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A prorrogação do prazo para de acesso à aposentadoria por idade mediante a

PARTE II O DIREITO À PROTEÇÃO SOCIAL CONFIGURADO NO TRABALHO

5 Conflitos e dilemas das regras previdenciárias que demarcam limites da proteção social do

5.2 A regra transitória de acesso à aposentadoria por idade mediante comprovação da

5.2.1 A prorrogação do prazo para de acesso à aposentadoria por idade mediante a

Às vésperas de transcorrer o prazo previsto no artigo 143 da Lei 8.213/91, o governo se viu pressionado pelo Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais227 em estabelecer uma alternativa que não deixasse os assalariados rurais totalmente descobertos da proteção previdenciária. Disso resultou a Medida Provisória n.º 312 - convertida na Lei nº.

225 MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. Anuário estatístico da Previdência Social 2006. Brasília:

MPS/DATAPREV, 2006, p. 550.

226 Conforme PNAD/IBGE 2006. Disponível em <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/

condiçãodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2006 >. Acesso em 22.05.08.

227 O Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais tem uma estrutura verticalizada, cujos

interesses em âmbito nacional são representados pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura-CONTAG; nos Estados, pelas Federações de Trabalhadores na Agricultura; e, nos Municípios, pelos Sindicatos de Trabalhadores Rurais.

11.368, de 10 de novembro de 2006 -, que prorrogou por mais dois anos, apenas para o trabalhador rural empregado, o prazo do referido artigo 143 da Lei 8.213/91. Tratava-se, portanto, apenas de uma medida paliativa para amenizar a pressão dos trabalhadores rurais que exigiam do governo uma resposta que desse maior segurança ao direito de proteção, tendo por base regras estáveis que solucionassem o problema de forma definitiva.

Contudo, a Medida Provisória não surtiu os efeitos esperados já que a questão havia sido equacionada apenas para quem comprovasse a relação de emprego. Essa, aliás, passou a ser a exigência primeira do INSS nos processos de benefícios dos assalariados rurais. Por conseqüência, houve uma enorme frustração dos trabalhadores que não conseguiam cumprir com as exigências da Autarquia previdenciária, ficando, portanto, excluídos do direito à aposentadoria.

É de se esclarecer que só foi possível tomar consciência do pouco efeito prático da Medida Provisória 312/2006 quando começou a haver reclamações dos assalariados rurais em todo o Brasil de que não estavam mais conseguindo se aposentar. Ao que tudo indica, até aquele momento, a principal forma de acesso dos assalariados à aposentadoria ocorria na condição de contribuinte individual. Isso porque, se não fosse possível comprovar o vínculo de emprego, era suficiente comprovar a atividade como trabalhador autônomo, pois a lei lhe amparava também nessa condição.228 E ao que tudo demonstra, o próprio servidor do

INSS se incumbia de adequar o enquadramento do assalariado rural ao tipo de prova constante no processo de requerimento do benefício, o que era plenamente possível de ser feito, pois não havia nenhum impedimento legal para que isso ocorresse.

228 Cumpre observar que a base oficial de dados do Ministério da Previdência Social não nos permite quantificar

os benefícios concedidos por categoria de segurados, mas apenas por espécie de benefícios. Nesse sentido, apenas para demonstrar o quão é importante a regra do direito de acesso à aposentadoria por idade mediante a comprovação do tempo de serviço rural, no mês de julho de 2008, a Previdência social pagou aos trabalhadores rurais um total de 5.017.788 benefícios de aposentadoria por idade ao passo que os benefícios de aposentadoria por tempo de contribuição correspondiam a apenas 11.967 benefícios. (Conforme: MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. Boletim Estatístico da Previdência Social. Vol. 13. n. 07. Julho de 2008, Brasília: MPS, 2008, p. 21 e 29).

A angústia daqueles assalariados que tendo completado ou estando prestes a completar a idade para a aposentadoria após 25 de julho de 2006, sem qualquer perspectiva de acesso à aposentadoria na condição de empregado, levou a organização sindical dos trabalhadores rurais a intensificar a pressão política junto ao governo.229 Disso resultou, em 23 de agosto de 2007, a edição de nova Medida Provisória de n.º 385/2007, estendendo a prorrogação do prazo do artigo 143 da Lei n.º 8.213/91 também para o assalariado rural que não comprovasse o vínculo empregatício, tipificado, portanto, como contribuinte individual.

O ponto nevrálgico de toda esta situação viria a ocorrer em 09 de outubro de 2007, quando o governo editou a Medida Provisória n.º 397 revogando a Medida Provisória n.º 385, sendo que esta, em razão do seu transcurso de prazo, passou a trancar a pauta de votações da Câmara dos Deputados. Nas argumentações do governo230 a desobstrução da pauta era necessária para que aquela Casa Legislativa apreciasse matéria de natureza tributária essencial para o financiamento das ações sociais a cargo do próprio governo. É importante esclarecer, que a Medida Provisória n.º 397 foi rejeitada pelo Ato Declaratório nº. 1, do Senado Federal, publicado no DOU em 14/03/2008, restabelecendo temporariamente os efeitos da Medida Provisória n.º 385, que logo em seguida também foi rejeitada pelo Ato Declaratório nº. 3, do Senado Federal, publicado em 22/04/2008, ambas sob o argumento de não preencherem os pressupostos constitucionais de relevância e urgência. Com isso, voltou o impedimento do acesso ao direito à aposentadoria do assalariado rural que vinha laborando na informalidade.

229 De acordo com a Secretária de Políticas Sociais da CONTAG, Alessandra da Costa Lunas, a instabilidade da

situação dos assalariados rurais na Previdência Social, que já era grave, chegou a uma situação insustentável com a dificuldade de acesso desses trabalhadores aos benefícios previdenciários depois de 24 de julho de 2006. Isso levou o Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais, coordenado pela CONTAG, a promover, no dia 23 de abril de 2007, uma ação de protesto e de ocupação em centenas de agências de atendimento do INSS de 17 Estados da Federação. (LUNAS. Alessandra da C. Entrevista concedida a Evandro José Morello. Brasília. 12 de agosto de 2008).

230 Ver: BRASIL. Medida Provisória n.º 397. Exposição de Motivos. Disponível em:

<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Exm/EM-245-MPS.htm> Acesso em: 26. agost. 08.

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