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Como em todo o recorte metodológico, o recurso ao IVC delimitou o universo a ser pesquisado, mas garantiu dados credíveis e de fácil acesso e consulta ao desenvolvimento do trabalho Tais critérios possibilitaram a seleção de blogs fotojornalísticos produzidos por empresas de comunicação de grande

No documento Jornalismo e Estudos Mediáticos (páginas 155-160)

Júlia Capovilla Luz Ramos

3 Como em todo o recorte metodológico, o recurso ao IVC delimitou o universo a ser pesquisado, mas garantiu dados credíveis e de fácil acesso e consulta ao desenvolvimento do trabalho Tais critérios possibilitaram a seleção de blogs fotojornalísticos produzidos por empresas de comunicação de grande

porte reconhecidas nacionalmente, deixando de fora da pesquisa plataformas de jornais impressos de menor circulação. Além disso, não foram incluídos nesse universo de análise os tumblrs - espécie de micro blogs que privilegiam a publicação de material audiovisual acompanhado de legendas – e blogs de fotografias que não tinham como característica principal a publicação de material oriundos das pautas do jornal impresso, nem textos que abordassem a prática diária da fotografia jornalística realizada para esses periódicos. Por este motivo, ficaram de fora os blogs de fotografia De olho na foto (Zarattini, 2015), do jornal O Estado de S. Paulo, e Entretempos (Daigo, 2017), da Folha de S. Paulo.

As razões para o encerramento das plataformas giram em torno de exigências mercadológicas, produ- tivas e tecnológicas. A primeira diz respeito à redução do quadro das empresas de comunicação, deslo- cando os fotógrafos para outras atividades afins (como filmar e editar vídeos). A segunda problematiza o próprio estatuto da imagem fotográfica, uma vez que a convergência entre suportes, produtores e receptores fez abolir fronteiras antes delimitadas. Já os avanços tecnológicos decretaram o fim de pla- taformas que poderiam ser melhores exploradas, na medida em que novos recursos surgem todos os dias e o desejo de superar uma possível defasagem leve a crer que a fórmula dos blogs pareça esgotada. Porém, considerou-se oportuno manter todos os blogs de fotografia desativados no corpus por duas razões: a primeira foi de ordem estritamente pragmática e se deve ao fato do material ainda estar dis- ponível para mapeamento e análise; já a segunda se deve exclusivamente ao seu caráter documental, revelando-se um conjunto profícuo para análise. Tampouco foi desprezado o ciclo de vida do FotoGlo- bo, único blog cujo conteúdo foi totalmente removido da web, já que um dos objetivos é justamente entender as razões de seu encerramento. Para tanto, foi realizada entrevista com todos os criadores/ editores dos blogs observados.

Do único blog que se mantém efetivamente ativo – o FotoCorreio (Correio do Povo) -, foram contabi- lizados 306 posts de outubro de 2009 a setembro de 2015. Somamos a este montante as postagens dos blogs FocoBlog (Zero Hora), Diário da Foto (Diário Gaúcho) e Olhar Sobre o Mundo (O Estado de S. Paulo), chegando ao total de 2.354 posts. Eles foram divididos da seguinte forma: 1.464 publicados no FocoBlog (de 12/01/2009 a 21/12/2015); 382 no Diário da Foto (de 06/07/2010 a 26/03/2015); 306 no FotoCorreio (de 16/04/2011 a 12/12/2015) e 202 no Olhar sobre o Mundo (de 22/10/2009 a 25/01/2014). Destas mais de duas mil postagens, foi possível encontrar 427 que descrevem/refle- tem sobre as práticas fotojornalisticas: 280 (65,5%) no FocoBlog, 56 (13,1%) no Diário da Foto, 50 (11,7%) no Olhar sobre o Mundo, e 41 (9,6%) no FotoCorreio (Gráficos 1 e 2).

Gráfico 1. Percentual de Postagens e Posts Exclusivos sobre Descrição/ Reflexão das Práticas nos Blogs de Fotografia (2009-2015)

Gráfico 2. Percentual de Postagens com Descrição/Reflexão das Práticas por Blogs (2009-2015)

Fonte: Elaborado pela autora.

A partir deste último universo, produzimos quadros de análises mais aprofundados que mapearam, além da natureza das postagens, títulos; número de fotografias; repórter fotográfico; autoria dos textos; sessão do blog; trechos dos textos sobre as práticas; comentário dos internautas; número de compartilhamento, dentre outras informações consideradas pertinentes ao escopo da pesquisa, conforme figura 1.

Figura 1. Quadro de Análise das Postagens sobre Reflexão/Descrição das

Práticas Fotojornalísticas

Ao esquadrinhar tais informações, foi possível identificar cinco regularidades nos discursos sobre as práticas as quais denominamos (Gráfico 3):

a) Memória: abarca todo o material que se refere às lembranças de vida pessoal e profissional dos repórteres fotográficos, ligados ou não à empresa jornalística em questão;

b) Rotinas/Bastidores: categoria que reúne trechos que descrevem as rotinas produtivas dos fotojornalistas;

c) Técnicas/Tecnologias: congrega todas as referências às técnicas ou tecnologias utilizadas durante o exercício profissional;

d) Extra-pauta/Poética: postagens referentes aos trabalhos com temáticas ou estéticas completamente divergentes da pauta jornalística;

e) Reflexão/Conceitualização: reúne as postagens que versam sobre o entendimento que os próprios fotojornalistas possuem de sua profissão ao formularem critérios para orientação profissional.

Gráfico 3. Percentuais de Postagens por Categorias de Classificação por Blog (2009-2015)

Fonte: Elaborado pela autora.

Há episódios em que as categorias descritas acima se misturam. Ao evocar as lembranças profissio- nais, muitos fotojornalistas acabam trazendo à tona rotinas localizadas num tempo-espaço, técnicas utilizadas, até culminar, em alguns casos, na reflexão sobre as mudanças nestes dois sentidos, além de realizarem uma espécie de conceitualização sobre a prática da fotografia jornalística. Nesses casos, pro- curou-se incluir as postagens em duas ou mais categorias (Gráfico 4).

Gráfico 4. Postagens com Duas ou mais Categorias por Blogs (2009-2015)

Fonte: Elaborado pela autora.

Para fins de mapear o entendimento sobre o campo fotojornalístico, sobre a atividade da fotografia de imprensa e sobre a relevância do espaço dos blogs para tais produções, também foram realizadas enquetes com fotógrafos que compõe os quadros dos jornais Zero Hora (ZH), Diário Gaúcho (DG), Correio do Povo (CP), O Estado de S. Paulo (Estadão) e O Globo. O recurso se fez necessário por- que nem todos os fotojornalistas dos veículos supracitados escreveram nos blogs sobre suas ativida- des. Daqueles que não o fizeram, nos apoiamos nas respostas da enquete formada por três questões fechadas de múltipla escolha e que foi entregue em mãos, e, em alguns casos isolados, encaminhado por e-mail aos fotógrafos nas redações dos jornais. Ainda, foram incluídos na amostragem alguns profissionais que já se desligaram das empresas, mas que participaram de forma ativa na implemen- tação e/ou fase inicial dos blogs de fotografia. Do montante inicial de 31 profissionais selecionados, 25 responderam; sendo dez do Correio do Povo, sete da Zero Hora e cinco do Diário Gaúcho, dois do Estadão, e um do O Globo. Nesta primeira fase, pudemos selecionar vários dados interessantes: 8% dos entrevistados possui Pós-Graduação em Fotografia, nível Especialização; 60% possui curso superior em Jornalismo, 8% em Publicidade e Propaganda; 4% em Comunicação Social e os outros 20% completou o ensino médio. Dos que preencheram o tempo de atuação como fotojornalistas, 35% exerce o ofício entre um e nove anos; 55% está de dez a trinta anos no mercado; e 10% se de- dica a atividade há mais de trinta anos.

Além disso, acompanhamos a rotina produtiva por quatro dias no mês de agosto de 2015 na redação de Zero Hora, quando o FocoBlog ainda estava ativo, e durante três dias na editoria de fotografia do Correio do Povo em abril de 2016, como exemplificação da dinâmica de inserção de conteúdos pelos repórteres fotográficos nos blogs de fotografia dos jornais.

Outro movimento metodológico realizado foi a identificação dos repórteres fotográficos que mais pu- blicaram nos blogs, pois os mesmos acabam funcionando como “nós” em uma rede de irradiação do saber fotojornalístico, o que tornou necessária, também, a realização de entrevistas em profundidade com tais profissionais, além dos editores de fotografias, dos criadores da plataforma e dos responsáveis atuais pela alimentação dos blogs (Gráfico 5).

Gráfico 5. Fotojornalistas com Maior Número Percentuais de Postagens por Blog (2009- 2015)*

Fonte: Elaborado pela autora.

Nota: *Número referente apenas às pessoas identificadas que assinaram as postagens.

Neste sentido, a combinação das modalidades de acesso aos discursos dos fotojornalistas – o mapea- mento dos posts, a enquete, a entrevista em profundidade e o acompanhamento das rotinas – ajuda a chegar ao que Giddens (2003) nomeou “consciência discursiva” e “consciência prática” dos atores sociais. Numa primeira aproximação é possível perceber que, ao refletirem sobre suas rotinas dentro e fora das redações, os fotojornalistas que contribuem com estes blogs, formulam, ao mesmo tempo, um discurso sobre si e sobre sua profissão. Como dito anteriormente, este material oportuniza acessar as descrições da atividade para tentar entendê-la, funcionando como um dispositivo de revelação do saber fotojornalístico, bem como possibilita perceber como os próprios repórteres fotográficos pensam ser suas rotinas, as mudanças na profissão e seu papel social na atualidade.

No documento Jornalismo e Estudos Mediáticos (páginas 155-160)

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