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AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA: DESDOBRAMENTOS NO DIA A DIA DA GESTÃO DE ESCOLAS MUNICIPAIS DE CANOAS/ RS (2009-2012)

Márcia Cristina Furtado Ecoten (Unisinos) marcia.ecoten@hotmail.com

RESUMO

Tentamos evidenciar as influências das avaliações em larga escala da educação básica, promovidas a nível nacional, nas ações de gestão que chegam às escolas, bem como em seu dia a dia, no município de Canoas/RS. Nossa pesquisa é quali- tativa e histórico-crítica, desenvolvida através de entrevistas semiestruturadas com gestoras(es) escolares, diretoras(es) e supervisoras(es), de três escolas municipais. É evidente a crítica dos sujeitos participantes às avaliações em larga escala, mas destacam também que são os resultados dessas avaliações que fazem com que os municípios desenvolvam ações vinculadas a elas. Pudemos perceber que há processos de gestão democrática nas ações desenvolvidas pelos gestores educacionais deste município.

Palavras-chave: Políticas educacionais. Avaliação em larga escala. Ações de gestão. Canoas/RS.

INTRODUÇÃO

As avaliações realizadas no Brasil, a partir da década de 1980, têm “o objetivo de verificar se os alunos es- tão adquirindo os conhecimentos e as competências necessárias para a conclusão de um nível ou ciclo do sistema educativo” (HORTA NETO, 2010, p. 86). Ainda segundo o autor, tais avaliações têm uma orientação em comum, a intensão de desenvolver mecanismos de controle sobre os processos educacionais.

A promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394), em 1996 trouxe em seu conteúdo a reafirmação do papel de destaque da avaliação externa no cenário educacional brasileiro. O artigo 87 da lei diz que:

É instituída a Década da Educação, a iniciar-se um ano a partir da publicação desta Lei. [...] § 3º Cada Município e, supletivamente, o Estado e a União, deverá: [...] IV – integrar todos os estabelecimentos de ensino fundamental do seu território ao sistema nacional de avaliação do rendimento escolar (BRASIL, 1996 apud WER- LE, 2011, p. 775).

Com isso, as avaliações de desempenho educacional no Brasil ganharam força. O SAEB, no ano de 1995 passa a pesquisar o desempenho escolar de alunos da 4ª e 8ª séries do Ensino Fundamental e da 3ª série do Ensino Médio. A avaliação dos alunos se dava nas áreas de Língua Portuguesa, Matemática e Ciências. A partir do ano de 1999, as avaliações passam a incluir História e Geografia, o que não se manteve ao longo dos anos.

Flávia Werle (2010) divide as modalidades de avaliação em larga escala no Brasil em três planos de seg- mentação: federal, estadual e municipal. Entre as avaliações do plano de segmentação federal estão o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), o Exame Nacional de Certificação de Competências de Jovens e Adultos (ENCEJA), a Prova Brasil, o Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM) e a Provinha Brasil.

As avaliações da educação básica, SAEB e Prova Brasil, apresentam características distintas. A primeira tem como finalidade avaliar redes de ensino, enquanto a segunda, foca a avaliação em cada unidade escolar do Ensino Fundamental. Há também a Provinha Brasil que “é um procedimento novo de avaliação e seu objetivo é verificar a qualidade do processo de alfabetização dos alunos” (WERLE, 2010, p. 28). Avalia a habilidade de leitura de crianças de até 8 anos de idade, em dois momentos, no início e no final do ano letivo, com provas aplicadas pelos próprios professores dos alunos.

As avaliações a nível estadual analisam escolas ou sistemas, no mesmo formato das avaliações federais. Podemos citar alguns exemplos de sistemas estaduais de avaliação, como: Programa de Avaliação do Desempenho da Rede Pública Escolar do Estado de Pernambuco (1991); Programa de Avaliação das Escolas da Rede Estadual de Ensino de Minas Gerais (1992), que deu origem ao Sistema Mineiro de Avaliação da Educação Pública (Simave,

de 1999); Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do estado de São Paulo (Saresp, de 1996, ainda em fun- cionamento); Programa de Avaliação do Rendimento Escolar de Alunos da 4ª e 8ª série (1992, no Ceará), que em 2000 se institucionalizou como Sistema Permanente de Avaliação Educacional do Ceará (Spaece); Programa do Rendimento Escolar do Paraná (1995) (HORTA NETO, 2010, p. 100-101).

A nível municipal, os sistemas de ensino não são obrigados a participarem das avaliações a nível estadu- al. Muitos destes sistemas municipais desenvolvem seu próprio sistema de avaliação. Cidades como Rio de Janei- ro/RJ, São Paulo/SP, Campo Grande/MS, Marília/SP, Teresina/PI. Normalmente, as questões destas avaliações são extraídas do banco de questões do Inep.

O MUNICÍPIO DE CANOAS/RS

Canoas é um município da Região Metropolitana de Porto Alegre. Segundo projeção do Instituto Brasi- leiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população canoense é de 342.624 habitantes (2016). O município conta com 32 escolas de educação infantil e 39 escolas de ensino fundamental. A rede estadual conta com 34 escolas de ensino fundamental e 17 de ensino médio, e a rede particular conta com 30 escolas. O município se destaca ainda em relação à educação superior, pois conta com três universidades, a Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), o Centro Universitário La Salle (Unilasalle) e Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter).

AÇÕES MUNICIPAIS RELACIONADAS À EDUCAÇÃO (2009-2012)

A Prefeitura Municipal de Canoas instituiu, a partir do ano de 2009, 30 Programas de Governo para atender, em diferentes departamentos da gestão pública, os chamados Programas Estratégicos. Destacamos aqui, o Programa de Qualidade e Valorização da Educação Municipal (PQVEM), que trabalha com dois projetos, de for- mação dos profissionais da educação e de avaliação externa, com a criação do Sistema de Avaliação da Educação Municipal (SAEM), o chamado Canoas Avalia. Segundo Sônia Maria Oliveira da Rosa, gerente do PQVEM:

[...] o dispositivo avaliativo SAEM possui características próprias como: o instrumento constru- ído por uma comissão de elaboração constituída pelos professores da rede municipal; os marcos de aprendizagem são retirados das recorrências encontradas nos Planos de Estudos de todas as escolas e são contemplados os quatro blocos de conhecimento na avaliação externa: linguagem, matemática, ciências humanas e naturais. O instrumento é aplicado nos 3º anos, 6º anos e 8ª séries. Assim, repensar o Ensino Fundamental como três blocos de atuação pedagógica tem sido uma das problematizações trazidas pelo PQVEM para a arena educacional (2012, p. 07-08).

Ainda segundo a gerente do programa, na gestão municipal, o Canoas Avalia se constitui em um instru- mento gerencial de destaque para o município fazer o acompanhamento e monitoramento da educação, a fim de intervir neste campo, visando as metas previstas.

O REFLEXO DA AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA NA GESTÃO DE ESCOLAS DO MUNICÍPIO DE CANOAS/RS: A VISÃO DOS SUJEITOS

Nossa intenção, para este trabalho, foi de perceber como as avaliações em larga escala desenvolvidas nacionalmente abalam e se refletem no cotidiano escolar e que ações são desenvolvidas a partir da divulgação dos resultados. Destacaremos as questões relacionadas diretamente à avaliação em larga escala, apresentadas nas entrevistas realizadas com supervisoras(es) e diretoras(es) das três escolas pesquisadas.

Para nos aprofundarmos na questão da avaliação em larga escola, pedimos a opinião de cada um dos entrevistados sobre o IDEB. Houve aqui um consenso nas respostas, pois a maioria apontou que este tipo de avaliação prioriza apenas o resultado final, e não o processo avaliativo como um todo. Outra crítica foi sobre a prova ser a nível nacional, ou seja, a mesma prova aplicada em alunos de diferentes regiões do país, com diferentes contextos sociais. Foi recorrente também a crítica à supervalorização do índice, deixando-se de lado uma análise de todo o processo educativo envolvido.

Questionamos sobre os reflexos destas avaliações na escola e na praticada direção e da supervisão. As(os) supervisoras(es) apontaram que tais avaliações refletem no dia a dia da prática da escola, pois a partir das notas há maior ou menor cobrança da mantenedora, além de redimensionar as atividades elaboradas na escola, como por exemplo, na formação dos professores. Uma das supervisoras aponta que, os índices são debatidos na escola, mas sem que isso se torne algo supervalorizado.

Na conversa com os entrevistados perguntamos a eles sobre as cobranças e as ações desenvolvidas pela Secretaria de Educação em relação aos índices do IDEB. Uma das questões apontadas foi a de que a Secretaria promove formação com os professores, inicialmente com um grupo de escolas que estavam com o índice abaixo das metas, posteriormente, esta ação foi estendida a toda a rede municipal. Outra ação desenvolvida pela Secre- taria de Educação são as chamadas Ações em Rede, onde se desenvolve um trabalho específico com os alunos que apresentam dificuldades em Matemática, Português, Ciências.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para responder as questões propostas para este trabalho, realizamos entrevistas com diretores e supervi- sores de três escolas da rede municipal de ensino do município de Canoas/RS. Para sistematizar melhor os dados coletados, trabalhamos com três categorias: opinião sobre o IDEB; reflexões das avaliações na escola e na prática escolar; cobranças da Secretaria de Educação.

Ficou evidente à crítica dos sujeitos participantes às avaliações em larga escala promovidas nacional- mente, mas ficou evidente também que são os resultados destas avaliações que fazem com que os municípios desenvolvam ações vinculadas a elas, sejam avaliações municipais, aulas de reforço ou formação de professores. Também destacaram a não consideração das realidades escolares, pois os conteúdos das provas são cobrados a nível nacional, sem respeitar as realidades regionais e nem as necessidades especiais de alguns alunos.

Conseguimos perceber que, mesmo os municípios estando envolvidos nos processos avaliativos de viés gerencial, promovidos pelo Estado, há processos de gestão democrática envolvidos nas ações desenvolvidas pelos gestores educacionais municipais. No município pesquisado, Canoas/RS podemos perceber claramente ações de- mocráticas voltadas para a educação.

Como exemplo disso, podemos citar a avaliação municipal desenvolvida, um aspecto destacado pela maioria dos colaboradores de nossa pesquisa. O Canoas Avalia é elaborado por uma comissão, formada não por gestores da Secretaria Municipal de Educação, mas sim por professores de diferentes áreas, a partir dos Planos de Estudos, também elaborados pelos professores da rede municipal.

Os colaboradores entrevistados nesta pesquisa se mostraram contrários às avaliações em larga escala a nível nacional, especialmente por enfocarem apenas o resultado. Já a avaliação municipal, o Canoas Avalia, foi destacado pelos diretores e supervisores como uma ferramenta importante, pois há o retorno destas avaliações para as escolas. Certamente, os sujeitos legitimam a avaliação municipal por se sentirem parte do processo, desde a ela- boração das provas até ações desenvolvidas para superação das dificuldades apontadas pelos resultados das provas.

Nos chamou atenção como o município consegue, a partir do processo nacional gerencialista de avalia- ção, desenvolver um sistema de avaliação a nível municipal, que é defendida pelos mesmos sujeitos que criticam a avaliação nacional. Certamente, isso se dá em função da forma como esta avaliação local é constituída, a partir da participação dos professores na elaboração das questões das provas, além dos profissionais receberem um retorno destas avaliações. Isso os faz sentirem-se participantes do processo, o que acaba por legitimar a avaliação muni- cipal. Isso nos mostra que uma nova forma de avaliação é possível, vinculada ao processo de gestão democrática das escolas.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação e do Desposto. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 20 de

dezembro de 1996. São Paulo: Ed. Do Brasil, 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ L9394.htm. Acesso em: 03 de junho de 2016.

HORTA NETO, João Luiz. Avaliação Externa de Escolas e Sistemas: questões presentes no debate sobre o tema.

Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Brasília/DF, v. 91, n. 227, p. 84-104, jan./abr. 2010.

ROSA, S. M. O. da. Avaliação Externa Municipal Como Dispositivo da Educação Escolarizada: processos inter- discursivos. Anais do V Simpósio Internacional e VII Fórum Nacional de Educação. Torres/RS, 2012, p.

01-14.

WERLE, F. O. C. Avaliação em Larga Escala: foco na escola. São Leopoldo: Oikos; Brasília: Liber Livro, 2010.

______. Políticas de Avaliação em Larga Escala na Educação Básica: do controle de resultados à intervenção nos processos de operacionalização do ensino. Revista Ensaio, v. 19, n. 73, out./dez. 2011, p. 769-792.

AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA NA EDUCAÇÃO BÁSICA: CONDICIONANTES HISTÓRICOS

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