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POLÍTICAS DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR: O ESTADO AVALIADOR PÓS-LDB 1996 Raquel Marmentini (Unoesc)

raquelguia@gmail.com Raimunda Maria da Cunha Ribeiro (Uespi) raicribeiro@ig.com.br

RESUMO

O processo de avaliação da educação superior no Brasil, do ponto de vista do Sinaes, leva em consideração aspectos como ensino, pesquisa, extensão, responsabilidade social, tendo como meta a melhoria da qualidade. Este estudo tem como objetivo principal analisar a avaliação da educação superior, tendo como base o Estado avaliador, especificamente após a promulgação da LDB n. 9394/96. A metodologia adotada foi a histórico-crítica, de abordagem qualitativa, cará- ter bibliográfico e descritivo. A avaliação da educação superior tem se delineado por outros parâmetros: legitimado as políticas neoliberais; identificado com métodos eficazes para dar conta os desafios do cenário global; adotado padrões de mensuração de desempenho

Palavras-chave: Avaliação. Educação superior. LDB/96. Estado avaliador.

INTRODUÇÃO

A expansão da ideologia neoliberal na década de 1990 chegou um pouco por todo o globo, inclusive no Brasil. Foi sob essa lógica que aconteceu a Reforma do Estado do brasileiro, a qual resultou mudanças no campo das políticas públicas sociais, entre elas o campo da educação superior. Com argumentos utilizados por vários organismos internacionais (EX: Banco Mundial, OCDE, FMI), da necessidade de expansão desse nível de ensino, ao Estado restava ampliar para o setor privado a tarefa de expandir o ensino superior por todo território brasileiro. A Reforma do Estado implicou em reformas estruturais na educação superior, abrindo espaço para um intenso processo de privatização, sob a influência de organismos externos. O Banco Mundial e a UNESCO tive- ram sua participação neste processo, ao imprimir documentos tais como: La enseñanza superior: las lecciones deri-

vadas de la experiência (1995); La educacion superior en el siglo XXI: vision y acción (1998), apresentado na Conferência de Paris; Banco Mundial: “A Educação Superior em países em desenvolvimento: perigos e promessas” (2004); Conferência Mundial sobre Ensino Superior: as novas dinâmicas do ensino superior e pesquisas para a mudança e o desenvolvimento social - Paris, 2009, respectivamente.

Sob a perspectiva desses documentos, a educação superior de qualidade não poderia estar dissociada da avaliação e da regulação. Neste sentido, a qualidade da educação superior está associada à cultura da avaliação, da emancipação, da autonomia, da responsabilidade e da prestação de contas. E assim, com o aval da LDB de 1996, foram feitas alterações na configuração e no funcionamento das IES, permitindo-se a diferenciação institucional, a desregulamentação e a privatização da oferta de ensino superior (SGUISSARDI, 2008).

Este estudo tem como objetivo principal analisar a avaliação da educação superior, tendo como base o Estado avaliador, especificamente após a promulgação da LDB n. 9394/96. A metodologia adotada foi a histórico- -crítica, de abordagem qualitativa, caráter bibliográfico e descritivo.

O ESTADO AVALIADOR: CONTROLE E REGULAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

Desde LDB de 1996, a avaliação da educação superior assume lugar especial dentre as políticas educacio- nais. A política de avaliação adotada no governo de FHC desloca o foco da avaliação institucional para a de avalia- ção de curso, criando o Exame Nacional de Cursos (ENC), conhecido como “Provão”. O ENC substituiu o PAIUB – Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras, instituído em 1993, para que as universidades criassem sistemas internos de avaliação – com posterior checagem pelos técnicos do MEC. Consideramos, portan- to, que houve, nesse processo de transferência, uma substituição de uma concepção e uma prática de avaliação

formativa e emancipatória, defendida pelo PAIUB, por uma avaliação classificatória/regulatória do sistema de ensino através da avaliação de curso. O ENC, popularmente conhecido como “Provão” e com destacada função classificatória se constituiu em instrumentos para a regulação e controle por parte do Estado. A lógica adjacente ao Provão era aquela que atribuía a qualidade de um curso à qualidade de seus alunos.

O ENC (Provão) inaugurou, por assim dizer, no campo dos cursos de graduação, o papel do Estado avaliador e regulador. Evidenciou-se uma concepção de avaliação como controle e hierarquização, voltada para a regulação, buscando identificar os melhores e comparando os padrões de excelência. A preocupação passou a ser com o produto enquanto resultado das atividades desenvolvidas pelas instituições de educação superior. Essa tem sido uma das tônicas da avaliação numa ótica de prestação de contas.

Sob essa lógica, a avaliação serviria também de ferramenta de planejamento e gestão universitária e de processo sistemático de prestação de contas à sociedade. Para Barros (1997, p. 24), “não há prestação de contas sem avaliação externa, da mesma forma que não pode haver melhoria de qualidade sem autoavaliação”. A lógica subjacente é da percepção de que a educação superior funciona como fator de incremento do mercado de traba- lho, o que confere à avaliação um caráter predominantemente técnico, preocupado antes com a mensuração de resultados em termos de ensino, e em segundo plano com a produção de conhecimento e a prestação de serviços comunitários. Sobre a avaliação da educação superior no Brasil nos fundamentamos em Dias Sobrinho (2010); Polidori (2009); Sguissardi (2008).

A AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL PÓS LDB N. 9394/96

A Reforma do Estado brasileiro veio imprimi alguns conceitos próprios do campo da administração e da economia no campo da educação. O Estado regulado e sua relação com o campo da educação e das políticas públi- cas, em certa medida, tem impulsionado a propagação da hegemonia do mercado. No discurso do Estado tem se percebido a recorrência de ideias de gestão eficiente da educação, tal como a tendência da administração empresa- rial. No entanto, no centro desta questão se encontram os processos de avalição, controle e regulação, pois, nesta perspectiva, os resultados da avaliação tem servido de base para reforçar o ideal de produtividade e eficiência.

Com a promulgação da LDB de 1996, a concepção de avaliação da educação superior se consolidou a partir da implantação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), instituído pela Lei nº. 10.861, de 14 de abril de 2004 e na Portaria nº 2.051. O SINAES se propõe ser um sistema integrador e misto, que garante informações e análises da totalidade da educação superior; e apresenta tanto características da avaliação emancipatória quanto da regulatória. Também se caracteriza por tomar a avaliação como instrumento de política educacional voltado à defesa da qualidade, da participação e da ética na educação superior.

Vale ressalvar que a Lei Federal n. 9131/1995 trouxe indicativos da obrigatoriedade da realização de avaliações periódicas das instituições de ensino superior, apontando para critérios como a qualidade e a eficiência das políticas universitárias. No entanto, percebemos a utilização de um modelo de avaliação, pós LDB de 1996, como possibilidades de controle, regulação e prestação de contas, ficando quase esquecida a possibilidades de uma avaliação visando a melhoria da qualidade e, diga-se, a principal meta dos processos avaliativos instaurados no Sinaes. A categoria qualidade traz consigo a tendência de regulamentação, apesar da política emancipatória de- fendida pelo sistema nacional de avaliação. É visível um modelo de avaliação de competência, de reconhecimento e certificação (BRASIL, 1995, 1996; TAVARES et all, 2014; SILVA, 2016). Dessa forma, a avaliação tem servido de possibilidade para diferentes fins, incluindo o controle, a regulamentação e a prestação de contas, sem contar os fins mercantilistas com que tem servido seus resultados.

Dizemos, então, que o SINAES passa a ideia de accountability ou prestação de contas. Ou seja, transfor- mou-se em ranking e mídia, elementos próprios do paradigma técnico-burocrático (DIAS SOBRINHO, 2010). Os rankings tem servido muito para impulsionar as instituições de ensino superior para uma competitiva corrida em busca de prestígio acadêmico e de reputação intelectual.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo se propôs à análise das políticas de avaliação da educação superior no Brasil, especificamen- te, após a promulgação da LDB/1996. Na primeira parte foi possível observar elementos antes da implantação do Sinaes, em especial, as políticas de avaliação implantadas no governo FGH, a exemplo, temos o Provão. A segunda parte teceu uma análise a respeito da avaliação pós LDB/1996, tendo como base o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior/Sinaes.

A literatura nos mostra que o modelo de avaliação pós LDB/1996 tem imprimido as correlações com o contexto da Reforma Administrativa do Estado dos anos 1990. Desde esta década, a avaliação tem tido avanços, podemos assim considerar, tem sido estimulada a promover a qualidade. Porém as críticas têm pesado sobre o caráter regulador com que a avaliação tem se identificado, sob o ponto de vista do Estado controlador. Por isso, a avaliação tem assumido a perspectiva de um modelo de regulação, responsabilização e prestação de contas. Essas mudanças têm se traduzido em mudanças nos padrões da gestão e da política universitárias, além de estimular a comparação e a competitividade entre as instituições, visto que os resultados têm levado à consolidação de uma cultura de ranqueamento.

REFERÊNCIAS

BARROS, Edgard Luiz de. Os governos militares. São Paulo: Contexto, 1997.

BRASIL. Lei nº. 10.861, de 14 de abril de 2004. Institui o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Supe-

rior – SINAES. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 20 mar 1996c. Seção 1, p. 4686. ________. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: Senado Federal, 1996.

_________. Lei nº 9.131, de 24 de novembro de 1995. Altera dispositivos da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro

de 1961. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, 24 dez. 1995. Acesso em 10 de abril de 2017.

DIAS, Sobrinho José. Avaliação e transformações da educação superior brasileira (1995-2009): do provão aos Sinaes. Avaliação. Campinas, Sorocaba, SP, v.15, n1, p.195-224

POLIDORI, Marlis Morosini. Políticas de avaliação da educação superior brasileira: Provão, sinaes, idd, cpc, igc e...outros índices. Avaliação, Campinas; Sorocaba, SP, v. 14, n. 2, p. 267-290, jul. 2009. Disponível em http://

submission.scielo.br. Acesso em 10 de abril de 2017.

TAVARES, Maria das Graças Medeiros et all. A relação expansão-avaliação da educação superior no período pós-LDB/1996 Revista Eletrônica de Educação, v. 8, n. 1, p.92-105, 2014.

TAVARES, Maria das Graças; OLIVEIRA, Maria Antonieta de; SEIFFERT, Otília Maria. Avaliação e políticas pú- blicas em Educação: ênfases e tendências. Ensaio. Aval. Pol. Públ. Educ., Rio de Janeiro. V. 19, n. 71, p. 233-258,

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SGUISSARDI, Valdemar. Modelo de expansão da educação superior no brasil: predomínio privado/mercantil e desafios para a regulação e a formação universitária. Educ. Soc. , Campinas, vol. 29, n. 105, p. 991-1022, set./

SILVA, Marta Leandro da. A avaliação na educação superior pós LDB 9.394/96: questões normativas. Vértices,

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