A GRAÇA DA BOA MORTE
COMO PREPARAR-NOS PARA A MORTE O justo anda à espera da morte e prepara-se para ela.
Conserva-se vigilante, nutre na iminência dela um respei toso temor, por se lembrar das faltas cometidas e antever as expiações vindouras. Mostra uma fé viva na vida eterna, fim último da sua viagem. A vida eternk apresenta sobretudo para ele a posse inamissível de Deus através da. visão bea tífica, a união com Cristo Redentor, com a sua Mãe, com
os santos e com aqueles que ele conheceu e morreram ou ?.
morrerão cristãmente. . .
O justo acrescenta a tamanha fé uma confiança cada vez mais firme no auxílio de Deus para atingir o fim. Como a sua caridade cresce de dia para dia, «o Espírito Santo dá testemunho ao seu espírito de que é filho de Deus» (Rom.,
VIII, 16). Por isso, a «certeza tendencial», que compreende *
a esperança, consolida-se nele cada vez mais. O justo empe nha-se também em - que o informem - previamente da apro- -
ximação dò ú ltim o. momento.-. Constitui uma- falta de fé. e, além -disso;, .um, erro'não ter a çorágém de advertir, os ; . doentes de que vão morrer. O que fazemos é, enganá-los e impedi-los de se prepararem. Seria óptimo que duas pessoas se entendessem para' se avisarenr mütuamente.' . ; . Convém, por último, que a o . aproximar-se do fim, o •’ justò fâça’ muitas vézes, o sacrifício da sua vida em união ■ , com o sacrifício da missà' qüej pèrpetua, rio altar, de uma
maneira sacramental, o sacrifício da cruz. Convém, mesmo, que faça aSsim o seu áacrifíeio pessoal, pensando nos quatro fins do sacrifício: adoração, para reconhecer a excelência • soberana de Deus, autor da vida e senhor da hora da nossa
mórte; reparação, para expiar todas as faltas passadas;
. súplica, para obter â graça da perseverança final; acção de
graças, para agradecer ao Senhor os inumeráveis benefí
cios que nos prepara desde a eternidade e que vimos rece bendo todos os dias desde o nosso nascimento.
N ão é má ideia fazer prèviamente o sacrifício da própria vida, dizendo muitas vezes, como aconselhava Pio X: «Senhor, qualquer que seja o género de morte que vos apraz reservar-me, aceito-a desde já, com todo o coração e boa vontade, aceito-a das vossas mãos, com todas as suas angústias, penas e dores».
Preparamo-nos, assim, todos os dias para bem fazer o sacrifício da nossa vida no último momento, em união com as missas que se celebram então, perto ou longe de nós, isto é, em união com a oblação sempre viva ao Sagrado Coração de Jesus «que não, cessa de interceder por nós».
itíe b ., VII, 25). E se o justo põe neste último acto um grande
amor a Deus, poderá obter a remissão de uma grande parte da pena temporal devida pelos seus pecados e abreviar -*• consideràvelmente o seu purgatório. Mandem-se, também, celebrar missas para obter a graça das graças, que é a graça da boá morte. , ' ’
A graça da extrema-unção torna o cristão mais forte no meio do'horror nátural á morte e das tentações do inimigo
da salvação. Consolam-no outrossim do desgosto pungente ' ■' -de deixár os qüe: ama, o santo yiático e as orações ^os^ago- . ’ np.am.es^ Algumas 'destas têm ia beléza. á iifro fiw c e rè-à n im d a
Christiana: «Parte deste mundo, alma cristã, em nome do ’
J Deus- Pai todo-podertoso que teJ criou: em n o m e .d e Jesus ■' *. Cristo, filho de Deus vivo, que sofreu por ti; em nome do Espírito Sarito que te. foi dado; :em nome da gloriosa e • , . saMa Mãè, dé Deus,-^Vicgem Mariá. Em nome do bem-aven- • ' •
tufado José, seu espos'o; em nom e'dos anjos e d o s arcanjos, dos tronós e dominações, dos principados e potestades, dos querubins e serafins; em nome dos patriarcas e dos profetas; em nome dos apóstolos, dos evangelistas, dos mártires, dos confessores dàs virgens e de, todos os santos e santas de Deus. Que estabeleças hoje morada em paz na Jerusalém celeste, por Jesus Cristo N osso Senhor. Amen».
Dir-se-ia que toda a Igreja do Céu vem ao encontro da alma cristã que se eleva em estado de graça da Igreja militante, para receber em breve a sua recompensa.
Bossuet, no seu Opúsculo sobre a preparação para a morte, mostra que os últimos actos devem ser os actos de fé, espe rança e caridade fundidos, por assim dizer, num único acto de entrega a Deus. «Senhor, entrego-me a vós; nada tenho a recear, a não ser que não me entregue suficientemente a vós, por Jesus Cristo. Interponho a cruz. do vosso filho entre os meus pecados e a vossa justiça. Alm a minha, porque estás
triste e te perturbas? Espera nele e diz-lhe com todas as
tuas forças: Meu Deus, vós sois a minha salvação... Apro xima-se o tempo em que a fé se converterá em visão clara.
Meu Salvador, eu creio, ajudai a minha incredulidade e sus
tende a minha fraqueza... Nada tenho a esperar de mim mesmo, mas vós mandastes esperar em vós... Alegro-me por ouvir dizer que irei habitar na casa do Senhor... Quando é que vos verei, único bem?... Deus meu, minha vida e minha força, eu amo-vos; alégro-me peío vosso poder, pela vossa
eternidade, pela vossa felicidade. Daqui a um momento, esta
rei em estado dè vos abraçar. Recebei-me na Vossa união».
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* •'.! .«Nós, porém — diz São P a u l o s o m o s cidadãos dos céus, ' . - -donde também-esperamos o Salvador N osso Senhor Jesus • »_ Gristo, qüe.,transformará; o nosso' corpo de-miséria; ter--
nando-o sèmelhante ao seu corpo glorioso, com aquele ■ \ * .poder coro que-'pode. também sujeitar & si tôdas'as coisas..., E a paz divina, que ultrapassa toda a inteligência, conserve os ■ . = v.ossoã c.iprações e os vossos pensamentos em Jesus Cristo».
. i m , UI. 20; IV, 7). /; ■ . . .. . ; .. V
«O cristã o '— diz ainda B ossuet— (ibidem), expira em
■ p a z , unindo-se à agonia do Salvador. Senhor, lanço-me aos
vossos pés, no Horto das Oliveiras; prostro-me convosco na terra; aproximo-me, tanto quanto posso, do vosso corpo . .sagrado para recolher sobre o meu o precioso sangue que flui das vossas veias. Aceito com ambas as mãos o cálice que o vosso Pai me envia... Vinde, anjo consolador de Jesus, que sofre e agoniza nos meus membros. Afastai-vos, tropa infernal... Meu Salvador, direi convosco: Tudo está
consumado. Nas vossas mãos entrego o meu espírito. Amen. " Alma minha, comecemos o Amen eterno, o eterno Aleluia
que será a alegria e o cântico dos bem-aventurados na eter nidade... Adeus, irmãos mortais; adeus Santa Igreja Cató lica. Trouxestes-me nas entranhas, alimentastes-me com o vosso leite, acabais de me purificar com os vossos sacrifícios, porque morro no vosso seio e na vossa fé. Porém, Igreja, não vos digo adeus, vou encontrar-vos no céu, vou ver a vossa fonte, os apóstolos, os mártires, os confessores e as virgens. Cantarei eternamente com eles as misericórdias de Deus». São João da Cruz diz: «Ao anoitecer da nossa vida, segamos julgados pelo amor», pela sinceridade do nosso amor a Deus, do amor à nossa alma que deve ser salva e pela sinceridade do nosso amor ao próximo.
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