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A proteção do assalariado rural na perspectiva do contrato de trabalho por pequeno prazo

PARTE II O DIREITO À PROTEÇÃO SOCIAL CONFIGURADO NO TRABALHO

7 A proteção do assalariado rural na perspectiva do contrato de trabalho por pequeno prazo

O direito do trabalho e o direito previdenciário são no mundo jurídico as áreas mais sensíveis às novas mudanças que ocorrem na sociedade, pois envolve o valor primeiro de sua proteção – o ser humano com suas necessidades.

Por isso, o problema social decorrente das transformações da sociedade contemporânea e que se refletem no mundo do trabalho rural tem levado a sociedade brasileira a discutir novos institutos jurídicos no intento de se constituir regulações mais adequadas no âmbito da legislação trabalhista e previdenciária, que possam interagir e mover- se num processo dialético normativamente integrante de fatos e valores que marcam a realidade presente.

Nesse sentido, a Lei n.º 11.718, publicada em 23 de junho de 2008, em que pese algumas questões polêmicas sobre o seu conteúdo, representa a mais nova tentativa de estabelecer no setor rural outro arranjo institucional visando superar o problema do trabalho informal e, consequentemente, da exclusão previdenciária que atinge os assalariados rurais.

Seu texto é oriundo da Medida Provisória n.º 410/2007 e conforme comentado nessa pesquisa traz novas regras que impactam no direito do assalariado rural perante a previdência social (ver capítulo 5), e altera a Lei n.º 5.889, de 1973, ao introduzir em seu texto (artigo 14-A) a modalidade do contrato de trabalhador rural por pequeno prazo visando incentivar os dois pólos da relação contratual à maior formalização. No entanto, essa nova modalidade contratual tem sido objeto de análises por diversos setores da sociedade, em que expressam posições bastante diferenciadas quanto aos efeitos e à eficácia do seu conteúdo.

Dentre os objetivos imediatos previstos com a instituição do referido contrato, o principal é a simplificação da contratação da mão-de-obra na perspectiva de maior

formalização dos contratos e, por conseqüência, na inclusão dos assalariados rurais no Regime Geral da Previdência Social249. Conforme já expusemos nessa pesquisa (capítulo 5), pelas circunstâncias projetadas a partir do ano de 2011 a proteção previdenciária do assalariado rural tende a se agravar caso o mesmo não consiga comprovar, minimamente, a relação de vínculo empregatício perante o sistema. Essa, inclusive, foi a tônica dos debates que levaram os deputados e senadores a aprovar, no Congresso Nacional, a inserção no ordenamento jurídico brasileiro da nova modalidade contratual específica para a área rural.

Para melhor compreensão quanto ao alcance dos objetivos depostos na nova modalidade de contratação do trabalho rural e para melhor dimensionar os desafios que se colocam à sua efetividade, impende apresentar, em síntese, os principais elementos que caracterizam essa nova modalidade contratual.

a) Inicialmente, é de se esclarecer que o contrato de trabalho rural por pequeno prazo difere dos outros tipos de contratos já existentes e que vem sendo aplicados na área rural. Nesse sentido, a contratação do trabalhador rural se presta àquelas atividades de natureza temporária e deverá necessariamente ser feita por produtor rural pessoa física que explore diretamente a atividade agroeconômica. Trata-se, portanto, de um contrato por prazo determinado que não poderá exceder a dois meses de duração dentro de um período de um ano, sob pena de ser automaticamente convertido em contrato por prazo indeterminado (art. 14-A, § 1º e § 4º da Lei n.º 5.889/73). Com isso, embora qualquer produtor rural pessoa física possa fazer uso dessa modalidade contratual, é a mesma direcionada aqueles produtores que contratam mão-de-obra sazonalmente por curto período, mas que não dispõe de estrutura física e recursos humanos suficientes para fazer o trabalho burocrático que envolve a contratação de mão-de-obra.

249 Conforme exposição de motivos da Medida Provisória n.º 410, posteriormente convertida na Lei n.º

11.718/2008. Disponível em: <https://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Exm/EMI-40- MF-MPS-MTE.htm>, Acesso em 11 de outubro de 2008.

b) Para formalizar a relação contratual por pequeno prazo tem o tomador de serviços ao seu dispor duas formas. Uma, é pelo mecanismo tradicional que consiste em fazer a anotação do contrato na Carteira de Trabalho e Previdência Social – CTPS do empregado e em Livro ou Ficha de Registro de Empregados; a outra consiste em adotar o contrato escrito onde conste, no mínimo, a identificação do produtor rural e do imóvel rural onde o trabalho será realizado e a identificação do trabalhador com indicação do respectivo Número de Inscrição do Trabalhador – NIT. Para se aplicar essa segunda forma de contratação, em que não se exige a anotação da CTPS, é necessário que haja autorização expressa em acordo coletivo ou convenção coletiva de trabalho (art. 14-A, § 3º, I e II, da Lei n.º 5.889/73). Convém assinalar, que essa última exigência não constava na redação original da Medida Provisória 410.

c) Entretanto, é condição essencial para o reconhecimento do referido contrato que o tomador de serviços identifique / inclua o trabalhador contratado na Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social – GFIP, a ser enviada mensalmente à Caixa Econômica Federal – CEF, sem o que será essa modalidade contratual considerada inexistente sem prejuízo de o trabalhador poder comprovar, por qualquer meio admitido em direito, a relação jurídica diversa (art. 14-A, § 3º c/c § 6º, da Lei n.º 5.889/73). Quando incluído na GFIP, o assalariado rural passa a estar integrado automaticamente ao Regime Geral de Previdência Social, o que resulta no seu direito à proteção previdenciária de forma incontestável.

d) É de se destacar que a Lei traz outro aspecto inovador ao referir-se aos direitos trabalhistas do empregado. Estes deverão ser calculados proporcionalmente aos dias trabalhados e pagos mediante recibo250 (art. 14-A, §§ 8º e 9º, da Lei n.º 5.889/73). Trata-se de

250

Embora a lei não se manifeste a respeito, há que se ponderar a necessidade de se discriminar no recibo de pagamento todas as verbas trabalhistas remuneratórias e rescisórias do contrato de trabalho com seus respectivos valores, sob pena de pagamento complessivo, o que é considerado ilegal pela Súmula 91, do TST.

uma verdadeira conquista de direitos, pois, até então, as verbas rescisórias como férias e décimo terceiro salário vinculadas aos tradicionais contratos de trabalho só são devidas ao trabalhador após o décimo quarto dia de trabalho. Assim, dá-se um passo importante para o reconhecimento efetivo daqueles assalariados que prestam trabalho em atividades de curta duração na condição de empregados rurais.

e) Por fim, todos os trabalhadores contratados por meio do novo contrato contribuirão com a Previdência Social com uma alíquota fixa, no percentual de 8% sobre o respectivo salário-de-contribuição, independente do quantum recebido. Embora a grande maioria dos assalariados rurais não receba remuneração suficiente para incidir alíquota de contribuição superior a 8% (a alíquota máxima é 11%), tem-se a expectativa de que a alíquota fixa seja também uma forma de desburocratizar a formalização contratual.

Cumpre enfatizar que a principal crítica que recai sobre a nova regulação contratual consiste em dispensar o tomador de serviços de fazer o registro do contrato na Carteira de Trabalho e Previdência Social - CTPS e no Livro ou Ficha de Registro de Empregados (art. 14-A, inciso II, da Lei n.º 5.889/73), embora a Lei preveja a obrigatoriedade de que o pacto laboral deva ser formalizado pela inclusão do trabalhador na GFIP, além de contrato escrito indispensável à comprovação da regular relação de trabalho perante aos órgãos fiscalizatórios. E aqui é importante abordar os pontos de vistas que existem sobre o referido contrato.

Desde a publicação da Medida Provisória n.º 410/2007 que deu origem ao contrato de trabalho em comento, pôde-se perceber o quão seria polêmico instituir novos mecanismos de formalização da relação de emprego para além dos instrumentos tradicionais como a Carteira de Trabalho e o livro ou ficha de registro de empregados. E não poderia ser diferente, até porque a formalização do contrato de emprego que não seja por meio da

assinatura da CTPS significa romper com um paradigma histórico engendrado culturalmente e socialmente na sociedade brasileira desde o segundo Governo de Getúlio Vargas. Ou seja, trata-se de um documento com um valor simbólico incomensurável para milhões de brasileiros.

Entretanto, enquanto os mecanismos tradicionais de formalização da relação de trabalho (assinatura da CTPS e registro no livro ou ficha de empregados) são vistos por alguns como um fim em si mesmo, para outros eles se constituem apenas em um meio para se alcançar determinado objetivo, no caso, conferir ao trabalhador um instrumento de prova de seus direitos. Isso conduz à discussão de se saber se esses mecanismos, no modo em que são regulados, estão aptos a serem aplicados nas atividades de natureza rural de curta duração.

Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), entidade sindical representativa dos trabalhadores rurais que atuou ativamente nas negociações com o Governo e com o Congresso Nacional buscando consensuar o texto normativo que resultou na Lei n.º 11.718/2008, o combate à informalidade das relações de trabalho no campo e a exclusão previdenciária que ela gera exige que se adote um conjunto de ações articuladas entre o poder público e a sociedade, dentre as quais uma regulação jurídica específica para as relações de trabalho empregatícias de curta duração com mecanismos simplificados de contratação. Essa posição pode ser compreendida a partir das deliberações congressuais manifestadas pela categoria dos trabalhadores rurais nos últimos anos.

O 7º congresso, realizado em 1998, já explicitava a preocupação em relação à situação dos assalariados, tanto que apresentou algumas propostas que pudessem mudar os rumos da realidade existente. Na linha das proposições, apontavam a necessidade de melhorar a fiscalização das relações de trabalho no campo; de se estabelecer regras de proteção social diferenciadas para os assalariados rurais que contemplassem o trabalho de natureza temporária tendo por base o valor da remuneração sobre os dias efetivamente trabalhados;

propugnavam também para que fosse instituído em todo o território nacional um recibo de salário padronizado a ser utilizado nas relações de trabalho de curta duração; e solicitavam ao INSS que fosse aceito, além da Carteira de Trabalho, outros documentos para fins comprobatórios da relação de emprego e da comprovação do exercício da atividade rural perante a Previdência Social, como o recibo de salário e o contrato coletivo de safra251.

Tais proposições tomavam por base uma experiência de negociação coletiva de trabalho que passou a ser desenvolvida no final da década de 1990 pelo Movimento Sindical de Trabalhadores Rurais com diversas empresas e sindicatos patronais no Estado de Goiás. Por essa experiência, dispensava-se a anotação da CTPS naquelas atividades cuja natureza fosse por tempo inferior a 30 (trinta) dias garantido-se aos trabalhadores todos os direitos trabalhistas proporcionais aos dias trabalhados, conforme ajustado no instrumento coletivo. Em que pese as vantagens auferidas pelos trabalhadores que conseguiam um contrato formalizado e o recebimento de seus direitos trabalhistas, o Ministério Público do Trabalho, à época, questionou tal modalidade de contratação ao argumento de que a simplificação contratual estaria resultando em prejuízo para os assalariados em face da não aplicação da norma irrenunciável, qual seja, a assinatura do contrato em CTPS. É de se observar que a regulação dessa modalidade de contratação chegou a ser discutida no âmbito dos Ministérios do Trabalho e da Previdência Social por volta do ano 2000, mas não houve a receptividade necessária para ir adiante.

De certo modo, o que se observa é que já há algum tempo os trabalhadores rurais vem negociando e reivindicando políticas que possam ampliar o quadro de formalização do contrato de trabalho como meio de garantir maior consistência de acesso ao direito à proteção previdenciária. No entanto, embora tenham a percepção da justeza que os preceitos constitucionais estabelecem ao equiparar seus direitos e obrigações com a dos

251 7º CONGRESSO NACIONAL DOS TRABALHADORES RURAIS. Anais. Brasília: CONTAG, 1998, p.

assalariados urbanos, entendem esses trabalhadores que para fins de proteção social não se deve esquecer as diferenças decorrentes do mundo do trabalho rural em relação ao trabalho urbano, sob pena de tais preceitos tornarem-se iníquos. É o que se depreende de outras reflexões congressuais, a saber:

O principal problema que afasta o assalariado e a assalariada rural do sistema previdenciário não está no percentual da alíquota de contribuição, mas sim na formalização do contrato de trabalho e na quantidade de tempo efetivamente trabalhado e registrado. É impossível abrir mão do Contrato de Trabalho (ou da Carteira de Trabalho) para que o assalariado rural, especialmente aquele que trabalha em atividades de curta duração, tenha acesso aos direitos previdenciários. O que precisa ser feito é adequar a formalização das relações de trabalho na área rural, de tal forma que contemple os períodos de trabalho de curta duração. Portanto, duas questões precisam ser contempladas: o período de entressafra de trabalho, em que o assalariado não tem trabalho e, portanto, nem possibilidade de registro e de contribuição; e os períodos de trabalho extremamente curtos, com grande variação de empregadores.252

É interessante observar que essas reflexões acabaram sistematizadas e convertidas, pelos próprios trabalhadores rurais, em um projeto de lei de iniciativa popular253 que mobilizou a categoria nacionalmente, sendo esse projeto protocolado na Câmara dos Deputados em outubro de 2001 com o apoio de mais de um milhão de assinaturas254. Isso veio em decorrência de um contexto político desfavorável que os trabalhadores rurais encontravam

252 8º CONGRESSO NACIONAL DOS TRABALHADORES RURAIS. Anais. Brasília: CONTAG, 2001, p.

127.

253 Uma análise mais atenta das propostas contidas no referido projeto de lei revela algumas questões inovadoras

e ao mesmo tempo desafiadoras em matéria de proteção previdenciária dos assalariados rurais e sustentam as abordagens já mencionadas nessa pesquisa a respeito das dificuldades para a formalização das relações de trabalho na área rural. Primeiro, explicita a necessidade de conceituar como empregado rural o trabalhador prestador de serviço de natureza sazonal, independente do tempo de duração do contrato de trabalho e da forma de remuneração por este recebida, seja por produção, tarefa, hora, dia ou mês. A motivação para esse intento decorre da interpretação feita pelos gestores da política previdenciária que, na ausência de contrato de trabalho registrado em CTPS, consideram o assalariado rural como um trabalhador autônomo e o enquadram perante a previdência na qualidade de contribuinte individual. A segunda questão expõe a dificuldade que os assalariados rurais enfrentam para comprovar o vínculo de emprego por meio da Carteira de Trabalho e Previdência Social. Resulta daí a demanda de que a prova da relação de vínculo possa ser feita por meio de outros documentos. A terceira questão demonstra que pelos mecanismos da técnica tradicional securitária os assalariados rurais enfrentam enormes dificuldades em compor durante a sua vida laboral o tempo de contribuição necessário para acesso aos benefícios previdenciários ante a temporalidade com que conseguem um vínculo formal de emprego. Daí a demanda de redução do tempo de contribuição para fins de carência dos benefícios. (Ver: 8º CONGRESSO NACIONAL DOS TRABALHADORES RURAIS. Anais. Brasília: CONTAG, 2001, p. 128 a 133).

254 Embora o Projeto Lei apresentasse todos requisitos como sendo um projeto de iniciativa popular, acabou o

mesmo por ser protocolado na Comissão de Participação Legislativa da Câmara dos Deputados e, após aprovado, passou a tramitar sob o número 6.548/2002.

naquele momento para negociar com o governo as suas demandas.

São evidentes, portanto, as razões que levaram a CONTAG a se posicionar favoravelmente ao conteúdo da Lei n.º 11.718/2008. Isso porque, conforme já abordamos nessa pesquisa, traz a lei em seu texto regras com contagem de tempo de carência especial para os assalariados rurais terem acesso à aposentadoria por idade a partir de 2011 (ver capítulo V); permite ao agricultor familiar contratar mão-de-obra assalariada por até 120 dias no ano civil sem perder a condição de segurado especial perante a Previdência Social (ver capítulo 4, item 4.5); e institui o contrato de trabalho ora em comento, visando simplificar a contratação de mão-de-obra pelo produtor rural pessoa física sem restringir direitos.

Assim, a lei regula um conjunto de questões que convergem com os interesses da categoria dos trabalhadores rurais, mas, ao mesmo tempo, revela que esses trabalhadores não conseguiram o apoio político necessário, nem do governo nem do congresso nacional, para estabelecer uma política de proteção previdenciária mais inclusiva para os assalariados rurais, como seria o caso de transformar em regra permanente o critério de acesso à aposentadoria por idade mediante a comprovação do tempo de serviço rural nos termos previsto no artigo 143 da Lei 8.213/91.

Muito embora a organização sindical dos trabalhadores rurais tenha essa visão favorável em relação ao texto da Lei n.º 11.718/2008, por entender que foi dado um passo concreto para enfrentar o problema da informalidade e da desproteção social dos assalariados, não faltaram vozes manifestando-se contrariamente ao referido contrato de trabalho. As críticas vieram de parlamentares no Congresso Nacional255, de centrais sindicais, de juízes do trabalho organizados na Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do

255 No Congresso Nacional foram apresentadas 45 emendas parlamentares ao texto da Medida Provisória n.º

410/2007, das quais 33% tinham conteúdos semelhantes que era a de suprimir ou alterar a redação dada ao § 3º do artigo 1º, que tratava da dispensa da assinatura do contrato de trabalho em CTPS e no livro ou ficha de registro de empregados.

Trabalho (ANAMATRA)256, e dos auditores fiscais do trabalho257, todos argumentando que a nova modalidade contratual, ao dispensar a anotação do contrato na CTPS e no livro ou ficha de registro de empregados, poder-se-ia constituir numa forma de incentivo à fraude e à desregulamentação dos direitos dos assalariados rurais.

Não deixam de ter suas razões as preocupações expressadas por essas instituições e diversos parlamentares, especialmente quando se considera que os direitos sociais no Brasil se situam num campo de disputa em constante tensão, com diversas tentativas de modificação da legislação para a sua desregulamentação e minimalização. O histórico das propostas de mudanças na legislação do trabalho nos últimos anos evidencia bem essa situação258. Também são pertinentes as preocupações alçadas quanto aos efeitos ocultos muitas vezes contidos na letra da Lei o que, no caso em análise, poderia abrir precedentes para que empregadores mal intencionados pudessem burlar e violar direitos dos trabalhadores.

256 Zéu Palmeira Sobrinho, juiz do trabalho, tenta demonstrar que a modalidade do contrato de trabalho instituída

pela Medida Provisória n.º 410/2007 tende a facilitar a fraude na medida em que desvaloriza a assinatura da CTPS que é um instrumento simbólico das relações de trabalho formal no Brasil, sinalizando, portanto, “para o desmantelamento das poucas e frágeis exigências que são representativas para a defesa do trabalhador e para o combate à sonegação de direitos”. (Ver: SOBRINHO, Zéu Palmeira. O novo contrato de trabalho rural por pequeno prazo. Disponível em: <http://ww1.anamatra.org.br/ sites/1200/ 1223/ 00000105.doc> Acesso em 30 de setembro de 2008).

257 A Secretaria de Inspeção do Trabalho, órgão vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego, por meio de

nota técnica manifestou sua posição contrária ao referido contrato de trabalho argumentando que o mesmo não oferecia qualquer chance promissora de atingir os fins colimados, pois além de não gerar maiores receitas para a previdência social, também retirava do trabalhador um importante instrumento formal que lhes serve como ônus da prova para a aferição do tempo de serviço. Para a referida secretaria ministerial “Na ‘nova modalidade’ (contrato de pequena duração), o trabalhador é deliberadamente induzido a não saber se o contrato em que se encontra é ou não regular. O preenchimento da GFIP (que em tese caracteriza o vínculo) ou mesmo o contrato escrito (cujo destino na visão dos mais pessimistas não é outro senão a gaveta do empregador à espera de eventual fiscalização), deixa o trabalhador alheio à regularidade ou não do seu próprio vínculo”. (Ver: MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO / SECRETARIA DE INSPEÇÃO DO TRABALHO. Nota Técnica n.º 49/2008/DMSC/SIT. Brasília, 27 de fevereiro de 2008).

258

Apenas para citar o exemplo da área rural, desde o final da década de 1990 vários projetos de lei passaram a tramitar no Congresso Nacional apresentando novas modalidades de contratação como alternativa para resolver o problema da informalidade e, consequentemente, da (des)proteção social do assalariado rural. No entanto, análises mais acuradas dos conteúdos desses projetos revelam que existem muito mais interesses em precarizar as já frágeis relações de trabalho com vinculo empregatício do que necessariamente solucionar esse tipo de problema. A esse respeito, cita-se o Projeto de Lei 4.302/1998, cuja finalidade é regulamentar a atividade de empresas de trabalho temporário e de empresas de prestação de serviços a terceiros, inclusive, para atuarem no meio rural; o Projeto de Lei n.º 3.811/2000, propondo alteração na Lei n.º 5.889/73 ao dispor

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