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I. Das Declarações para memória Futura

1. Declarações para memória futura Breve enquadramento histórico

1.2. O artigo 271.º do Código de Processo Penal: a redacção 1.3. O carácter excepcional

1.4. Da natureza taxativa do artigo 271.º do Código de Processo Penal 2. Enquadramento jurídico

2.1. Fundamentos da antecipação no Código de Processo Penal 2.1.1. Doença grave

2.1.2. Deslocação para o estrangeiro 2.1.3. Juízo de prognose

2.1.4. Crimes do catálogo

2.2. A lei n.º 93/99, de 14 de Julho 2.3. A lei n.º 112/2009, de 16 de Setembro 2.4. A lei n.º 130/2015, de 04 de Setembro 3. Prática e gestão processual

3.1. O impulso processual 3.2. A legitimidade

3.3. A tomada de declarações para memória futura antes da constituição de arguido 3.4. A diligência

3.4.1. A inquirição

3.4.2. O ambiente informal e reservado 3.4.3. O técnico especialmente habilitado

3.5. Leitura e valorização das declarações para memória futura em julgamento 3.5.1. Da Valoração

3.5.2. Da Leitura

3.6. A repetição da prova em julgamento IV. Referências bibliográficas

I. Introdução

O presente guia é elaborado no âmbito do 2.º ciclo, do 33.º Curso de Formação para a denominada «semana temática».

O instituto das Declarações para Memória Futura que no seu início não mais seria que apenas um meio preventivo de salvaguardar a eventual perda da prova, é, actualmente, muito mais: é também um meio de salvaguardar as vítimas, especialmente os menores.

Assim, não poderemos deixar de olhar para instituto das Declarações para Memória Futura de uma forma dupla: de preservação e de protecção.

Na perspectiva de prevenção as declarações para memória futura são uma medida processual de extrema relevância uma vez que permitem conservar e firmar elementos probatórios que, se assim não fosse, iriam perder-se e não chegariam a julgamento. Ainda nesta perspectiva de

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5. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual

preservação a tomada de declarações para memória futura permite colmatar eventuais contrariedades que possam surgir, causadas, nomeadamente pelo decurso do tempo.

Sabemos que a fiabilidade de um testemunho é condicionado pela passagem do tempo, de tal modo que quanto mais tarde for efectuada a produção da prova menor será, em princípio, a atendibilidade dos resultados obtidos. Pelo que, o recurso à tomada de declarações para memória futura irá permitir fixar os elementos probatórios relevantes a partir do primeiro relato presumivelmente mais próximo e espontâneo, evitando o perigo de contaminação da prova.

Na perspectiva de protecção as declarações para memória futura são uma medida processual de extrema importância «humana».

No que importa às vítimas, e com especial atenção às vítimas menores de idade, temos uma necessidade de evitar a vitimização através da repetição de inquirições acerca do mesmo assunto.

Esta repetição, caso não seja evitada, será extremamente dolorosa para a vítima. Assim, com a tomada de declarações para memória futura evitam-se distorções da informação e, consequentemente, a alterações da percepção e relato do facto vivido, o que dificultaria integração psicológica da situação por parte da vítima.

Este guia, acaba assim, por explorar instituto das declarações para memória futura nestas duas de preservação e de protecção, analisando o preceituado quanto a este tema nos artigos 271.º (e 294.º) do Código de Processo Penal, e também na Lei n.º 93/99, de 14 de Julho que regula a aplicação de medidas para protecção de testemunhas em processo penal quando a sua vida, integridade física ou psíquica, liberdade ou bens patrimoniais de valor consideravelmente elevado sejam postos em perigo por causa do seu contributo para a prova dos factos que constituem objecto do processo, na Lei n.º 112/2009, de 16 de Setembro que estabelece o regime jurídico aplicável à prevenção da violência doméstica, à protecção e à assistência das suas vítimas, e na Lei n.º 130/2015, de 04 de Setembro que aprova o Estatuto da Vítima. II. Objectivos

Com as abordagens insertas no presente guia visa-se partilhar com os Colegas Auditores de Justiça uma ideia prática relativamente ao instituto das declarações para memória futura: a norma (quer no Código de Processo Penal, quer noutros diplomas), a sua evolução, os seus requisitos, e a sua existência na prática (a diligência, a inquirição, e a sua valoração em julgamento).

Pretende-se, ainda que fora da parte prática, apontar uma questão com divergência doutrinal: a tomada de declarações para memória futura antes da constituição de arguido, apontando as diferentes posições

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5. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual

Neste guia subordinado ao tema Declarações para Memória Futura apresenta-se inicialmente uma breve abordagem histórica a este instituto, dando a conhecer a sua consagração, e evolução até ao presente momento, e feita uma análise à norma do Código de Processo Penal (artigo 271.º) e suas alterações.

Depois é dado a conhecer o carácter excepcional e a sua natureza taxativa, analisando de seguida os requisitos para a possibilidade de ter lugar a tomada de declarações para memória futura (neste último caso é feita não só referência à situação prevista no artigo 271.º do Código de Processo Penal, mas também das Lei n.º 93/99, de 14 de Julho, Lei n.º 112/2009, de 16 de Setembro e Lei n.º 130/2015, de 04 de Setembro).

Procura-se também com este guia apresentar a prática e gestão processual da tomada de declarações para memória futura, o seu inicio, através de requerimento (o que deve conter e de que documentos de deve fazer acompanhar) chamando a atenção, no caso da legitimidade, para o «plus» fora do artigo 271.º do Código de Processo Penal oferecido pelas Lei n.º 112/2009, de 16 de Setembro e Lei n.º 130/2015, de 04 de Setembro.

Umas das questões no âmbito deste tema de particular relevância é a da tomada de declarações para memória futura antes da constituição de arguido que divide ainda a doutrina. Neste campo apresentamos a divergência doutrinal e as posições tomadas por alguns autores. Descreve-se a diligência de tomada de declarações para memória futura com incidência quanto à inquirição, a qual é feita pelo juiz, podendo em seguida o Ministério Público, os advogados do assistente e das partes civis e o defensor, por esta ordem, formular perguntas adicionais, o que tem vozes contra na doutrina por se entender que assim se permite mais nas declarações para memória futura, do que o que o que está consagrado no disposto no artigo 346.º, n.º 1 do Código de Processo Penal, para o julgamento, no caso da vítima que presta declarações já ser assistente ou parte civil.

Ainda sobre a diligência sublinha-se a importância de minorar tanto quanto possível o impacto negativo do espaço e das condições logísticas da realização da inquirição sobre a criança e a qualidade do depoimento, devendo este ter lugar em ambiente informal e reservado, e refere- se ainda a importância do acompanhamento de técnico especialmente habilitado (ainda que este possa ser dispensado).

Ligado à da tomada de declarações para memória futura, mas já em sede de julgamento aborda-se a valoração e leitura das declarações, sendo que, quanto à necessidade (ou não) de leitura o Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça n.º 8/20171, apreciou esta questão, no

sentido de saber se nos termos do disposto nos artigos 355.º e 356.º, n.º 2, al.ª a), do Código de Processo Penal, as declarações para memória futura, tomadas nos termos do disposto no artigo 271.º do Código de Processo Penal, têm de ser lidas em audiência de julgamento para que os depoimentos possam ser tomados em conta e valorados como meio de prova para a formação da convicção do Tribunal, tendo fixado jurisprudência no sentido de que «as

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5. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual

declarações para memória futura, prestadas nos termos do artigo 271.º do Código de Processo Penal, não têm de ser obrigatoriamente lidas em audiência de julgamento para que possam ser tomadas em conta e constituir prova validamente utilizável para a formação da convicção do tribunal, nos termos das disposições conjugadas dos artigos 355.º e 356.º, n.º 2, alínea a), do mesmo Código».

Por fim a referência ao facto que a tomada de declarações para memória futura, em fase de inquérito ou em fase de instrução, não prejudica a prestação do depoimento em audiência de julgamento.

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