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O PROCESSO DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA E A IMPLEMENTAÇÃO DA GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA: DIÁLOGOS E REFLEXÕES

Aline da Silva Serpa (UFFS) alinesilvaserpa@hotmail.com Franciele Ximeni Picolli Ferrari (UFFS) franciximene14@gmail.com Oto João Petry (UFFS) oto.petry@uffs.edu.br

RESUMO

O presente texto tem como objetivo apresentar algumas das políticas públicas que estão envolvidas no processo de avaliação da educação básica, dialogando numa perspectiva de implementação da gestão escolar democrática. No de- correr do texto, será realizada uma breve análise de documentos norteadores e referenciais bibliográficos, que abordam aspectos como o surgimento da avaliação na educação básica e das políticas públicas voltadas à gestão democrática. Apresentando como objeto de estudo o diálogo que pode ser estabelecido entre esses dois eixos das políticas públicas, contemplando alguns aspectos como uma possível melhora no processo de ensino/aprendizagem. Por fim, o fechamento do tema apontará para caminhos a serem percorridos, que possibilitem cumprir com seu princípios e objetivos.

Palavras-chave: Políticas públicas. Avaliação. Educação básica. Gestão escolar democrática.

INTRODUÇÃO

As políticas educacionais brasileiras introduzidas através de legislações e constituições nacionais ca- racterizam eixos norteadores da educação no Brasil. Dentro do cenário das políticas públicas, encontram-se no âmbito educacional programas e processos estabelecidos e em construção, que dão forma ao contexto escolar. É, através desta perspectiva que se busca estabelecer um diálogo entre o processo avaliativo da educação básica e os princípios da gestão escolar democrática. Refletindo como ambos podem contribuir para se alcançar a autonomia da escola e melhores resultados no processo de ensino/aprendizagem.

Para a realização desta discussão, elencou-se como objeto de estudo o surgimento das políticas públicas educacionais voltadas à avaliação da educação básica, contextualizadas sob uma perspectiva de implementação da gestão escolar democrática, permitindo uma reflexão acerca das possíveis contribuições que ambas podem trazer à educação.

A avaliação da educação básica é parte de um processo de avaliação em larga escala que vem sendo constituído em vários países desde os anos 80 do século XX, utilizando-se de testes com ênfase nos resultados educacionais. Com a educação brasileira não é diferente, nos últimos anos têm-se aumentado significativamente as discussões sobre a aplicação desses testes apenas para medir o desempenho dos alunos, e assim buscar controlar a qualidade do ensino. Antes de estabelecer um diálogo entre esses dois eixos das políticas públicas, faz-se impor- tante destacar que a gestão escolar democrática também teve seu ápice nas discussões e estudos recentemente, mais precisamente nos últimos anos, assim como nos mostra seus registros nas bases legais.

A gestão escolar democrática surge como um dos princípios da educação a partir da Constituição Fede- ral de 1988. Considerando-a como uma política recente em termos de legislação, capaz de envolver não somente o processo de escolha dos gestores escolares, mas a estrutura e organização da escola, com base na autonomia e participação. Desenhando-se sob uma perspectiva de direitos igualitários que abrirão caminho para novas legis- lações, a Constituição Federal suscitou que se ampliassem as discussões voltadas à gestão escolar democrática, amparando posteriormente as abordagens apresentadas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB 9394/96.

Segundo Libâneo (2012) ao tratar de organização e gestão escolar, destaca-se um conjunto de condições e meios utilizados para assegurar o bom funcionamento da escola, para que se possa alcançar os objetivos educa- cionais esperados. Essa organização e gestão escolar estão direcionadas ao conjunto de normas, diretrizes, estru-

e acompanhamento dos trabalhos nos diferentes ambientes escolares, interligando as estruturas existentes nessa instituição com coerência dentro das metas e estratégias propostas. É a partir desta perspectiva que se inicia o di- álogo entre os dois objetos, a avaliação da educação básica, e a gestão escolar democrática, observando que ambas buscam a melhoria do processo de ensino/aprendizagem.

DA IMPLEMENTAÇÃO À CONCEITUALIZAÇÃO: ESTABELECENDO O DIÁLOGO

A avaliação educacional surgiu com diferentes funções e definições, servindo para o controle e regulação do Estado, instigando a meritocracia e a lógica de mercado, visando uma maior competição e desempenho. Por outro lado, pode ainda, ter uma concepção diagnóstica, democrática e emancipatória, direcionada diretamente ao desen- volvimento escolar, contribuindo com o trabalho pedagógico e com o processo de ensino/aprendizagem do sujeito. Essas práticas de avaliação da educação foram iniciadas com o governo Fernando Henrique Cardoso, e, a partir daí, tornaram-se fontes de discussão frequentemente no cenário educacional. Nesse período ainda possuíam predomi- nantemente sua concepção objetivista, que buscava não avaliar, mas, medir o aprendizado nas escolas e instituições. Pode-se dizer que seu surgimento já foi distanciado de seu conceito mais coerente de avaliação, que seria fazer parte de um processo educativo com o objetivo de identificar pontos nos quais seriam necessárias algumas mudanças e intervenções, para que o percurso educativo cumprisse com seus propósitos. Porém, “Na tradição e no cotidiano das escolas, a medição tem sido mais valorizada do que a avaliação – tanto que muito alunos estudam para tirar nota e não para aprender”. (LIBÂNEO, et.al, 2012, p.264). Oposta a esta perspectiva de medir, avaliar reflete uma concepção de educação, do papel do professor e do que é conhecimento.

No Brasil, as pesquisas sobre avaliação tiveram início em 1930, e a partir daí dividiram-se em dois mo- mentos. O primeiro vai de 1930 a 1970, e nele persiste o modelo de avaliação através de testes padronizados, para medir habilidades e aptidões dos alunos, buscando verificar a eficiência e produtividade do sistema de ensino. O segundo momento ocorre a partir da década de 1980, no qual a avaliação ganha uma visão mais crítica, levando em consideração aspectos mais qualitativos, questões de currículo e um novo modo de pensar as noções do que e para que se avalia. É, a partir deste momento, que se introduzem questões mais sociais, políticas e culturais que estão presentes nas práticas do dia a dia, como elementos norteadores dos processos avaliativos.

Esse processo de transição e reformulação também ocorre com o princípio e implementação da gestão democrática. Por se tratar de um processo recente para a educação brasileira, a gestão escolar democrática ainda é par- cialmente desconhecida em algumas práticas sociais, e em outras tem seu princípio notadamente reduzido. Como apresenta Cury (2002), essa gestão democrática tem sido mais direcionada à eleição de gestores das escolas públicas, fazendo parte de Constituições Estaduais e Municipais. Porém, não somente nessa visão, a reflexão que busca se fazer está direcionada à análise do campo da prática educacional, envolvendo toda sua estrutura e organização.

Essa redução de conceitos também ocorre com a avaliação da educação básica, que na maioria das vezes é vista apenas como um método de controle e regulação do Estado, fomentando uma lógica de mercado, instigan- do a competitividade, o individualismo, a meritocracia, entre outros. Esquecendo-se que seu principal viés deveria ser uma concepção diagnóstica, democrática e emancipatória, que busca o desenvolvimento escolar e auxilia no trabalho pedagógico. A avaliação deve ser parte de um projeto educativo, e não ser utilizada para medir, assim como aponta Libâneo (2012).

Primeiramente, ao relatar o processo percorrido pelas bases legais ao constituírem a avaliação da educa- ção básica e a gestão como democrática, passamos a percebê-las como eixos que envolve as diferentes instâncias presentes na educação, compreendendo desde os alunos, pais, professores e funcionários, até a comunidade e os conselhos presentes na escola.

Assim como a avaliação escolar passou por um longo caminho até chegar em seu conceito mais crítico e social, com a gestão democrática não foi diferente, pois, para chegar a este nível de atuação, a gestão escolar democrática ganhou espaço primeiramente, com a Constituição Federal de 1988, (Artigo 206, inciso VI), e assim, posteriormente abriu caminhos para uma maior abrangência acerca do tema proposto pela LDB – 9394/96 (Artigo 3º, inciso VIII). Reafirmando o que já estava posto na Constituição, e reforçando posteriormente os princípios de autonomia, participação da comunidade escolar, trabalho em equipe e formação dos profissionais da gestão, (artigos 12º, 13º, 14º, 15º e 64º da LDB).

Vejamos ainda, que esses princípios que estão constando na LDB, para a estruturação de uma gestão democrática também são fundamentais no processo avaliativo da educação básica, pois, referem-se ao princípio da autonomia que a escola deve ter ao formular e aplicar as avaliações, levando em consideração sua realidade e o co- tidiano escolar. Quanto à participação da comunidade escolar, tanto na gestão quando na avaliação da escola ela se faz importante, é preciso que saibamos ouvir os educandos, suas críticas e opiniões, não devendo apenas avaliá-los pelos conhecimentos científicos, mas ainda, pela capacidade reflexiva e argumentativa que podem desenvolver acerca de sua aprendizagem e da estrutura escolar. A participação de todos os membros da escola em sua organi- zação e estrutura, e a formação dos profissionais também são indispensáveis para que se desenvolva um trabalho eficiente que contribuirá na avaliação da educação básica como parte do processo educativo, pois, profissionais bem capacitados poderão trabalhar com maiores possibilidades de ensino, métodos e metodologias diferentes, instigando o educando na aprendizagem. A troca de experiências, a interdisciplinaridade e a colaboração entre todos os agentes participantes da comunidade escolar, que são princípios da gestão democrática, dialogam com as questões formativas e participativas da avaliação na educação básica, buscando fixarem-se sob pilares demo- cráticos e emancipadores, visando a melhoria no processo de ensino/aprendizagem, e não apenas bons resultados mecanicistas e autoritários.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao realizarmos esta breve retomada de alguns dos caminhos percorridos com o surgimento do processo de avaliação da educação básica, assim como os primeiros passos da gestão democrática contidos em algumas das legislações norteadoras desse princípio, passamos a compreender como podemos estabelecer um diálogo no coti- diano escolar entre esses dois eixos da educação brasileira.

Como já citado anteriormente, ambos processos passaram e ainda passam pelo redirecionamento dos seus princípios, atentando para os ideais de autonomia e emancipação, sobrepondo-se às questões mercadológicas, autoritárias e mecanicistas, visando à formação integral do sujeito e melhoria do ambiente no qual está inserido.

Pondera-se então, a importância de um trabalho coletivo, que prime pela avaliação como parte do pro- cesso educativo envolvido com a organização e gestão escolar democrática, capaz de desenvolver a autonomia e o senso crítico nos sujeitos, sem apenas ser um mero reprodutor e medidor de instruções e concepções que já estão prontas. Estabelecendo um diálogo que envolva todos os sujeitos, capazes de pensar a escola como uma rede de conexões, em que todos os seus eixos se relacionam, e não uma estrutura dividida em partes que atuam de ma- neira isolada. Porém, o caminho a ser percorrido ainda é longo, o processo de avaliação da educação básica precisa ser revisto, e aplicado sob uma perspectiva emancipadora, que permita a educação evoluir positivamente a partir dos resultados, e não perder seus recursos por causa deles. O mesmo ocorre com a gestão, que ainda não tem seus princípios democráticos inseridos em todas as escolas, mas, já deve trabalhar pela evolução de suas perspectivas, envolvendo a autonomia e a participação em suas principais categorias, dialogando com todos os eixos escolares,

desde sua organização até sua avaliação, contemplando a busca pela melhoria na qualidade do ensino/aprendiza- gem e da educação.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2006.

BRASIL. Lei n. 9.394/96, de 20 de dezembro 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.

Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. p. 27894.

CURY, Carlos Roberto Jamil. Gestão democrática da educação: exigências e desafios. Revista Brasileira de

Política e Administração da Educação, São Bernardo do Campo, v. 18, n. 2, jul./dez. 2002.

LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão escolar: teoria e prática. 5. ed. Goiânia: Alternativa, 2004.

LIBÂNEO, José Carlos. et al. Educação escolar: políticas, estrutura e organização. 10. ed. São Paulo: Cortez

Editora, 2012.

PARO, Vitor Henrique. Administração escolar: introdução crítica. São Paulo: Cortez, 1990.

PARO, Vitor Henrique. A gestão da educação. Vozes: Petrópolis, 1998.

PARO, Vitor Henrique. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ática, 2001.

SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. Campinas, SP: Autores Associados, 2012.

SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: trajetórias, limites e perspectivas. 10. ed. Campinas, SP:

POLÍTICAS DE AVALIAÇÃO EDUCACIONAL NO ESTADO DO TOCANTINS: REPERCUSSÕES NAS

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