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Capítulo 4 Descrição do grupo pesquisado

4.5 Ser Não CLT – O que acha disto?

Outros aspectos analisados foram como o indivíduo se sentia em seus vínculos de trabalho Não CLT e a variação do nível de renda no momento da última mudança de vínculo de trabalho para Não CLT. Como a questão de gostar de ser Não CLT não era uma pergunta explícita do roteiro de entrevista, esta classificação foi feita a partir de uma análise geral do conteúdo da entrevista.

Entrevista Gosta de ser Não

CLT

Quer voltar a

ser CLT Escolheria ser Não CLT Nível de renda na mudança

Porque mudou para um vínculo

Não CLT

5 não sim não menor obrigado

35 não sim não menor desempregado 14 não sim não menor só havia PJ 39 não sim não menor só havia PJ 40 não sim não menor só havia PJ 18 não sim não maior só havia PJ 20 não sim não maior só havia PJ 27 não sim não maior só havia PJ 27 não sim não maior só havia PJ 41 não sim não maior só havia PJ

15 não sim não maior quis

23 não sim não maior quis

24 não sim não maior quis

28 não sim não maior quis

36 não sim não maior quis

8 indiferente depende do $ depende do $ maior só havia PJ 13 indiferente indiferente depende do $ maior só havia PJ 9 indiferente indiferente depende do $ maior só havia PJ 6 indiferente indiferente depende do $ maior quis 26 sim indiferente indiferente maior quis 11 sim não depende do $ maior quis

4 sim não sim maior obrigado

21 sim não sim igual desempregado

2 sim não sim maior desempregado

30 sim não sim maior desempregado 34 sim não sim menor só havia PJ

3 sim não sim maior só havia PJ

7 sim não sim maior só havia PJ

22 sim não sim maior só havia PJ 37 sim não sim maior só havia PJ 43 sim não sim maior só havia PJ

1 sim não sim maior quis

10 sim não sim maior quis

12 sim não sim maior quis

16 sim não sim maior quis

17 sim não sim maior quis

19 sim não sim maior quis

25 sim não sim maior quis

29 sim não sim maior quis

31 sim não sim maior quis

32 sim não sim maior quis

33 sim não sim maior quis

38 sim não sim maior quis

42 sim não sim igual só havia PJ Quadro 8 – A situação Não CLT

A maior parte dos entrevistados sente-se/sentia-se confortável com uma situação de trabalho Não CLT: quase 60% disseram que gostavam de ser Não CLT e quase 10% são indiferentes a esta questão. Apenas 33% falaram claramente do seu desconforto com este tipo de vínculo; todos os entrevistados deste grupo gostariam de voltar a ser CLT e nunca escolheriam outro tipo de vínculo. Deve-se ressaltar, no entanto, que apesar deste grupo de insatisfeitos com vínculos Não CLT ser menor, ele corresponde a um terço dos entrevistados.

Como a carga tributária e os encargos trabalhistas são de uma forma geral menores em vínculos Não CLT, uma grande parte dos entrevistados (81%) aumentou a sua renda por ocasião da mudança para um vínculo Não CLT. Inclusive, o grupo de entrevistados que não tem preferência explícita por nenhum tipo de vínculo (indiferente), deixou claro que escolheria ser Não CLT dependendo do aspecto financeiro.

Apesar da maioria dos entrevistados ter tido um aumento de renda na última mudança, 6 pessoas (14%) passaram por uma diminuição de seus rendimentos. Em um dos casos a diminuição foi devido a uma mudança de área de atuação, com a qual a pessoa mudou de profissão e entrou em um cargo de principiante. Em todos os outros casos a diminuição da remuneração esteve associada a uma precarização do trabalho, com uma ampla deteriorização das condições de trabalho, não restrita apenas à remuneração. Como era de se esperar, nenhuma destas pessoas gostava de ser Não CLT e todas queriam retornar ao vínculo CLT quando estavam em outro tipo de vínculo. É importante frisar que metade delas (3) já havia retornado à situação de vínculo CLT no momento da entrevista.

Estes resultados indicam a existência de dois grupos distintos de entrevistados: um maior (66%) que está/estava confortável com uma situação Não CLT e que teve um aumento de renda associado a esta situação, e um outro grupo menor (33%), que sente-se/sentia-se extremamente desconfortável com vínculos Não CLT, e que experimentou uma precarização das condições de trabalho neste tipo de vinculação.

Dividimos as razões para mudança para um vínculo Não CLT em 4 grupos: • Obrigado – 9%: para permanecer na empresa teria que mudar o vínculo;

• Desempregado – 5%: estava desempregado quando recebeu a oferta de emprego; • Só havia PJ – 37%: atuava em um segmento em que todas as oportunidades de

• Quis – 47% - tinha a possibilidade de continuar em um emprego CLT ou de encontrar emprego com vínculo CLT, mas preferiu a oportunidade Não CLT oferecida.

As pessoas na situação de Obrigado e de Desempregado são um grupo pequeno; a maior parte dos entrevistados estava nos grupos Só havia PJ (37%) e Quis (47%). Os resultados apontam para duas tendências claras neste tipo de ambiente. Uma tendência é a existência de uma preferência nítida por parte de um grupo de trabalhadores por vínculos de trabalho que possibilitem uma maior remuneração.

Esta preferência está bem ilustrada no depoimento de um dos empresários entrevistados. Quando ele começou a empresa, em 1992, trabalhava apenas com o regime CLT. Este quadro se manteve até 1997, quando começou a receber pressão dos próprios funcionários para migrar para o modelo PJ. Alguns deles começaram a receber propostas de outras empresas para trabalhar como PJ. Ele e um funcionário fizeram as contas e constataram que, na empresa, como CLT, o funcionário ganhava R$ 6,50 por hora, enquanto que a outra empresa oferecia R$ 8,50 por hora. Era um aumento de 30%. Depois de analisar a situação ele ofereceu pagar R$ 13,00 a hora, porque era o quanto o funcionário lhe custava. O funcionário perguntou: “como é que eu te custo 13 e só recebo 6,50?”. Ele mostrou a planilha de custo e explicou: “o seu salário bruto é este, eu pago isto, pago isto, pago isto. Você desconta isto, então o que você vê é isto; agora, o que você custa pra empresa é isto”. Depois desta conversa o funcionário migrou para PJ e continuou trabalhando para a empresa. A partir deste caso, o entrevistado criou uma opção para quem estava na empresa: qualquer um poderia converter seu vínculo de trabalho pra PJ, ou continuar CLT, se quisesse. Durante a entrevista ele falou que prefere contratar seus funcionários por meio de vínculos CLT, mas que passou a oferecer a opção de contratação PJ porque seu interesse era manter seus profissionais, para não perder mão-de-obra qualificada.

Apesar da remuneração ser a principal razão relatada, ela não foi a única.

Eu acho que o fato de você não ser CLT, você tem a oportunidade de negociar. Isso não quer dizer que você vá conseguir, mas você pode negociar. Eu acho isso muito legal. Prefiro muito e acho muito interessante (Entrevista 3).

Eu acho que eu prefiro ser PJ. Se eu puder, vou sempre optar por uma coisa em que eu tenha mais qualidade de vida, e acho que você sendo PJ você tem mais, você é menos refém do sistema, você é mais isenta (Entrevista 11).

Eu prefiro ser PJ. Eu ganho menos hoje, mas prefiro ser PJ, porque a realização é muito maior (Entrevista 12).

Outra tendência identificada é o fato de que em algumas áreas existe um predomínio de empregos Não CLT.

Não tinha outra opção. Era desse jeito (Entrevista 3).

É assim, acho que era uma coisa do mercado. Meio que assim, ou você vira PJ ou você está fora. Teria que procurar outra profissão, principalmente trabalhando com informática. Não tinha muita escolha. Não tinha essa conversa, o que você vai escolher. Não tem escolha, ou você é PJ, ou você muda de profissão (Entrevista 7).

Apesar das razões da mudança nestes grupos serem opostas, nos dois grupos existiam pessoas insatisfeitas e satisfeitas com a condição de Não CLT. Como era de se esperar, o índice de insatisfação foi mais que 50% entre as pessoas que fizeram a migração porque só tiveram oportunidades Não CLT. Entre os que migraram porque quiseram, o índice de insatisfação foi de apenas 25%.

Mesmo assim, é importante salientar que, entre aqueles que fizeram a mudança por falta de outra oportunidade, o índice de satisfação com a situação Não CLT foi de 38%. Isso aponta para a complexidade de fatores existentes nas relações de trabalho, onde a vivência de uma situação não prevista inicialmente (ser Não CLT) pode propiciar experiências que mudam a opinião da pessoa, fazendo com que ela não tenha mais o desejo de ser CLT. O mesmo ocorreu também na direção oposta. Apesar da situação Não CLT ter sido uma escolha do entrevistado, 25% dos entrevistados não gostaram da experiência e queriam retornar para um vínculo CLT.