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6 APROFUNDANDO A ESCUTA: TEXTOS E CONCEPÇÕES

6.1.1 Obesidade mórbida

Um estudante brasileiro, durante o curso de doutorado sanduíche na França, escreveu algumas crônicas para abordar, de forma bem-humorada, suas impressões sobre diferenças culturais que lhe causaram estranhamento. Tais crônicas foram divulgadas em um blog, intitulado “O ano do Rubito na França”. Dentre essas crônicas, selecionamos uma, cujo título é “Obesidade mórbida” (ANEXO A), a fim de estimularmos os sujeitos de nossa pesquisa a falarem sobre coerência e coesão a partir da apreciação de um texto empírico.

1 Quando nos apresentaram as produções textuais de seus alunos, escolhidas para o último momento de entrevista, as três professoras participantes desta pesquisa definiram-nas a partir da tipologia predominante nesses textos, caracterizando-os como “textos argumentativos”.

A leitura do trabalho de Cortez e Koch (2013, p. 10), que aborda a articulação entre a referenciação dos objetos de discurso e a “maneira como o locutor/enunciador se posiciona”, levou-nos à escolha da referida crônica. Desse modo, pudemos iniciar os diálogos, durante o nosso segundo momento de entrevistas, com o respaldo de uma proposta de entendimento dos processos referenciais coesivos que extrapola a noção de referência defendida pelos estudos tradicionais da coesão textual. Isso significa dizer que já reconhecíamos na crônica “Obesidade mórbida” processos de referenciação que engendram relações para além dos itens da língua visíveis na materialidade do texto.

No referido trabalho, as autoras recorrem a Rabatel (apud CORTEZ & KOCH, 2013, p. 10) para afirmar que as escolhas dos objetos de discurso “são altamente reveladoras do ponto de vista do enunciador”. Com base nisso, demonstram analiticamente como as formas nominais referenciais (ou coesivas) denotam o diálogo do enunciador consigo mesmo e com outros enunciadores para a construção dos pontos de vista que prevalecem em um texto.

O entendimento desses pontos de vistas relaciona-se ao modo como percebemos os sentidos indiciados pelas formas nominais, pois, à medida que o texto progride, o locutor constrói objetos de discurso (introdução, retomadas e modificações de referentes) e, com isso, nos dá pistas a respeito de suas compreensões sobre os dois principais fatos narrados: “a prática de beber água da torneira e o curso de tratamento de texto para a tese” (CORTEZ & KOCH, 2013, p. 16).

São fatos apresentados como exemplos para o estranhamento cultural do locutor em relação a algumas práticas sociais e educativas da França. Em termos de construção de formas nominais para referenciar esses fatos no texto, destacamos:

As formas nominais “o absurdo da situação” e “o momento kamasutra”, respectivamente catáfora e anáfora, referem-se ao primeiro episódio [a situação em

que um menino sugava algo protuberante no banheiro], enquanto que a forma

catafórica “a maior expiação que tive de encarar” refere-se ao curso de TTT

[Tratamento de Texto para a Tese]. As formas anafóricas “O tal Tratamento”, “O

diabo do curso”, “aquele momento dramáaatico”, “as vinte e tantas horas de ctrl agonia regadas a word 2003” também são reveladoras do inconformismo de L1/E1

[Locutor primeiro/Enunciador primeiro] em relação ao curso. A expressão “a

pororoca da ‘solução’ que eles vão te oferecer” também faz parte da agonia que designa impacientemente uma das ferramentas do Word 2003. Nesse contexto de “esquisitices” a forma anafórica “esses chicos franceses” indica o estranhamento cultural enfrentado pelo autor que assim designa o povo francês. (CORTEZ & KOCH, 2013, p. 20, grifos nossos)

Fica evidente, portanto, que as anáforas e catáforas não são apenas mecanismos promovedores de ligações diretas entre expressões referenciais. Elas contribuem para a construção da orientação argumentativa, pois o locutor, ao produzir objetos de discurso, reveste-lhes de posicionamentos, que são construídos ora pela percepção que elabora sobre os

fatos a partir da reformulação de seu próprio dizer, ora pela incorporação (por assonância ou discordância) de dizeres de outros enunciadores. Envolvem, desse movo, negociação dialógica de sentidos, exigindo recorrência ao conhecimento de mundo dos interlocutores. Por isso, não se restringem ao estabelecimento de relações diretas de correferencialidade.

Consideramos então que, ao possibilitarmos aos sujeitos de nossa pesquisa a leitura da crônica “Obesidade mórbida”, poderíamos perceber se suas concepções sobre o fenômeno da coesão textual circunscrevem-se a aspectos visíveis na superfície material do texto (relação de correferencialidade) ou se também englobam questões sociocognitivas como a recategorização dialógica dos referentes textuais. Além disso, pretendíamos ouvir o que esses sujeitos tinham a dizer sobre coerência: se a concebem como uma qualidade textual ou se a entendem como uma atividade interpretativa realizada pelos interlocutores.

Convém esclarecer que não formulamos questões específicas sobre os processos coesivos que visualizamos no texto, pois pretendíamos evitar que nossos estudos sobre a teoria da referenciação influenciassem as respostas das professoras participantes de nossa pesquisa. Agimos de forma similar no que se refere à coerência. Desse modo, ficamos abertos à possibilidade dessas professoras construírem dizeres sobre coesão e coerência a partir de suas leituras e compreensões do texto, ou que talvez apontassem aspectos que nós mesmos não havíamos percebidos.

Buscamos, dessa forma, uma interação aberta à compreensão do entendimento do outro, sem indiciar nossas concepções acerca dos fenômenos estudados. Por essa razão, nossos diálogos sobre coerência e coesão a partir da leitura da crônica “Obesidade mórbida” (segundo momento de entrevista)2 foram suscitados por seis questões (APÊNDICE A) que, em suas elaborações, não apontaram aspectos específicos elucidados por nenhuma das teorias textuais que fundamentam nosso trabalho de tese, haja vista que não pretendíamos influenciar as respostas formuladas pelas professoras participantes de nosso trabalho de pesquisa. Desse modo, buscamos retomar, nessas seis questões, o que as professoras disseram, no primeiro momento de entrevista, sobre a coerência e a coesão textuais, a fim de que nos falassem, a partir da análise de um texto empírico, sobre as concepções que nos foram previamente dialogadas.

Como a metodologia da entrevista compreensiva recomenda que o pesquisador tente criar empatia com os sujeitos da pesquisa, a fim favorecer o desenvolvimento da interação, tivemos que recorrer a algumas questões não previstas, com o intuito de estimular a fala dos

2 Estamos nos referindo às entrevistas realizadas em 20 de outubro de 2014 com Eterna Aprendiz e Profissional de Fé, e em 21 de outubro de 2014 com Simpatia de Menina.

sujeitos. Isso foi essencial, por exemplo, quando uma das professoras demonstrou não ter “entendido” o texto (ETERNA APRENDIZ, 20 out. 2014). Percebemos que, na verdade, ela estava insegura; por isso, conversamos um pouco sobre o texto, sobre o entendimento que ela tinha construído, para depois lhe indagar sobre coerência e coesão.

6.1.2 Esquadros

Com o objetivo de continuar esse diálogo, recorremos, ainda durante o segundo momento de entrevista3, à leitura e análise de outro texto: “Esquadros” (ANEXO B), canção composta por Adriana Calcanhoto. Após realizarem a leitura da letra da música transcrita numa folha de papel, as professoras puderam ouvir a canção na interpretação de Saulo Fernandes (CD Saulo ao vivo, faixa 12). Em seguida, solicitamos-lhes que nos falassem de coerência e coesão a partir desse texto, demonstrando, se possível, suas concepções sobre esses fenômenos. Para motivar as falas dos sujeitos da pesquisa, usamos as mesmas questões (APÊNDICE A) que acionamos para provocar nossos diálogos sobre a crônica “Obesidade mórbida”.

A escolha do texto-canção de Adriana Calcanhoto tem relação direta com uma situação vivida por nós durante as viagens terrestres entre Salvador e a cidade de Uruçuca- BA, no Sul da Bahia. Deslocamentos que realizamos constantemente devido à necessidade de assistir às aulas do curso de doutorado na Faculdade de Educação da UFBA e de participar das reuniões do GELING (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Linguagem). Durante essas viagens, é comum encontrarmos na estrada (BR 101), entre as cidades de Santo Antônio de Jesus-BA e Gandu-BA, crianças, adolescentes e jovens tentando vender água, banana e outros produtos, para ajudar no sustento de suas famílias. Essas cenas nos chamam atenção por dois motivos:

- a situação de jovens que, por questões econômicas, precisam passar os dias sob o sol escaldante ou sob chuva, numa estrada perigosa, comove-nos e nos faz refletir sobre a desigualdade social existente em nosso país;

- a naturalidade que algumas demonstram ao verem aqueles jovens trabalhando sob condições precárias, enfrentando as intempéries do tempo, sugere-nos indiferença em relação aos economicamente menos favorecidos.

3 Estamos nos referindo às entrevistas realizadas em 20 de outubro de 2014 com Eterna Aprendiz e Profissional de Fé, e em 21 de outubro de 2014 com Simpatia de Menina.

O texto-canção de Adriana Calcanhoto, de certa forma, nos remeteu a tudo isso, pois sua leitura nos coloca em diálogo com um enunciador a quem as “dores do mundo” compadece. Os sentidos que construímos pela experimentação estética desse texto nos faz pensar numa situação que constantemente presenciamos. Portanto nos identificamos com um observador que, apesar da aparente naturalidade de certas situações, não passa incólume por cenas desse tipo, solidarizando-se com as dores dos “meninos que têm fome” (CALCANHOTO, 2014). Acreditamos também que algumas situações “tocam-nos” de um modo diferente, levando-nos a perceber e sentir a humanidade daqueles que, muitas vezes, são socialmente invisíveis.

A coerência que construímos, a partir da leitura do texto-canção de Adriana Calcanhoto, foi influenciada por nossas experiências de vida, pelos olhares e conceitos que tecemos acerca dos acontecimentos do mundo, pelos sentimentos que o texto nos desperta quando nos remete a situações que nos inquietam. Chegamos a uma coerência que implica o nosso jeito de estar-no-mundo, de sentir e de ver as coisas desse mundo; o que, de certa forma, nos identifica com o enunciador do texto.

Sabemos que outros leitores podem chegar a coerências distintas da nossa, ou que podem levantar outras razões para construir e explicar a “coerência do texto”. Por essa razão, consideramos pertinente propor a leitura da canção composta por Adriana Calcanhoto aos sujeitos da nossa pesquisa, posto que os seus dizeres sobre coerência, construídos pela apreciação desse texto empírico, também nos poderiam fornecer indícios sobre suas concepções desse fenômeno textual.

Além disso, a escolha desse texto-canção nos foi influenciada pela leitura que produzimos sobre a (re)categorização de objetos de discurso para construir versões do real que indiciam as singularidades do locutor/enunciador e o seu modo de ver coisas do mundo. Custódio Filho e Oliveira Silva (2013, p. 60) argumentam que “os sujeitos estão indiscutivelmente envolvidos na ação de referir – ação constitutivamente sociocognitiva”. Nessa ação, os objetos de discurso passam por operações de construção (categorização) e modificação (recategorização), por meio das quais as perspectivas do enunciador são evidenciadas.

Na canção de Adriana Calcanhoto, o enunciador, ao tematizar sua maneira de ver o mundo, introduz o referente “cores” (segundo verso), de forma indefinida, pois se trata de informação nova, a fim de metaforizar aquilo que vê. Esse referente vai sendo recategorizado ao longo do texto, assumindo feições distintas, haja vista que lhe são agregadas novas

informações por processos predicativos, conforme se pode ver em “Cores de Almodóvar” (quarto verso) e “Cores de Frida Kahlo” (quinto verso).

Essas anáforas predicativas propõem ao leitor dois processos referenciais distintos. Primeiro, é preciso redimensionar o referente “cores”, pois as predicações atribuem-lhe novas possibilidades interpretativas (recategorizações). Não se trata, portanto, de uma simples operação de retomada correferencial. Segundo, a compreensão dessas novas possibilidades implica a remissão a outros conhecimentos, uma vez que, para entender as predicações “de Almodóvar” e “de Frida Kahlo”, o leitor precisa recorrer não somente ao conhecimento de aspectos linguísticos, mas também a questões cognitivas e socioculturalmente partilhadas.

Nesse processo de recategorização, os objetos de discurso “Cores de Almodóvar” e “Cores de Frida Kahlo” atuam como recategorizações metafóricas que singularizam o modo como o enunciador vê o mundo, seus sujeitos e acontecimentos. O leitor participa ativamente desse processo de recategorização, pois a interpretação dos sentidos indiciados pelas expressões referenciais supra referidas demanda o acionamento de conhecimentos cognitivos e socioculturais compartilhados.

Nos exemplos em análise, isso representa acionar conhecimentos sobre as nuances e funções assumidas pelas cores nas obras dos artistas cujos nomes integram as expressões referenciais: o cineasta espanhol Pedro Almodóvar, que costuma explorar em seus filmes os contrastes entre as cores para representar situações adversas (CORDEIRO, 2010); e a artista plástica mexicana Frida Kahlo, que recorre ao jogo visual de cores em suas telas para expor “seus sofrimentos físicos, seus gritos de dor, como também suas mutações e limites" (ARAÚJO, 2013, p. 3).

Se entendermos a metáfora “como fenômeno dinâmico, flexível, capaz de emergir e de se organizar na interação social” (LEITE, 2007, p. 121), perceberemos que os objetos de discurso acionados no texto são (re)construídos com base em conhecimentos cognitivos e socioculturais partilhados. Esse tipo de percepção nos levou a interpretar os referentes “Cores de Almodóvar” e “Cores de Frida Kahlo” como recursos geradores de sentidos construídos pelos enunciador para metaforizar textualmente a sua maneira de ver os acontecimentos e as pessoas do mundo.

Notamos também que entre “cores” (segundo verso) e “Cores” (sexto verso), o objeto de discurso inicialmente introduzido, sem nenhuma ancoragem em pista textual aparente, transforma-se de modo a assumir uma nova categorização: não mais cores indefinidas quaisquer (segundo verso), e sim aquelas nas quais se engendram os contrastes e as angústias representados nas obras de dois artistas, Pedro Almodóvar e Frida Kahlo, que buscam retratar,

respectivamente, as adversidades desse mundo e a tentativa de restauração dos infortúnios da vida.

Logo, ainda que se trate do mesmo lexema, o procedimento consubstanciado no texto não representa uma repetição correferencial, pois “cores” (segundo verso) e “Cores” (sexto verso) sugerem-nos objetos de discurso diferentes, devido ao processamento de recategorizações metafóricas. Como entidade discursiva, o objeto “cores” transmuta-se no texto, assumindo novas significações. Por isso é reconstruído e, embora reapresentado pela mesma forma nominal, não diz mais o mesmo que antes, além de assumir um caráter enfático, o que nos dá pista para compreendê-lo da seguinte forma: são cores “de verdade”, vivas, fortes, pulsantes, que designam a compreensão do enunciador sobre os acontecimentos do mundo.

Esse processo demonstra a instabilidade constitutiva da língua e também dos textos. Sob a perspectiva dos estudos de referenciação, não há estabilidade entre as palavras e as coisas por elas representadas (MONDADA, 2002), ou seja, as formas linguísticas não possuem significados pré-determinados, pois seus efeitos de sentido são produzidos durante a interação e se vinculam também às escolhas interpretativas do leitor. Nessa mesma perspectiva, o texto não representa artefato cujos sentidos são pré-definidos, mas sim evento que possibilita a interação humana, por meio da qual os efeitos de sentido emergem.

No que concerne ao processo de recategorização metafórica, consideramos necessário destacar:

Eis o caráter discursivo da metaforização: não há semelhança entre itens lexicais, mas entre objetos do discurso, entidades discursivas. A indeterminação do significado das formas linguísticas funciona como veículo da circulação de informações socialmente partilhadas, que, sob a análise do leitor, revela múltiplos efeitos de sentido metafóricos, além dos limites de uma relação de semelhança fundada em uma semântica de designadores rígidos. (LEITE, 2007, p. 119)

O texto-canção de Adriana Calcanhoto apresenta-nos, pois, várias evidências de que não há correspondência direta entre palavras e “coisas” no processo discursivo de metaforização. Na progressão referencial do texto, o modo como o enunciador vê as coisas do mundo, objeto de discurso incialmente representado pelo lexema “cores”, passa por transformações, assumindo configurações distintas, tanto no que se refere à forma quanto aos sentidos.

Assim se constroem objetos distintos para textualizar a maneira como o enunciador vê os acontecimentos do mundo, a exemplo de: “presto muita atenção no que meu irmão ouve” (oitavo e novo versos), “vendo doer a fome” (vigésimo verso), “vejo tudo enquadrado” (vigésimo sexto verso), “gosto de opostos” (trigésimo quinto verso). Esses trechos

exemplificam o recurso à “estrutura oracional verbo-complemento como expressão metafórica recategorizadora” (LEITE, 2007, p. 109), evidenciando, portanto, que a associação semântica, cognitiva e contextual ocorre entre objetos do discurso, e não meramente entre itens do léxico. A análise supra realizada não tem a intenção de desvendar todos os processos coesivos sugeridos pela atividade textual-discursiva de leitura do texto de Adriana Calcanhoto. Ela é fruto das escolhas interpretativas (LEITE, 2007) que fizemos para participar ativamente da atividade de construção da coerência textual e cumpre a função de evidenciar os motivos primeiros que nos levaram a selecionar o texto em voga. Motivações advindas dos conhecimentos que construímos acerca dos estudos de referenciação, que, ao conceberem o referente como uma entidade discursiva, considera que, além dos aspectos linguísticos, questões cognitivas e socioculturais são relevantes para o processamento coesivo (ou progressão referencial) do texto.

Conscientes de que a nova concepção de coesão textual suscitada pelos estudos de referenciação põe em cena a valorização do texto como processo, pois os interlocutores são vistos como coconstrutores de sentidos, consideramos oportuno sugerir a leitura do texto- canção de Adriana Calcanhoto. Entretanto, convém esclarecer que, mais uma vez, tomamos a precaução de não influenciar as análises e os dizeres das professoras participantes de nosso trabalho de pesquisa.

Por essa razão, ao invés de lhes propor questões específicas que indiciassem respostas fundadas nos estudos de referenciação, sugerimos-lhes apenas que nos falassem de coerência e coesão a partir da leitura do texto. À medida que as professoras diziam suas compreensões, formulávamos questões para tentar entender mais apuradamente seus dizeres. Para isso, buscamos prestar atenção nas expressões recorrentes acionadas pelas docentes para falar de coerência e coesão e, a partir disso, propúnhamos demonstrações e exemplificações com base no texto suscitador de nossos diálogos.

Após a realização desse segundo momento de entrevistas, transcrevemos os diálogos e fizemos uma análise prévia, a fim de selecionarmos os textos e planejarmos as questões da próxima etapa de entrevista (terceiro momento)4. Isso nos possibilitou considerar dois aspectos preponderantes para a seleção dos textos que foram lidos e comentados no terceiro momento: as concepções que as professoras evidenciaram sobre coesão referencial (no dizer de duas delas), ou processos referenciais (no dizer de uma das informantes), e as suas compreensões sobre os mecanismos/processos de sequenciação observados nos textos.

4 Estamos nos referindo às entrevistas realizadas em 09 de dezembro de 2014 com Profissional de Fé e Simpatia de Menina, e em 10 de dezembro de 2014 com Eterna Aprendiz.

Considerando esses aspectos, selecionamos dois textos: o poema “Sou um evadido”, de Fernando Pessoa (ANEXO C), e um artigo de divulgação científica escrito por Otávio Cohen (ANEXO D). Esses dois textos, elaborados sob gêneros distintos, suscitaram diálogos que nos forneceram alguns indícios, a partir da análise de expressões recorrentes (conforme propõe a metodologia da entrevista compreensiva), sobre as concepções de coesão dos sujeitos da pesquisa. Além disso, oportunizaram-nos interações sobre o fenômeno da coerência, a partir das quais esses sujeitos demonstraram como suas concepções desse fenômeno influenciam seus modos de ler/compreender textos.