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Além das celebrações religiosas, como de costume, acontece a parte social com barracas, apresentações culturais, leilões e shows Cabe ainda constar que há na festa popular de janeiro em Boa Vista, uma atividade para além das já mencionadas, voltadas à ampliação tanto dos agentes culturais participantes

No documento Jornalismo e Estudos Mediáticos (páginas 48-50)

Gustavo dos Santos Fernandes

3 Além das celebrações religiosas, como de costume, acontece a parte social com barracas, apresentações culturais, leilões e shows Cabe ainda constar que há na festa popular de janeiro em Boa Vista, uma atividade para além das já mencionadas, voltadas à ampliação tanto dos agentes culturais participantes

com a incorporação das práticas da prostituição feminina, quanto da própria participação dos habitantes. Diante de uma visão antropológica sobre a prática da comercialização do sexo na festa do padroeiro de São Sebastião, iniciado e popularizado no decorrer do tempo, caracterizou-se, ao longo de sua história por uma farra marginalizada e tornou-se também um ponto assinalável da população, tendo por ela sido propagada. A descida ao rio Potengi, tem um sentido significativo, quando de um modo geral estimulou costumes e atitudes na comunidade de Boa Vista. Essa prática cultural tem servido como foco central para atrair homens para a festa popular. O rio é frequentado à noite por homens que vêm das comunidades vizinhas e de fora do município e que não dispensam uma prática sexual barata e descomplicada com mulheres desconhecidas que surgem dos mais variados lugares, para atender a demanda dos desejos dos homens que procuram serviços sexuais, lazer, sociabilidade (autoafirmação), participação na festa e saída para se divertir. Essas mulheres na sua grande maioria frequentam o rio em estado de embriaguez e muitas delas também estão sob o efeito das drogas. Apresentam um aspecto sujo e descui- dado, chegando ao local praticamente desnudas ou com roupas curtas, na intenção de provocar, cativar e conquistar seus clientes. A média de idade é em torno de trinta anos, com algumas exceções (há mais mulheres acima de quarenta que em torno de vinte anos). Esta assiduidade no rio durante a festa do padroeiro caracteriza e traz o popular como identidade cultural, criando e recriando aspectos culturais, sociais, geográficos e políticos para a compreensão das práticas culturais locais. Nesse fato, se exercita registros que podem descobrir enquanto corpo social, modos e práticas oriundas do recorte etnográfico, como um espaço produtivo para refletir sobre particularidades e complexidades do mercado sexual e deste como prática cultural inserida no patrimônio imaterial da sociedade ielmomarinhense. Trata-se de interpretar significados que tais vivências adquirem nessa festa, dado que a mesma possui facetas que o identifica como um local popular, ao passo que também lhe acarreta um série de representações identitárias.

de bicho. Não tô mentindo não, viu? Se eu tiver mentindo, eu quero que o meu maior inimigo meu de um bocado de facada neu e uns tiro. Tô falando a verdade. O cara num quartinho apertadinho cheio de bicho [...] Mas ali não foi eu que matei não, ele morreu de cirrose. Eu sofri tanto por causa daquilo ali, eu chorava pelas capoeira sozinha andando e chorando, ele era... Deus que tenha ele longe de mim. Chorava, ele era bom, ele trabalhava a semana e no final de semana... Ele “Neguinha pega esse dinheiro”, me dava cinco, me dava dez. Ele trabalhava em Felipe, aí doutor Felipe dizia de muito carinho a ele. Aí um dia... Ele bebia muito. Deu uma agonia, aí João meu irmão, o dono dessa terra aqui... Ele tá cercando, deixando o meu e o dele tirando. Aí João disse, Nazaré manda esse homem simbora, porque esse homem vai morrer aqui e tu vai levar a culpa. Aí eu me peguei a tarrafa, a maiadera, uma chibanca, uma foice, um bocado de negócio de agricultor e leve pra lá, quero você aqui mais não.

Apesar de ser uma assassina em série, entretanto, a Viúva Negra possui um jeito cativante, delirante e simples, que nos fornece ao longo da conversa um enredo cheio de elementos para compor uma boa história - drama, mistério, conflito, emoção, romance, sexo e pornografia.

No cartaz, é possível notar vários elementos que compõem a tradicional Festa Brasileira do Abacaxi, ressaltando as apresentações culturais, a gastronomia local através do doce de abacaxi e os produtores rurais em processo de colheita. Neste contexto, se sabe que a identidade dimana-se através do reco- nhecimento e características comuns de pessoas, grupos, comunidades etc. Isto posto, imagina-se que através do reconhecimento e valorização da festa, há uma criação de identidades, podendo ser cultural, social e territorial. Entretanto, notamos também há existência de outras manifestações festivas presen- tes no município: a Festa do Padroeiro, o São João de Alegria, danças folclóricas, entre outras.

Há ainda no cartaz as quatro fotos centrais, as quais, duas retratam a antiga Ielmo Marinho, e outras duas que representam acontecimentos atuais. As quatro ilustrações ao centro do cartaz elucidam essa observação. São fotos de um jovem durante apresentação cultural; da cidade (Sede) através de uma vi- são aérea; de Seu Raimundo Bento, líder político (um dos fundadores do PT nacional e representante da ONU); e do doce de abacaxi, culinária típica de Ielmo Marinho. Nessa parte central, observa-se que metade das ilustrações reproduz uma Ielmo Marinho com características do passado (Seu Raimundo Bento e a imagem da cidade ‘Sede’ em 2005) e a outra metade com características atuais (o jovem e o doce de abacaxi). Essas fotos no centro do cartaz resumem a identidade cultural do município, ressal- tando, sua característica de unir o ontem (passado) e o hoje (presente).

Já o enunciado “Ser ielmomarinhense é ter identidade” associa a ideia de que todo cidadão ielmomari- nhense é dotado de identidade cultural. O termo ielmomarinhense remete a algo importante, notável e munido de elementos próprios e culturais. Por sua vez, “ter identidade” constitui requisito necessário para “ser ielmomarinhense”. Em outras palavras, para que o cidadão se sinta realmente um ielmomari- nhense, é preciso que ele valorize e conheça sua história, costumes e características que o destacam e o difiram perante os demais, englobando-o em um determinado grupo cultural.

Nota-se o jogo de significados trazidos pelos verbos “ser” e “ter”. “Ser” denota atributos essenciais, uma presença de si plena e completa, remetendo a uma característica de cunho metafísico, que representa a existência real, porém, a particularidade do “Ser” dá-se pelo caminho imaterial, abstrato, contido no mundo das ideias. Já o verbo “ter” indica possuir algo, poder dispor de, conservar. Tais definições pos-

suem um caráter mais concreto, ou seja, pode-se ver ou dar forma ao que se é possuído. A dicotomia entre ser e ter estabelece a relação por meio da qual, para que o sujeito seja ou signifique alguma coisa, é necessário que tenha, que possua algo. Este é sempre representado por um bem material, um objeto de grande valor. No entanto, o citado enunciado elucida essa relação ser / ter em outra vertente em que o ter designa um bem imaterial (impalpável) e de crescido porte simbólico: a identidade. Todavia, esta não deixa de ter um caráter concreto, uma vez que as imagens concedem forma e cor a essa identidade. As ilustrações elucidam, ainda, o rosto do município, haja vista o nome Ielmo Marinho localizar-se acima das quatro imagens centrais. Abaixo das quatro imagens centrais segue um trecho do hino do município: “Salve! Salve! O teu nome tão forte que é espelho do nosso valor de um feliz Rio Grande do Norte

triunfante em trabalho e amor”4. Essa parte do hino traz a ideia do orgulho por ser ielmomarinhense. O termo “Ielmo Marinho” passa a ser sinônimo de todos os seus valores grandiosos e positivos pertencen- tes ao município. Entretanto, esse enunciado tem um papel secundário no discurso. Porém, não menos importante. Ele serve para fortalecer a ideia central da campanha.

Figura 4: Parte central do cartaz de divulgação da campanha “Ser ielmomarinhense é ter identidade”

Fonte: Prefeitura Municipal de Ielmo Marinho

É impreterível aperceber também que cada elemento disposto no cartaz remete a um dos distritos de Ielmo Marinho, uma vez que o município é constituído em quase toda sua totalidade fora do centro urbano. Podemos observar também no cartaz uma nova paisagem e sua associação com o urbano e rural. Isso nos leva a pensar sobre a dinâmica do lugar com o processo global e sobre as diferenças da identidade urbana e rural. Esse contraste tenta revelar o município e seu progresso, destacando elemen- tos característicos da modernidade. A preocupação com a imagem do município dá-se no sentido da aparência física, sobretudo do seu centro, como podemos perceber nas praças, no centro administrativo da prefeitura, casas da Sede e na Rua principal do distrito de Umari. Sendo assim, as imagens analisadas referem-se a um período quando o poder político municipal desenvolveu uma política de revitalização do município de Ielmo Marinho.

No documento Jornalismo e Estudos Mediáticos (páginas 48-50)

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