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POTENCIALIDADES E LIMITES DE UM CURRÍCULO DE NUTRIÇÃO: VISÃO DOCENTE

No documento Anais do CONBRAN 2012 - Alimentação Coletiva (páginas 150-154)

DO SERVIÇO DE NUTRIÇÃO DE UM HOSPITAL

POTENCIALIDADES E LIMITES DE UM CURRÍCULO DE NUTRIÇÃO: VISÃO DOCENTE

Caroline Damásio Bueno, Nilce Maria da Silva Campos Costa

Universidade Federal de Goiás, R. 227, Qd. 68, s/n., Setor Leste Universitário, Campus I, 74605-080, Goiânia, GO, Brasil. caroldama@hotmail.com.

RESUMO

O descompasso entre o modelo biomédico de formação dos profissionais de saúde e a prestação de serviço público de saúde dificulta a assistência à saúde equânime e de qualidade. Em busca da transformação do ensino em saúde, as instituições de ensino superior têm iniciado projetos de reformulações curriculares, baseados nas Diretrizes Curriculares Nacionais para Cursos de Graduação em Nutrição e subsidiados pelo Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (PRO-SAÚDE). O objetivo deste estudo foi analisar a visão dos docentes do curso de Nutrição de uma instituição federal de ensino superior brasileira sobre as potencialidades e os limites presentes no processo de reformulação do projeto político pedagógico. Os dados foram coletados através de estudo qualitativo exploratório realizado em 2010, por meio de entrevista semiestruturada com 12 docentes do curso deNutrição e submetidos à análise de conteúdo temática. Os resultados revelaram como potencialidades, a entrada dos estudantes nos cenários de prática desde o início do curso, as mudanças das estratégias de ensino- aprendizagem e a inserção de conteúdos sobre o mundo do trabalho no currículo. Dentre os limites foram identificados a inadequada infraestrutura da instituição de ensino e dos serviços de saúde, a sobrecarga de atividades dos professores e a insegurança causada pela reformulação curricular. Conclui-se que para potencializar as mudanças curriculares e superar os limites serão necessárias discussões conceituais e operacionais com participação dos docentes, dos estudantes e das instâncias administrativas da universidade.

Palavras-chave: currículo, docente, saúde, ensino superior, nutrição. INTRODUÇÃO

O descompasso entre o modelo biomédico de formação dos profissionais de saúde e a prestação de serviço público de saúde tem inviabilizado as tentativas para uma assistência à saúde equânime e de qualidade1. O fortalecimento dessa articulação tornou-se o principal objetivo da parceria entre Ministério da Educação e Ministério da Saúde, representada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para Cursos de Graduação em Nutrição (DCN)2 e pelos eixos norteadores do Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde)1, respectivamente. Neste contexto, as instituições de ensino superior têm iniciado projetos de reformulações curriculares, fundamentados nas propostas de transformação do ensino em saúde no Brasil em busca da excelência técnica e da relevância social1. O curso de Nutrição de uma instituição pública federal de ensino superior, inserido no cenário das mudanças dos paradigmas educacionais, do mundo do trabalho, da evolução das ciências e das transições demográficas e epidemiológicas, vem discutindo seu projeto politico pedagógico desde 20043.O conhecimento sobre o currículo integra um dos diferentes tipos de modalidades de saberes necessários aos docentes para realizarem interpretações e práticas adequadas às finalidades formativas4. O significado atribuído ao currículo associa-se aos distintos pontos de vista teóricos em certo momento histórico, que resultam em determinados compromissos5. Os docentes desempenham um papel fundamental no planejamento e na operacionalização das mudanças curriculares e

sua visão do currículo em vigor torna-se peça chave no andamento do processo de reformulação4,6. Assim, o objetivo desse estudo foi identificar e analisar a visão dos docentes de um curso de graduação em Nutrição de uma instituição pública federal sobre as potencialidades e os limites presentes na reformulação do projeto politico pedagógico do curso.

METODOLOGIA

Estudo de abordagem qualitativa exploratória, realizado com docentes de um curso de Nutrição. Os critérios de inclusão, a saber: compor o corpo docente do quadro efetivo, ter um tempo de experiência docência de no mínimo de dois anos na instituição, ministrar disciplina do ciclo profissional de natureza obrigatória, não estar em período de afastamento, aceitar participar da entrevista e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.. Para a coleta de dados foi realizada, no período de março a maio de 2010, uma entrevista semiestruturada com 12 docentes (50%) de todos os períodos do curso, convidados a partilharem experiências e informações sobre o assunto a ser pesquisado7. O número de sujeitos entrevistados foi definido pelo critério de saturação de dados, no qual o pesquisador encerra as entrevistas quando foram obtidas informações suficientes e consistentes, e novos sujeitos fornecem informações reincidentes e sem acréscimos, tendo em vista os objetivos do estudo7. As entrevistas foram realizadas na própria instituição estudada, em dias e horários pré-estabelecidos pelos participantes, orientadas por um roteiro com tópicos sobre as potencialidades e os limites do currículo, gravadas no aparelho de media player, com duração média de 1 hora, e depois transcritas7. Os dados foram analisados por meio da análise de conteúdo temática8. Os docentes foram identificados pela letra D e um número arábico de 1 a 12. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, protocolo nº 036/07.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Todos os professores entrevistados eram do sexo feminino, com mestrado (25%) e doutorado (75%), tempo de experiência profissional entre 2 e 8 anos (42%) e entre 14 a 26 anos (58%), todos pertencentes ao regime de dedicação exclusiva e às classes de professor Adjunto (58%), Assistente (25%) e Associado (17%).

Os resultados obtidos neste estudo trazem situações características das reformas curriculares, como a participação restrita dos professores na discussão das propostas, os conflitos e as resistências às mudanças. Os professores percebem o novo currículo de Nutrição com características de um currículo inovador, tal como preconizado pelas DCN e pelo Pró-Saúde. De modo geral, entretanto, os docentes demonstraram não deter informações detalhadas acerca do novo projeto politico pedagogico, alegando estar ainda em fase de implantação ou por não ter estado presente nos momentos de discussão sobre o currículo. Segundo a literatura, a fase de negociação das mudanças no currículo é marcada pela participação escassa de professores4. Para reverter este quadro, é necessário subsidiar os docentes com conhecimentos científicos sobre o currículo e sua reformulação, colocando o processo de formação docente em sintonia com o planejamento curricular9. Dentre as principais potencialidades do novo currículo, os professores destacaram: 1) a entrada dos estudantes nos cenários de prática desde o início do curso; 2) a inserção de conteúdos sobre o mundo do trabalho no currículo: na visão docente, esta inserção de conteúdos é resultado das novas relações dos indivíduos com um mundo em constante transformação e 3) as mudanças das estratégias de ensino-aprendizagem com destaque para a utilização de metodologias ativas: os docentes consideram a introdução de metodologias ativas como novas estratégias de ensino-aprendizagem que atendem à proposta atual do

currículo, fundamentada nas DCN(3) e no Pró-Saúde(4), por terem enfoque crítico-reflexivo que estimulam a participação ativa do estudante na construção do conhecimento. Assinalaram que mudar estratégias de ensino-aprendizagem implica em reelaborar a dimensão pedagógica e pessoal, o que exige uma maior dedicação e investimento. Na visão dos entrevistados, a inserção de novas estratégias de ensino-aprendizagem, consideradas como inovação técnica e motivacional coloca desafios aos docentes na dimensão pedagógica e intelectual, entendidas como fatores determinantes do sucesso da mudança. Sobre os limites da implantação das mudanças curriculares, os pesquisados assinalaram: 1) mudança na periodicidade de ingresso dos estudantes no curso, de anual para semestral: na visão dos pesquisados o número de professores para atender a um maior número de estudantes é insuficiente e o conseqüente aumento do numero de aulas poderá comprometer o desenvolvimento de outras atividades; 2) falta de infraestrutura da instituição de ensino e da rede de serviços de saúde, situação semelhante encontrada em estudo realizado com cursos da área de saúde de universidades federais, que identificaram fragilidades na infraestrutura em relação aos recursos materiais, humanos e financeiros para viabilizar a proposta curricular10; 3) sobrecarga de atividades docentes; 4) falta de comprometimento e insegurança dos professores com as mudanças no currículo. Tais fragilidades, aliadas à infraestrutura limitada dos serviços de saúde, representam um nó crítico para o desenvolvimento de propostas para a mudança da formação do profissional de saúde6,11.

CONCLUSÕES

- Este estudo constata que as reformas curriculares geralmente são realizadas com a participação restrita dos professores na fase de negociação das mudanças. Os momentos para discussões sobre o projeto pedagógico tendem a ser vistos de forma sistemática e fragmentada, podendo limitar as possibilidades de ampliar e aprofundar o conhecimento sobre a totalidade do currículo. Os professores contribuem de forma mais significativa na fase inicial e na fase final da elaboração de uma proposta curricular, omitindo-se a participação na fase mais conflituosa, a de negociação das mudanças(6).

- Ao identificar os limites presentes no novo currículo, observou-se que aqueles que enfrentam o desafio de transformar o ensino enfrentam, também, o desafio de promover a sua própria transformação, pessoal ou profissional. Os debates e as reflexões dos professores são necessários para que as reformulações curriculares sejam transformadoras da realidade.

- A operacionalização das mudanças curriculares está imbricada de fatores limitantes de ordem administrativa, física e humana.

Este estudo poderá contribuir para fundamentar, ampliar e socializar as experiências acumuladas no processo de reformulação de cursos da área de saúde. Os resultados poderão auxiliar na construção de indicadores qualitativos para monitoramento desse processo, principalmente nos aspectos da prática docente.

- Para potencializar a reformulação curricular e superar os limites serão necessárias discussões conceituais e operacionais com participação dos docentes, dos estudantes e das instâncias administrativas da universidade.

- Deve haver reconhecimento por parte dos docentes, do papel que representam nas reformulações curriculares de que as mudanças dependerão de colaboração mútua, de reflexão crítica e da reavaliação de questões políticas, filosóficas, humanísticas do currículo, além das pessoais.

AGRADECIMENTOS

A apresentação deste trabalho conta com o apoio material e financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES - Brasil.

REFERÊNCIAS

1. Brasil. Ministério da Saúde. Ministério da Educação. Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde – Pró-Saúde: objetivos, implementação e desenvolvimento potencial. Brasília, DF, 2009. 88p. (Série C. Projetos, Programas e Relatórios).

2. Brasil. Ministério da Educação e Cultura. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CES 5/2001 de 07 de novembro de 2001. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Nutrição.

3. Peixoto MRG, Menezes IHCF, Assis EM, Gil MF, Strighini MLF, Correa MHS et al. Projeto Pedagógico do Curso de Nutrição. Goiânia, 2008. Universidade Federal de Goiás.

4. Masetto MT. O docente no ensino superior e o currículo de seu curso. In: Masetto MT. Competência pedagógica do professor universitário. São Paulo: Summus; 2003. p.59- 64.

5. Maia JA. O currículo no ensino em saúde. In: Batista NA, Batista, SHSB, organizadores. Docência em saúde: temas e experiências. São Paulo: Senac São Paulo; 2004. p.102-124.

6. Perim GL, Abdalla IG, Aguilar-da-Silva RH, Lampert JB, Stella RCR, Costa NMSC. Desenvolvimento docente e a formação de médicos. Rev Bras Educ Med 2009; 33 (Supl 1):70-82.

7. Minayo C. Construção dos instrumentos e exploração de campo. In: Minayo C. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 9ª ed. São Paulo: Hucitec; 2008. p.189-99.

8. Bardin L. Análise de conteúdo. 4ª ed. Lisboa: Edições 70; 2009.

9. Zabalza MA. Os professores universitários. In: Zabalza MA. O ensino universitário: seu cenário e seus protagonistas. Porto Alegre: Artmed; 2004. p.105-142.

10. Santos LAS, Silva MCM, Santos JM, Assunção MP, Portela ML, Soares MD et al. Projeto pedagógico do programa de graduação em nutrição da Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia: uma proposta em construção. Rev Nutr 2005;18(1):105-17.

11. Gonzalez-Lopes AD, Almeida MJ. Ativação de mudanças na formação superior em saúde: dificuldades e estratégias. Rev Bras Educ Med 2010; 34(2):238-246.

AVALIAÇÃO DO CARDÁPIO DE UMA UNIDADE DE

No documento Anais do CONBRAN 2012 - Alimentação Coletiva (páginas 150-154)

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