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AVALIAÇÃO DE UNIVERSIDADES: INDICADORES CONDICIONANTES DO PROCESSO EM RANKINGS

Raimunda Maria da Cunha Ribeiro (Uespi) raicribeiro@ig.com.br

RESUMO

O objetivo desta pesquisa consiste em compreender o processo de avaliação da educação superior, a partir de indicadores de ranqueamentos nacional e internacionais, assim como as exigências impostas às universidades quanto às mudanças na política de ensino, pesquisa, extensão e gestão. A metodologia adotada na pesquisa foi a abordagem qualitativa, de caráter bibliográfico e descritivo, tendo como elementos de análise os indicadores adotados pelos rankings (Ruf, U-Multirank, Quacquarelli Symonds, Ranking Web, THE-TR, Center for World University Rankings) no processo de avaliação de universidades. Os resultados classificatórios dos rankings tendem a impor o redirecionamento da política universitária.

Palavras-chave: Avaliação. Ranqueamentos. Universidades.

INTRODUÇÃO

Os sistemas de avaliação de universidades têm se ampliado um pouco por todo o globo e, em certa me- dida, têm reforçado os sistemas de ranqueamentos tanto em nível nacional quanto em nível internacional. Este estudo se delineou a partir do seguinte questionamento: como podemos analisar a avaliação de instituições de ensino superior e os indicadores condicionantes do processo, no sentido de refletir sobre a missão universitária, os fins com que são produzidos o conhecimento na universidade e o imperativo das instituições em se tornarem universidades de classe mundial? Assim, o objetivo desta pesquisa se direciona para o seguinte: compreender o processo de avaliação da educação superior, a partir de indicadores de ranqueamentos nacional e internacionais, assim como as exigências impostas às universidades quanto às mudanças na política de ensino, pesquisa, extensão e gestão.

A metodologia adotada na pesquisa foi a abordagem qualitativa, de caráter bibliográfico e descritivo, tendo como elementos de análise os indicadores adotados pelos rankings (Ruf, U-Multirank, Quacquarelli Sy- monds, Ranking Web, THE-TR, Center for World University Rankings) no processo de avaliação de universidades.

A missão social, diante da cultura de ranqueamento, corre risco de ser suplantada por um modelo de educação baseada na economia do conhecimento, amplamente reforçada com o advento da sociedade pós-indus- trial. Nesta perspectiva, nos apoiamos nas ideias de Drucker (2007); Afonso (2015); Albtach, Reisberg e Rumbley (2010); Altbach (2015); Salmi (2009); Etzkowitz (2002); Moura e Moura (2013); Dias Sobrinho (2010): Calderón, Poltronieri e Borges (2011).

Emerge dessa discussão o conceito de universidade de classe mundial, ou seja, aquela compromissada e aberta ao processo de internacionalização e capaz de adaptar-se às exigências internacionais frente às transfor- mações da sociedade do conhecimento. Para compreender tais conceitos nos fundamentamos em Altbach (2004); Salmi (2009); Severino (2002); Santos (1997); Ribeiro (2011); Dias Sobrinho (2010); Pfister e Calderón (2014); Moura e Moura (2013); Magalhães (2004); Vilela (2009).

RANKINGS ACADÊMICOS E INDICADORES CONDICIONANTES DA AVALIAÇÃO

O Quadro 1 é um demonstrativo dos critérios utilizados por alguns rankings em avaliações de univer- sidades.

Quadro 1: Rankings acadêmicos e respectivos indicadores condicionantes no processo de avaliação de instituições de ensino superior

Rankings Critérios/indicadores

RUF1 Pesquisa Inovação Internacionaliza-

ção Ensino Mercado

U-Multirank2 Investigação Transferência de

conhecimento Ensino e aprendi-zagem Orientação inter-nacional Desenvolvimento re-gional

Quacquarelli Sy- monds (QS)3 Reputação aca- dêmica e entre empregadores Proporção pro-

fessor-aluno Publicações Número de douto-res Impacto na internet

Ranking Web/ We-

bometrics4 Presença Impacto Abertura Excelência ____

THE-TR5 Ensino Pesquisa Citações Desenvolvimento/

Inovação Internacionalização

Center for World University Rank- ings6 Qualidade do ensino e do cor- po acadêmico Empregabilida-

de Publicações Influência na mí-dia Citações de pesquisas e patentes

Fonte: Sites das organizações (rankings). Elaboração da autora. Notas:

1 O RUF (Ranking Universitário Folha) é uma avaliação anual do ensino superior do Brasil feita pela Folha desde 2012.

2 U-Multirank, financiado pela Comissão Europeia, é uma classificação mundial e pluridimensional das universidades.

3 A QS Quacquareli Symonds (Ranking universitário mundial) foi fundada em 1999 e se estabeleceu como principal fornecedor

global de informações sobre educação superior.

4 O objetivo principal é promover a publicação na Web; apoiar iniciativas de acesso eletrônico e publicações científicas; indica-

dores web são úteis para compreender o desempenho global e visibilidade das universidades.

5 THE-TR, fundado em 2004, fornece lista das melhores universidades do mundo, avaliada através de ensino, pesquisa, pers-

pectivas internacionais e reputação.

6 Center for World University Rankings (Centro de Classificações Universitárias Mundiais (CWUR) publica ranking univer-

sitário global que mede a qualidade da educação e da formação dos estudantes, bem como prestígio dos membros do corpo docente e a qualidade da sua investigação.

Os dados dos Quadro 1 nos permitem visualizar, sob a luz dos critérios utilizados pelos rankings, o peso de alguns destes, que via de regra, decorre na classificação das universidades na categoria da alta reputação, assim como a classificação na categoria de universidade de classe mundial. Percebemos que o peso da categoria relacio- nada à pesquisa é quase unânime entre os rankings. A discussão sobre a pesquisa e a produção do conhecimento foi fundamentada a partir de Severino (2002); Magalhães (2004); Altbach (2015).

O ensino de excelência aparece como um dos indicadores mais identificados nos rankings. O sentido da excelência está na possibilidade de uma formação geral, para além de uma especificidade, assim como o desenvolvi- mento de competências e habilidades. Buscamos o entendimento dessa dimensão a partir dos pressupostos desen- volvidos por Lessard (2006); Scwartzman e Castro (2013); Magalhães (2011); Duarte, Lima Júnior e Batista (2007). O impacto da universidade na sociedade, a internacionalização de suas atividades básicas, a orientação para o mercado, a inovação, qualificação do corpo docente e número de publicações formam um conjunto de indicadores recorrentes nas avaliações aplicadas pelas agências de ranqueamento presentes neste estudo. Tais indicadores estão, de certa forma, relacionados ao conhecimento técnico-científico, que possibilita à universidade aderir a processos de afirmação comparativa e competitiva. As ideias de Afonso (2015); Hans de Wit (2013); Du- arte, Lima Júnior e Batista (2007) foram fundamentais para o entendimento desta questão.

Vale aqui ressaltar outros apontamentos sobre ranqueamentos de universidades, levando em conside- ração algumas questões: os rankings são um exemplo de influência de mudança de paradigma das universidades; têm transformado o sistema de produção de parâmetros avaliativos das universidades e os critérios de classifica- ção de reputação universitária; os indicadores utilizados pelos rankings vem sendo considerados indicadores de prestígio científico, de crédito simbólico e de capital cultural; é necessário pensar alternativas quando a produção e

inovação científica e técnica se enredam fortemente na lógica do capitalismo. Buscamos fundamentos em Moura e Moura (2013); Afonso (2009); Bourdieu (1983, 2004); Colado (2003).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para compreender o processo de avaliação da educação superior nos propomos a analisar o cenário de mudanças da sociedade globalizada, que por sua vez, reflete na universidade e, de certa forma, esta acaba por sub- meter-se às adequações necessárias, no sentido de atender as demandas de seu tempo.

O imperativo da cultura de ranqueamento, por sua vez, tem imprimido sua marca nas universidades e, as mudanças de paradigma institucional a que nos referimos diz respeito às altas exigências quanto ao desempe- nho acadêmico, e os dados nos mostram que a pesquisa e o ensino são os indicadores que mais tem causado im- pacto no processo de avaliação. Em decorrência dessa cultura, as universidades são submetidas a uma desenfreada competitividade, busca por resultados e produtividade; os resultados classificatórios impõem o redirecionamento da política universitária; há uma corrida visível das instituições avaliadas para serem reconhecidas como sendo de alta reputação, logo, universidades de classe mundial.

Outra questão que nos chama a atenção é que as universidades, quando avaliadas numa perspectiva de ranqueamento em contexto mundial, passam a valorizar pragmaticamente sua produção intelectual, uma vez que os rankings analisados a partir dos indicadores nos mostram a pesquisa como sendo o principal condicionante da avaliação das instituições.

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