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6 0 "trauma" com o situação inacabada

12. Irresponsabilidade infantil

4) Por último, Freud considerou o amadurecimento como tomar-se um genitor (pai) responsável em lugar de uma criança irresponsável. No esque­ ma de Freud isto ocorreria após a evolução normal das escolhas-objetais, do auto-erótico ao heterossexual, passando pelo narcisista-homossexual (ego-ideal e turmas). Ele imagina uma introjeção saudável precoce do pai (e a identificação com este); e então a maturidade é aceitar esse introjeto como sendo nós mesmos e assumir o papel de pai (posteriormente objetare­ mos à sua linguagem aqui, mas ele estava evidentemente descrevendo o seu próprio caráter).

Parafreudianos posteriores aprenderam a suspeitar da autoridade pa­ terna e de outras autoridades, e de preferência enfatizam o contraste entre a “criança irresponsável” e o “adulto responsável”, responsável por seus atos e por suas conseqüências. Parece que a responsabilidade nesse sentido sig­ nifica um tipo de relação contratual com outros adultos.

Podemos interpretar ainda esse crescimento para a responsabilidade como sendo a auto-regulação-organísmica num campo em mudança. A irresponsabilidade de uma criança deriva de sua dependência: na medida em que é parte íntima do campo dos pais, não é responsável por seu com­ portamento para si própria. Quando se dá a ela mais mobilidade, fala sig­ nificativa, relacionamentos pessoais e escolhas, ela começa a exigir de si própria, a querer seriamente uma correspondência mais acurada entre a promessa e o desempenho, a intenção e o compromisso, a escolha e as con­ seqüências. E o relacionamento contratual não é assumido tanto como um dever como quanto um desenvolvimento do sentimento de simetria que é muito intenso nos mais jovens. Na etapa em que nos tomamos uma autori­ dade, um professor, um pai ou uma mãe, o campo se alterou de novo: porque a pessoa independente está agora menos por conta própria, já que outras pessoas se ligam espontaneamente a ela ou dependem dela simplesmente porque ela tem habilidade, e ela lhes proporciona, por sua vez, oportunida­ des para novos atos expansivos. E raro uma pessoa que cresça tão madura a ponto de aconselhar, guiar e cuidar sem constrangimento, dominação etc.,

mas simplesmente com noblese oblige, desistindo de seus interesses “in­ dependentes” como sendo realmente menos interessantes.

Sob esses aspectos uma criança não é responsável. Contudo, há uma base subjacente de responsabilidade na qual toda criança é superior à maioria dos adultos. Esta é a seriedade, mergulhar na tarefa seriamente, mesmo que esta tarefa seja uma brincadeira. Uma criança desiste por capricho, mas en­ quanto está empenhada ela se entrega. O adulto, em parte porque está tão preocupado em ser responsável por si próprio, se entrega menos seriamen­ te. Mais uma vez, é só a pessoa talentosa que retém essa habilidade da in­ fância; o adulto típico se encontra preso na responsabilidade com relação a coisas nas quais não está profundamente interessado. Em nossos dias não ocorre de o homem comum ser irresponsável, não se manter firme; mais exatamente, ele é responsável demais, fica cumprindo o horário do relógio, não cede à doença ou à fadiga, paga suas contas antes de ter certeza de ter comida, cuida da própria vida de maneira demasiado limitada, não se arris­ ca. Não seria mais sábio, portanto, trazer para o primeiro plano, em lugar da responsabilidade e sua mera negação, a oposição da infância de seriedade e capricho, ambos positivamente valiosos?

Séria é a atividade na qual nos empenhamos e da qual não podemos desistir, porque o self como um todo mais compacto está envolvido no completamento de uma situação que envolve a realidade; a brincadeira é mais caprichosa, porque a realidade é alucinada e podemos desistir. Se disser­ mos a uma pessoa: “Isto é um comportamento irresponsável”, ela se sente culpada e, tentando se corrigir, se refreia. Contudo, se dissermos: “Você não está levando isso a sério”, ela poderá ou não decidir que tem intenção de levar aquilo a sério; poderá admitir que está brincando, ou mesmo que se trata de um simples capricho. Se tiver intenção de levar a coisa a sério, nesse caso prestará atenção à realidade do objeto e à sua relação com ele, e este é um gesto de crescimento. Uma pessoa irresponsável é aquela que não leva a sério o que é necessário. Um diletante brinca caprichosamente com uma arte, ele está agradando a si mesmo, mas não tem nenhuma responsabilida­ de quanto aos resultados; um amador brinca caprichosamente com a arte, ele é responsável por ela (por exemplo, com seu meio e sua estrutura), mas não necessita se empenhar nela; um artista leva a sério a arte, e está empe­ nhado nela.

13. Conclusão

Concluímos que falar de uma “atitude infantil” como algo a ser trans­ cendido, e de uma “atitude madura” como um objetivo contrastante a ser alcançado é um emprego inadequado das palavras.

Com o crescimento, o campo organismo/ambiente se modifica: isto contribui para mudanças nos tipos de sentimento e também para mudanças no significado, os objetos relevantes, de sentimentos persistentes. Muitos traços e atitudes das crianças deixam de ser importantes; e há traços adultos que são novos, porque o aumento da força, do conhecimento, da fertilidade e da habilidade técnica constitui de fato, progressivamente, um novo todo. Ao mesmo tempo, muitas vezes são só os objetos relevantes que são altera­ dos; não devemos deixar de notar a continuidade de sentimento, como é costumeiro numa sociedade neurótica que tanto projeta uma avaliação fal­ sa da infância como considera muitas das faculdades mais belas e úteis da condição adulta, manifestas nas pessoas mais criativas, como sendo mera­ mente infantis.

Especialmente em terapia, a deliberação costumeira, a factualidade, a falta de comprometimento e a responsabilidade excessiva, traços da maio­ ria dos adultos, são neuróticos; enquanto a espontaneidade, a imaginação, a seriedade, a jovialidade e a expressão direta do sentimento, traços das crianças, são saudáveis.