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JOGO DE INTERESSES NA ELABORAÇÃO, EFETIVAÇÃO E AVALIAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO SUPERIOR ENTRE 2003 E

Dionata Luis Plens da Luz (UFFS) jhoni.sc@hotmail.com

RESUMO

O presente trabalho busca evidenciar o jogo de interesses políticos por trás da efetivação e avaliação das políticas públi- cas entre 2003 e 2014 na Educação Superior (ES). A metodologia utilizada parte da leitura de uma bibliografia atualizada sobre o tema, trazendo para o debate autores atuais com questões pertinentes do contexto de criação, pressões internas e externas, parcerias público e privado, bem como um breve estudo sobre a expansão universitária em termos quanti- tativos por meio do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), e também em termos qualitativos através da criação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES). Pode-se perceber com o trabalho que jogo de interesses ultrapassa a dicotomia entre o setor público e privado, pois a burguesia de serviços e a burguesia industrial pensam diferente quando se trata de ES, enquanto a primeira pede menos intervenção do Estado, mesmo se beneficiando do Programa Universidade para Todos (PROUNI) e de isenções fiscais, o segundo, mesmo sendo igualmente privado, prefere as universidades públicas do que as privadas, ou seja, ambas neces- sitam da atuação do Estado para seu pleno funcionamento. A luta no ensino superior é uma luta pelo Estado.

Palavras-chave: Educação superior. Burguesia de serviços. Burguesia industrial. Políticas públicas. Estado.

INTRODUÇÃO

Sabendo que a ES é um campo de constantes disputas políticas, as universidades se tornam indispen- sáveis para se refletir sobre temas da atualidade. Antes de mais nada, é necessário estabelecer um elo entre as políticas efetivadas no período de 2003 a 2014 e o contexto à qual foi elaborado tais políticas. Ainda em julho de 1999, o então presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Fernando Bezerra, tornou público o plano estratégico 1999-2010, que traçava um novo horizonte político para a entidade a partir de possíveis cenários para o país até 2020. Em razão desta e de outras políticas neoliberais criadas e reproduzidas durante o governo de Fer- nando Henrique Cardoso (FHC), a burguesia industrial acreditava que a reduzida integração entre universidade e empresas seria um entrave para a competitividade e, por isso, precisaria de um Estado que proporcionasse meios para sustentação de tal projeto. O jogo de interesses se acirrou com a eleição do Lula da Silva em 2002, pois trou- xe à tona os limites entre os objetivos da burguesia industrial, representado pela da CNI, o interesse objetivo da burguesia de serviços, representados pelos empresários da ES privada e os anseios do governo em oportunizar e expandir a ES aliando tudo isso.

O presente texto está dividido em três partes, sendo a primeira a introdução, seguindo do desenvolvi- mento do tema, trazendo o contexto da criação das políticas públicas, fazendo um estudo acerca dos interesses dos setores industriais evidenciados pelo setor público e privado e dos programas de avaliação e expansão da ES entre 2003 e 2014, e por fim as considerações finais.

O JOGO DE INTERESSES NA EDUCAÇÃO SUPERIOR ENTRE 2003 E 2014

Com a eleição do Lula da Silva, em 2002, o Estado brasileiro ainda influenciado pelas correntes neo- liberais, passa para um novo estágio, que é sair de um governo notadamente alinhado aos interesses do capital internacional para um governo populista. Tal realidade atribuiu a ES um campo de novas disputas entorno do modelo de educação a se construir.

Na avaliação da equipe econômica do governo Lula, seria melhor destinar recursos públicos às institui- ções de ensino privado em detrimento das públicas. Tal recomendação, beneficiava as universidades particulares

ou comunitárias, que mesmo não sendo consideradas “as melhores”, receberiam mais recursos do governo federal, além de ficarem isentas do pagamento de certos impostos.

Segundo Roberto Leher (2010), a maior iniciativa do governo Lula no campo da ES foi o REUNI, que tinha como objetivo o fortalecimento das instituições federais de ensino superior.

[...] A ideia principal é desmembrar a graduação em dois ciclos, um genérico, bastante superficial, voltado para um maior contingente de jovens, outro de natureza profissional, direcionado para parcelas muito mais reduzidas, abrindo espaço para instituições privadas ocuparem o novo filão de jovens que concluíram o primeiro ciclo, mas não encontraram vagas no segundo. O modelo pressupõe a mobilidade estudantil de forma a otimizar a ocupação do mercado educacional, fa- vorecendo a competitividade entre as instituições. (LEHER, 2010, p. 394).

Seguindo essa lógica, o governo do Partido dos Trabalhadores (PT), de fato, deu um salto enorme para atender este objetivo, pois nunca na história do país o ingresso dos jovens nas universidades públicas cresceu tanto como no período decorrido. Segundo o senso do MEC de 2015, entre 2003 a 2014, os avanços da educação toma- ram proporcionalidades na medida que as políticas públicas iam se efetivando, durante esse período fora criado:

Tabela 1: Políticas públicas efetivadas entre 2003 e 2014

Ano de criação Ações e políticas públicas efetivados pelo governo

2003 a 2014 18 novas universidades federais

2003 a 2014 173 campi de universidades federais em cidades do interior do país

2003 Programa de Extensão Universitária (Proext)

2004 Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES)

2004-2005 Programa Universidade para Todos (PROUNI)

2006 Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB)

2003-2006 Programa de Educação Tutorial (PET)

2007 Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI)

2008 Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID)

2008 Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes)

2013 Programa de Bolsa Permanência para estudantes das universidades federais

2012-2013 Lei das Cotas nas universidades federais

2014 Programa Mais Cultura nas Universidades

Fonte: Elaborado pelo autor a partir do senso do MEC, 2015.

Os dados da tabela 1 mostram os efeitos ao longo dos anos da Reforma Universitária implantada pelo governo Lula, divulgada ao público pelo então ministro Tarso Genro, segundo Patrícia Trópia (2011, p. 2), teria que perseguir quatro objetivos: “1) Ampliação do quadro docente e de vagas para estudantes; 2) Educação à distância; 3) Autonomia universitária; 4) Mudança na política de financiamento”. O Ministro da Educação mudou as for- mas de mediar a educação brasileira com as seguintes medidas:

[...] a redução do papel do Estado a agente avaliador e regulador do ensino superior, o aumento da participação da sociedade – leia-se mercado – na definição dos projetos e investimentos pú- blicos (parceria público-privada), a adoção de medidas afirmativas e de uma política de cotas para compensar o elitismo do ensino superior, o financiamento público para IES particulares e a flexibilização do sistema de ensino superior. (TRÓPIA, 2009, p. 2).

Para o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN), os reais obje- tivos da Reforma Universitária seriam “[...] privatizar o sistema federal de ensino superior; restringir a autonomia das universidades públicas apenas à liberdade de captar recursos financeiros; garantir a total autonomia das IES privadas [...] e abrir o ES para o capital internacional” (TRÓPIA, 2009, p. 3).

É preciso observar que toda essa reforma universitária alimentou contradições no seio da burguesia, mais especificamente entre a burguesia de serviços e a burguesia industrial. A burguesia de serviços, representada pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), concebe a educação como mercadoria e valor de troca. Defende também menos intervenção do Estado no ramo educacional, entretanto, “oculta que a livre iniciativa econômica nunca perde, nem poderá jamais sobreviver sem o intervencionismo estatal que, no limite, defende a propriedade privada” (TRÓPIA, 2009, p. 7). Um exemplo disso é a adesão ao programa como o PROUNI, que oferece vagas custeadas pelo Estado nas universidades privadas.

A burguesia industrial, representada pela CNI, ao contrário da burguesia de serviços, reivindicava maior participação do Estado na educação,

[...] se para a nova burguesia de serviços a mercantilização da educação é um fim em si mesmo, para a burguesia industrial a educação superior é um meio – ou seja, uma forma estratégica de buscar a valorização do capital através da produção de “alguma ciência”, de novas técnicas e tecnologias. (TRÓPIA, 2009, p.08).

Para a burguesia industrial, as “Universidades públicas devem ser preservadas, mesmo que ainda gratui- ta para os estudantes, porém devem adaptar-se às necessidades do setor produtivo” (RODRIGUES, 2009, p. 49). Assim, a CNI não defende as privatizações das universidades públicas, mas pretende vincular as Instituições de Estabelecimentos Superiores (IES) à lógica e aos propósitos do capital. Atenta Rodrigues (2009, p. 49), com essa posição, a CNI entra parcialmente em conflito com os interesses da nova burguesia de serviços educacionais.

[...] as IES privadas não são capazes de responder às demandas da indústria, posto que apresen- tam graves deficiências qualitativas. Assim, é bastante curioso perceber que a fração industrial da burguesia não confia no ensino-mercadoria, tampouco no conhecimento-mercadoria, produ- zidos pela nova burguesia de serviços (RODRIGUES, 2009, p. 57).

Seguindo o ditado popular de que quanto mais se expande menos se qualifica, com tal flexibilização, fica mais aberta a relação dos empresários industriais com o sistema educacional, fazendo com que a indústria, em parceria com Estado, invista na área de tecnologias da informação para expandir o ensino superior à distância. Dessa aproximação empresarial com os cursos técnicos voltados para a competitividade, surgem várias “ofertas de estágios com geração de conhecimento voltado à inovação tecnológica e à gestão empresarial” (RODRIGUES, 2009, p. 55). Muitas universidades públicas e privadas, seguindo os interesses do mercado, acabam por realizar os estágios para uma maior aproximação entre academia e empresas já na graduação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A burguesia industrial não confia totalmente nas instituições privadas para atender a demanda nacional (e internacional), pois os programas como o SINAES mostram na realidade de que as melhores pesquisas e melho- res resultados acerca da produção tecnológica não são das universidades privadas, mas sim das públicas, por isso a preferência da CNI pelas universidades públicas. A CNI tem o objetivo de criar um télos1, identificando seus

interesses particulares aos dos demais setores da sociedade.

Em linhas gerais, os objetivos do REUNI foram alcançados e contribuíram significantemente para a am- pliação do número de estudantes na ES. Entretanto, a relação entre o número de professores e de estudantes nas instituições públicas está caminhando para a relação que existe nas instituições privadas, colocando em cheque o futuro das universidades públicas.

O Estado, sendo o guardião primeiro dos interesses do capital vigente, tem uma função central na efeti- vação das políticas públicas, é ele quem sanciona e garante ou não seu funcionamento na sociedade, por isso que os interesses da sociedade civil, organizados ou não por movimentos sociais (estudantes, professores, empresários, etc.,) na ES dificilmente vão acabar.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério da Educação. A democratização e expansão da educação superior no país 2003 – 2014. Brasília, 2015. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=down-

load&alias=16762-balanco-social-sesu-2003-2014&Itemid=30192 Acesso em 14, mar. 2017.

LEHER, Roberto. A educação no Governo Lula da Silva: A ruptura que não aconteceu. In: Os anos de Lula:

contribuições para um balanço crítico 2003-2010. Rio de Janeiro. Garamindl, 2010.

RODRIGUES, José. Os empresários e a educação superior. Campinas-SP: Autores Associados, 2009.

TRÓPIA, V. Patrícia. O ensino superior em disputa: alianças de classe e apoio à política para o ensino supe-

NÍVEL DE CONHECIMENTO DE ACADÊMICOS INGRESSANTES EM UMA INSTITUIÇÃO DE

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