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Tipos de vínculos existentes no mercado de trabalho

Capítulo 5 – Apresentação e discussão dos resultados encontrados

5.2 Tipos de vínculos existentes no mercado de trabalho

A partir das primeiras entrevistas realizadas surgiu um cenário muito mais diversificado do que o inicialmente previsto. Apareceram diversas nuances e particularidades nos tipos de vínculos que as pessoas estabelecem no mercado de trabalho. Era bastante comum que o indivíduo com experiências de trabalho CLT e por meio de Pessoa Jurídica tivesse tido também outros tipos de vínculo. Mesmo dentro do contrato CLT, apareceram algumas exceções não previstas inicialmente. Cada uma destas características implica em questões práticas, que influenciam no relacionamento entre o indivíduo e a empresa na qual ele trabalha. Estes diferentes tipos de vínculos de trabalho existiam de forma simultânea dentro das organizações.

Porque é assim, a Empresa A tem três categorias, vamos chamar assim, pelo menos em TI, que é o universo que eu conheço. Ela tem os CLTs. Ela tem os terceiros, que ela chama de “heads” – os terceiros fixos. E ela tem os terceiros por projeto – que estão lá por um tempo menor, teoricamente. (Entrevista 7).

E eu não estava tendo aumento, porque eles lá, pelo menos lá na Empresa A, eles têm três formas contratuais. Eles têm o CLT, eles têm o que eu era, o PJ, e têm o que eles chamam de Cotas, ou Flex, o nome que eles conhecem, eu não sei se você conhece essa modalidade. (Entrevista 14). - Então a empresa tem concomitantemente CLT full, CLT Cotas, PJ, cooperativa...

Cooperativa acabou.

- Tinha cooperativa, e tinha o cotista. São cinco.

É, o cotista que está acabando. Agora, assim, como é lá: aí eu entrei, a gente fez esse trabalho, eu chamei uma consultoria de remuneração e aí a gente fez esse trabalho todo de mapear as carreiras e os valores em todas as modalidades. (Entrevista 32).

Os vínculos Não CLT são um artifício utilizado por algumas empresas para fugir da tributação. Isso foi relatado por alguns entrevistados, que normalmente gostavam desta prática, pois desta forma eles também pagavam uma carga tributária menor.

Todos os professores web, que eram sei lá, 80, eram dessa cooperativa, então eles tinham alguma coisa que eles faziam, que se você me perguntar se era um cambalacho eu não sei te dizer, mas eles quebravam o seu pagamento em dois: um que eles chamavam de Projeto A, que eles não tributavam – isso era um cambalacho deles, sim – e um outro pedaço que eles tributavam. Então o seu custo era muito menor, porque tinha uma parte livre de imposto. (Entrevista 11).

Eu tenho que te contar que trabalhava como prestadora sem minha pessoa jurídica, porque um acordo lá era um pouco sujo. “Eu arrumo uma nota pra você, você presta seu serviço, o dinheirinho vai entrar direitinho na sua conta”.

- Mas a nota era da Empresa?

Era a própria Empresa. O diretor de lá, o homem que cuidava de dinheiro, que foi quem me contratou, tinha o esquema dele e a coisa era exatamente essa: “pode ficar tranqüila, o dinheiro vai cair na sua conta nesse dia, deixa que eu me viro com a nota”. Não sei se ele declarava uma porcentagem do imposto e pagava outra, não sei que acordo era esse. (Entrevista 12).

Dada a diversidade de vínculos de trabalho encontrada, decidimos então caracterizar com base na legislação vigente (BRASIL, 1943) os tipos mais comuns existentes no mercado de

trabalho. A categoria de bolsista não é coberta pela legislação e sua definição foi elaborada com base na realidade.

5.2.1 Definição formal dos vínculos existentes no mercado de trabalho O funcionário CLT

O indivíduo tem um contrato individual de trabalho estabelecido por meio da assinatura da carteira por parte do empregador.

A Pessoa Jurídica

O indivíduo constitui uma Pessoa Jurídica com um ou mais sócios. Essa Pessoa Jurídica emite uma nota fiscal para cada serviço prestado e/ou produto vendido para outras pessoas jurídicas ou pessoas físicas. A Pessoa Jurídica pode ter ou não funcionários. Para a prestação de serviços da Pessoa Jurídica não caracterizar um vínculo empregatício não pode haver exclusividade, relação de subordinação e habitualidade.

Por exemplo, um profissional da área de informática pode constituir uma PJ e, no esquema acima, prestar um serviço para um banco. Um contador pode constituir uma PJ e fazer um contrato com uma associação civil para fazer a contabilidade da associação ou com uma pessoa física para fazer a declaração de imposto de renda etc.

O autônomo

O autônomo é um profissional que presta um serviço para um cliente (pessoa física ou pessoa jurídica) e, uma vez prestado o serviço, entrega ao cliente um RPA (Recibo de Pagamento a Autônomo). Seus impostos e contribuições são descontados no momento do pagamento pelo cliente, que é o responsável pelo recolhimento. Uma vez feito o pagamento termina seu relacionamento com o cliente. Por exemplo: uma empresa contrata um profissional de informática para o desenvolvimento de programas computacionais específicos para sua empresa. Feito o serviço, o analista de sistemas emite um RPA e é feito o pagamento. Neste momento cessa o relacionamento entre o profissional de informática e a empresa. Em muitos casos, quem contrata o serviço é uma pessoa física, como quando contratamos alguém para fazer a manutenção de computadores em nossa residência. Nestes casos, por lei, o profissional de informática também deve emitir um RPA; entretanto, muitas vezes quando a prestação de serviços é para uma pessoa física, isso não ocorre.

O cooperado

O cooperado está associado a uma cooperativa que é uma sociedade sem fins lucrativos. Uma cooperativa presta serviços ou vende produtos para uma pessoa física ou jurídica. De acordo com o trabalho feito por cada um dos cooperados, a cooperativa divide entre eles os ganhos. Uma cooperativa de professores é um exemplo deste tipo de organização.

O bolsista

O indivíduo recebe uma remuneração por estar estudando em um programa de pós-graduação e desenvolvendo um projeto de pesquisa.

5.2.2 Definição dos vínculos existentes no mercado de trabalho com base na pesquisa

Praticamente todos os vínculos Não CLT encontrados nas entrevistas fogem aos casos previstos em lei que acabamos de descrever. Este resultado era esperado, tendo em vista que os entrevistados eram pessoas que tinham vínculos Não CLT, mas dentro de relações de trabalho que caracterizariam vínculo empregatício: eles tinham uma relação exclusiva, com subordinação e habitual. Na maioria dos casos, o entrevistado possuía uma Pessoa Jurídica e emitia notas fiscais para uma mesma empresa, mês após mês.

Ao final da coleta de dados consolidamos os diferentes tipos de relações de trabalho encontradas em dois grandes grupos: vínculos CLT, com 3 tipos, e vínculos Não CLT, com 15 tipos. Cada tipo foi nomeado e definido pela pesquisadora com base em suas características próprias.

Alguns termos aqui definidos são utilizados com diferentes significados pelos entrevistados, que algumas vezes usam nomes iguais para designar coisas diferentes, e em outros momentos usam nomes diferentes para designar coisas iguais. Isso foi bastante comum para a denominação CLT Flex e CLT Cotas, que são utilizadas como sinônimos pelos entrevistados, mas que na verdade ao longo da coleta de dados a entrevistadora identificou que estão relacionadas com duas situações distintas: em uma o indivíduo tem vinculação apenas por contrato CLT e na outra além do contrato CLT ele possui também uma Pessoa Jurídica.

- Chama... CLT Cotas e CLT Flex são sinônimos? É.

- É a mesma coisa?

O presente trabalho identificou que este indivíduo, que muitas vezes é chamado simplesmente de PJ, na verdade não é de um tipo único: existem diversas particularidades neste tipo de vinculação que normalmente são ignoradas. Na nossa amostra encontramos dentro do grupo de prestadores de serviço também outros tipos de vínculo com várias semelhanças com o PJ, tais como o cooperado, o sócio, entre outros, mas que possuem características próprias. Normalmente as pesquisas sobre as relações de trabalho não tratam de todas estas especificidades, o que leva a uma simplificação perigosa do universo estudado, pois as implicações individuais e sociais das relações de trabalho são influenciadas pelo tipo de vínculo estabelecido.

Fernandes e Carvalho Neto (2004) discutem as implicações, para as políticas de gestão de recursos humanos, da existência de múltiplos vínculos de trabalho de forma simultânea dentro das organizações. Neste caso, os gestores passam a ter sob sua supervisão trabalhadores com contratos específicos, por períodos distintos, segundo características do serviço prestado. Aparentemente a maioria dos administradores ainda repete o mesmo tipo de gestão existente nas décadas passadas, para uma economia estável e uma força de trabalho com vínculo tradicional, em tempo integral de dedicação.

A diversidade de vínculos Não CLT existente no Brasil é uma situação peculiar da realidade brasileira e seu entendimento só é possível se levarmos em conta questões legais, tributárias, fiscais, políticas e econômicas. A classificação apresentada a seguir é proposta pela entrevistadora com base nos dados coletados.

5.3 Classificação de vínculos de trabalho encontrados na pesquisa