3 0 significado de "conflito"
I. Resignation, em inglês, tem tanto o sentido de resignação quanto o de renúncia (N do T.)
lução criativa com a mudança e a assimilação dos fatores beligerantes, há um alívio do sofrimento e o excitamento completado do novo todo criado. Isto é positivo. Não há nenhuma sensação de conquista e nenhum objeto para dominar, porque na verdade as vítimas desapareceram, estão destruídas e assimiladas. Na paz positiva, paradoxalmente, há o entusiasmo da vitória sem o sentimento da conquista; o sentimento principal é a animação das novas possibilidades, porque há uma nova configuração. Assim a Vitória é retratada como sendo alada, estando na ponta dos pés, olhando para a frente.
Há uma paz positiva também na derrota esmagadora, se chegamos aos nossos limites, exaurimos todos os recursos e não contivemos o máximo de raiva. Porque por meio do acesso de raiva e do trabalho de luto a necessidade de ter o que é impossível é aniquilada. O novo self é melancólico, mas está inteiro; isto é, sua animação é restrita nas novas condições, mas não intemalizou o conquistador nem se identificou com ele. Desse modo, Péguy, por exemplo, descreveu lindamente como os suplicantes nas tragédias gregas têm mais for ça do que os conquistadores arrogantes.
A paz da conquista, entretanto, na qual a vítima ainda existe e tem de ser dominada, é uma negação como paz: o sofrimento do conflito cessou, mas a figura da awareness não está animada por novas possibilidades, por que nada se resolveu; o conquistador e a vítima e suas relações continuam a ser o foco. O conquistador está vigilante, a vítima está ressentida. Nas guer ras sociais observamos que uma semelhante paz negativa não é estável; há situações inacabadas demais. Como é que na autoconquista a pacificação demonstra ser de alguma maneira estável, e o sei/conquistador pode conti nuar a dominar por décadas a parte alienada de si próprio? Porque na verda de a vitalidade de todo impulso natural é forte; ela pode ser alienada, mas não aniquilada. Seria de se esperar que fosse forte demais para ser subjuga do por muito tempo pelo medo ou pela necessidade de afeição. Por que o conflito não recomeça assim que há uma mudança favorável na situação?
É porque agora o self obtém uma satisfação positiva enorme de sua identificação com a autoridade forte. Como um todo, o self foi derrotado, porque não se permitiu que seu conflito amadurecesse e se tomasse alguma coisa positiva e nova; mas o self que se identifica pode dizer agora: “Eu sou vitorioso”. Essa satisfação intensa é arrogância. Quais são os elementos?
Em primeiro lugar, além do alívio da cessação do processo de sofrer o conflito, há o alívio expansivo pela cessação das pressões da ameaça de derrota, de vergonha e humilhação; adotando um outro papel, a arrogância é expansiva, atrevida, confiante. Em segundo lugar, existe a satisfação mo desta do vangloriar-se, uma espécie de vaidade, em termos freudianos, o superego está sorrindo com desdém para o ego. Em terceiro lugar, o self orgulhoso arroga-se as virtudes imaginadas das autoridades: força, direitos, sabedoria, inculpabilidade. Em último lugar, o que é mais importante, e de
modo algum é uma ilusão, o self arrogante pode agora exercer sua agressão e provar continuamente que é um conquistador, porque a vítima está sem pre disponível para a dominação. A estabilidade do caráter resignado não se deriva do fato de ter desistido “de uma vez por todas”, mas do fato de que a agressão é exercida de modo contínuo. Infelizmente, a principal vítima da agressão somos nós mesmos, sempre disponíveis para sermos surrados, pisoteados, espremidos, mordidos, e assim por diante. Dessa maneira, o aumento aparente da força e da agressividade é uma fraqueza que aleja. (No começo poderá até haver um florescimento genuíno de saúde, porque fize mos um ajustamento, mas as conseqüências vêm depois.) A energia está presa na contenção do impulso estranho. Se a tensão interna tomar-se de masiado grande, a ameaça interior é projetada e encontramos bodes expiatórios: estes são outras pessoas que têm, ou a quem pode ser atribuído, nosso próprio impulso estranho e ofensivo. Estas se somam à lista das víti mas e aumentam a arrogância e o orgulho.
Tomemos cuidado ao examinar exatamente o que é lamentável nesse pro cesso. Os elementos de expansividade, ideal de ego e o fato de arrogar-se virtu des não constituem como tal uma atitude infantil sem atrativos; isto é um orgulho ruborizado, é regozijar-se com a auto-aprovação e a aprovação social, e dizer: “Olha que cara legal que eu sou!” E uma espécie de exibição, que pro vavelmente só é ofensiva para aqueles que estão decepcionados ou têm inveja. Quando se acrescenta o quarto elemento, a agressão irrestrita, a conjuntura tor na-se mais sombria, terrível, mas mesmo assim ainda não é ameaçadora. Onde há o orgulho absoluto do self t a agressão exteriorizada e desenfreada, temos o verdadeiro conquistador, um espetáculo louco como uma torrente ou outra for ça irracional, destruindo tudo e em breve também destruindo a si próprio; esta é a combinação de amor-próprio, autoconfiança e força sem a auto-regulação ou a regulação interpessoal da necessidade orgânica ou do propósito social. Uma semelhante loucura atroz não deixa de ter grandeza; tanto nos maravilhamos com ela como tentamos aniquilá-la.
O autoconquistador fraco sonha naturalmente com essa imagem gran diosa; seu conceito de si próprio é inteiramente ilusório; não se nutre de sua energia. O verdadeiro conquistador é um criador atormentado que se autonomeia para o papel e o desempenha. O autoconquistador renunciou a si próprio e foi nomeado para outro papel por outra pessoa.
7. Autocontrole e "caráter
Portanto, sob a necessidade superficial de vitória e do apego à segu rança está uma arrogância e uma presunção extraordinárias; é só embaixo
que deparamos com a resignação. A presunção afirma-se por ser capaz de indicar que pode de fato mostrar serviço, ser forte, porque sua vítima está sempre disponível. O comentário típico é: “Sou forte, sou independente, posso aceitar ou recusar (o sexo)”. Todo exercício de autocontrole, como é denominado, é uma prova da própria superioridade.
Mais uma vez surge uma dificuldade, em particular em nossos costu mes; os fundamentos sociais da auto-estima são ambíguos. É necessário provar não apenas que somos fortes, mas também que somos “potentes”, sexualmente excitáveis. Essa exigência contraditória só pode ser satisfeita se o ato amoroso puder se tomar suficientemente sadomasoquista para poder empregar a agressão como um pré-sentim ento liberador da sexuali dade, e a sexualidade, por sua vez, como um meio de ser punido, para diminuir a ansiedade
A autoconquista é valorizada no plano social como “caráter”. Um ho mem de caráter não sucumbe à “fraqueza” (essa “fraqueza” é em realidade o Eros espontâneo que realiza toda criação). Ele pode arregimentar sua agres são para fazer prevalecer seus “ideais” (“ideais” são normas às quais nos resignamos). A sociedade anti-sexual que baseia sua ética no caráter— tal vez um pouco mais nos séculos imediatamente anteriores ao nosso do que hoje em dia — atribui toda realização à repressão e ao autocontrole. E de terminados aspectos de nossa civilização se devem provavelmente ao cará ter: a saber, sua fachada ampla e vazia, a mera quantidade, seu frontispício imponente, porque estas constituem as provas sempre necessárias da domi nação dos homens e da natureza, são provas de potência, Contudo, a graça, a simpatia, a força, o bom senso, a alegria, a tragédia, estas são impossíveis para pessoas de caráter.
Mesmo assim, dadas semelhantes satisfações importantes do self a li berdade de exercer a agressão e o prestígio social supremo, a autoconquista é uma integração parcial viável: resulta apenas numa felicidade reduzida, em doença pessoal, na dominação e miséria dos outros e no desperdício de ener gia social. Tudo isso pode ser tolerado. Entretanto, de repente as repressões começam a falhar devido à difusão geral de luxúrias e tentações; a auto-esti- ma se enfraquece pela insegurança e a insignificância sociais; o caráter não é premiado, e a agressão expansiva é tolhida nos empreendimentos civis, de modo que a agressão só é exercida contra o self; nessa situação dos tempos atuais a autoconquista assoma em primeiro plano como centro da neurose.
8. A relação entre teoria e método
O que um teórico vê como o “centro da neurose” depende em parte de semelhantes condições sociais como as que descrevemos. Mas, em
parte, depende naturalmente do método de terapia empregado (e o méto do por sua vez depende de fatores sociais como o tipo de paciente, o crité rio de saúde etc.).
No método explicado neste livro, em que se tenta ajudar o self a se in tegrar, estendendo as áreas de vitalidade para incluir áreas mais amplas, a resistência principal se encontra na relutância do s e lft m crescer. O self re freia seu próprio desenvolvimento em andamento.
Na técnica ortodoxa, na qual o paciente apresentava os seus conteúdos de id de forma passiva, irrefletida e irresponsável, o que impressionava o terapeuta era o entrechoque entre esses conteúdos e as normas sociais; a tarefa da integração era um reajustamento mais viável. Posteriormente esse con ceito foi considerado insuficiente; a resignação e a deformação de caráter do paciente assomavam no centro. Entretanto, devemos assimilar uma con tradição extraordinária e quase ridícula na terminologia usual das teorias de análise do caráter.
Vimos que, identificando-se com a autoridade, o sei/exerce sua agres são contra seus impulsos alienados, por exemplo, sua sexualidade. É o self que é o agressor; ele conquista e domina. Não obstante, de maneira estra nha, quando os analistas de caráter vêm falar da fronteira entre o self e o alheio, de repente mencionam não as “armas do s e lf\ mas as “defesas do
s e lf\ sua“couraça defensiva” (Wilhelm Reich). Considera-se que o se lf ao
controlar o sistema motor, ao desviar deliberadamente a atenção e asfixiar as tentações, esteja se defendendo contra as ameaças que vêm de dentro! Qual a razão desse estranho erro crasso? É que o self não é levado a sério pelo terapeuta. Ele pode falar a seu respeito da maneira que lhe convier, porque praticamente não é nada. Para ele, só existem duas forças, a autori dade e os instintos; e primeiro o terapeuta, e não o paciente, atribui poder àquela, e em seguida atribui rebeldemente poder a estes.
Mas há outra coisa: o self do paciente, e este tem de ser levado a sério pelo terapeuta, porque, repetindo, é só o self que realmente está disponível para ser ajudado. As normas sociais não podem ser alteradas na psicoterapia, e os instintos não podem ser alterados de maneira alguma.