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Capítulo 5 – Apresentação e discussão dos resultados encontrados

5.9 Ambiente Não CLT

5.9.7 A terceirização

A terceirização é uma modalidade de trabalho muito comum no Brasil (CACCIAMALI; BRITO, 2002). Diversas pesquisas têm estudado este tipo de contratação no país (FERNANDES; CARVALHO NETO, 2005; SARSUR et al., 2002; BICUDO, 2003; COSTA 2005; SOLDI; ZANELLI, 2006; PINTO; ARAÚJO, 2006). Entre os entrevistados esta se mostrou uma prática bem corriqueira. Muitos tiveram em algum momento de sua trajetória profissional alguma experiência com este tipo de vinculação, especialmente entre os profissionais de TI.

A prática de terceirização tem se expandido para a quarterização, na medida em que as grandes organizações, com o objetivo de facilitar a administração de contratos de terceiros, e de diminuir os riscos trabalhistas, têm utilizado empresas intermediárias de alocação de mão- de-obra. Nestes casos, a organização trabalha com um grupo pequeno de empresas de alocação de mão-de-obra, e são estas empresas que estabelecem contratos com as pessoas

jurídicas dos prestadores de serviço. Este resultado também foi encontrado por Kunda; Barley e Evans (2002), que identificaram que o mercado de trabalho dos trabalhadores contingentes qualificados nos Estados Unidos envolvia três elementos distintos: organizações contratantes, indivíduos qualificados e organizações intermediárias de mão-de-obra.

... porque não foi nem uma opção minha, porque as empresas hoje, se você trabalha como consultor independente, você não tem chance de você fazer a notinha e entregar, você sempre tem um intermediário no meio. As grandes empresas homologam meia dúzia de consultorias, que basicamente fornecem mão-de-obra. Então eu acertei tudo com a Empresa A, inclusive valores, mas tem que ser através de uma consultoria, qual você quer: essa, essa ou essa? (risos) Não conheço nenhuma delas, qual que paga tudo certinho? Porque a única diferença é essa: o cara vem, pega a notinha e te deposita na conta. Pronto. E aí ela paga, evidentemente, geralmente é no mínimo 25% a mais para a consultoria. (Entrevista 10).

- Porque tem gente que emite direto pra quem está prestando serviço.

Tem. Mas são empresas menores. Porque grandes empresas, elas querem se proteger. Então, elas têm poucas consultorias que elas chamam de homologadas e essas que vão buscar os profissionais. (Entrevista 7).

Muitos entrevistados criticaram a quarterização, pois na visão deste grupo as empresas intermediárias ficam com entre 25% a 30% do valor pago pela empresa contratante, fazendo um papel apenas de intermediação. A utilização de empresas intermediárias não melhora a qualidade dos serviços prestados e apenas aumenta os custos administrativos da contratação de pessoas jurídicas.

De terceirização, uma coisa que é bem particular. Quando eu trabalhava na Empresa A, na verdade eu era quarteirizado. Era assim: eu trabalhava pra Empresa A. Não, era assim: eu era contratado pela Empresa B, certo? A Empresa B prestava serviço pra Empresa A. Eu prestava serviço pra Empresa B. Não, não. Quer ver... Eu trabalhava pra Empresa A. Não, era assim: eu, dentro da Empresa A, eu trabalhava pra Empresa B. A Empresa B trabalhava pra Empresa C Brasil, a Empresa C Brasil trabalhava pra Empresa C Espanha. A Empresa C Espanha trabalhava pra Empresa A. Você entende? Então, na verdade, olha: era Empresa A, Empresa C Espanha, Empresa C Brasil, Empresa B, eu estou aqui. Então você imagina a diferença que saiu daqui do cara, do que o cara pagou pra cá e o que eu estou pegando aqui na ponta. Né? Então, na verdade, a Empresa B ganhava um xis a mais da Empresa C Brasil, a Empresa C Brasil ganhava um xis a mais da Empresa C Espanha, e a Empresa C Espanha ganhava um xis a mais da Empresa A. Acho que essa é a coisa mais sui generis que eu vivi, assim. Na verdade é quinteirizada, porque era...

- São cinco.

Então nessa brincadeira você fala: o cara é terceirizado, mas se você for pegar mesmo a história, pegar por trás uma informação mais detalhada de como está o processo da ponta até a ponta, você vai ver que tem muito mais gente no meio. (Entrevista 22).

Existia a Empresa A, mas o nosso vínculo era apenas para receber. Toda a nossa gestão, todo o nosso reporte era tudo pra Empresa B. Como se fosse um funcionário da Empresa B que não recebe pelo RH... Eu recebia pela empresa terceira, mas todo o meu reporte, de horário, carga horária, horas extra, custos, de cobranças era lá. (Entrevista 15).

Vilanova e Salgues (2007) discutem a mudança de país que algumas empresas fazem com a intenção de reduzir de custos. Os resultados encontrados nesta pesquisa apóiam este tipo de argumentação, pois um dos objetivos relatados da quarteirização foi a redução de custo, por meio da transferência de parte das operações para países com baixo custo de mão-de-obra.

- Por que a Empresa A coloca as atividades aqui, em vez de ser lá em Nova York, já que você trabalha direto para Nova York?

Porque é mais barato. E porque agora eles estão inclusive cortando, porque China e Índia está muito mais barato, então eles estão mandando pra lá.

Alguns entrevistados até relataram o uso de uma linguagem pejorativa em relação às empresas intermediadoras, o que reflete a visão deles sobre o sistema.

A gente até brinca, é um termo feio, a gente chama as consultorias de cafetão. Porque eles estão levando dinheiro em cima da gente, porque nessa da gente emitir e eles emitirem, eles ganham um percentual em cima da gente. A gente costuma brincar e chamá-los de cafetão. (Entrevista 7). A disseminação de vínculos Não CLT foi comum em alguns segmentos, como nos casos de TI e comunicação. A política governamental e a fiscalização mostraram-se elementos importantes no estabelecimento de parâmetros de estruturação do mercado de trabalho. As ações governamentais nos últimos anos propiciaram o aumento em paralelo à diminuição de alguns tipos específicos de vínculos Não CLT, favorecendo a elevação do número de contratos CLT, com pelo menos uma parte da remuneração, mesmo que pequena, constando como salário.