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O termo foi utilizado por Foucault inicialmente no prefácio do livro Le Mots et les Choses, cuja primeira edição francesa data de 966 Foi, contudo, retomado e apresentado pelo autor em 4 de março de 967 durante uma conferência no Centre d’Études Architecturales de Paris, que resultou no artigo

No documento Jornalismo e Estudos Mediáticos (páginas 152-154)

Júlia Capovilla Luz Ramos

1 O termo foi utilizado por Foucault inicialmente no prefácio do livro Le Mots et les Choses, cuja primeira edição francesa data de 966 Foi, contudo, retomado e apresentado pelo autor em 4 de março de 967 durante uma conferência no Centre d’Études Architecturales de Paris, que resultou no artigo

Des Espaces Autres, publicado somente anos depois em Architecture, Movement, Continuité, 5, de 1984. Para este capítulo, estamos utilizando a 4o edição brasileira do livro “As Palavras e as Coisas” publicada pela editora Martins Fontes em 1987 e a versão em português do artigo publicada no volume III da coleção Ditos & Escritos – Estética: Literatura e Pintura, Música e Cinema, cuja terceira edição foi publicada em 2013 no Brasil (originalmente, a versão francesa data de 1994).

dentro do contexto da supermodernidade, o que implica práticas extremamente individualistas. Neste sentido, “si la heterotopia apunta a la resistencia y la colectividad, el no lugar apunta a la soledad y el anonimato” (Luna in Catalá, 2014: 212). A perspectiva que se adota aqui, portanto, é a de que hetero- topias e não-lugares, embora sendo conceitos que se entrecruzam, possuem, cada qual, especificidades que não devem ser negligenciadas nem devem ser utilizados como sinônimos.

Também encontramos ancoragem nos trabalhos desenvolvidos por Giddens (2003) sobre “consciência prática” e “consciência discursiva”, e por Foucault (1986, 1987) sobre “controles discursivos”, para che- gar à compreensão da atividade fotográfica coetânea por meio das postagens dos fotógrafos nos blogs de fotografia e sua articulação como modos de enunciação sobre si. Em sua “Teoria da Estruturação”, Anthony Giddens (2003) identifica a potência dos sujeitos enquanto agentes sociais de entenderem o que fazem enquanto fazem, condição indispensável para a realização de determinadas atividades num espaço-tempo. Segundo Giddens (2003: 21), “[...] todo o ator social competente, [...] é um teórico social no nível da consciência discursiva e um especialista metodológico nos níveis da consciência prá- tica e discursiva”.

A diferenciação proposta por Giddens (2003) entre consciência prática e consciência discursiva, englo- baria desde a simples percepção dos afazeres até a crítica constante sobre as próprias ações. Primeira- mente, os sujeitos refletiriam sobre como agem e porquê agem, num processo de autoconhecimento. Essa seria a fase da “consciência prática”. Já na fase da “consciência discursiva”, tais indivíduos passa- riam a expressar de forma concreta as condições, possibilidades e limites das próprias ações.

Quando falamos em “práticas”, queremos abarcar tanto o seu caráter discursivo, que engloba os textos postados nos blogs que levam em conta aspectos técnicos das fotografias publicadas (tipo de câmera, abertura, lente, velocidade, programas, entre outros); os materiais que dizem algo sobre as rotinas produtivas da fotografia jornalística (a pauta, os processos de editoração, o tempo, os bastidores das notícias); quanto os modos de subjetivação2 desses repórteres fotográficos (ideias, reflexões, repertório imagético, referências etc.).

Nenhuma dessas formas enunciativas escapam, todavia, do que se constituiu historicamente como sendo Fotojornalismo. Isso, porque, na formação do discurso fotojornalístico, a prática é entendida como a relação entre a produção, o conjunto da obra e o status dos fotojornalistas; o lugar institucional e técnico de onde falam os sujeitos atuantes no campo; além da posição de quem “por direito” percebe, observa, comenta e ensina as práticas. As práticas discursivas são conformadas por regras que,

[...] delimitam o dizível: o que é permitido e o que é proibido nas ações dos membros de uma formação discursiva. Em outras palavras, os sujeitos devem se ajustar a formas de comportamento. Desde esta perspectiva, não existe sujeito que não seja constituído pelo discurso. Sujeitos são cúmplices na sua própria constituição discursiva – subjetivação é um modo do ser humano se constituir a si mesmo em sujeito. Pondo foco nas práticas de uma formação discursiva poder-se-á ter uma ideia sobre o funcionamento dos sujeitos discursi- vos e sobre a natureza da formação discursiva, no caso o jornalismo. (Marocco, 2016: 15).

2 Aqui podemos pensar os processos de subjetivação conforme Guattari (2006: 14), ou seja, como condições transversais capazes de remeter aos ‘territórios existenciais’ e aos ‘universos incorporais’ dos sujeitos. Para o autor, ainda que o conceito seja provisório, a subjetividade seria ‘o conjunto das condições que torna possível que instâncias individuais e/ou coletivas estejam em posição de emergir como território existencial auto- referencial’ (Guattari, 2006: 19, grifo do autor).

Pode-se dizer que essa imbricação de diferentes elementos é levada a efeito pelo discurso fotográfico. É ele, enquanto prática, que instaura todo um sistema de relações que não existe a priori e, se consegue ser percebido como uma disciplina (ainda que suas fronteiras sejam questionáveis), é porque movi- menta de forma constante, esse feixe de relações. Desde Foucault (1986), as práticas são discursivas pois deixam transparecer um conjunto de regras intrínsecas que as definem em sua especificidade, formando sistematicamente os objetos de que falam. Quando um fotojornalista comenta nos blogs sobre suas atividades profissionais ele não só ajuda a definir o que é fotojornalismo como exclui os de- mais enunciados que não o sejam. A partir daí uma espécie de “região mediana” se abre para a análise: dá a ver aquilo que está “entre o olhar já codificado e o conhecimento reflexivo” sobre uma formação discursiva (Foucault, 1987: 9-10).

Há procedimentos que delimitam e controlam os discursos desde o seu interior, ainda segundo Fou- cault (1996): o comentário, a disciplina e o autor. O comentário, no caso dos blogs de fotografia, pode ser entendido como recurso para explicar o texto primeiro que, no âmbito do fotojornalismo, seria a interpretação critica das fotos que saíram nos jornais e que ganharam narrativas estendidas nos blogs. Os comentários dos fotojornalistas permitem acrescentar informações pertinentes às imagens e as ro- tinas produtivas ao mesmo tempo que reiteram aquilo que já havia sido dito (ou pressentido) no texto primeiro. Já a disciplina seria responsável por delimitar o saber e a prática fotojornalística a partir de operações definidas no interior de um sistema normativo. E, por último, o autor seria responsável por conferir unidade a produção fotojornalística, ligando o discurso ao nome de um jornal ou ao próprio fotógrafo. É, portanto, a partir da recorrência discursiva dos fotógrafos nas postagens destes blogs e nas entrevistas que chegaríamos a um primeiro entendimento sobre que profissão é essa, qual a sua especificidade e quais as transformações sofridas ao longo do tempo. Isso, contudo, tencionando o próprio espaço dos blogs como lugar de reflexão das práticas, observando as mudanças na utilização da plataforma e seu ciclo de vida na web. Um espaço que se diferencia tanto dos manuais e dos livros de fotografia no que se refere à discussão e reflexão da práxis, quanto dos próprios jornais aos quais estão ligados ao serem percebidos pelos fotógrafos como lugares livres da tirania cronoespacial dos impressos.

No documento Jornalismo e Estudos Mediáticos (páginas 152-154)

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