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Capítulo 5 – Apresentação e discussão dos resultados encontrados

5.12 Trajetória profissional

A árvore de trajetória profissional trata de questões relacionadas ao percurso, expectativas e sentimentos dos entrevistados em relação a sua vida profissional. Os conteúdos identificados foram agrupados nos seguintes galhos:

• Porque deixou de ser CLT • Razão para mudança de emprego • Intenção de retorno à CLT • Perspectivas profissionais

• Satisfação com a vida profissional

Os três primeiros galhos da árvore trajetória profissional já foram discutidos anteriormente. Vamos analisar agora os conteúdos de dois galhos: o que os entrevistados estavam planejando fazer no futuro (“Perspectivas profissionais”) e sua satisfação com a vida profissional que tinham agora (“Satisfação com a vida profissional”). Esses galhos retratam a avaliação dos entrevistados sobre a sua vida profissional até o presente momento e o seu planejamento para o futuro.

5.12.1 Perspectivas profissionais

As entrevistas desvendaram uma grande diversidade de estados de espírito e de planos para o futuro. Entre as diversas possibilidades discutidas pelos entrevistados destacamos: continuar sempre se renovando e aprendendo coisas novas; poder no futuro dar mais atenção à família e à sua vida particular; abrir um negócio próprio; trabalhar em uma empresa estatal; seguir uma vida acadêmica. Também ocorreram casos em que os entrevistados simplesmente não tinham plano algum para o futuro ou estavam “decididos a mudar de vida, pois não queriam passar o resto da vida fazendo a mesma coisa” sem, entretanto, ter nenhum plano objetivo em mente. Seis dos entrevistados almejavam ser empresários, estabelecer um negócio próprio que lhes desse uma boa situação financeira.

-Você já falou em vários momentos que é um mercado muito dinâmico, que você já mudou de emprego várias vezes. O que você gostaria de estar fazendo nos próximos anos? Que tipo de emprego?

Abrir um negócio meu. Acho que é uma coisa que une, você poder trabalhar, ter mais flexibilidade, em algum momento é uma coisa que eu e meu marido pensamos muito: ter um negócio. Não sei qual, não sei em que momento, mas a gente pensa. O mercado de trabalho está cada vez mais novo. Ele também tem 34, está em banco, é executivo. É muito difícil ter executivos mais velhos. É um mercado que é o que ele fala: ele tem uma estabilidade, mas não sabe por quanto tempo. Então é

uma coisa que a gente pensa muito no futuro, mas de forma conjunta. - De abrir uma empresa, mas sem saber a área ainda?

É, uma empresa que tivesse uma oportunidade de mercado, não necessariamente na minha área. Não penso em abrir uma agência, não tenho essa vontade, tenho uma vontade de ter um negócio meu. (Entrevista 9).

Essa é uma pergunta difícil, né. Olha, num médio prazo, Márcia, eu realmente tinha planejado que eu investir no doutorado para eu entrar para entrar para a vida acadêmica mesmo. Pra me vincular a alguma instituição, para poder fazer pesquisa. Eu ter isso como a minha atividade principal. (Entrevista 1).

Não, o que eu imagino, assim, quer dizer, visualizando assim a minha... O que seria essa carreira acadêmica? Eu penso alguma coisa assim na USP, quer dizer, uma universidade pública, eu gosto bastante de universidade pública, gosto mais do que do esquema da GV, assim, tal. Acho que a GV é muito boa pra gerar negócios, ela é muito atraente nesse aspecto, mas eu não gosto muito do ambiente, gosto mais da USP. Então me vejo como sendo professor da universidade pública, que tem uma remuneração mais baixa, mas ao mesmo tempo, como estou ligado à área de administração e negócios, sempre acabam aparecendo consultorias, então me vejo dessa forma: prestando consultoria e trabalhando na área de ensino e pesquisa. (Entrevista 25).

O BNDES é um emprego nobríssimo, você vai trabalhar com o desenvolvimento econômico social do país, só tem gente boa trabalhando lá dentro, é de desenvolvimento, então o estresse tende a negativo, você tem pouco estresse, carga horária, banco de horas, que tal?. Hoje eu trabalhei dez horas por dia, então amanhã eu posso chegar ao meio-dia. “Cadê a Maria?” “Está cumprindo o banco de horas dela”.

- Ah, tem isso?

Tem, olha que ótimo! Entendeu? CVM já não é tanta moleza não, é 9 às 18. Eu já pesquisei tudo! Então isso me deu um estalo agora, nesses últimos seis meses que eu falei: caramba! Se precisar eu parar um ano pra estudar, então seis meses... E não é um concurso igual os juristas. Eu não tenho a menor vontade de ser fiscal de renda, esses concursos de fiscal de INSS, fiscal de renda, não tenho a menor vontade de fazer isso, acho que é uma roubada danada, acho que você vai fazer um trabalho chato, num país em que é tudo muito complicado, você vai mexer com politicagem, com corrupção... Não tenho a menor vontade. Agora, você pegar um emprego estatal desse, nessa outra linha – Petrobras, CVM, BNDES, Banco do Brasil – é um espetáculo! É por aí que eu vou! (Entrevista 11).

É eu tenho muita vontade de fazer um concurso público porque tenho medo da instabilidade da empresa privada.

- E tem algum tipo de concurso que você já deu uma olhada?

Eu dei uma olhada no BNDES, no da Petrobras, que eu até podia ter feito, porque achei que a prova não foi difícil. O negócio é que você tem que ter tempo, e a empresa, o mundo corporativo, não te dá tempo pra estudar.

- Você tem pensado mais recentemente nisso?

Pensei de uns dois anos pra cá, porque eu tenho colegas lá na TIM que fizeram e passaram. - Pra concurso público?

Pra Petrobras. Eu entrei na vaga de um que acabou de passar na Petrobras. (Entrevista 18). - Qual é a sua expectativa quanto ao futuro em termos profissionais?

Sabe, sou uma pessoa que não pensa muito no futuro. Tenho que reconhecer isso. Mas eu não tenho ambições assim, ah!, Pretendo me tornar gerente. Eu nunca quis ser chefe, eu nunca quis... Quero fazer sempre um bom trabalho, mas nunca aspirações de gestão. Eu quero continuar na área técnica e sempre técnica e, assim, sempre conhecendo coisas novas, eu gosto de coisas novas. A minha expectativa com relação ao futuro é estar sempre renovando. Dentro da mesma área, mas sempre renovando conhecimento. (Entrevista 7).

- Qual é sua expectativa em relação ao seu futuro profissional?

Enfim... Continuar me atualizando, continuar participando das coisas novas que aparecem no mercado. Detesto coisa velha, aquilo que eu já conheço já perdeu a graça, então quero continuar crescendo, evoluindo, conhecendo mais. (Entrevista 10).

- Você não gostaria de estar fazendo a mesma coisa, é isso?

É. Não, porque cansa, a sensação é que há cinco anos eu fazia igual, e por saber que não é o fim da linha, que existem outras coisas. Isso é interessante você me perguntar, porque eu estou fazendo uma revisão das coisas. No começo, a idéia de que não havia fim da linha estava muito mais no sentido de ter autonomia. Ah, eu trabalho abaixo de você, bato no teto e volto, não tenho muita autonomia. Ganhei mais autonomia. Hoje em dia, com bastante autonomia, eu já acho que a minha diversificada não pode ser mais na linha da autonomia. É irônico, eu me sinto mais autônoma trabalhando pra muitos, mais abaixo, como roteirista, não como diretora, do que como eu era há cinco anos atrás quando eu era diretora de uma coisa grande, eu estava acima na hierarquia mas estava mais presa. Se eu perco aquele contrato eu perco tudo. Hoje eu me sinto mais fluida, mais legal. Agora, eu não vejo com bons olhos a possibilidade de fazer exatamente a mesma coisa; eu queria continuar fazendo isso e experimentar coisas novas, que é basicamente ficção. (Entrevista 12).

- Quais são seus planos profissionais então?

Profissionais? Não espero de forma alguma continuar nisso nos próximos anos da minha vida, trabalhando com isso. (Entrevista 22).

- Você gostaria de continuar fazendo o que você está fazendo hoje, no futuro? Não.

- O que você gostaria de fazer?

Boa pergunta! Não sei, alguma coisa que me desse mais qualidade de vida, não sei exatamente o que. (Entrevista 27).

5.12.2 Satisfação com a vida profissional

Três dos entrevistados falaram de sua satisfação com sua trajetória profissional como um todo. A grande maioria (30) mostrou-se feliz com sua vida profissional nos dias de hoje. Esse resultado é semelhante ao encontrado no item “Satisfação com a vida pessoal”. Em 28 casos as respostas nos dois grupos foram coincidentes e em apenas 2 foram discordantes. Alguns entrevistados explicitamente mencionaram a interferência da vida profissional na vida pessoal. Para eles uma boa vida profissional tem um impacto positivo na vida pessoal, já uma vida profissional ruim interferiria de forma negativa.

- Numa escala de zero a dez qual é o seu nível de satisfação com a sua vida profissional? 9,5.

- É alta então. É. (Entrevista 26).

- Numa escala, de uma maneira geral, como é que você diria que é seu nível de satisfação com a sua vida profissional atualmente?

Acho que está bastante grande. Está bastante alto. (Entrevista 31); - Qual é o seu nível de satisfação com a sua vida profissional? Ah, estou bem satisfeita. (Entrevista 32)

No entanto, alguns profissionais de TI relataram um nível bem baixo de satisfação. Para este grupo a atividade profissional é apenas um meio de ganhar dinheiro, e muitos não têm uma identificação maior com o que fazem. Eles se mantiveram na área pois era um mercado com boas oportunidades de trabalho, mas nunca gostaram muito de suas atividades.

- Qual que você diria que é o seu nível de satisfação com a sua vida profissional atualmente numa escala de zero a dez?

Ah, eu acho que, não atualmente, atualmente seis mais ou menos, eu acho que chegou a cinco ou quatro, eu nunca... é aquilo que eu falei, eu sempre fui um pouco mais pé no chão e nunca fiz aquilo que eu gosto em relação a minha vida profissional. Eu acabei por osmose entrando dentro de um processo, era suficiente, me dava uma certa garantia pra mim ter a vida que eu tava imaginando pra mim, então eu continuava, continuei e fui tocando. Não tenho grande satisfação não, por isso eu já tô há algum tempo pensando em querer parar. (Entrevista 33).

Nenhum dos entrevistados expressou o desejo de trilhar uma carreira gerencial dentro do mundo corporativo. Mesmo a possibilidade de uma carreira técnica foi poucas vezes mencionada. Ao pensar sobre o seu futuro profissional o grupo aqui estudado faz uma análise a partir de uma perspectiva individual. Alguns relataram um plano profissional que incluía algum membro da família na possibilidade de um negócio próprio. A idéia de pensar a carreira como uma seqüência de posições com maiores responsabilidades e maiores salários, dentro de um ambiente organizacional, de forma geral não é compartilhada por este grupo.