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Documentário enquanto um gênero discursivo compreendido de multimodalidade

Compreende-se a multimodalidade como a coexistência de duas ou mais modalidades de comunicação. As questões acerca da multimodalidade não são novidade, pois o discurso sempre foi multimodal devido à simultaneidade de elementos associados à produção comunicativa: gestos, fisionomias, entonações. Tratando-se de contexto educativo e uso de internet ou produção desses gêneros emergentes por meio de aplicativos, percebemos que muitas linguagens se incluem – som, imagens e texto não se excluem e nem são lidos isoladamente (MAINGUENEAU, 2015).

O gênero documentário se distingue das ficções, porque a depender do seu tipo, ele pode abarcar diversas interações sociais que podem atinar no outro respostas a sua realidade, que talvez ele nunca tenha percebido. É um gênero que traz à tona a realidade, os usos reais da linguagem, onde o interlocutor, aquele que aprecia a produção, estabelece contato com os meandros linguístico e sócio-histórico – por isso, tem caráter dialógico.

Criar documentários com os estudantes ou gêneros emergentes é um desafio para o professor em sala, porque adaptar os conteúdos que compreendem gêneros orais e escritos ao contexto digital ainda é difícil, pois os estudantes muitas vezes não têm maturidade para entender essas propostas de produção textual ou não têm, algumas vezes, internet ou celulares potentes capazes de suportar aplicativos e fazer vídeos. E muitas escolas públicas da Educação Básica não possuem ainda estruturas potentes para o ‘boom’ da tecnologia.

Na educação atual, os gêneros não se concretizam apenas no papel. O estudante muitas vezes já sabe lidar com a leitura e a escrita na rede digital ou sabem produzir vídeos, todavia, é necessário que eles sejam orientados para o manuseio consciente e a proposta da OLP é pertinente nesse sentido.

Pelo caráter holístico da linguagem na contemporaneidade, se faz importante pensar em recursos e estratégias didáticas no ensino de língua que acompanhe os avanços da internet e da cultura audiovisual, primeiro porque não é interessante negligenciar esses avanços nas aulas de língua portuguesa, por causa das interações sociais no meio digital, e segundo, a produção textual escolar em um processo de caráter estrutural não é atrativo: A importância da dimensão icônica se traduz, assim, em dois níveis: de um lado, os enunciados verbais se incrustam nas imagens ou as imagens acompanham os textos; de outro, o próprio conjunto que as imagens e enunciados verbais formam constitui também uma forma trabalhada de si mesma. (MAINGUENEAU, 2015, p. 160).

Os alunos e as alunas das escolas públicas estão a viver essa dimensão icônica por meio das redes sociais, porém, ainda estão num processo de maturação acerca desse uso.

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E a multimodalidade compreende diversas empasses: o trabalho em sala de aula não se prende apenas à figura docente, nem todos os estudantes podem acessar os conteúdos a partir de diversos suportes. Mesmo assim, internet suscitou novos gêneros que trazem a discursividade, logo, faz parte do movimento do movimento das aulas de português, manusear e refletir sobre o uso da rede pelos discentes.

Igualmente, aos gêneros discursivos tradicionais, os digitais ou emergentes possuem suas particularidades e formas de se adaptarem à rede: os fóruns, substituindo as conversas; os blogs, são como os diários; a carta se renova no e-mail; jornais e dicionários em formatos digitais podem ser lidos com o rolar dos dedos e os documentários retratando criticamente as várias realidades. O documentário é um enunciado concreto de comunicação e enquanto gênero do discurso, possui condições específicas de produção e traz “breves réplicas do diálogo do cotidiano” (BAKHTIN, 2000).

São muitas as práticas de escrita e leitura de web ou por meio de aplicativos que utilizam o múltiplo funcionamento de linguagens, por isso podem ser atribuídas ao processo de ensino. Todavia, levando em consideração cada realidade escolar e meio social, o quais os estudantes estão inseridos. O objetivo dessas práticas deveria potencializar a aquisição e troca de conhecimentos numa perspectiva dialógica de linguagem frente à sociedade tecnológica, não apenas se fechar em competições.

Ao pensar nas concepções de Maingueneau (2015), os gêneros do discurso são hierarquizados nessas categorias, as quais ele denomina como cena englobante, cena genérica e cenografia – respectivamente: domínio discursivo, gênero e multimodalidade: Na Web, esse enfraquecimento da cena genérica e da cena englobante (onde se distingue o político, o religioso, o publicitário...) acompanha uma hipertrofia da cenografia digital, quem tem pouco em comum com a cenografia estritamente global. Podem-se efetivamente, distinguir dois tipos de cenografias nos sites: uma cenografia verbal e uma cenografia digital (MAINGUENEAU, 2015, p. 162).

Por esse viés, aspira-se que tudo pode ser situado no contexto digital, inclusive os documentários, a depender de seus campos. Ao produzir documentários em sala de aula é importante mostrar aos estudantes que a linguagem deve ser ajustada conforme os propósitos comunicativos e as pessoas que compreendem qualquer gênero digital (FILHO; SANTOS; RAMOS p. 168, 2017), é preciso instigar um trabalho de adequação da língua ao se produzir esse recurso audiovisual.

Um documentário possui vastas formas de linguagem, que se implementam a fim de produzir sentido àquele que o assiste, sendo um gênero discursivo multimodal capaz de dar novos sentidos às atividades do dia a dia. O prezar e a produção desse gênero do discurso no ambiente escolar vão além do racional e do verbal, se tornando sensorial e multimodal diante de celulares e computadores.

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O vínculo entre educação e o uso de documentários nas práticas

educativas

Os documentários são produções que trazem o recorte de uma realidade específica. Tratando-se de contexto educacional esse gênero compreendido de multimodalidade torna mais ativa a criticidade ao potencializar a retratação vivências, valores, ambientes, situações e pontos de vista, assim ao trabalhar trabalhos envolvendo a multimodalidade de forma que seja:

Prática Situada tem um significado particular bem específico, que remete a um projeto didático de imersão em práticas que fazem parte das culturas do alunado e nos gêneros e designs disponíveis para essas práticas, relacionando- as com outras, de outros espaços culturais (públicos, de trabalho, de outras esferas, de outros espaços culturais). Instrução aberta compreensão sistemática, analítica e consciente dos Designs de significados e dos processos de Design, o que requer a introdução de metalinguagem explícita, que permite descrever e interpretar elementos de Design de diferentes modalidades de significados. Análise crítica, ou seja, de uma metalinguagem e dos conceitos requeridos pela tarefa analítica crítica, ou seja, de uma metalinguagem e dos conceitos requeridos pela tarefa analítica crítica dos diferentes modos de significação e das diferentes “coleções culturais”. (ROJO, 2012, p.30). Rojo esclarece que a escola está empenhada de novas formas de se trabalhar a interação desses vários tipo de linguagem e em plataformas digitais, como YouTube, Instagram, Vimeo ou DailyMotion, os jovens conseguem criar, a partir de telefones de seus telefones móveis, os seus próprios vídeos e compartilhá-los facilmente. Levando em consideração os documentários, percebe-se uma “indústria independente” contemplando esse gênero. É importante nas escolas a exposição dessas possibilidades multimodais para a produção de conteúdo digital – para além da utilidade vulgar às redes sociais.

Os documentários no meio escolar fazem que os espectadores, os estudantes, possam “encarar a realidade” a pensar pelo todo, aliás, é um gênero presente no campo escolar “vinculado a fins pedagógicos, tornando-se sinônimo de filme educativo”(ALENCAR & RIBEIRO, 2016, p. 06), pois implementa conteúdos de diversas disciplinas ou ainda a tratar de temas transversais, ou seja, indo além do pensamento curricular engessado: Na Educação, esta ferramenta traz, necessariamente, reflexões e criticismos sobre os papeis do professor, das autoridades e dos valores sociais enfatizados no sistema escolar (RHODEN; SILVA & OLIVEIRA, 2019, p.05).

Por essa perspectiva, acredita-se que enquanto mecanismo pedagógico, o documentário pode ser utilizado não só como um dispositivo recreativo, visto suas potencialidades reflexivas acaba sendo um recurso dialógico em um viés sócio- histórico e ideológico constituído de um caráter responsivo: o espectador gera respostas ativas ao estabelecer seu ponto de vista diante desse material audiovisual, ou seja, é um gênero formado por enunciados que impulsiona outros enunciados naquele que o assiste.

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