No século V d.C., Agostinho foi o primeiro erudito a ensinar que o crente nunca poderia perder a sua salvação. Uma vez salvo, permanecia salvo pelo restante da sua vida, independente mente das suas ações ou atitudes. Esta declaração deu início a um debate teológico que continua até o dia de hoje.
Nesta Lição, apresentaremos o conceito claro e bíblico, demonstrando que o crente pode perder a sua salvação. Ao estudar as evidências bíblicas que apoiam este fato, o aluno compreen derá por que quatro séculos se passaram, depois da morte de Cristo, para então surgir um ponto de vista oposto sobre o assunto em pauta.
As Frases Condicionais
Um dos maiores argumentos mostrando que se pode perder a salvação é a freqüente menção do condicional “se”, com respeito a salvação. Estas declarações revelam o fato de que a salvação, na experiência humana, depende da situação do crente, manifesta em expressões bíblicas, como “permanecer em Cristo”, “continuar na fé”, “andar na luz”, “não retroceder” etc. Segue-se aqui uma lista de algumas destas frases.
“Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora ... ” (Jo 15.6). se é que permaneceis na f é ... ” (Cl 1.23).
se retiverdes a palavra tal como vo-la pregu ei... ” (1 Co 15.2). se negligenciarmos tão grande salvação ... ” (Hb 2.3).
se, de fato, guardarmos firme, até ao fim, a confiança ... ” (Hb 3.14). Se retroceder...” (Hb 10.38).
“se, porém, andarmos na lu z ... ” (1 Jo 1.7).
As Advertências Diretas
A Bíblia contém muitas advertências acerca do perigo do crente “cair da graça”. Paulo advertiu os santos que achavam que, vivendo da maneira que quisessem estariam salvos sempre:
“Aquele, pois, que pensa estar em p é veja que não caia. ” (1 Co 10.12).
O escritocj£s Hebreus adverüu que é possívej^dejxar o coração encher-se_de descrença, a pontQnSg^perder a^sãTvãç5cr.T e n d e cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vos perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo. ” (Hb 3.12).
152 LICÃO 9: ADVERTÊNCIAS E PROMESSAS
A Epístola de Judas leva-nos a meditar nos santos do Antigo Testamento, dos dias de Moisés, quando diz: “Quero, pois, lem brar-vos... que o Senhor, tendo libertado um povo, tiran do-o da terra do Egito, destruiu, depois, os que não creram. ” (Jd v 5).
Há uma exortação severa de João, que não deixa dúvida alguma quanto à possibilidade de alguém perder a sua salvação. "... O vencedor de nenhum modo sofrerá dano da segunda morte. ” (Ap 2.11). “... Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa... ” (Ap 3.11).
Exemplos de Perda da Salvação
A Bíblia não somente ensina que é possível perder a salvação, como também registra ca sos de váriajLpessoas que viraram as costas para Deus, perdendo sua total comunhão com Ele.
No Antigo Testamento, lemos acerca de Saul que “... Deus lhe mudou o coração ... ” e que “o Espírito de Deus se apossou de S a u l... ” (1 Sm 10.9,10). Mais tarde, porém, tornou-se possuído de um espírito maligno, e terminou sua vida suicidando-se.
Está dito de Salomão, que na sua juventude, ele “... amava ao SENHOR, andando nos preceitos de Davi, seu p a i ... ” (1 Rs 3.3). Mais tarde, porém, ele rejeitou a Deus e começou a
adorar os falsos deuses (1 Rs 11.1-8).
No Novo Testamento, o exemplo mais destacado de um apóstata é o de Judas Iscariotes. Judas, no princípio era um verdadeiro crente em Deus, pois jamais Cristo confiaria a um pecador a missão de evangelizar, curar enfermos, expulsar demônios (Mt 10.7,8). Porém, já na ocasião da “última ceia”, Judas tinha abandonado a sua fé. Cristo sabia que Judas já não fazia parte do grupo dos crentes. O próprio Judas confirmou isto, quando traiu a Cristo e suicidou-se.
Himeneu e Alexandre, dois dos cooperadores de Paulo, deles está dito: “mantendo fé e boa consciência ... ”. Mais tarde, no entanto, vieram a naufragar na fé, e Paulo os entregou a Satanás (1 Tm 1.19,20).
Demas, outro dos associados de Paulo, é declarado um ajudante^fiel; estava presente quando Paulo estava escrevendo Colossenses e Filemom (Cl 4.14; Fm 24). Paulo até mesmo o chamou de “cooperador”. E difícil imaginar que ele não era um crente verdadeiro, no entanto, mais tarde abandonou a fé, isto é, a salvação, por causa de ter “amado o presente sécu lo...” (2
Tm 4.10). ~
O Aspecto Durativo da Rejeição de Cristo
Alguns teólogos crêem que a apostasia é apenas um distanciamento temporário de Cristo, e não uma perda permanente da salvação. Isto, no entanto, contradiz as advertências bíblicas no sentido de que um crente pode perder, não somente sua comunhão com Cristo agora, mas tam bém a vida eterna. Por exemplo:
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o SENHOR esquadrinha todos os corações e penetra todos os desígnios do pensamento. Se o buscares, ele deixará achar-se p o r ti; se o deixares,
ele te rejeitará para sempre. ” (1 Cr 28.9).
Pedro apresenta um exemplo comum de apostasia. Descreve certos falsos mestres que antes andaram no caminho certo, mas que o abandonaram (2 Pe 2.15). Tinham escapado às poluições do mundo mediante o conhecimento de Jesus Cristo, mas, mais tarde se deixaram enredar de novo pelos seus antigos pecados (2 Pe 2.20).
Evidentemente a condição desses mestres não é a mesma do crente que está fora da co munhão com Deus. Note que Pedro diz, melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça, do que, após conhecê-lo, virem a rejeitá-lo. Obviamente, Pedro está aludindo ao jul gamento que estes mestres terão, que será da maior severidade por causa do seu conhecimento inicial de Cristo e do seu relacionamento com Ele.
“Pois melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça do que, após conhecê-lo, volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que
lhes fora dado. (2 Pe 2.21).
Com eles aconteceu o que diz certo adágio verdadeiro: O cão voltou ao seu pró prio vômito; e: A porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal. ” (2 Pe 2.22).