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O Panorama teve ainda mais três séries, até 1868, que não foram estudadas neste trabalho.

No documento Jornalismo e Estudos Mediáticos (páginas 93-95)

João Lourival da Rocha Oliveira e Silva

3 O Panorama teve ainda mais três séries, até 1868, que não foram estudadas neste trabalho.

4 “Esta Sociedade (…) convidou para a redacção do seu jornal o Sr. Alexandre Herculano, que pouco antes resignara ao lugar de bibliotecário da Biblioteca Pública Portuense, em razão das mudanças políticas de 1836” (Silva e Aranha, 1958 [original de 1858], vol. VI, p. 335), pois tinha considerado dema- gógica a revolução setembrista (Baptista, 1977, p. 14). O próprio Herculano (19__, vol. II, p. 105) confirma a sua entrada n’O Panorama numa carta, provavelmente de 27 de Julho de 1838, ao seu amigo Adrião Pereira Forjaz de Sampaio, jurista e historiógrafo: “Eu obriguei-me, por um contrato, a ter sempre adiantados, no escritório da Sociedade Propagadora, quatro números d’O Panorama. Recebo por isso 40$000 réis mensais, devendo dar em cada número duas ou duas páginas e meia escritas por mim. Outras pessoas escrevem para o jornal, e a Sociedade despende mais 320$000 réis anuais para isso, pagando à razão de quartinho [1$200 réis] a página. Os artigos alheios vêm todos à minha mão e eu compagino os números”.

de instrução para gastar esses curtos momentos em folhear centenares de volumes e embre- nhar-se em meditações profundas (…). Que é (…) necessário fazer para que seja satisfeita a necessidade de generalizar a instrução (…)? A solução deste problema encontra-se (…) (n)os jornais de instrução popular. (Alexandre Herculano, Introdução, O Panorama, 1837, vol. I, n.º 1, p. 1.)

Encontra assim Jacinto Baptista (1977, pp. 37-38) razões para dizer que O Panorama foi “um progra- ma de instrução popular, dirigido, principalmente, às classes burguesas em ascensão (…) mas que não excluía, antes reivindicou também, para as classes operárias os benefícios da educação e da cultura”.

O Panorama apresentou-se publicamente como um jornal que seguia o modelo britânico da Penny Ma- gazine, uma revista cuja denominação – magazine –, à maneira dos grandes armazéns onde se vendia

de tudo um pouco, prometia que nela se falaria de tudo um pouco: “Quando este jornal começou a aparecer, nada mais era, quanto à forma, do que uma imitação do Penny Magazine, do qual também o são todos os jornais populares publicados na Europa.” (Alexandre Herculano, Aos assinantes, O Pano-

rama, 1838, vol. II, n.º 36, p. 1.)

A estrutura de conteúdos d’O Panorama permitiria, de acordo com os seus conceptores, agradar a todo o universo de leitores potenciais, a saber:

Em três classes se podem dividir os leitores a quem os jornais populares são destinados. A primeira é dos que pretendem só instrução, sem lhes importar a forma (…) São estes poucos. A segunda classe, que é a mais numerosa, consta daqueles que gostam de instruir- se recreando-se. A terceira (…) é formada pelos que só na leitura buscam passatempo para matar o tédio, e a quem coisas singelas, claras, comuns ou frívolas só agradam (…). (Ale- xandre Herculano, Aos assinantes, O Panorama, 1838, vol. II, n-º 36, p. 1.)

Consequentemente, de acordo com um modelo que se manteve até 1844, O Panorama passou a seg- mentar e organizar os conteúdos em duas grandes áreas. Uma primeira área abrangia textos sérios sobre agricultura, arqueologia, belas-artes, economia, educação, filosofia, história, literatura, tecnologia e ou- tros temas “graves”, conforme o termo empregue por Herculano. Uma segunda área incluía as matérias “risonhas”, ou seja, os “artigos breves e variados, de menos monta”.

O ano de 1844 seria o último de publicação d’O Panorama pela Sociedade Propagadora de Conheci- mentos Úteis. Apesar das infra-estruturas aparentemente sólidas (o periódico tinha, inclusivamente, tipografia própria, que, segundo Tengarrinha (1989, p. 190), era “uma das mais bem apetrechadas do país”), a publicação d’O Panorama foi efectivamente interrompida em 1844 e a Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis dissolveu-se no ano seguinte. É o que relata A. Xavier da Silva Pereira (1895: 1283-1284), no manuscrito Dicionário Jornalístico Português:

Em 28 de Dezembro de 1844, o jornal teve de suspender, ficando no número 157 da sua publicação. Em seguida, deu-se a dissolução da Sociedade Propagadora de Conhecimen- tos Úteis. Esta colecção publicada pela Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis forma duas séries, a primeira composta de cinco volumes, a segunda de três volumes. Estas duas séries são as mais estimadas de toda a colecção d’O Panorama (…).

José Silvestre Ribeiro (1871-1893, vol. VIII, p. 408), do mesmo modo, escreve que no dia 9 de Abril de 1845 uma comissão eleita pela assembleia-geral da Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis determinou que esta não tinha condições para continuar nem como empresa literária nem como empresa mercantil. A própria direcção da Sociedade explica, n’O Panorama, as razões que levaram à sua extinção e à suspensão da publicação do periódico – em particular o desequilíbrio entre as receitas, cada vez menores por causa da diminuição do número de assinantes, e as despesas5:

Tendo sucessivamente diminuído, nestes últimos anos, o número de assinantes deste jor- nal, não sendo já suficientes para o custeio das onerosas despesas para o manter em a nitidez tipográfica e mais circunstâncias que o igualaram aos melhores estrangeiros que no seu género se têm publicado, e muitos dos quais têm igualmente findo, (…) a assem- bleia-geral, em sessão de 23 do corrente Dezembro, decidiu que cessasse a continuação do

Panorama, em razão dos motivos acima expendidos. ([Direcção da Sociedade Propagadora

de Conhecimentos Úteis], [Aviso], O Panorama, 28 de Dezembro de 1844, 2ªa série, vol. III, [ p. 415].)

Assim sendo, a direcção da Sociedade atribuía a suspensão da edição d’O Panorama à diminuição do número de assinantes, o que colocaria em causa as versões de que o jornal constituiu um verdadeiro êxi- to se não se ponderassem as razões dessa diminuição. E possivelmente a principal razão terá sido a crise. Portugal atravessava um período de instabilidade (de que só sairia com a Regeneração, em 1851). Basta dizer que entre 1837 e 1844, sucederam-se no poder oito governos diferentes e várias conspirações e revoltas agitaram o reino. É possível, assim, que a crise e a instabilidade tenham retraído o consumo, o que, consequentemente, terá tido reflexos no número de assinantes d’O Panorama. A inflação, ao aumentar os custos, também afectaria a manutenção de um periódico cujo preço se manteve inalterado ao longo de quase oito anos e que não dava rendimento aos accionistas.

No documento Jornalismo e Estudos Mediáticos (páginas 93-95)

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