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A IMPORTÂNCIA DE PESQUISAR RAZÕES DA EVASÃO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA, VISANDO A “ACCOUNTABILITY” EM EDUCAÇÃO

Felipe Batista Ethur (UFSM) felipeethur@gmail.com Maria de Lourdes Pinto de Almeida (Unicamp) malu04@gmail.com Rosane Carneiro Sarturi (UFSM) rcsarturi@gmail.com

RESUMO

O presente trabalho objetiva demonstrar que a UNIPAMPA – universidade multicampi, instalada em Meso-região de desenvolvimento estagnado do Rio Grande Sul, vivencia um momento histórico propício à realização de pesquisa edu- cacional para elaboração do diagnóstico da elevada evasão discente ocorrida em seus cursos de graduação, com o fim de cumprir o tripé da accountability em educação: avaliação, prestação de contas e responsabilização. Realizou-se levanta- mento de dados através de documentos e do site da Pró-reitoria de Planejamento da UNIPAMPA e revisão de literatura sobre os temas evasão e accountability. Como resultado, obteve-se pouca produção científica relativa à UNIPAMPA. Aponta-se a perspectiva de realização de uma pesquisa educacional sobre evasão discente na referida universidade. Palavras-chave: Prestação de contas. Pesquisa educacional. Diagnóstico de evasão.

INTRODUÇÃO

Mediante um Acordo de Cooperação Técnica entre o Ministério da Educação, a Universidade Federal de Santa Maria e a Universidade Federal de Pelotas, firmado em 22 de novembro de 2005, a Fundação Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) foi planejada prevendo a ampliação da oferta da Educação Superior na região me- nos desenvolvida economicamente do Estado do Rio Grande do Sul: a “Metade Sul” (conforme pode-se verificar por dados oficiais do Estado do RS disponíveis no Atlas Sócio-econômico do RS).

Segundo o histórico contido no Plano de Desenvolvimento Institucional (2014-2018) da UNIPAMPA:

Em 16 de março de 2007 foi criada a Comissão de Implantação da UNIPAMPA, que promoveu as seguintes atividades: planejamento da estrutura e funcionamento unificados; desenvolvimento profissional de docentes e técnicos-administrativos em educação; estudos para o projeto acadê- mico; fóruns curriculares por áreas de conhecimento; reuniões e audiências públicas com dirigen- tes municipais, estaduais e federais, bem como com lideranças comunitárias e regionais, sobre o projeto de desenvolvimento institucional da futura UNIPAMPA (p. 15-16).

Relata ainda o histórico que em janeiro de 2008 tomou posse o primeiro reitorado, na condição pro tem-

pore, tendo como principal responsabilidade integrar os câmpus criados pelas instituições integrantes do Acordo

de Cooperação Técnica nas cidades de: Alegrete, Bagé (sede), Caçapava do Sul, Dom Pedrito, Itaqui, Jaguarão, Santana do Livramento, São Borja, São Gabriel e Uruguaiana. E que, em fevereiro de 2010, foi instalado o Conse- lho Universitário (CONSUNI), do qual foi integrante, entre 2010 e 2012, na condição de representante do corpo técnico-administrativo da instituição, o autor deste trabalho.

DESENVOLVIMENTO

Se os câmpus, por um lado, estavam definidos em que cidades se situariam desde um primeiro momen- to, ainda em 2006, por outro lado os cursos ofertados por cada câmpus foram sendo definidos com o passar do tempo, até o ano de 2012. A proposição desses cursos partiu da própria comunidade acadêmica de cada câmpus, considerando-se aspectos como: interesses das comunidades locais, possibilidades de atendimento das novas ofer- tas com o corpo docente já nomeado, quantidade de novos docentes e de novos técnicos-administrativos necessá- ria para atendimento desses novos cursos, espaço físico existente comparado ao necessário, etc.

A proposição de cursos novos sempre foi homologada pelo conselho de cada câmpus e depois referen- dada pelo Conselho Universitário. Atendeu a diversos critérios políticos, que muitas vezes preponderaram com relação a critérios técnicos, gerando afastamento em cidades diferentes de cursos de uma mesma área de conheci- mento. Assim, por exemplo, o Curso de Zootecnia ficou em Dom Pedrito, enquanto o Curso de Agronomia ficou em Itaqui.

Considerando-se o ano de 2012 como o último da implantação da maioria de seus cursos de graduação, pois muito poucos foram implantados após esse ano, embora alguns muito concorridos como Direito e Medicina, a UNIPAMPA, em 2017, já integralizou a grade curricular desses cursos, formando alunos das primeiras turmas, tendo em vista a duração média entre 4 e 5 anos. Essa conclusão recente pelas primeiras turmas gera uma oportu- nidade especial para avaliação das razões da elevada evasão existente também na maioria dos cursos.

Ocorre que o índice de titulação (formação) recomendado como meta pelo Ministério da Educação (MEC) de 90% dos ingressantes de quatro ou cinco anos atrás não é obtido nem aproximadamente por nenhum curso da UNIPAMPA. O número total de estudantes evadidos, somente no primeiro semestre de 2016, conforme dados oficiais do site da Pró-reitoria de Planejamento da UNIPAMPA, foi de 1.278 (mil, duzentos e setenta e oito), mantendo-se na instituição 11.371 (onze mil, trezentos e setenta e um) alunos regulares. Ou seja, 10,10% do total de discentes evadiu da UNIPAMPA em um único semestre letivo.

Isso requer uma aferição das principais razões da evasão discente, bem como uma avaliação de quais são as unidades e os cursos mais problemáticos. A investigação, por envolver fatores objetivos e subjetivos em uma temática complexa, deve ser realizada por pesquisa científica na área educacional que, embora envolva intencio- nalidade do pesquisador, não deverá acarretar interesses políticos corporativos, fato que ocorre inevitavelmente quando o estudo é realizado pelas pró-reitorias da própria universidade. Ressaltamos isso em função de que os sujeitos a serem contatados (discentes evadidos) deverão apresentar fortes críticas pessoais a cursos, ao nível de ensino, aos projetos pedagógicos, à gestão acadêmica, à gestão universitária, às condições da infraestrutura e estruturais, entre outras. Tais críticas, se atingirem direta ou indiretamente a gestão universitária, podem ferir suscetibilidades, gerar constrangimentos, pudores e receios, comprometendo até mesmo a publicização dos resul- tados. Por esses motivos, uma pesquisa científica na área educacional torna-se mais recomendada.

Outro fator relevante, que também demanda a pesquisa científica sobre evasão discente na UNIPAM- PA, é a própria “accountability” em educação. Trabalhamos aqui na perspectiva de modelo de “accountability” apresentada por AFONSO (2009), que inclui os aspectos “avaliação” (não necessariamente realizada por exames estandardizados de larga escala), “prestação de contas” e “responsabilização”:

Considerando o fato de que há diferentes modelos de accountability e que nem todos os mo- delos conhecidos se inscrevem em lógicas progressistas, parece-me que, numa concepção mais complexa e potencialmente democrática, não terá muito fundamento que a prestação de contas não seja, com alguma frequência, antecedida (e sucedida) por processos claros e rigorosos de au- to-avaliação e/ou avaliação (interna e/ou externa), incluindo ainda, em fase posterior, processos congruentes de responsabilização (não necessariamente com consequências negativas). Neste sentido, um sistema de accountability democraticamente avançado inclui a avaliação, a presta- ção de contas e a responsabilização, mas dentro de articulações congruentes que se referenciem ou sustentem em valores essenciais como a justiça, a transparência, o direito à informação, a par- ticipação, a cidadania – lembrando, a este propósito, o fato de muitos destes valores estarem a ser repensados no âmbito de novas reflexões (críticas e criativas) sobre outras concepções possíveis e desejáveis de democracia no tempo atual (p 16).

A UNIPAMPA, por pertencer à nova geração das universidades, criada sob a pactuação do REUNI, tendo recebido investimentos milionários para sua instalação multicampi, carece de auto-avaliar-se, abrir-se para avaliações externas e prestar contas à sociedade de suas atividades de ensino, pesquisa e extensão, bem como dos investimentos realizados. Restam ainda muitas obras inconclusas, algumas literalmente pela metade. Faltam

laboratórios e até salas de aula para alguns cursos por conta de licitações “vazias” (sem inscrição de empresas can- didatas) para obras, devido a dificuldades típicas da região onde se encontra. Mas muitos investimentos já foram realizados, tanto em obras e prédios, quanto em laboratórios, equipamentos, materiais, infraestrutura, servidores federais concursados e contratos. E a evasão discente corresponde ao não-aproveitamento e, quando elevada, como é o caso, ao desperdício desses investimentos, comprometendo assim o retorno à sociedade e a “accountabi- lity” em educação da instituição, no aspecto relacionado à “prestação de contas”.

Segundo informação da Pró-reitoria de Planejamento da UNIPAMPA, de 2013 para cá, o MEC alterou a fórmula para cálculo da matriz de custeio das universidades, passando a basear-se no número de formados para liberação de recursos (e não mais no número de ingressantes). Essa matriz de custeio calcula o quanto cabe a cada instituição para cobrir seus custos de limpeza, manutenção, segurança, com motoristas, pessoal contratado em geral, contas de água, energia elétrica, diárias de servidores e contratados, etc. Isso aponta no sentido da redução de investimentos nas universidades, bem como busca responsabilizá-las pelo sucesso e titulação de seus alunos, que passam a integrar a “accountability” em educação da instituição no aspecto relacionado à “responsabilização”. Porque os recursos passam a ser proporcionais aos formados. Realmente, cabe ponderarmos que não se pode clas- sificar como “inclusão” um aluno que ingressa por um semestre letivo (ou dois) na universidade, mas logo evade. Concordamos com a análise de SOBRINHO (2010), que afirma:

...“democratização” da educação superior não se limita à ampliação de oportunidades de acesso e criação de mais vagas. Além da expansão das matrículas e da inclusão social de jovens tradicio- nalmente desassistidos, em razão de suas condições econômicas, preconceitos e outros fatores, é imprescindível que lhes sejam assegurados também os meios de permanência sustentável, isto é, as condições adequadas para realizarem com boa qualidade os seus estudos. Assim, acesso e permanência são aspectos essenciais do processo mais amplo de “democratização” (p. 1226).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A UNIPAMPA gerou oportunidades de estudo para um público estudantil realmente de perfil diferen- ciado: mais carente, com pior desempenho no ensino médio e também no ENEM do que discentes de universida- des tradicionais, proveniente em maioria de uma região de desenvolvimento atrasado no Rio Grande do Sul e que, portanto, não teria provavelmente oportunidade de se deslocar para realizar cursos de graduação em universidades de centros urbanos maiores. No entanto, cabe agora pesquisar as razões das frustrações de tantos discentes que desistem até mesmo muito cedo de seus cursos de graduação. A evasão ocorre do curso, da universidade ou do sistema de ensino? Qualquer que seja ela, precisa ter suas principais causas investigadas através de uma pesquisa educacional e não institucional.

Em pesquisa realizada sobre o Estado da Arte, no mês de março de 2017, verificou-se pouca produção científica relacionada à UNIPAMPA nas plataformas Scielo, Ibict e Periódicos Capes. E com relação a estudos re- centes de evasão, produção nula. Isso comprova o que afirmam SOUSA & MACIEL (2016):

O Brasil ainda carece de estudos sobre esse fenômeno complexo denominado evasão. São poucas as Instituições de Educação Superior – IES – que possuem um programa institucional de combate à evasão, com planejamento de ações, acompanhamento de resultados e coleta de experiências bem-sucedidas, como apontam Silva Filho et al. (2007).

Realizar uma pesquisa educacional sobre “evasão na UNIPAMPA” é o próximo e complexo passo que o autor deste trabalho, servidor técnico-administrativo da UNIPAMPA e aluno do Curso de Mestrado Profissional em Políticas Públicas e Gestão Educacional da Universidade Federal de Santa Maria, pretende dar, por meio de sua dissertação.

REFERÊNCIAS

AFONSO, Almerindo Janela. Nem tudo o que conta em educação é mensurável ou comparável. Crítica à accou- ntability baseada em testes estandardizados e rankings escolares. Revista Lusófona da Educação, v. 13, p.

13-29. 2009.

ATLAS SÓCIO-ECONÔMICO DO RIO GRANDE DO SUL. Indicadores Sociais. Disponível em: <http://

www.atlassocioeconomico.rs.gov.br/indice-de-desenvolvimento-socioeconomico-novo-idese>. Acesso em: 14 abr. 2017.

SOBRINHO, José Dias. Democratização, qualidade e crise da educação superior: faces da exclusão e limites da inclusão. Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p. 1223-1245. Out./dez. 2010. Disponível em <http://www.

scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302010000400010>. Acesso em: 14 de abril 2017. SOUSA, Andréia da Silva Quintanilha; MACIEL, Carina Elisabeth. Expansão da Educação Superior: permanência e evasão em cursos da Universidade Aberta do Brasil. Educação em Revista, Belo Ho-

rizonte, v. 32, n. 04, p. 175-204, Out./dez. 2016. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?pi- d=S0102-46982016000400175&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em: 14 de abril 2017.

UNIPAMPA. Plano de Desenvolvimento Institucional (2014-2018). Disponível em:

<http://porteiras.s.unipampa.edu.br/pdi/files/2015/08/PDI_Unipampa_v19_.compressed.pdf>. Acesso em: 14 abr. 2017.

UNIPAMPA. Relatório de Dados Institucionais da Pró-reitoria de Planejamento. Disponível em: <http://portei- ras.r.unipampa.edu.br/portais/proplan/files/2016/07/ALUNOS-2016.pdf>. Acesso em: 14 abr. 2017.

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