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INICIATIVAS MUNICIPAIS DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS: UM ESTUDO EM 125 MUNICÍPIOS BRASILEIROS

Bruna Ribeiro (USP) brunaribeiro@usp.br

RESUMO

Este artigo tem como objetivo socializar parte dos resultados advindos da pesquisa realizada com apoio da UNESCO por solicitação da Coordenação Geral da Educação Infantil (COEDI) pertencente à Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (SEB/MEC) que buscou mapear as iniciativas de avaliação da aprendizagem das crianças ma- triculadas na educação infantil e primeiro ano do ensino fundamental de 125 municípios brasileiros, distribuídos em 22 estados, com vistas a melhor compreender no que consistem essas iniciativas e que projeto de educação infantil está sendo afirmado por meio dessas avaliações. Os dados provenientes do estudo visam contribuir com o fomento do debate na área e a delimitação do campo da avaliação na educação infantil no Brasil.

Palavras-chave: Avaliação da aprendizagem. Educação infantil. Qualidade.

INTRODUÇÃO

Os dados apresentados nesse estudo são frutos de um recorte da pesquisa (RIBEIRO, 2016) integrante do Projeto UNESCO BRZ/10411 que teve por objetivo produzir insumos sobre a avaliação da aprendizagem das

crianças matriculadas na primeira etapa da Educação Básica visando fomentar o debate na área. Com esse intuito, o Projeto buscou investigar as propostas avaliativas realizadas com as crianças matriculadas na educação infantil e 1º ano do ensino fundamental procurando compreender em que princípios e noção de qualidade se ancoram e, consequentemente, que projeto educativo está sendo afirmado por meio destas avaliações.

A avaliação da aprendizagem das crianças matriculadas na educação infantil encontra-se respaldada em princípios norteadores e orientadores expressos nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil/ DCNEI (BRASIL, 2010) e na LDBN (Lei 9394/96) que preconiza que a avaliação na educação infantil deve ser realizada mediante o acompanhamento e registro do desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de seleção, promoção ou classificação, mesmo para o acesso ao ensino fundamental, e a avaliação será sempre da criança em relação a si mesma e não comparativamente com outras crianças, sendo competência da escola sua realização (BRASIL, 1996).

Compreender as iniciativas de avaliação na educação infantil e os instrumentos utilizados pelos diferen- tes municípios brasileiros, parece ser relevante no momento atual em que uma política nacional de avaliação que contemple a etapa da educação infantil está sendo gestada e a área é convocada a se posicionar sobre a temática.

DESENVOLVIMENTO

A metodologia utilizada na pesquisa envolveu o estudo da legislação e orientações legais vigentes rela- cionadas à temática, levantamento de estudos nacionais e internacionais sobre avaliação da aprendizagem na edu- cação infantil, envio de questionário para Conselheiros e Dirigentes Municipais de Educação, análise documental de instrumentos de avaliação utilizados em instituições de educação infantil e um estudo de caso sobre as (des) articulações entre educação infantil e ensino fundamental.

No presente artigo nos limitaremos a comentar os resultados referentes à análise dos questionários e instrumentos avaliativos que tinham por objetivo melhor compreender as iniciativas em curso nos municípios referentes à avaliação da aprendizagem das crianças de 0 até 6 anos.

Para tal, foi elaborado um questionário para conselheiros/as e dirigentes municipais de educação conten- do 8 questões fechadas s e 3 abertas que foram distribuídos durante a realização do XXV Encontro Nacional dos Conselheiros Municipais de Educação. Do total de 300 questionários distribuídos obtivemos um retorno de 206, representativos de 125 municípios brasileiros, distribuídos em 22 estados.

Os dados obtidos através dos questionários foram aprofundados através da realização de uma amostra aleatória que teve por objetivo realizar uma análise documental de caráter qualitativo de 23 instrumentos utili- zados para acompanhamento do desenvolvimento das crianças em diferentes municípios provenientes da região sudeste e nordeste do país.

Os dados dos questionários constataram que grande parte dos mais de 200 gestores públicos participan- tes reconhece que possui pouco ou nenhum repertório e referência sobre avaliação em educação infantil, o que os leva a recorrer a modelos avaliativos emprestados de outras etapas educacionais, cujo foco são, sobretudo, em apenas duas grandes áreas de conhecimento (português e matemática). Os instrumentos analisados ratificam os dados dos questionários e evidenciam prevalecimento de práticas de avaliação da criança com ênfase na aquisição de competências, habilidades e conteúdos que têm como referência uma noção de qualidade que não condiz com o arcabouço legal da área da educação infantil, expresso na legislação vigente e DCNEI (BRASIL, 2010).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados analisados apontam que embora existam princípios norteadores da avaliação da aprendizagem na educação infantil eles ainda não se traduziram em orientações nem de Conselheiros, nem de Secretarias Mu- nicipais de Educação, nem na prática de grande parte das instituições de educação infantil no universo estudado. Sobre isto, no entanto, vale mencionar que a maioria dos gestores públicos escutados solicitou apoio através de maiores informações e subsídios que os auxiliem na orientação das instituições de educação infantil em relação ao acompanhamento do desenvolvimento das crianças matriculadas nessa etapa.

Em suma, os dados do estudo apontam que há ainda um longo caminho a ser percorrido na construção e consolidação de uma avaliação da aprendizagem na perspectiva da garantia dos direitos das crianças e que essa construção passa, inevitavelmente, pelo enfrentamento do debate pela área, nos dizeres de Rosemberg: “sem fo- bia, ojeriza ou preconceito, mas com cuidado” (2013, p.70) e de forma a propor caminhos mais condizentes com os fins e objetivos da educação infantil.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário

Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 10 dez. 2015.

_______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil. Brasília: MEC, SEB, 2010.

RIBEIRO, Bruna. Avaliação da aprendizagem das crianças: insumos para o debate. Relatório Técnico. Projeto

UNESCO BRZ/1041. Diretoria de Currículos e Educação Integral. Coordenação Geral de Educação Infantil, SEB/MEC. São Paulo, 2016.

ROSEMBERG, Fulvia. Politicas de Educação infantil e avaliação. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v.43 n.148,

O ENEM COMO POLÍTICA PÚBLICA EDUCACIONAL E SEUS IMPACTOS NA EDUCAÇÃO

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