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Para ler mais sobre os processos de ancoragem e etapa ler artigo Caetano, Kati & Veiga, Zaclis (015).

No documento Jornalismo e Estudos Mediáticos (páginas 172-175)

Kati Caetano

2 Para ler mais sobre os processos de ancoragem e etapa ler artigo Caetano, Kati & Veiga, Zaclis (015).

mente o verbal, mas o direcionam, o subsumem, o antecipam e valorizam o conteúdo que virá destrinchado pelo que nelas está prometido. (Caetano & Veiga, 2015: 122).

As estratégias discursivas das imagens foram abordadas, naquele artigo e serão novamente utilizadas neste, a partir do elemento textual e das significações que as fotografias ganham quando estão no su- porte jornal.

Embora tenham (algumas mais do que outras) valores simbólicos autossuficientes para originar sentidos, em não raras oportunidades de modo mais intenso do que uma matéria verbal, as imagens ganham significações na moldura do jornal, em seu jogo verbovisual, de discursos verbais, de composição, de oposições, de topologias na superfície da página/ tela, de valorizações cromáticas e eidéticas. Será, portanto, nesse sentido que as estratégias discursivas do jogo texto-imagem serão abordadas no presente artigo. (Caetano & Veiga, 2015: 126).

O estudo comparativo baseou-se em levantamento quantitativo das imagens apresentadas no período de 01 a 17 de novembro de 2017. O aspecto comum mais evidente entre os dois recortes, é a ausência de créditos de autoria no jornalismo digital, o que indica que as agências de notícias ou os repórteres fotográficos dos veículos deixam de ser os principais provedores de imagens, e, como corolário, que se desqualifica cada vez mais o papel do fotojornalista como mediação entre o fato e o usuário.

Das fotografias postadas sem crédito, algumas são de leitores, que aparentemente, veem como ganho o fato de a imagem estar publicada e não se preocupam em ter seus nomes no material. Outras fotos são apropriadas livremente do sistema da internet que permite distribuição gratuita. Se, de um lado, fica patente a desvalorização do trabalho do jornalista, como centralizador da construção da notícia, de outro, outorga importância às participações dos leitores, que ocupam uma posição ambivalente: ora servem como a única testemunha no lugar e momento do desenrolar dos fatos, de outro reserva sua participação a nichos bem especificados do jornal. A par dessa situação, a rede de informações anôni- mas da internet atua como a instância em que a imagem fala se converte na voz do próprio fato, como se este se enunciasse a si mesmo. Mais do que uma questão ética ou moral, a ausência daquele que assina a fotografia é a ausência daquele que assume um discurso imagético a partir das escolhas (que sempre são repletas de subjetividade) de composição e abordagem.

A segunda forma de articulação entre texto e imagem, novamente emprestada da categorização de Barthes, é a da etapa, “em que aspectos de complementariedade semântica se enunciam entre as duas linguagens, ou os dois discursos - texto verbal e imagem -, que se convertem em duas grandezas de uma totalidade de sentido.” (Caetano, Kati & Veiga, Zaclis, 2015).

Nesse item da análise, foi possível, a partir do material examinado, estabelecer uma pequena tipologia de articulações entre texto e imagem, na qual as fotos são assim designadas: a) contextualizadoras b) autossuficientes c) cíclicas d) retratos “flagrantes delitos” e) metonímicas f) baixa figuratividade g) imagens de arquivo.

a) Contextualizadoras

Nesta categoria estão as imagens que pressupõem “um estado de abertura semântica da imagem e de um fechamento do conteúdo verbal”. A fotografia, dessa forma, pode ter diversos sentidos dados pelo verbal, que tanto podem ampliar, como reduzir a interpretação da imagem. O percurso indicado pelo verbal, intencionalmente ou não, podem sugerir ambivalências e/ou efeitos de sentido. Esta classifica- ção pretende indicar o grau de resolução semântica na relação texto/imagem. 3

Figura 3: Printscreen BP, janeiro de 2015. Figura 4: Printscreen HPBR, novembro de 2017.

b) Autossuficiência da imagem

Nessa condição a fotografia possui competências para expressar por si própria o enunciado. O exem- plo da edição de 2015 foi o das imagens recorrentes da presidenta Dilma como candidata reeleita (Figura 5). E na edição de 2017 foram as das manifestações relacionadas aos direitos das mulheres. Nas edições do período de um mês analisadas apareceram quatro temáticas relacionadas aos direitos das mulheres: PEC “cavalo de troia, sobre a criminalização do aborto; preservação da Lei Maria da Penha em sua integridade; Marcha das mulheres negras contra o racismo e violência doméstica con- tra a mulher nordestina.

Independente de um texto que ancore a interpretação das imagens, elas contêm a carga semântica do relato e requerem pouca competência interpretativa já que carregam em si o poder de evocação, dada obviamente por diversos aspectos de ordem figurativa e plástica: imagens das mulheres em atitudes de manifesto público, frases e palavras no contexto da imagem, plano de conjunto com tomada oblíqua, o que favorece a ideia da corporalidade em movimento, sangria do conjunto figurativo com efeitos conotativos de multidão e, especificamente no caso da fotografia escolhida como exemplo, a impressão de extravasamento do contexto para o espaço da enunciação e caráter de tridimensionalidade.

3 “Usamos a expressão “resolução semântica” emprestada do pesquisador português Antonio Fidalgo (2007), mas na presente ocorrência com uma redu- ção de significado. Para o autor, a resolução acontece no ambiente intermidiático, quando as recorrências de uma informação vão dando maior riqueza informativa ao dado, em clara analogia à resolução de uma imagem que permite melhor visualização de detalhes, enquanto nós estamos empregando sua metáfora no âmbito dos vínculos imagem-textos verbais. O verbal aí especificaria o recorte de leitura da imagem ao mesmo tempo que lhe daria maiores contornos de detalhes contextuais”. (Caetano & Veiga,2015).

Figura 5: Printscreen BP, janeiro de 2015 Figura 6: Printscreen HPBR, novembro de 2017

c) Imagens cíclicas

Como o próprio nome diz, são reiteradamente reproduzidas passando a definir simbolicamente um evento ou uma data, e, por decorrência a servirem, em muitos casos, de marcações históricas à mídia, como por exemplo o uso da imagem das torres gêmeas como rememoração do setembro de 2011 e/ou chamadas para matérias sobre terrorismo em geral. Normalmente, são ciclicamente retomadas como desencadeadoras de conotações.

Estudos dessas imagens, definidas pelo senso comum como “icônicas” em face do cará- ter recorrente e universal que suscitam de alusão sempre ao mesmo evento fundacional, apontam não só para o caráter cíclico de sua aparição, mas também ao poder de confi- guração cíclica que conferem a períodos, épocas, episódios considerados marcantes na história da humanidade ou de uma sociedade4. A destruição das Torres Gêmeas, por exemplo, é um desses exemplos, e no corpus estudado ela aparece como traço anteci- pador de pauta, convertendo-se em “vinheta” para chamadas ao tema do terrorismo. (Caetano &Veiga, 2015: 127)

Essas imagens carregam em si um tom opinativo, ancorado no contexto e que antecipa uma presunção informativa. (Fontanille, 2005: 123-160).

d) Retratos como “flagrantes delitos”

Os flagrantes fotográficos são muito comuns no jornalismo (Landowski, 2007) e se diferenciam do retrato oficial principalmente porque não buscam apresentar aspectos considerados “ideais” na cons- trução do retrato editorial clássico (ou fotografia oficial nos termos de Landowski) que apresenta o sujeito em seu “melhor ângulo” ou em situações posadas. É um retrato “roubado”, que não tem o con- sentimento, que metamorfoseia o fotografado frente à camera (Barthes, 1982, p.22). Tradicionalmente empregadas como ironia política, sobretudo em momentos de censura, o uso acabou se banalizando a

No documento Jornalismo e Estudos Mediáticos (páginas 172-175)

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