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Capítulo 4 Descrição do grupo pesquisado

4.6 Organização da vida Não CLT

As empresas oferecem diversos benefícios para os seus funcionários CLT. Resolvemos investigar quais são as práticas empresariais adotadas para os vínculos Não CLT. Alguns vínculos classificados como Não CLT na presente pesquisa possuem características de contratos CLT, como nos casos do CLT Flex, CLT Cotas e Sócio. Desta forma, decidimos investigar também se o pacote de benefícios que as empresas oferecem é diferenciado em cada uma destas situações.

Para tanto, analisamos os dados dos 26 entrevistados que estavam com vínculo Não CLT no momento da entrevista e, para os 17 com vínculo CLT e similares, os dados do último vínculo Não CLT estabelecido. Para este grupo de 17 pessoas analisamos também, para efeito de

comparação, os benefícios que a empresa oferece no seu vínculo atual. A coluna Seguro contém dados de apenas 18 entrevistados, pois este foi um item acrescentado posteriormente ao roteiro de entrevista.

As três primeiras colunas do quadro a seguir contêm informações sobre os vínculos Não CLT: se o indivíduo tinha plano de saúde e quem era responsável pelo seu pagamento, se tinha algum tipo de previdência complementar e quem era responsável pelo seu pagamento, e se tinha seguro profissional. As três colunas seguintes explicitam para alguns tipos de vínculos atuais (CLT, CLT Flex, CLT Cotas e Sócio) a situação dos planos de saúde e de previdência complementar. A última coluna discrimina a existência de reserva financeira ou de algum outro tipo de renda, além da remuneração obtida pelo trabalho.

É importante ressaltar que as empresas não são obrigadas por lei a pagar planos de saúde e de previdência complementar para seus funcionários. Mas, como era de se esperar, estes benefícios são muito valorizados pelas pessoas, em especial o plano de saúde.

Situação no vínculo Não CLT Situação no vínculo CLT e similares Entrevista Plano de

saúde

Previdência privada

Seguro Vínculo Plano de saúde

Previdência privada

Outra renda ou reserva $

15 Não não não CLT empresa não apartamento

37 Não não negócio próp.

2 cônjuge indivíduo Não

9 cônjuge indivíduo Não

21 cônjuge indivíduo não

33 cônjuge não CLT Cotas empresa não não 36 empresa não não CLT empresa indivíduo não

5 empresa não não

20 indivíduo não não não

24 indivíduo não não CLT Flex + PJ empresa não não

28 indivíduo não não não

30 indivíduo não não CLT indivíduo não investimentos 35 indivíduo não não CLT empresa empresa não

41 indivíduo não não CLT empresa empresa não

43 indivíduo não não investimentos

11 indivíduo não não

13 indivíduo não Sócio empresa não não

14 indivíduo não CLT empresa não herança

16 indivíduo não não

34 indivíduo não não

40 indivíduo não CLT empresa empresa não

42 indivíduo não CLT não

19 indivíduo não não Sócio indivíduo não investimentos

38 indivíduo não não investimentos

1 indivíduo não aposentadoria

3 indivíduo não herança

4 indivíduo não investimentos

10 indivíduo não negócio próp.

17 indivíduo não herança

22 indivíduo não herança

39 indivíduo não não

26 indivíduo indivíduo não CLT Flex + PJ indivíduo não não

29 indivíduo indivíduo não não

31 indivíduo indivíduo não não

32 indivíduo indivíduo indivíduo não

6 indivíduo indivíduo não

7 indivíduo indivíduo CLT empresa empresa não

8 indivíduo indivíduo não

12 indivíduo indivíduo não

18 indivíduo indivíduo indivíduo CLT empresa indivíduo investimentos

23 indivíduo não não

27 ? não não CLT Cotas indivíduo não não

25 ? indivíduo CLT empresa empresa não

Quadro 9 – Comparação da situação CLT e Não CLT Fonte: Elaborado pela autora

O contrato CLT padrão inclui férias remuneradas, pagamento da parte empresarial do INSS, entre outros benefícios definidos por lei. Também é extremamente comum que as empresas paguem planos de saúde para seus funcionários. Já a inclusão destes benefícios em contratos Não CLT depende de negociação prévia. Em alguns segmentos do mercado de trabalho Não CLT não existe nenhum benefício adicional, além da remuneração mensal. Desta forma, o vínculo Não CLT de trabalho acarreta uma série de questões práticas no dia-a-dia do indivíduo.

Na grande maioria das vezes o plano de saúde era pago pelo próprio entrevistado. Apenas 2 entrevistados não tinham plano de saúde. Em 3 casos o plano era disponibilizado pela empresa em que o cônjuge trabalhava e em 2 casos era a empresa que pagava apesar da não existência de um vínculo CLT.

Quando comparamos com os dados dos entrevistados que tinham vínculo CLT no momento da entrevista os resultados são bastante diferentes. Para 9 dos 11 entrevistados que tinham vínculos CLT padrão a empresa pagava plano de saúde. Já nos 2 casos de indivíduos CLT Cotas apenas uma empresa pagava, e nos 2 casos de CLT Flex também apenas uma empresa pagava.

Ou seja, o plano de saúde é um benefício largamente difundido entre as empresas que trabalham no regime CLT com o tipo de profissional aqui estudado. Quando não conta com este tipo de benefício, este grupo de profissionais quase sempre contrata planos de saúde por conta própria.

Já os planos de previdência apresentam uma situação bastante diferente. Apenas 13 entrevistados possuíam algum tipo de previdência privada. Mas o material das entrevistas indica que esta é uma prática que tem se difundido nos últimos anos. Várias pessoas que tinham plano de previdência privada falaram que ele foi feito há poucos anos. Entre os que declararam não ter, alguns manifestaram preocupação sobre o tema e verbalizaram a intenção de contratar algum tipo de previdência num futuro próximo. Entre as pessoas que estavam dentro de um contrato CLT padrão no momento da entrevista esta era uma prática mais comum: quase metade das pessoas desse grupo tinham algum tipo de plano de previdência privada custeado, pelo menos em parte, pela empresa.

Este resultado é semelhante ao encontrado por Houseman (2001) em um estudo realizado junto a empresas americanas. A grande maioria das organizações pesquisadas que ofereciam planos de saúde e de previdência privada aos seus funcionários regulares não ofereciam os mesmos benefícios aos funcionários em regimes flexíveis de trabalho.

Sobre o planejamento financeiro do futuro o mesmo número de entrevistados (13) faz ou já tem uma reserva de outras formas: apartamento para alugar, herança, negócio próprio, aposentadoria e investimentos. Esse grupo entende que estas outras formas de reserva funcionam como uma proteção. Deve-se ressaltar que entre o grupo de entrevistados que declarou fazer investimentos em aplicações financeiras de forma regular (6 pessoas), metade das pessoas tinha uma estratégia bem estabelecida e conseguia investir uma boa quantidade de recursos, tanto que no momento da entrevista 2 deles já poderiam viver exclusivamente dos rendimentos de suas aplicações financeiras.

Não faço, mas eu tenho uma poupança pessoal. Deixar os juros trabalhar por você num período de anos, porque aí a brincadeira fica interessante, você coloca 20, 30 anos como prazo, você vai colocando dinheiro, aí daqui a pouco. É o que eu falo, o melhor plano de aposentadoria é você ter US$ 1 milhão na conta. É o que estou querendo. Quando eu tiver 45, 50 anos já quero (Entrevista 37).

O seguro profissional foi um aspecto investigado junto a apenas 18 entrevistados. De qualquer forma, os resultados indicaram que esta é uma prática relativamente rara: apenas 2 pessoas tiveram seguro durante o seu tempo de trabalho Não CLT.

Estes dados indicam uma realidade preocupante. Apesar de vários entrevistados verbalizarem a consciência de que a remuneração mais alta, normalmente associada a vínculos Não CLT, deve ser gasta em parte para a provisão de garantias inerentes ao sistema CLT, nem todos transformam isso em realidade. Apenas o plano de saúde é uma preocupação comum que se transforma em ação efetiva (contratação de um plano particular) para quase todos os entrevistados. Possivelmente isso acontece porque problemas de saúde eventuais fazem parte do dia-a-dia de quase todos.

A situação do seguro profissional e da previdência é diferente. A previdência será importante em um futuro relativamente distante. O seguro profissional só será relevante caso aconteça algo que impeça o indivíduo de exercer sua profissão, e este é um evento de rara ocorrência. Pouco mais da metade do grupo de profissionais aqui pesquisados de certa forma comporta-se

como se nunca fosse ficar impossibilitado de trabalhar, nem nunca fosse se aposentar. E sabe- se que isso claramente não é uma realidade.