• Nenhum resultado encontrado

O hipertexto, visto como um espaço de estéticas renovadoras, difundido devido aos avanços tecnológicos, vem explorar uma moderna maneira de se construir sentidos, abandonando as ideias de linearidade, hierarquia e limitação espacial, bem como manifestando o interesse em tornar evidente uma proposta que modifica os liames presentes no texto impresso. A liberdade, outrora destinada ao autor do texto, com o hipertexto fica ao encargo do leitor, que faz suas escolhas, direcionando seus interesses em relação ao texto de forma ampla, sem a preocupação de seguir caminhos pré- estabelecidos.

Essa construção de significados está de acordo com a gama de informações veiculadas na internet. O acesso a elas, antes limitado a materiais impressos, passou a se expandir devido à facilidade de interação com a realidade. O que necessitava do aval do autor para poder ser apreendido, hoje, pode ser explorado a partir das escolhas individuais do leitor, chamado de hiperleitor, o qual carece de algumas habilidades relacionadas ao mundo digital. Nesse sentido e consoante Ribeiro e Coscarelli (2014), para ser considerado letrado digital, é imprescindível que o usuário da internet saiba: i) comunicar- se em diferentes situações para fins pessoais e/ou profissionais; ii) buscar textos diversos, relacioná-los e compreendê-los; iii) selecionar informações pertinentes e verificar sua credibilidade de modo crítico.

Como a natureza do hipertexto se caracteriza pelo suporte digital em que aparece e se difere do texto impresso, como afirma Lévy (1993, p. 24):

Os hipertextos podem propor vias de acesso e instrumentos de orientação em um domínio do conhecimento sob a forma de diagramas, de redes ou de mapas conceituais manipuláveis e dinâmicos. Em um contexto de formação, os hipertextos deveriam, portanto, favorecer, de várias maneiras, um domínio mais rápido e mais fácil da matéria do que através do audiovisual clássico ou do suporte impresso habitual.

Aproximando-se das colocações do autor, compreendemos que os espaços de formação, como o ambiente escolar, apropriam-se muito bem da proposta descentralizada do hipertexto se este conseguir expandir seus recursos para usos educativos, já que, graças a um ambiente interativo e acessível, o hipertexto toma lugar de grande importância para o ensino, com alunos desenvolvendo papel fundamental na construção da própria aprendizagem.

Na esteira de uma realidade voltada para leituras cujos espaços de interação se modificaram com o avanço das tecnologias, o hipertexto propicia uma concepção dinâmica de se fazer leituras, exigindo dos interlocutores um compartilhamento de informações diferente daquele que une o leitor ao texto tradicional.

Não se pode deixar de enfatizar que é importante saber realizar as escolhas necessárias em um ambiente fora dos padrões do texto impresso, sabendo que existe uma

95

complexidade muito grande nas maneiras de acessar as informações, entrelaçá-las e ampliá-las. Para Marcuschi (2001), a capacidade de subverter e modificar a compreensão que se tinha de leitura e escrita pode ser vista com ressalvas por causa da volatilidade que o hipertexto carrega, em função das muitas possibilidades de o leitor mudar de posicionamento quando bem desejar, fugindo do caminho que a Linguística perfaz em relação à coerência do texto. Contudo, é premente abranger as conexões ilimitadas, interativas e multissemióticas do universo hipertextual, transformando os diferentes cotidianos/lugares onde nos inserimos.

De acordo com Komesu (2005, p. 90), a construção de sentido

é indispensável em uma reflexão sobre o hipertexto. O epíteto “revolução das revoluções” é comumente atribuído ao hipertexto. Celebra-se a novidade desse espaço cujo traço principal seria a liberdade de expressão (do autor) e de escolha (do leitor), com a manifestação de práticas que estariam desvencilhadas das restrições do mundo impresso, e que seriam impulsionadas pela hipermídia e pela circulação das informações em rede mundial.

Todavia, com base no que foi considerado, ao visualizarmos o ambiente hipermidiático como sendo a única forma de o leitor se deparar com tudo aquilo de que necessita, para alterar as relações intertextuais, estaremos cometendo um erro, visto que o leitor nem sempre está disposto, através de seus interesses comunicativos, a aprofundar ou alterar o sentido do texto, passando a aproximar-se do leitor de textos impressos, conforme nos avisa Possenti (2002, p. 71):

Posso estar simplificando, mas me pareceu que o leitor que emerge dos textos sobre hipertexto é constituído um tanto paradoxalmente. Por um lado, ele é todo poderoso, pelo menos mais poderoso do que o autor, tanto que decide ir por aqui ou por ali segundo seus interesses pelos links que quer visitar. Mas, por outro lado, surge assim um leitor sem história ou sem interesses. Um leitor sem história é um leitor não só sem ideologia, mas também sem profissão, sem nenhuma pressão do mercado e das instituições, pressões que, acredito, o levam a fazer com as possibilidades do hipertexto aquilo que deve fazer de qualquer forma.

Portanto, para Possenti (2002), não é o ambiente hipertextual que promove uma maior acessibilidade ao texto, mas, sim, leitores que têm sua história de vida, assim como suas ideologias, que se comprometem a ler aquilo que podem/escolhem e não somente aquilo que lhes é mais acessível. Cabe, então, à escola, um dos ambientes privilegiados para a (re)construção de sentidos, explorar eficientemente as possibilidades críticas e criativas dos estudantes com vistas às diversas práticas sociais de leitura e escrita.

Considerações finais

Procurou-se, no presente trabalho, fazer uma breve discussão sobre o hipertexto no ambiente escolar e sobre como o leitor passou a desenvolver, a partir dessas leituras, um papel mais independente em relação às próprias escolhas, sendo, juntamente com o autor, o que Koch (2007, p. 34) chama de “colaboradores ativos”, que, ainda segundo a autora, não seria privilégio somente do hipertexto. Apesar do que foi visto no artigo, ainda

96

há muito a ser explorado sobre a dinâmica hipertextual, com o intuito de torná-la um meio mais democrático de ver o texto, mas sem desconsiderar a importância do texto impresso. Tendo em vista a quase impossibilidade de apartar-se desse novo formato de texto, é importante ressaltar que o presente estudo não pretende usurpar a importância dos livros impressos, embora reconheça que as distâncias aumentaram em relação às vantagens que cada formato de texto promove em termos de acessibilidade, o que faz do hipertexto uma realidade cada vez mais recorrente em ambientes formais e informais, sejam eles no âmbito escolar, doméstico ou profissional.

Assim, é notório que o hipertexto possibilita diversificadas formas de ler e de escrever, práticas essas que, como já foi dito anteriormente, propõem-se a tornar leitura e escrita mais colaborativas. É a potencialização do texto, visto que ele não se limita mais à linearidade do papel e ganha outros espaços abertos na tela do computador. Aprender a lidar com tal realidade dos textos é de extrema importância social, pois, ao aproveitar o potencial cognitivo, interativo e multimodal dos hipertextos, enriquecemos o processo pedagógico e contribuímos para o despertar de saberes que, para além da sala de aula, podem promover o desenvolvimento humano em uma sociedade cada vez mais entrelaçada em redes digitais.

Referências

ANTUNES, I. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.

BRAGA, D. B. A comunicação interativa em ambiente hipermídia: as vantagens da hipermodalidade para o aprendizado no meio digital. In: MARCUSCHI, L. A; XAVIER, A. C. (orgs.). Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção de sentido. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004, p. 144-162.

COSCARELLI, C. V. Os dons do hipertexto. Littera: revista de Linguística e Literatura, Pedro Leopoldo, Faculdades Integradas Pedro Leopoldo, v. 4, n. 4, p. 1-15, jul./dez. 2006.

Disponível em:

http://www.letras.ufmg.br/carlacoscarelli/publicacoes/DonsDoHipertexto.pdf. Acesso em: 10 jan. 2018.

FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 1989.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.

KOCH, I. G. V. Hipertexto e construção do sentido. Alfa, São Paulo, v. 51, n 1, p. 23-38, 2007. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/alfa/article/view/1425. Acesso em: 10 jan. 2018.

KOCH, I. G. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender os sentidos do texto. 3 ed., 10ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2014.

97

KOMESU, F. Pensar em hipertextos. In: ARAÚJO, J. C; BIASI RODRIGUES, B. Interação na Internet: novas formas de usar a linguagem. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005, p.87-108.

LÉVY, P. As tecnologias da inteligência: futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993.

MARCUSCHI, L. A. O hipertexto como um novo espaço de escrita em sala de aula. Linguagem & Ensino, v. 4, n. 1, p. 79-111, 2001. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/view/15529. Acesso em: 25 jun. 2020.

POSSENTI, S. Notas um pouco céticas sobre hipertexto e construção de sentido. Educar em Revista, Curitiba, v. 18, n. 20, p. 59-75, 2002. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/educar/article/view/2098/1750. Acesso em: 15 jun. 2018.

RIBEIRO, A. E.; COSCARELLI, C. V. Letramento digital. In: FRADE, I. C. A. S.; VAL, M. G. C.; BREGUNCI, M. G. C. (orgs.). Glossário Ceale: termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores. Belo Horizonte: UFMG/Faculdade de Educação, 2014. ROJO, R.; MOURA, E. (orgs.). Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.

XAVIER, A. C. S. Hipertexto na sociedade da informação: a constituição do modo de enunciação digital. 220f. Tese (Doutorado em Linguística). Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem. Campinas, 2002. Disponível em: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/269080 . Acesso em: 14 mai. 2018. XAVIER, A. C. S. Leitura, texto e hipertexto. In: MARCUSCHI, L. A.; XAVIER, A. C. (Orgs.). Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção de sentido. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004, p. 170-180.

98

Capítulo

6

O significado representacional na construção

Outline

Documentos relacionados