• Nenhum resultado encontrado

A Guiné nas origens do império

Cada história convencional da «expansão portuguesa» inicia-se, inva- riavelmente, com a tomada de Ceuta, em 1415.6Contudo, ao assumir-se

a noção de império – aqui entendida como um vasto domínio suprater- ritorial, capaz de manter unidas populações diferentes graças à força e am- bição do poder oficial –, a datação mais certa parece ser a dos meados do século XV. Foi então que, em nome da sua pretendida potestade universal,

o pontífice emitiu os documentos que continham os fundamentos legais do que a partir do início do século XVIseria o império português. Ao con-

trário do que retém uma opinião apologética ainda corrente, as bulas pro- mulgadas pela cúria romana, nos anos 50, em primeiro lugar, a Dum Di-

versas (1452) e a Romanus Pontifex (1455), não respondiam ao pedido de

autorizar um projecto de conquista territorial mas, de forma bem mais concreta e pontual, ao objectivo de garantir à coroa portuguesa o acesso exclusivo a um comércio que era ainda recente: o dos escravos das costas da África ocidental.7Em particular, no contexto do duro conflito dinástico

peninsular, a rivalidade sobre este tráfico com Castela, a qual, como outras monarquias europeias, organizava expedições atlânticas nas mesmas áreas onde também os portugueses exploravam, transformara-se num choque aberto. Tal como nos anos 30 em relação à jurisdição sobre as ilhas Caná- rias, isto levou a recorrer à arbitragem do papa.8

6É assim também na mais recente obra deste género: João Paulo Oliveira e Costa, José Damião Rodrigues e Pedro Aires Oliveira, orgs., História da Expansão e do Império Português (Lisboa: Esfera dos Livros, 2014).

7A ideia de as bulas serem motivadas, prioritariamente, por uma exigência de soberania sobre territórios foi ainda retomada por Ivana Elbl, «The Bull Romanus Pontifex (1455) and the European trading in Sub-Saharan Atlantic Africa», Portuguese Studies Review, 17 (2009, mas 2012): 70-71, 76, onde se afirma que outros historiadores insistiram errada- mente sobre uma interpretação da bula Romanus Pontifex como licença para reduzir a es- cravidão outros homens, sendo que a escravatura caíra em desuso.

8Peter H. Russell, «El descubrimiento de Canarias y el debate medieval acerca de los de- rechos de los príncipes y pueblos paganos«, Revista de História Canaria, 36 (1978): 9-32.

As crónicas coevas informam como, depois dos assaltos e capturas ini- ciais, quando a cúria concedeu as bulas, já havia algum tempo que os portugueses adquiriam os escravos junto de tratantes activos na região indicada nas fontes da época como «Guiné». Pode-se seguir a narrativa atribuída a Diogo Gomes, onde se lê a descrição de uma expedição or- ganizada pelo infante D. Henrique, por volta de 1445, a sul de Arguim, próximo do cabo Timris:

A ilha de Tider [i. e., Tidra] encontraram-na cheia de homens e de mulhe- res. Só eu, Diogo Gomes, almoxarife de Sintra, apanhei 22 pessoas que se ti- nham escondido e empurrei-as sozinho diante de mim, como animais, por meia légua até aos barcos. O mesmo fez cada um dos outros. Capturámos nesse dia desses cenégios [i. e., azenegues] 600 homens de cor ruiva e uns 50 negros e com eles regressámos a Portugal, a Lagos do Algarve, onde se en- contrava o senhor Infante. Ficou ele muito satisfeito connosco.9

A mudança de estratégia dataria pouco tempo depois, acompanhada por um maior envolvimento no trato de negros africanos, que eram des- tinados a tornar-se suas vítimas principais:

Seguidamente, o senhor Infante, no seu conselho, dizia que daí em diante não travassem luta com a gente daquelas partes, mas fizessem aliança e tro- cassem mercadorias e assentassem paz com eles, pois a sua intenção era fazê- -los cristãos. E mandou que as caravelas fossem de paz e não de guerra.

Na viagem passaram além do Cabo de Tofia [i. e., cabo Timris] e acharam uma terra despovoada e arenosa, como a anterior, sem vegetação nem árvo- res. Indo mais além depararam com uma terra cheia de árvores, nomeada- mente palmeiras, e saíram a terra. A sua gente era toda negra. Os cristãos fa- ziam-lhes sinais de paz, mas eles não entenderam. Mandaram-lhes os cristãos mercadorias que tinham trazido com eles a terra, mas eles receberam-na sem se disporem a falar. Os cristãos bem teriam podido apanhar alguns, mas não ousavam fazê-lo, pois o senhor Infante tinha-lhes mandado que não lhes fi- zessem nada de mal e assim eles fizeram.

Passando adiante, descobriram um grande rio que tem o nome de Cenega [i. e., Senegal], muito povoado. Falaram os cristãos com essa gente através dos homens que traziam consigo e fizeram pazes com eles, trocaram as suas mercadorias e trouxeram daí muitos negros comprados.

E assim desde esse tempo até agora de cada vez trazem mais negros desde esse lugar, que já não têm conta. A terra chama-se Gelofa [i. e., a terra dos

wolofs].10

9Diogo Gomes de Sintra, Descobrimento Primeiro da Guiné, org. Aires A. do Nascimento (Lisboa: Edições Colibri, 2002), 61. Original em latim.

Estes trechos têm uma correspondência significativa com narrativas incluídas em obras contemporâneas, como a Crónica de Guiné de Gomes Eanes da Zurara, ou o relato do mercador veneziano Alvise da Ca’ da Mosto, que participou em expedições portuguesas ao longo das costas africanas nos anos 50 do século XV.11Delas não só se depreende que na-

quelas viagens se capturaram quer azenegues quer wolofs, mas também que a decisão de deixar esta prática agressiva para a substituir pelo co- mércio, graças à grande disponibilidade de escravos em venda, foi justi- ficada com a intenção de D. Henrique de facilitar a conversão ao Cris- tianismo das populações locais. Havia também a percepção de que os assaltos iniciais constituíam uma infracção moral («o senhor infante tinha-lhes mandado que não lhes fizessem nada de mal», lê-se em Diogo Gomes), o que não tinha a ver com a redução à escravatura em si, mas com a legitimidade de o fazer no caso em questão. Inevitavelmente, era deste ponto que os representantes da coroa portuguesa na cúria tinham de partir para fundamentar a intervenção do papa em favor dos seus di- reitos exclusivos sobre o trato dos escravos. No fundo, as razões eram duas: por um lado, entre tais homens – as autoridades portuguesas nunca puseram em dúvida que se tratava de seres humanos, embora alguns do- cumentos da época também os equiparem a «cousas»12– havia não-mu-

çulmanos, o que excluía a possibilidade de lhes aplicar as bulas da Cru- zada, renovadas durante a penetração portuguesa na África do Norte, bem como a retórica anti-islâmica da «guerra dos mouros», que os equi- parava a «inimigos de Cristo», tornando em justa qualquer guerra contra eles (e, neste contexto, a sua redução a escravos). Por outro, a potestade universal indirecta que o pontífice tinha sobre os não-cristãos não auto- rizava a escravizá-los em perpétuo, porque o medo deste destino podia afastá-los da conversão, que devia ser o verdadeiro objectivo de qualquer conquista e sujeição em nome da fé.13

11Gomes Eanes da Zurara, Crónica de Guiné, org. José de Bragança (Porto: Livraria Ci- vilização, 1973), 406; Alvise da Ca’ da Mosto, «Navigazioni», in Giovanni Battista Ra- musio, Navigazioni e viaggi, org, Marica Milanesi, 6 vols. (Turim: Einaudi, 1978-1988), vol. I, 486-488.

12Ver a licença de 26 de Dezembro de 1457, publicada em António Joaquim Dias Dinis, org., Monumenta Henricina, 15 vols. (Lisboa: Comissão Executiva das Comemora- ções do V Centenário da morte do Infante D. Henrique, 1960-1974), vol. XIII, doc. 68, e Mário Júlio de Almeida Costa, org., Ordenações Manuelinas (Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1984), liv. V, tít. 41.

13Retomo aqui a interpretação desenvolvida no meu livro A Consciência de um Império. Portugal e o Seu Mundo, Sécs. XV-XVII (Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2012), 41-64.

A partir de uma solução híbrida, do ponto de vista do direito canó- nico, que teve por consequência necessária (e não por finalidade) o tornar os reis portugueses os únicos titulares da jurisdição sobre as regiões a sul dos cabos Não e Bojador, criando assim as bases legais do futuro império, as bulas resolveram, em primeiro lugar, esta contradição. Este foi o re- sultado de uma reinterpretação em termos teológicos do que se passava ao longo das costas da África ocidental, que não deve ser lida como uma descrição ou representação fiel da realidade, mas como uma adaptação de compromisso a que chegaram os juristas da coroa portuguesa e os ca- nonistas da cúria, no âmbito de uma negociação diplomática. Resu- mindo o conteúdo das duas bulas mais importantes no que diz respeito à escravidão e ao trato, as já referidas Dum Diversas e Romanus Pontifex – do ponto de vista teórico, foi a primeira a que marcou a verdadeira rup- tura –, a partir da aplicação da noção de «inimigos de Cristo» a «gentios»

(pagani), isto é, a não-cristãos sem qualquer conhecimento do Evangelho,

como havia muitos entre os africanos não islamizados, foi possível forçar os limites da doutrina da potestade indirecta, explicitamente invocada nos documentos em questão, até ao ponto de usar o direito previsto nas bulas da Cruzada também para estes homens, autorizando os delegados pela coroa portuguesa a «reduzir as suas pessoas à escravidão perpétua», na esperança da sua futura conversão. Uma tal concessão implicava tam- bém um poder de senhorio sobre as regiões onde viviam e, mais em geral, o direito de sujeitar terras, ínsulas e mares.14

De qualquer maneira, o ponto decisivo era o da conversão, o que era natural, já que o ofício pastoral em relação às almas de todos os homens era fundamento da autoridade do pontífice. A dimensão de ficção jurídica das bulas emerge desde o início da Dum Diversas onde se apresentava a escravidão dos «gentios» na perspectiva de uma continuidade com as con- versões impostas «com mão poderosa» aos muçulmanos. Na realidade, os «mouros» do Norte de África, nas décadas anteriores, não tinham sido

14A bula encontra-se publicada em Dinis, org., Monumenta Henricina..., vol. VI, doc. 146. Original em latim. O seu carácter híbrido escapou aos estudiosos que o consideraram como um documento ligado à guerra contra os muçulmanos no Norte de África – Char- les-Martial de Witte, «Les bulles pontificales et l’expansion portugaise au XVesiècle», Revue d’histoire ecclésiastique, 51 (1956): 425-428; 53 (1958): 458-459 –, ou como um texto a ser interpretado à luz da doutrina da potestade universal directa do pontífice – A. C. de C. M. Saunders, A Social History of Black Slaves and Freedmen in Portugal, 1444-1555 (Cambridge: Cambridge University Press, 1982), 37 –, ou da guerra justa – Anthony J. R. Russell-Wood, «Iberian Expansion and the Issue of Black Slavery: Changing Portuguese Attitudes, 1440- -1770», American Historical Review, 83 (1978): 23-28; James H. Sweet, «The Iberian roots of American racist thought», William and Mary Quarterly, 54 (1997): 157-158.

nunca objecto de acções de proselitismo por parte dos portugueses, os quais, pelo menos nos seus documentos oficiais, imaginavam para os seus inimigos tradicionais somente a guerra e o extermínio. Alguma ambigui- dade, porém, era facilitada pelo facto de, nas fontes portuguesas da época, a palavra «mouro» ser usada para indicar quer os muçulmanos (entre os quais se encontravam, sem dúvida, os azenegues atacados durante as pri- meiras incursões), quer os wolofs. Tratava-se de uma associação favorecida pelo facto de, na própria legislação portuguesa, esse vocábulo ser sinó- nimo de «escravo».15Isto não significa que em Portugal e em Castela, tal

como em Roma, não se soubesse que na região chamada Guiné também habitavam gentios, trazidos para a Europa, pelos portugueses, como es- cravos. Ao invés, mostra o complexo artifício retórico que permitiu aos portugueses garantir, em nome da fé, a gestão exclusiva do trato de ho- mens, cuja redução a escravos ficava, em princípio, fora do alcance da ju- risdição da Igreja. Contudo, a vantagem de alguma confusão com os mu- çulmanos era grande, também porque o princípio de que ao se baptizar um escravo, este não se tornava automaticamente livre, implícito na con- cessão do poder de reduzir à escravatura perpétua, fora afirmado, pela pri- meira vez, exatamente no contexto do reino dos cruzados na Palestina, na primeira metade do século XIII.

O episódio revela, assim, que a centralidade da escravidão não só carac- teriza a fundação das premissas legais do futuro império português, como remonta aos exórdios da relação controversa entre cruzada e missão. Fora nesse contexto que um grupo de donos de escravos, receoso de perder parte do seu património, se opusera à prática de dar liberdade aos prisio- neiros muçulmanos em troca da conversão. Daí tinham derivado impedi- mentos à obra de proselitismo do nascente clero missionário, que reunia cada vez mais apoio no interior da Igreja do tempo. Em duas cartas suces- sivas em forma de breves para o patriarca de Jerusalém (a primeira, também enviada aos mestres das ordens militares), o papa Gregório IX alinhou con- tra os donos de escravos (que «antepõem a possessão ao bem das almas»), exortando as autoridades locais a favorecer as conversões. Todavia, para superar os protestos que eram de esperar, o pontífice dispôs que os escravos, a que era obrigatório dar o baptismo se o pedissem com sinceridade, man- teriam a sua condição («ficando no estado anterior de escravos»).16

15Kenneth B. Wolf, «The ‘Moors’ of West Africa and the beginnings of the Portuguese slave trade», Journal of Medieval and Renaissance Studies, 24 (2003): 449-469.

16Os documentos são publicados em Benjamin J. Kedar, Crusade and Mission: European Approaches toward the Muslims (Princeton: Princeton University Press, 1984): 212-213. Ori- ginal em latim.

A norma não demorou a impor-se, e é claramente aplicada nas bulas emitidas a favor dos reis portugueses em meados do século XV. Todavia,

a partir da Dum Diversas, estas bulas assinalaram uma viragem decisiva na evolução da relação entre conversão e escravatura no interior do mundo cristão, com efeitos profundos num império legitimado pela obra de evangelização universal. De pré-requisito fundamental mas não sufi- ciente para recuperar a liberdade, o baptismo transformou-se num objec- tivo cuja única perspectiva concreta era autorizar a perpétua escravidão dos africanos. A fórmula usada no diploma pontifício demonstrava ine- quivocamente o ocaso do adágio do direito romano: «o escravo não tem pessoa» (servus non habet personam). Aqueles gentios tinham uma alma, eram pessoas. Mas uma vez caídos em mão cristã, a possibilidade de re- denção terrena era quase nula. Assim, o seu direito de gozar plenamente da condição humana era posta em dúvida no momento exacto em que ele era afirmado, dado que mesmo a esperança da futura conversão san- cionava a condenação, de facto, a um estado intermédio entre «pessoa» e «coisa», cujo destino era o uso e o comércio. Conforme explicou Gomes Eanes da Zurara, cuja Crónica de Guiné deve ser lida em relação estreita com as bulas, em relação às quais partilha e suporta as suas im- plicações doutrinárias, «posto que os seus corpos estivessem em alguma sujeição, isto era pequena cousa em comparação das suas almas, que eter- nalmente haviam de possuir a verdadeira soltura».17

Um ponto aparentemente obscuro que permitiu interpretações redu- toras das bulas, em particular da Dum Diversas, reside no silêncio sobre o carácter pacífico, já assumido em 1452, como se viu, das relações entre os portugueses e as populações da costa ocidental da África. Contudo, o facto de se adquirirem os escravos mediante o comércio não implicava que guerras e conquistas não continuassem a ser elementos centrais às explorações dos portugueses.18Aliás, num contexto de forte incerteza,

como o das expedições iniciais ao longo das margens da Mauritânia e da Guiné superior, era ainda do interesse da coroa portuguesa garantir o di- reito a um eventual uso preventivo da força. Não por acaso, este ponto encontra-se discutido detalhadamente na bula Romanus Pontifex, outor- gada para se conterem os protestos castelhanos contra a vagueza da Dum

Diversas. Assim, para além de retomar à letra a secção mais importante

17Zurara, Crónica da Guiné..., 80.

18A. C. de C. M. Saunders, «The depiction of trade as war as a reflection of Portuguese ideology and diplomatic strategy in West Africa, 1441-1556», Canadian Journal of History, 17 (1982): 219-234.

desta última, o novo diploma declarava, antes de tudo, que os poderes concedidos aos reis de Portugal se referiam aos «homens mesmos, e os seus reinos e lugares, também se se acharem em partes remotíssimas e incógnitas», lembrando como, após as guerras de Cruzada no Norte de África, as expedições organizadas pelo infante D. Henrique tinham al- cançado «alguns povos gentios, ou pagãos, que nunca foram atingidos pela seita do nefandíssimo Maomé». Uma definição geográfica menos vaga («dos Cabos Bojador e Não até a toda a Guiné e além, na direcção daquela extensão meridional»), condicionada, todavia, à efectiva ocupa- ção, era acompanhada por uma justificação do tráfico dos escravos que assumia contornos bem mais concretos nas poucas e densas linhas em que, sem se preocupar demasiado em harmonizar uma matéria complexa e controversa, se autorizava a transportar para Portugal «guinéus e outros negros», «entre os quais ai há convertidos à fé católica em número abun- dante, e se espera que se, com o favor da divina clemência, se continuar com eles um progresso semelhante, ou estes povos se converterão à fé, ou, pelo menos, as almas de muitos deles gozarão de Cristo». De Roma obtinha-se, dessa forma, uma licença explícita para as razias, ainda apre- sentadas como a via mais frequente através da qual os portugueses pro- curavam os escravos («capturados pela força»). A estes últimos reconhe- cia-se a posse da alma, mas a sua conversão mantinha-se como uma miragem. Os escrúpulos em torno do comércio com os traficantes locais, cada vez mais praticado, limitavam-se à recomendação de mercadorias e formas de aquisição lícitas. Só na conclusão da bula se fixavam os deveres missionários da coroa. Era uma inversão da doutrina clássica da guerra justa, que antepunha as tentativas de pregação ao recurso às armas.19

Nos anos seguintes, centenas e centenas de negros acorrentados con- tinuaram a ser embarcados da Guiné para a Península Ibérica. Inversa- mente, os esforços para difundir a fé cristã ao longo das costas africanas foram, de facto, inexistentes, e foi necessário esperar pelas primeiras mis- sões confiadas às ordens mendicantes, sobretudo no reino do Congo. De qualquer maneira, o que mais interessa aqui é observar como os por- tugueses, desde os primeiros contactos com populações não-muçulma- nas, formalizaram as suas relações com elas a partir do direito de as re- duzir à escravidão e as vender – um marco original, o qual convivia com a estipulação de tratados de paz e a prática de comércios, e não podia deixar de ter consequências sobre as dinâmicas do futuro império.

19A bula Romanus Pontifex está publicada em Dinis, org., Monumenta Henricina..., vol. XII, doc. 36. Original em latim.

Conversão e liberdade: um vibrante debate