recentes funções como agentes de influência na política educacional de países em desenvolvimento, como é o caso de Brasil.

ATUAÇÃO DO BANCO MUNDIAL, DA UNESCO E DO PREAL

No contexto pós anos de 1945 (Segunda Guerra Mundial), problemas comuns aos Estados nação pas- saram a ser discutidos conjuntamente. Essas questões ensejaram recomendações que, “tomando a forma de prin- cípios, de diretrizes, de planos e até mesmo de avaliações, passaram a funcionar como referências capitais para o

1 Trata-se de “[...] organizações intergovernamentais, de Direito Público Internacional, com personalidade e capacidade jurídica próprias,

autonomia administrativa e financeira e mandato específico. O elo entre os compromissos aprovados no nível multilateral e os sistemas admi- nistrativo e jurídico de um país dá-se quando o governo nacional, por força de Tratados, Acordos e Convenções internacionais por ele assinados com os organismos internacionais e devidamente aprovados pelo Congresso, formalmente compromete-se a observar normas internacionais

governo da educação nos países participantes e signatários de declarações, acordos e convenções internacionais” (FREITAS, 2005, p. 80).

Os resultados se traduziram em inúmeras reuniões de cúpulas, conferências mundiais, oficinas, estu- dos e relatórios internacionais que “geraram referências político-ideológicas para a educação”, tanto no âmbito mundial como no regional, “sempre sob o patrocínio de organismos internacionais” (FREITAS, 2005, p. 80). Todos esses fatores impulsionaram o surgimento de políticas de avaliação com intuito de diagnosticar sistemas nacionais de educação.

Com o advento das avaliações em larga escala, nos anos de 1960, e o seu aprimoramento nas décadas se- guintes, consolida-se o trabalho do especialista em avaliação, do avaliador externo, de entidades especializadas em avaliação e de organismos internacionais os quais consideram a pesquisa, a avaliação, a estatística, a informação e o planejamento “recursos imprescindíveis para que os mais diversos países pudessem conhecer e governar a edu- cação básica no seu território” (FREITAS, 2005, p.83). Essas medidas foram anunciadas como impulso necessário ao planejamento das ações político-administrativas do campo educacional.

Desde então, Organismos Internacionais, tais como o Banco Mundial2, grupo ao qual também pertence

o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird) e a Unesco3, e organismos de abrangência

regional, tais como o Preal4, passaram a prescrever indicações quanto ao funcionamento dos sistemas educacionais

dos países em geral e a recomendar o uso de avaliações padronizadas como resposta às estratégias de regulação da qualidade educacional nos países membro.

O primeiro OI a ser criado foi o Banco Mundial (BM) que, embora em sua fundação tivesse por objetivo financiar a reconstrução de países atingidos pela segunda guerra mundial, atualmente atua financiando progra- mas que visem melhorar a qualidade educacional. Para o BM (1996, p.10), “La educación es más importante que nunca para lograr el desarrollo económico y la reducción de la pobreza, y se entiende ahora mejor su papel en este esfuerzo”. Com base nesse princípio fundamental, seu principal foco para financiamento são os países periféricos e em desenvolvimento.

Por meio do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), o B M apresenta uma proposta que visa melhorar o acesso, a equidade e a qualidade dos sistemas escolares. Embora reconheça que cada país tem sua especificidade, trata-se, de fato, de um único pacote de reformas proposto aos países periféricos e em desenvolvimento. Entre os elementos, esse pacote contempla: prioridade da educação básica, melhoria da qualida- de e eficácia (localizada nos resultados), enfatizando, portanto, a efetivação da avaliação.

O segundo OI destacado é a Unesco, que tem como um de seus principais objetivos promover a coopera- ção internacional entre seus associados nas áreas de educação, ciências, cultura e comunicação. Com esse objetivo, tem reafirmado os princípios norteadores do neoliberalismo como maneira de manter a coesão social.

Considerando que a melhoria da qualidade da educação tem sido a bandeira dos acordos entre países- -membro dos OI, a recomendação da Unesco é no sentido de que as avaliações estandardizadas sejam utilizadas como instrumento para a elaboração de um diagnóstico sobre a situação educacional dos países. Defende, nessa direção, um sistema de avaliação que tenha por finalidade prestar contas à sociedade dos resultados do processo educativo e que, além de permitir a emissão de juízos de outros, também requeira padrões de desempenho. Um dos motivos alegados é que a ausência de padrões dificulta que o ensino possa atender às demandas da sociedade.

2 Criado em 1945, com sede em Washington, conta com a participação de 187 países. 3 Com sede em Paris, foi criada em 1946. Dela participam 146 Nações.

4 Criado em 1996, o Programa de Promoção da Reforma Educativa na América Latina e Caribe – PREAL conta com a participação de países

Por fim, o Preal, criado no final de 1994, por ocasião da realização da primeira reunião de cúpula das Américas, em Miami, com a finalidade de promover a revitalização das Américas, tem por missão “contribuir al mejoramiento de la calidad y equidad de la educación mediante la promoción de debater informados sobre temas de política educacional y reforma educativa […]”,além de “identificar y divulgar las buenas prácticas y el monito- rear el progresso educativo em los países de la región” (PREAL, 2006, p.6). Como esse objetivo, atua na formulação e aperfeiçoamento de políticas de accountability, prestação de contas, transparência e responsabilização.

O Preal investe fortemente na delimitação de perspectivas dos sistemas de avaliação de aprendizagens e formulação de standards e na difusão de informações do progresso educativo nacional e regional, denominado

Report Cards. Trata-se de um instrumento cuja finalidade é observar tendências de desenvolvimento educacional

e responsabilizar os governos e sociedades pelos resultados. Volta-se, ainda, à verificação dos graus de autoridade dos diretores de escolas e das comunidades para exigir responsabilização pelos resultados e estabelecer penalidades ou prêmios, conforme o caso (PREAL, 2006, tradução nossa). Defende, por fim, “La realización de evaluaciones es- tandarizadas como forma de conocer mejor la dinâmica de procesos y resultados en los sistemas educativos exhibe una tendencia creciente a nivel regional y mundial, en países de muy diversas culturas y orientaciones ideológicas de gobierno” (PREAL, 2006. p.7)5.

Na visão dos dirigentes do Preal, avaliações externas podem contribuir para a produtividade da força de trabalho, competitividade da economia nacional, para aumentar as oportunidades de desenvolvimento integral das pessoas e para que estas possam participar da sociedade do conhecimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não se pode conceber um sistema educacional que não tenha a avaliação como ferramenta preciosa. Portanto “a sua utilidade, a sua pertinência e a sua importância são inquestionáveis” (MAUÉS, 2011, p.11). No entanto, o que se tem questionado são os sentidos que a avaliação passou a ter, atrelando financiamento aos re- sultados, com fortes indícios economicistas, desconsiderando outras variáveis como a formação dos profissionais, as condições de trabalho, a valorização do profissional, dentre outras. Essa lógica de um quase-mercado a que a

educação está submetida hodiernamente tende a uma inversão das prioridades educacionais, em que a centralida- de passa a ser a melhoria de índices e rankings que englobam os mais variados aspectos educacionais.

As influências de organismos internacionais como os aqui mencionados se dão em um contexto no qual os Estados vivem fortemente sob os efeitos do liberalismo, a demanda mercadológica, a ascensão intensa do capitalismo e a consequente necessidade de mão de obra favorecem a atuação de interferência internacionais com interesses globalizatórios visando, sobretudo, atender demandas do mercado.

REFERÊNCIAS

FREITAS, Dirce Nei Teixeira de. A Avaliação Educacional como objeto de Recomendações Internacio- nais. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Estudos em avaliação educacional. 2005.

MAUÉS, Olgaíses Cabral. As Políticas Educacionais e o Sistema de Avaliação. Universidade Federal do Pará.

2011

5 A realização de avaliações padronizadas como uma maneira de entender melhor a dinâmica dos processos e resultados nos sistemas de

SILVEIRA, Zuleide S. Organismos Supranacionais: a construção de uma concepção de mundo em torno da integração da educação superior – o caso do Brasil. Revista Trabalho Necessário. n.14, 2012.Disponível em:

<http://www.uff.br/trabalhonecessario/images/TN14.pdf>. Acesso em: 11 abr. 2014.

PREAL. Accountability educacional: posibilidades y desafios para América Latina a partir de la expe- riência internacional. Editorial San Marino. 2006.

BANCO MUNDIAL. Prioridades y estratégias para la educación. Examen del Banco Mundial. Banco Inter-

nacional de Reconstrucción y fomento. La educación. 1996.

SOUZA, Camila Azevedo. Organismos Internacionais no Brasil e em Portugal: uma (con) formação voltada para o capital. Germinal: Marxismo e Educação em Debate, Salvador, v. 6, n. 1, p. 79-87, jun. 2014.

POLÍTICAS DE AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA E INDICADORES DE GESTÃO DEMOCRÁTICA

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