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Perspectivas quanto ao futuro do assalariado rural em alcançar a aposentadoria

PARTE II O DIREITO À PROTEÇÃO SOCIAL CONFIGURADO NO TRABALHO

5 Conflitos e dilemas das regras previdenciárias que demarcam limites da proteção social do

5.2 A regra transitória de acesso à aposentadoria por idade mediante comprovação da

5.2.3 Perspectivas quanto ao futuro do assalariado rural em alcançar a aposentadoria

Diante do contexto posto, não resta dúvida de que se projeta um futuro bastante nebuloso quanto ao direito do assalariado rural em usufruir não apenas da aposentadoria por idade, mas da proteção previdenciária como um todo. Como já dissemos, esses trabalhadores enfrentam enormes dificuldades para conseguir um vínculo de emprego formal e quando isso ocorre nem sempre é um período duradouro.

Daí algumas indagações: será possível alcançar maior proteção social dos assalariados rurais pelo viés da formalização dos contratos de trabalho? Será que os institutos jurídicos, que regulam as relações de trabalho no campo, se mostram apropriados para dialogar com uma realidade em que preponderam relações de trabalho intermitentes, sazonais e de curtíssima duração? Vai ser possível alcançar uma nova postura dos empregadores, dos órgãos públicos, dos próprios trabalhadores e das instituições sindicais que os representam visando estimular a formalização do contrato de trabalho na área rural? E, por fim, será possível, no futuro, estabelecer um consenso político para a manutenção de regras mais flexíveis que possam conduzir ao desenvolvimento de uma política de proteção previdenciária para os assalariados rurais que seja mais includente?

De fato, está-se diante de um cenário marcado por forte exclusão social do assalariado rural, onde predominam relações de trabalho precárias e informais impulsionadas,

como bem aponta Theodoro233, por diversos fatores, como a existência de uma extrema desigualdade social expressa pelas disparidades de renda e de padrões educacionais, pela redução dos níveis de oportunidade de empregos formal em face das dimensões da força de trabalho, pelas mudanças tecnológicas, pelas próprias características e dinâmica do funcionamento da atividade no setor rural, mas também pela inadequação dos mecanismos regulatórios jurídico-institucionais que tratam das relações de trabalho rural e da própria concepção do trabalhador rural assalariado no âmbito da Previdência Social.

Não resta dúvida de que o quadro de exclusão dos assalariados rurais da cobertura previdenciária demonstra uma cruel realidade, pois não é apenas o indivíduo que está desprotegido, mas sim todos os familiares que o acompanham. Isso caracteriza uma situação de insegurança social que, como bem observa Castel, “(...) não alimenta somente a pobreza. Ela age como um princípio de desmoralização, de dissociação social à maneira de um vírus que impregna a vida cotidiana. Dissolve os laços sociais e mina as estruturas psíquicas dos indivíduos”. Trata-se de uma insegurança que induz uma “corrosão do caráter”234.

Nesse particular, o benefício da aposentadoria por idade, nos moldes em que o assalariado rural atualmente tem acesso, desempenha um papel fundamental como instrumento de segurança social, principalmente por ocorrer num momento de maior necessidade devido ao esgotamento das forças de trabalho. Sem o acesso a esse tipo de benefício esses trabalhadores certamente comporiam as fileiras de pessoas idosas vivendo no Brasil ao nível da extrema pobreza.

A propósito, em recente estudo divulgado pelo Ministério da Previdência Social sobre a evolução da proteção social previdenciária e seus impactos sobre o nível de

233 A propósito, ver: THEODORO, Mário. As características do mercado de trabalho e as origens do informal no

Brasil. In: Questão social e políticas sociais no Brasil. Luciana Jaccoud (Organizadora). Brasília:IPEA, 2005, p. 114 - 118.

234 CASTEL, Robert. A insegurança social: o que é estar protegido? Tradução de Lúcia M. Endlich Orth. Rio de

pobreza235, fica evidente que as transferências previdenciárias impactam de forma muito mais consistente na vida da população idosa do que em relação às demais faixas etárias. Eis o que diz o estudo:

Muito embora a redução da pobreza decorrente da expansão da Previdência Social seja percebida em todas as faixas etárias, a renda previdenciária favorece, sobretudo, aqueles com idade superior aos 55 anos – a partir dessa idade nota-se uma significativa expansão da diferença entre o percentual de pobres com e sem as transferências previdenciárias. Portanto, a pobreza diminui com o aumento da idade (...), chegando ao limite inferior de 10% para a população com 70 anos de idade ou mais. Caso as transferências previdenciárias deixassem de ser realizadas, haveria um ponto a partir do qual a pobreza voltaria a aumentar, chegando aos 70% para a população com idade acima de 70 anos.236

É salutar, portanto, enfatizar a importância da regra transitória instituída para a garantia do direito de aposentadoria dos assalariados. Sem ela, estariam os mesmos praticamente fora do sistema de previdência social, mesmo contribuindo com o seu trabalho para a produção de alimentos e riquezas para o país. Quanto ao futuro desse direito a situação é muita incerta. Na verdade, é uma corrida contra o tempo.

235 De acordo com o Ministério da Previdência Social, em 1992 o percentual de pobres em relação à população

de referência alcançava 51,7% quando considerada a renda proveniente dos benefícios previdenciários. Sem esta renda, o percentual de pessoas vivendo na mais extrema pobreza avançava para 58,4%. Já em 2006, o percentual caiu para 31,0% quando incorporada a renda previdenciária. Sem esta, o percentual de pobres sobre para 43,1%. (Ver: MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. Informe de Previdência Social. Março de 2008. Volume 20. número 03. Brasília: MPS, 2008, p. 5).

236 MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. Informe de Previdência Social. Março de 2008. Volume 20.

6 Proteção previdenciária e formalização do contrato de trabalho na área

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