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Um estado de emergência prolongado destruiria a estrutura, isto é, a simplificaria transfor­ mando-a numa estrutura de ordem inferior Um exemplo médico de simplificação num nível inferior

9, A possibilidade neurótica na fronteira-de-contato

6. Um estado de emergência prolongado destruiria a estrutura, isto é, a simplificaria transfor­ mando-a numa estrutura de ordem inferior Um exemplo médico de simplificação num nível inferior

é a lobotomia ou qualquer outra extração. O problema é se os diferentes “tratamentos de choque” nao funcionam de maneira semelhante gerando uma emergência delimitada fatal.

ceptor quanto do proprioceptor. Pois é extremamente improvável, embora concebível, que o perigo ou a frustração crônicos continuassem por muito tempo separados um do outro. Considere simplesmente que o perigo dimi­ nui a oportunidade de satisfação num campo que, para começar, é um tanto quanto precisamente ajustado; nesse caso a frustração se intensifica. Con­ tudo, a frustração aumenta a premência da exploração e diminui a oportuni­ dade de uma seleção escrupulosa; cria ilusões e suprime a deliberação, e desse modo aumenta o perigo. (Isto é, quer enfatizemos primordialmente a insegurança, quer o instinto de ansiedade, todos os terapeutas concorda­ riam que essas desordens se agravam mutuamente até chegar a um resul­ tado neurótico.)

Na emergência crônica de baixo grau que estamos descrevendo, que arranjos da fronteira-de-contato tendem a uma possível simplicidade do campo? Ambas as funções de emergência, o ocultamento deliberado e a hiperatividade não deliberada entram em ação, da seguinte maneira: numa reação que é diferente daquela na emergência crítica, a atenção se afasta das exigências proprioceptivas e a percepção do corpo como parte do ^ //d im i­ nui. A razão disso está em que as excitações proprioceptivas são a ameaça mais controlável em meio aos distúrbios que se agravam mutuamente. Com res­ peito à ameaça ambiental mais direta, por outro lado, a atenção é intensifica­ da para enfrentar o perigo, mesmo quando este não existe. Contudo, o que semelhante estado de atenção fornece é “alienígena”, irrelevante para qual­ quer awareness sentida de si próprio, pois o proprioceptivo foi reduzido. E, no estado de atenção, os sentidos (receptores) não se estendem expansivamen- te, mas, mais comumente, retraem-se diante do golpe esperado; desse modo, se o processo prossegue por muito tempo, o estado de vigilância deliberada com relação ao perigo toma-se um estado de prontidão muscular em lugar de um estado de aceitação sensorial: um homem olha fixamente, mas não enxer­ ga nem um pouco melhor por isso; de fato, dentro em pouco enxergará pior. E tudo isso vem acompanhado, mais uma vez, de uma prontidão habitual para fugir, mas sem realmente o fazer e liberar a tensão muscular.

Resumindo, temos aqui a conjuntura típica da neurose: propriocepção

subconsciente e finalmente percepção, e hipertonia da deliberação e da muscularidade. (Contudo, insistamos novamente que essa condição não é

disfuncional, na emergência crônica de baixo grau específica, porque o que é visto e sentido é desinteressante por ser alienígena, e provocador de perigo por ser uma tentação ao desejo; e o perigo é iminente).

Nesse ínterim, entretanto, a função segura da consciência, para tentar exaurir as tensões internas por meio de atividade da fronteira em isolamento, intensifica-se ao máximo possível— há sonhos, desejos frívolos, ilusões (pro­ jeções, preconceitos, pensamentos obsessivos etc.). Contudo, note que a se­ gurança dessa função depende precisamente de mantê-la isolada do resto do

sistema. Sonhar é algo espontâneo e não deliberado, mas garantir que sonhar acordado não se transforme em movimento implica deliberação.

10. "Mente"

Na situação de emergência crônica de baixo grau que estivemos des­ crevendo, o sentido, a iniciação de movimento e o sentimento são inevita­ velmente apresentados como “Mente”, um sistema único e isolado.

Recapitulemos a situação a partir desse ponto de vista:

1) A propriocepção é diminuída ou anulada seletivamente (por exem­ plo, cerrando os dentes, enrijecendo o peito ou a barriga etc.). Assim a rela­ ção funcional entre os órgãos e a consciência não é sentida de imediato, mas as excitações que chegam têm de ser “levadas em consideração” (e então teorias abstratas, como esta nossa, são inventadas).

2) A unidade “desejado-percebido” é dividida; a sensação não se ma­ nifesta nem antecipada nem reativamente, e a figura perde vivacidade. Des­ se modo a unidade funcional de organismo e ambiente não é imediatamente

consciente e motora. Então o “Mundo Externo” é percebido como alienígena,

“neutro”, e portanto matizado de hostilidade, pois “todo estranho é um inimi­ go”. (Esta é a razão de certo comportamento obsessivo, paranóico e “esteri- lizante” da ciência positivista.)

3) A deliberação costumeira e a autoconstrição não relaxada colorem todo o primeiro plano da awareness e produzem um sentimento exagerado do exercício da“Vontade”, e isto é considerado a propriedade mais difundi­ da do self Quando “quero mover minha mão pela força de vontade”, sinto a força de vontade, mas não sinto minha mão; mas a mão se move, e portan­ to a força de vontade é algo que está em alguma parte, está na mente.

4) A operação sem risco do sonho e da especulação é maximizada e desempenha um papel desproporcional na awareness de si próprio do orga­ nismo. Então as funções da fronteira de retardamento, cálculo e restaurativas são consideradas como as atividades principais e finais da mente.

O que estamos debatendo, então, não é o fato de que essas concepções, Corpo, Mente, Mundo, Vontade, Idéias são erros costumeiros que podem ser corrigidos por meio de hipóteses e de verificação rivais; nem, mais uma vez, que elas sej am designações semânticas errôneas. Mais exatamente, elas São dadas em uma experiência imediata de certo tipo, e podem perder sua premência e seu valor comprobatório somente se as condições dessa expe­ riência forem mudadas.

Permitam-nos enfatizar a importância lógica da psicologia. Se deter­ minada deliberação não relaxada está criando uma descontinuidade, e des­ se modo alterando o tipo de figura que se apresenta habitualmente na per­

cepção, é a partir destas percepções como observações básicas que proce­ demos logicamente. O recurso a novos “protocolos” não alterará fácil ou rapidamente a conjuntura, pois esses “protocolos”, por sua vez, são perce­ bidos com o mesmo feitio mental. Assim, o caráter sociopsicológico do ob­ servador tem, em assuntos desse tipo, de ser considerado como parte do contexto no qual se faz a observação. Dizer isso é adotar uma variedade da “falácia genética” e, o que é pior, uma variedade particularmente ofensiva da argumentação a d hominem: e no entanto isto é assim mesmo.

(Ficará evidente por tudo isso que a psicoterapia não é a aprendiza­ gem de uma teoria verdadeira a respeito de si mesmo — pois como apren­ der tal teoria contra a evidência de nossos próprios sentidos? Mas ela é um processo de situações de vida experimentais que são arriscadas como as ex­ plorações do obscuro e do desconhecido, e ainda assim, ao mesmo tempo, são seguras a ponto de possibilitar que a atitude deliberada possa serrelaxada.)