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Os novos critérios de acesso à aposentadoria

PARTE II O DIREITO À PROTEÇÃO SOCIAL CONFIGURADO NO TRABALHO

5 Conflitos e dilemas das regras previdenciárias que demarcam limites da proteção social do

5.2 A regra transitória de acesso à aposentadoria por idade mediante comprovação da

5.2.2 Os novos critérios de acesso à aposentadoria

Se, por um lado, a realidade do mercado de trabalho rural configura uma situação de exclusão do assalariado do direito à proteção previdenciária por meio da técnica tradicional do seguro social, parece claro, por outro lado, existir obstáculos de diversas ordens (econômica, política e legal) no sentido de se manter em favor desses trabalhadores a política de proteção até então vigente, em especial no que concerne à forma de acesso à aposentadoria por idade.

Desde o ano de 2006, com a aproximação do fim da regra especial de transição para o acesso à aposentadoria, era evidente que seria necessário rediscutir novas regras para garantir minimamente o acesso dos assalariados rurais à proteção previdenciária. Entretanto, as sucessivas Medidas Provisórias que foram editadas mostrou, primeiro, que não havia no âmbito do governo uma dimensão clara de como enfrentar o problema previdenciário dos assalariados rurais. Segundo, ficaram evidentes as dificuldades internas do governo em estabelecer instrumentos jurídicos mais amplos para uma política mais consistente de inclusão previdenciária fora do paradigma tradicional do seguro social, como ocorria com os preceitos previstos no artigo 143 da Lei n. 8.213/91. Terceiro, revelou-se para o governo que é preciso buscar alternativas para superar a situação incômoda e perversa de precariedade e informalidade que marca as relações de trabalho no campo e que a política de previdência social pode e deve ser um instrumento a ser utilizado também para este fim.

A Medida Provisória n.º 410/2007, publicada em 28/12/2007 – convertida na Lei n.º 11.718, publicada em 23/06/2008 – demonstra ser uma tentativa do governo, e com as quais os trabalhadores rurais parecem compartilhar, de tentar contornar as três situações acima descritas. De um lado, porque institui uma nova modalidade de contratação de trabalho na área rural cujos elementos merecem uma abordagem mais detalhada, o que faremos num tópico específico mais adiante. De outro lado, o referido diploma legal traz mudanças

substanciais nas regras de acesso dos assalariados rurais ao benefício da aposentadoria por idade, e, para que essa proteção seja efetivada, vai depender muito da aplicabilidade e da funcionalidade do novo modelo de contratação instituído.

Nesse sentido, o novo diploma legal prorrogou, para até dezembro do ano de 2010, o prazo do artigo 143 da Lei n.º 8.213/91 de modo a continuar permitindo o acesso dos assalariados rurais à aposentadoria por idade no valor de um salário mínimo, mediante a comprovação apenas do exercício da atividade rural. Essa regra vale tanto para o segurado empregado quanto para o contribuinte individual (art. 2º e seu parágrafo único, da Lei n.º 11.718/2008).

A partir do mês de janeiro de 2011, entrarão em vigor novas regras de transição diferente do modelo vigente. Assim, para o assalariado rural que efetivamente comprovar a prestação de trabalho a outrem mediante relação de emprego, a concessão de aposentadoria por idade, no valor equivalente ao salário mínimo, terá uma contagem de tempo de carência especial por meio das seguintes regras: no período de 1º de janeiro de 2011 a 31 de dezembro de 2015, cada mês comprovado de emprego será multiplicado por três, mas com limite de doze meses dentro do respectivo ano civil (art. 3º, inciso II, da Lei n.º 11.718/2008); no período de janeiro de 2016 a dezembro de 2020, cada mês comprovado de emprego será multiplicado por dois, limitado a doze meses dentro do respectivo ano civil (art. 3º, inciso III, da Lei n.º 11.718/2008).

Considerando que estamos tratando aqui de trabalhadores empregados, cumpre observar que a este compete comprovar apenas o vínculo empregatício e não o recolhimento de contribuições, posto que o § 5º do artigo 33 da Lei de Custeio (Lei nº. 8.212/91) determina que, por ser de obrigação do empregador fazer o recolhimento mensal das contribuições retidas dos empregados, tais contribuições serão consideradas presumidamente recolhidas.

Outra observação a considerar é que a partir de janeiro de 2021 encerrar-se- á a nova regra transitória, condicionando o direito à aposentadoria do assalariado rural empregado ao critério da regra comum, ou seja, cada mês comprovado de emprego valerá por igual tempo para fins da contagem do período de carência exigido para acesso ao benefício. Com isso, tem-se a pretensão que nos próximos anos os assalariados rurais, se não todos, ao menos a grande maioria esteja trabalhando mediante contratos devidamente formalizados231. Este é um ponto de incógnita, pois existem inúmeros fatores a serem considerados para que as relações de trabalho no campo sejam formalizadas. Para o governo, no decorrer desse novo período de transição poder-se-á fazer uma avaliação sobre a efetividade das novas regras e, a partir de então, ver que rumos tomar. Já na visão dos trabalhadores a nova regra deveria tornar-se permanente como garantia mínima de proteção social232. Parece-nos que, nos próximos anos, essa vai ser a tônica de uma nova discussão a ser travada no campo político entre os trabalhadores e o governo.

Uma última questão e que resulta das novas regras estatuídas, é que a partir de 1º de janeiro de 2011 o assalariado rural que não conseguir comprovar a relação de emprego enquadrar-se-á perante a previdência social como contribuinte individual

231 Para o governo, é possível que nos próximos anos haja uma mudança de comportamento dos empregadores

rurais no sentido de maior formalização dos contratos de trabalho. É o que se extrai nos argumentos da exposição de motivos da Medida Provisória n.º 410/2007: “(...) 18. No entanto, sabendo que o prazo até 31 de dezembro de 2010 é exíguo para que seja promovida a mudança no comportamento dos empregadores da área rural quanto à formalização das relações do trabalho, estamos propondo mecanismo que permitem a contagem especial do tempo de contribuição desses trabalhadores até o ano de 2020 (...)”. Seria mais prudente, no entanto, o governo assinalar que medidas serão adotadas nos próximos anos para que efetivamente haja maior formalização dos contratos de trabalho. (ver: BRASIL. Medida Provisória 410: exposição de motivos. Disponível em : <https://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Exm/EMI-40-MF-MPS- MTE.htm>, Acesso em 11 de outubro de 2008).

232 Argumenta o governo que “(...) O ideal seria adotar-se uma regra diferenciada permanente, tal como

reivindica a categoria, entretanto, no momento isso não é possível, em razão das limitações impostas pela Constituição Federal, porém o prazo estabelecido é suficientemente grande para propiciar uma avaliação isenta do resultado da simplificação das contratações temporárias, que pode, de um lado, indicar a desnecessidade de se continuar dando a esses trabalhadores tratamento diferenciado e, de outro, a necessidade de sua continuidade, hipótese que implicará em alteração constitucional para superar as atuais vedações. (ver: BRASIL. Medida Provisória 410: exposição de motivos. Disponível em : <https://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Exm/EMI-40-MF-MPS-MTE.htm>, Acesso em 11 de outubro de 2008).

(trabalhador autônomo) e não mais terá qualquer tratamento diferenciado na previdência social. Desse modo, a aposentadoria por idade somente será obtida se comprovado o tempo de carência exigido para o benefício mediante contribuições mensais. Isso, na prática, configura uma situação de exclusão desses trabalhadores da proteção previdenciária pela pouca capacidade contributiva que os mesmos têm perante o sistema.

5.2.3 Perspectivas quanto ao futuro do assalariado rural em alcançar a

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