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O JULGAM ENTO DOS ORGULHOSOS E O JULGAM ENTO DOS HUM ILDES.

No documento O Homem e a Eternidade (páginas 57-59)

O II P edro , III, 12,

O JULGAM ENTO DOS ORGULHOSOS E O JULGAM ENTO DOS HUM ILDES.

Esta questão aparece amplamente tratada na Imitação

de Cristo. D iz o autor o seguinte: «Sem quase dares por

isso, singularmente esquecido de ti próprio, caminhas di­ reito ao dia do juízo... Tem lugar na terra um autêntico e salutar purgatório: o homem paciente que, vítima de ul­ trajes, se aflige mais pela malícia dos outros que pela sua própria injúria, que reza sinceramente por aqueles que o contristam e lhes perdoa do fundo do coração... Mais vale purificarmo-nos agora dos pecados e desenraizarmos os vícyjs.do que esperar pela expiação na yida futura...; cada vício terá o seú tormento próprio... O humilde e õ pobre mostrarão nesse dia uma grande confiança, ao passo que o espanto envolverá o soberbo por todos os lados. Ver-se-á, então, que foi prudente neste mundo aquele que, por Jesus

* . o j u í z o f i n a l e . u n i v e r s a l ' 10 1

(J) SÃo Tomás, Suppl., q. 91, a. 2.

• Çristo não. se importou que ò; considerassem insensato e V " desprezível.; Apláadir^se-ão tis' tribulações sofridas 'com ,pa- , •’ . ciência.- Ò desprezo* áas -riquezas, terá mais peso• na balança \ ’ »

. q u e todos os tesouros da terra., Às obras santas assumirão

maior relevo do -que os discursos- cheios de 'floreados... Por­

tanto, tudo é vaidàde, excepto amar a Deus e servi-lo. Porque aquele que ama a Deus com to d o : o coração não . recçiá. a morte, nem o juízo, nem ó inferno, porque, ó-amor • perfeito assegurá-nos o acesso a Deus» (xj. ' •

E aconselha-nos a: considerar os íntimos juízos de Deus, para não nos orgulharmos do bem que tivermos feito (2). A nossa paz não deve de forma alguma depender dos jujzos dos'hom éns. Em vez de d a r . importância aos .‘vãos juízos dos homens, atribuamos humildemente tudo a Deus, porque só Ele conhece tudó. N ão procuremos sondar os secretos juízos de D e u s:— Humildes, alegrai-vos; pobres, estremecei

de alegria, porque o reino de Deus está entre vós, se cami­ nhardes na verdade (3).

Felizes daqueles que ouviram, como Bernardette de Lourdes, esta palavra: Não te prom eto a felicidade nesta

vida, mas na outra. Através de uma revelação especial,

Bernardette vinha assim, saber que estava predestinada, mas carregaria com muitas cruzes na terra. As cruzes supor­ tadas com resignação constituem sinal de predestinação, diz-nos São Tomás. Estas cruzes que cnovem valem mais que uma chuva de diamantes. Depois da morte, havemos de compreender tudo isto (4). A providência aparecerá então absolutamente irrepreensível em todos os seus caminhos.

0 L. 1, c. 24.

(2) Cfr. Ibid., 1. III, c. 14. (3) Cfr. ibid., cc. 28, 36, 58.

(4) N a mesma ordem de idéias, encontram-se muitas vezes povos cristãos e católicos sacrificados, como a Polónia. Parece que a muitos dos seus filhos predestinados o Senhor diz, também: «Não te prometo a felicidade nesta vida, mas na outra».

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. O CONHECIMENTO ‘

:

DA ALMA SEPARADA ' ;

Falámos até aqui das profundezas da alma na vida pre­ sente, após a morte e do juízo particular. Passemos agora a examinar em que consiste a vida futura, primeiro, em geral, depois, em particular no inferno, no purgatório e no céu.

* Para se fazer uma ideia exacta da vida futura em geral, urge apreciar o que a Teologia ensina sobre o conhecimento da alma separada do corpo, da alma que já não possui o uso dos sentidos nem da imaginação. Como este conheci­ mento novo de além-túmulo ilumina a vontade, uma vez elucidados sobre aquele, mais fácil se tornará considerar o estado desta.

Dissemos lá atrás 0 que, na opinião dos grandes teó­ logos, a alma começa a fixar-se, quer no bem quer no mal, pelo último acto da vontade, meritório ou não, que realiza no momento em que vai separar-se do corpo, e acaba de se fixar pelo acto da vontade que realiza no instante exacto em que começa o estado de separação do corpo. Isto expli­ c a t e porque, como dissemos, cada um decide segundo a sua

inclinação. N ão admira, por isso, que o humilde, em estado

(J) Cap. I ll da 2.“ parte.

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de graça, continue a decidir e a querer de acordo com a humildade, no estado de separação. Ao passo que o orgu­ lhoso, que morreu na impenitência final, continua a decidir e a querer segundo o seu orgulho.

Nesta fixação, tanto faz que seja no bem ou no mal, verifica-se sempre qualquer coisa de misterioso, mas o mesmo acontece em muitas situações da vida presente. As disposições que nesta vida mostramos ao ingressar num estado permanente dura, muitas vezes, enquanto dura este estado. Uma criança que vem ao mundo sem incidentes, gozará sempre boa saúde, ao passo que outra nascida em más condições andará sempre doente. D o mesmo modo, sob o ponto de vista moral, aquele quê entra, cristãmente no estado de casamento, muitas vezes permanece nele cris­ tãmente; o que se casa com uma intenção defeituosa ou má, não será abençoado por Deus neste estado, excepto por conversão. D o mesmo m odo ainda, aquele que entra na vida religiosa por um bom motivo, permanece nele o hábito, enquanto aquele que entra nela por um motivo mau não permanece na vida religiosa ou não tira dela nenhum proveito. Assim se explica, de certo modo, a fixação da alma após a morte, fixação afirmada pela Revelação O .

O que vai dizer-se agora sobre o conhecimento da alma separada vem confirmar esta doutrina; este conhecimento encerra, com efeito, uma imutabilidade^ que- é própria do estado de separação.

São Tomás não deixa de abordar esta questão (I, q. 89, q. 10, a. 4-6). Há um princípio que lança muita luz sobre estes problemas: a inteligência humana é a última das inte­ ligências, mas nem por isso deixa de ser verdadeira inteli­ gência, imaterial ou espiritual.

O Mesmo no decurso da vida presente, m uitos daqueles que hão-de ser salvos, praticaram qualquer acto que não foi retratado em seguida, e muitos daqueles que se perdem praticaram qualquer acto particularmente mau. .

O CONHECIMENTO PRETERNATURAL

No documento O Homem e a Eternidade (páginas 57-59)